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Neste capítulo, trabalharei a influência da Igreja na formulação e na execução das políticas públicas feitas pelos Estados argentino e brasileiro. Políticas públicas aqui entendidas como “conjunto de decisões e ações destinadas à resolução de problemas políticos” (Rua, 1998, p. 731), portanto, são respostas dadas pelo Estado. Parto do pressuposto que na Argentina houve um retrocesso na discussão de assuntos relacionados à saúde reprodutiva da mulher100. No Brasil, no entanto, houve maior avanço das discussões nessa área. A pluralidade religiosa contribui para o avanço nas discussões que formam a agenda de políticas públicas. Como itens a serem trabalhados, escolhi dois: a educação e a saúde. Educação foi escolhida por estar presente na história de ambos os países, através dos Jesuítas e, depois, de outras ordens católicas. Atualmente discute-se a educação religiosa nas escolas públicas, sua necessidade e o comprometimento ou não do Estado no pagamento dos professores da disciplina, sem descartar as discussões permanentes sobre o conteúdo a ser ministrado.

Cito em menor quantidade a Argentina porque as discussões relativas à educação religiosa nas escolas públicas quase inexistem, desde que a Igreja se colocou como a única encarregada dessa função, embora faça cento e trinta anos que o Estado argentino oficializou a educação laica. Em seguida, trabalho outro tema bastante polêmico, a saúde, especialmente a saúde reprodutiva da mulher. Apesar do leque da saúde ser bastante abrangente, restringirei as pesquisas ao aborto e aos conflitos entre Igreja e Estado provocados por essa discussão, pois, principalmente aqui, estão colocados os núcleos de discussão sobre as liberdades privadas como direitos individuais que devem ser garantidos constitucionalmente pelo Estado, inclusive o direito à prestação de culto religioso101. Nas definições das metas e na implantação das políticas públicas observa-

100 - tomo como referencial, entre outros, o artigo de Beatriz Sarlo de 2004: “A Argentina viveu uma involução em termos de debates de idéias, e multiplicaram-se os obstáculos e chantagens à capacidade legislativa” (p.3).

101 - A Encíclica Redemptor Hominis, do Papa João Paulo II, de 1979, propõe a necessidade dos povos em exercer os direitos humanos evitando-se qualquer tipo de transgressão a ele. Também nesse documento a Igreja é detentora dos direitos humanos que o Estado não consegue garantir. Um dos quesitos inseridos nos Direitos Humanos é a liberdade de consciência e de prática religiosa, como estabelecida pelo art. 5º, inciso VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, garantindo a liberdade de crença e do exercício dos cultos religiosos, bem como a proteção aos locais de culto e suas liturgias. Ainda na mesma Constituição, os incisos VII e VIII do mesmo artigo 5º, e os artigos 19, I, 150, VI b e 210, § 1º, garantem o direito humano de liberdade de consciência e de prática religiosa. Esses itens foram colocados na Constituição como garantia de que a religião, especialmente a Igreja Católica, tivesse acesso à prestação de serviços religiosos em entidades civis e militares de internação coletiva. No artigo 19, I, é expressa a proibição de estabelecimento de cultos religiosos ou igrejas serem subvencionadas pelo

se a força política da Igreja, pois muitas vezes as políticas públicas são desenvolvidas com proximidade aos ensinamentos e às metas traçadas pela Igreja. Influência facilmente constatável pelas ações “de indivíduos e associações que agitam a bandeira da intromissão do Estado em esferas que só dizem respeito às famílias e suas instituições religiosas” (Sarlo, 2004, p. 3). Ou seja, a esfera privada invadindo a esfera pública e influenciando agências de implementação das políticas públicas. Implementação que muitas vezes acontece com divisões de interesses na burocracia governamental: “as agências envolvidas nas políticas públicas são forte e diretamente afetadas pelas preferências, convicções, compromissos políticos...” (Rua, 1998, p. 740).

Mas assuntos privados também pertencem à esfera pública, diziam na época as mulheres que queriam fazer a publicidade de seus problemas familiares, como a violência doméstica, água tratada, escola; e outras linhas temáticas, como a desvalorização da mulher no mercado de trabalho, na liberação sexual e suas conseqüências e temas afins (Cardoso, In: Dagnino, 1994, p. 86). A questão que se coloca aqui é sobre quais seriam os temas privados que mereceriam entrar na esfera pública e de publicidade, quais os que precisariam chamar a atenção pública para as necessárias mudanças, como o Estado deveria agir nessa esfera dos assuntos privados por ser entidade pública. Parto do pressuposto que se deva, antes de tudo, respeitar os direitos humanos102. Surge, então, a disseminação das políticas públicas para abranger a esfera privada, afinal, a Igreja já fazia isso durante séculos. Pela história eclesiástica, muitos movimentos se apoiaram na Igreja para se fazerem ouvir pelo Estado, haja vista a dificuldade que tinham de dialogar com o governo. Esses movimentos trouxeram à esfera pública as questões que pertenciam à esfera do privado, objetivando com isso a implementação de políticas públicas que lhes fossem favoráveis.

