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2. PESQUEIRA: PARA ENTENDÊ-LA

2.5. A Igreja

A complexificação da estrutura social pós Revolução Industrial, dificultou a penetração de ações da Igreja Católica junto a essa nova sociedade, uma vez que ela estava afeita e ainda apegada a uma sociedade rural e aristocrata.

O positivismo, a maçonaria, o protestantismo postavam- se como desafios a serem enfrentados pelos católicos, devendo os mesmo sair de uma posição defensiva e adaptar-se aos novos tempos.

No Brasil essa iniciativa cristalizou-se com a criação, no início da década de 1920, do Centro Dom Vital e da revista A Ordem. Onde seus idealizadores acreditavam que o ceticismo agnóstico da intelectualidade brasileira se devia ao afastamento da Igreja das letras, provocando a anarquia e a indisciplina dos intelectuais. O Centro Dom Vital e a sua revista deveriam ser meio de promoção da erradicação desse divórcio e os catalisadores da ligação entre intelectuais e Igreja Católica.

A difusão da influência da Igreja na sociedade brasileira contou com o apoio da hierarquia, que acreditava que esse tipo de iniciativa contribuía, sobremaneira, para absorção do temporal pelo divino. Entretanto, no mesmo curso das correntes católicas européia de direita, o Centro Dom Vital buscou recristianizar as elites e não o povo. A tomada de decisão da Igreja Católica pelas forças aliancistas, no movimento de outubro de 1930, refletiu seu esforço de se integrar ao mundo moderno e desligar-se do regime oligárquico até então dominante, mesmo ciente que entre os aliancistas existiam tendências de viés esquerdistas e populares, com as quais não estava preparada para juntar-se, a exemplo de facções tenentistas. No entanto, era ponto pacífico para a Igreja que buscava reformar-se, que o seu papel era orientar a subversão política para o leito do cristianismo. Daí advogava a tomada de algumas medidas no sentido de legitimar o governo que se instalava em 03 de outubro de 1930. Sua busca por disciplina e orientação moral não só justificava o apoio à derrubada do regime, mas a aceitação do que se iniciava.

A posição da Igreja surtiu efeitos, pois a mobilização de clérigos e fiéis, transforma-a novamente num grupo de pressão e suas lideranças passam a preconizar que o Estado só seria reconhecido pelo povo, se reconhecesse o Deus do povo. (DELLA CAVA, 1975, p. 14). Essa pressão avolumou-se com a formação da Liga Eleitoral Católica – LEC, uma atribuição conferida por Dom Sebastião Leme, Cardeal do Brasil, a Alceu Amoroso Lima (Tristão Athayde), em 1932. Esta entidade tinha por objetivo mobilizar o eleitorado com vista a votar dentre os candidatos à Constituinte de 1934 e ao Congresso Nacional, nos que apoiassem o programa mínimo da Igreja.

A atuação política dos católicos da LEC conseguiu criar um clima de reconciliação entre Igreja e Estado, o que já se percebia no preâmbulo da Constituição promulgada em 1934, que inicia com “depositando

nossa confiança em Deus” e as conquistas se seguem, com o reconhecimento

pela lei civil do casamento religioso, a proibição do divórcio, a educação religiosa em escolas públicas durante o período de aulas, financiamento pelo Estado de escolas, seminários e hospitais da Igreja e quaisquer outras atividades e instituições legalmente reconhecidas como de interesse público (Ibidem, p. 15).

A política da Igreja Católica, a partir da década de 1930 até os anos 1960, caracterizou-se pela busca de acordos com o poder, na

tentativa de manter o catolicismo das elites como um sistema religioso total. Essa característica levou a Igreja a não assumir um compromisso nitidamente político- partidário e sim, a agir como um grupo de interesse, o que lhe possibilitou manter ligações abertas com todos os partidos políticos.

A relação Igreja – Estado buscada pela hierarquia católica consagrou-se na Constituição de 1934. Essa nova realidade foi forjada pela necessidade de se dá ao catolicismo rumo diferente do que havia sido dado na Primeira República (1889 – 1930), daí incentivava-se a militância dos fiéis, tendo em vista a renovação espiritual da sociedade. Esse quadro converge para uma identidade entre católicos e integralistas27, mesmo tendo a instituição religiosa adotado uma postura de não-alinhamento com agremiações político- partidárias específicas.

O fracasso do liberalismo, a exposição das massas, sobretudo a juventude operária, as influências esquerdizantes, fortalecia a identidade entre católicos e integralistas, que, ao diagnosticar esse cenário, viam na educação uma função redentora, que justificava o ensino religioso nas escolas públicas, já que, para ambos, o poder civil necessitava de um fundamento espiritual e religioso.

27 Sobre o Integralismo ver TRINDADE, Hélgio. O Integralismo Brasileiro na Década de Trinta. São Paulo: Difel, 1979.

As camadas médias emergentes, educadas e mobilizadas pela Igreja se viam profundamente atraídas pelo nacionalismo integralista. A pressão desse contingente, a ascensão do fascismo na Itália, a prudência da Santa Sé e o desafio constante do bolchevismo, tornaram o fascismo e o seu congênere brasileiro mais toleráveis à hierarquia da Igreja Católica no Brasil, levando-a a estreitar ainda mais seus laços com o Estado. No entanto, como reverso da medalha, o fato do Estado ter atendido uma série de reivindicações dos católicos e ter passado a financiar substancialmente algumas de suas atividades, tornou a Igreja muito dependente do poder temporal, sufocando e tirando o dinamismo de algumas de suas ações, como por exemplo, a Liga Eleitoral Católica.

Se não se pode afirmar que a Igreja Católica exercia os mesmos poderes temporais de que gozava antes da proclamação da República, não é exagero dizer que em Pesqueira, sobretudo após a subida do Presidente Getúlio Vargas, sua atuação equivale a atuação dos demais setores dominantes. Gozando das prerrogativas que a nível nacional conseguiu angariar no processo de reconhecimento, por parte do Vaticano, do regime republicando e das subvenções que a Constituição de 1891 lhe facultou, a título de ajuda a obras beneficentes, ela foi se imiscuindo em todos os setores da vida dos pesqueirenses.

Desencadeado o processo eleitoral do ano de 1930, os industriais de Pesqueira, em consonância com o que ocorria no Brasil como um todo, optaram pela candidatura perrepista, do paulista Júlio Prestes. Em outubro, quando o Presidente da República, Washington Luís, é deposto e Getúlio Vargas é conduzido ao poder, assume a liderança política em Pesqueira, o padre Arruda Câmara, que inicialmente desencadeou ferrenha oposição aos antigos líderes políticos, os Brito, da Fábrica Peixe.