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2 A EDUCAÇÃO COMO DIREITO DE TODOS: ACESSO E PERMANÊNCIA 2.1 A Educação como Direito nos documentos das grandes conferências

3 O Programa de Educação Profissional e a Educação de Jovens: o caso do PROEJA

3.2. Os princípios norteadores do PROEJA

O PROEJA surge com o objetivo de enfrentar as descontinuidades e o voluntarismo que marcaram a modalidade da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, bem como de integrar a educação básica a uma formação profissional, buscando oportunizar melhores condições para a inserção no mundo do trabalho, para jovens e adultos com trajetórias escolares descontínuas.

Este projeto educacional fundamentado na integração entre trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral, com a finalidade de contribuir para o enriquecimento científico, cultural, político e profissional como condições necessárias para o efetivo exercício da cidadania poderá oportunizar o trilhar de um novo caminho de resgate da cidadania de uma imensa parcela da população brasileira, excluída do sistema escolar por problemas diversos encontrados dentro e fora da escola.

Igualmente fundamental é o novo olhar dado à educação profissional, que sempre foi tratada de forma preconceituosa ao longo de sua história, influenciada por uma herança colonial e escravista, no tocante às relações sociais e de modo especial ao trabalho. De acordo com Manfredi (2002) existem perspectivas e projetos diferentes, expressando concepções de trabalho, de sociedade e de educação, elementos estes pautados por princípios político-filosóficos divergentes. A autora afirma que,

entre as diversas concepções, há desde as que consideram a Educação Profissional numa perspectiva compensatória e assistencialista, como uma forma de educação para os pobres, até aquelas centradas na racionalidade técnico-instrumental, às quais postulam uma formação voltada para a satisfação das mudanças e inovações do sistema produtivo e dos ditames do atual modelo econômico de desenvolvimento brasileiro, além, de outras orientadas pela idéia de uma educação tecnológica, numa perspectiva de formação dos trabalhadores como sujeitos coletivos e históricos. (MANFREDI, 2002,p.57).

Manfredi (2002, p.57) acrescenta ainda sobre a formação para o trabalho ser concebida como uma das dimensões educativas do processo de formação humana, ou seja, como um direito social, possuindo a dimensão de [...] ―ser incorporada aos projetos de escolarização de nível fundamental e médio dirigidos aos jovens e adultos pertencentes aos grupos populares.‖

A política para a educação profissional de integração – formação geral e profissional - a que se propõe o PROEJA, expressa uma concepção de formação

humana, com base na integração de todas as dimensões da vida no processo educativo, visando a formação omnilateral dos sujeitos. Tais dimensões são o trabalho, a ciência e a cultura. Compreende-se aqui o trabalho como realização humana inerente ao ser, ou seja, em seu sentido ontológico, e como prática econômica, em seu sentido histórico associado ao modo de produção. A ciência é compreendida como os conhecimentos produzidos e acumulados pela humanidade e a cultura que corresponde aos valores éticos e estéticos que orientam as normas de conduta de uma sociedade.

A partir de teorias da educação em geral14, de estudos específicos do campo da EJA, além de reflexões teórico-práticas desenvolvidas na EJA e nos cursos do ensino médio profissional existentes na Rede Federal, foram constituídos seis princípios contidos no Documento Base do PROEJA (BRASIL, 2007), com vistas a consolidar os fundamentos para esta política de ensino integrado.

O primeiro princípio ressalta o papel e compromisso que entidades públicas

integrantes dos sistemas educacionais tem com a inclusão da população em suas ofertas educacionais. Este princípio deriva da constatação de que os jovens e

adultos que não concluíram em sua faixa etária regular tem pouco acesso a essas redes de ensino. É importante destacar que, a maioria dos jovens e alunos trabalhadores, são provenientes de uma camada menos privilegiada da sociedade, que tiveram de interromper seus estudos muitas vezes para garantir a sua sobrevivência, ou ajudar no sustento da família.

O princípio de inclusão do PROEJA precisa ser compreendido não apenas no tocante ao acesso daqueles que estão fora da escola, mas questionando também as formas como esta inclusão tem sido feito. Não só pelo processo de entrada (seleção), como também pelas condições para a permanência e sucesso do aluno na escola, buscando-se assim evitar a exclusão dentro do próprio sistema educacional.

Este princípio dialoga também com o direito à educação, abordado no segundo capítulo deste trabalho, reafirmando as concepções contidas na LDB 9.394/96, nas proposições Constitucionais, assim como na Declaração Mundial sobre Educação para Todos.

14 Ver Saviani. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 1984.

O segundo princípio, relacionado diretamente com o primeiro, trata da

inserção orgânica da modalidade EJA integrada à educação profissional nos sistemas educacionais públicos, retomando a questão da perspectiva da educação

como direito, assegurada constitucionalmente como dever do Estado para o ensino fundamental. Vale ressaltar conforme abordamos no capítulo anterior, que a Emenda Constitucional n° 59/2009 prevê a obrigatoriedade escolar para o ensino médio para quem esteja dentro da faixa etária regular. Assim este princípio alarga a projeção deste direito para a EJA no ensino médio, enquanto modalidade inserida na educação básica.

O terceiro princípio refere-se à ampliação do direito à educação básica pela

universalização do ensino médio, considerando-se que a formação humana não se

faz em tempos curtos, sendo necessário períodos mais alongados que consolidem saberes, a produção humana, suas linguagens e formas de expressão para viver e transformar o mundo. O PROEJA assim contribui para este princípio, a partir do momento em que oferta cursos para aqueles que não puderam ter acesso na idade dita regular, neste nível de ensino, ou seja no ensino médio.

O quarto princípio compreende o trabalho como princípio educativo. Com isto a compreensão é de que a vinculação da escola média com a perspectiva do trabalho não se paute apenas pela relação com a ocupação profissional e sim pelo entendimento de que homens e mulheres produzem sua condição humana pelo trabalho, ação transformadora no mundo de si, para si e outrem. Sobre este princípio, voltaremos a abordar mais adiante, no próximo tópico.

O quinto princípio define a pesquisa como fundamento da formação do sujeito contemplado nessa política, por compreendê-la como modo de produzir conhecimentos e fazer avançar a compreensão da realidade, além de contribuir para a construção da autonomia intelectual desses sujeitos/educandos. No Documento Base, no entanto percebe-se uma lacuna sobre a efetivação deste princípio, ou seja como ele se dará na prática.

O sexto e último princípio considera as condições geracionais, de gênero, de

relações étnico-raciais como fundantes da formação humana e dos modos com se produzem as identidades sociais. Neste sentido, outras categorias para além da de

trabalhadores devem ser consideradas, pelo fato de serem elas constituintes das identidades e não se separarem, nem se dissociarem dos modos de ser e estar no mundo de jovens e adultos. Compreende-se aqui que EJA possui suas

especificidades, a partir de seus sujeitos (jovens, adultos, idosos, população do campo, mulheres, negros, pessoas com necessidades educacionais especiais, dentre outros) que aponta como desafio a construção de identidades próprias para novos espaços escolares, superando as estruturas rígidas de tempo e espaço presentes na escola.

3.3 O PROEJA e suas concepções pedagógicas – o trabalho como princípio