Estado; mas o mesmo texto proíbe ao Estado a “subvenção ou o embaraço” dos cultos, e também manter relações quer de dependência ou aliança, “ressalvada na forma da lei, a colaboração de interesse público”. Ainda no Brasil, a Constituição Federal, no artigo 150, inciso VI, alínea b, dá imunidade tributária aos templos de qualquer culto, e o artigo 210, § 1º dispõe que o ensino religioso, “de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.

102 - O direito das minorias de professarem suas crenças, executarem seus rituais, de preservação dos lugares tidos como sagrados, implica na demonstração de critério de laicidade do Estado que, se não financia também não impõe barreiras tarifárias para seu desenvolvimento. A lei normatiza a prática das pessoas e do Estado, fazendo transcender as idéias utópicas como expressara Tomás Morus, permitindo a concretização desses ideais. Na Utopia, Tomás Morus descreve o direito à expressão religiosa, dada pelo rei Utopos como condição para os direitos humanos, ao mesmo tempo em que critica a Europa por não realizá-lo: “Ele decidiu que cada um professaria livremente a religião de sua escolha... Em todo caso, considerava um abuso e uma loucura querer obrigar os outros homens, por ameaça e violência, a admitirem o mesmo que nós... Ele proibiu, todavia, com piedosa severidade, que alguém degradasse a dignidade humana admitindo que a alma desaparece com o corpo ou que o mundo marcha ao acaso sem uma providência” (Morus, 2001, p. 147-149).

Políticas públicas são maneiras pelas quais os Estados buscam satisfazer interesses de grupos ou instituições, designados aqui como atores políticos, através da alocação de recursos. Se os atores políticos são específicos e não genéricos, a satisfação dos seus interesses, por parte do Estado, propicia que o privado seja beneficiado com as decisões públicas (Rua, in: Rua & Carvalho, 1998). Refiro-me aqui ao ator público institucional designado por Igreja que, como ator político, procurará manter essa relação política, tanto institucional quanto representativa dos interesses privados com os Estados103. No entanto, a Igreja, regra geral e excluindo-se exceções, tem um objetivo histórico que transcende à política secular para adentrar no espaço mítico das idéias perfeitas, qual seja a sociedade perfeita que só ela, Igreja, poderia realizar no mundo de existência fugaz104. Exceção foi a atuação da ala progressista da Igreja no Brasil nas décadas de 1960 – 1980, e já enfraquecida na década de 1990 e 2000.

Das muitas instituições privadas que atuam na esfera política, a Igreja é historicamente a mais antiga na Argentina e no Brasil. As decisões e ações políticas, chamadas de políticas públicas, são revestidas da autoridade pública e expressam os interesses de determinados grupos privados ou públicos, aqui destacada a Igreja105. Ao relatar a história e destacados os interesses da Igreja durante sua união com os poderes

103 - O Jornal Folha de São Paulo (20/04/2007) publicou matéria informando que o objetivo da Igreja seria manter acordo com o governo brasileiro para conseguir benefícios específicos como não vincular sacerdotes a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho); adianta, porém, que o presidente Luís Inácio da Silva teria que travar disputa acirrada no Congresso brasileiro, coisa que ele não estaria disposto nesse momento. Afirma o artigo que até 2010 seria assinado tal acordo entre o Estado brasileiro e o Vaticano, mas o artigo não considera a nova configuração religiosa que se desenvolve no Brasil, onde a presença de protestantes neopentecostais cresce a cada dia.

104 - Em texto recente, Dom Odilo P. Scherer expõe o seu ponto de vista sobre a relação entre Igreja e Estado Laico, no entanto, é uma opinião entre outras dentro do episcopado. “A laicidade do Estado implica o respeito do Estado pelos cidadãos e pelas suas escolhas religiosas livres; além disso, garante às organizações religiosas sua livre organização para atingirem seus objetivos, sempre no respeito à lei comum”. Não é, pois, aceitável que o Estado seja alocado a serviço de uma única corrente de pensamento. Não se pode esquecer, de resto, que há uma ética natural, com valores fundamentais consolidados ao longo de milênios no Oriente e no Ocidente, como o respeito à vida, à família, à liberdade, à justiça e à solidariedade; são pilares inquestionáveis da sadia organização da sociedade, que não decorrem necessariamente de uma fé religiosa, embora sejam tidos em alta estima pelas religiões; são frutos do aprofundamento racional e da experiência ética acumulada pelas civilizações. É neste sentido que Bento XVI dizia, em Aparecida: “Só sendo independente, a Igreja pode ensinar os grandes critérios e os valores irrevogáveis e oferecer uma opção de vida que vai além do âmbito político. Formar as consciências, ser advogada da justiça e da verdade, educar nas virtudes individuais e políticas, é a vocação fundamental da Igreja neste setor.” (A Igreja no Estado laico, Jornal: O Estado de S.Paulo - Seção: Espaço Aberto - 13/10/2007).

105 - Said Farhat transcreve algumas definições dos grupos que atuam para pressionar os governos no desenho das políticas públicas: 1 – Grupo de Interesse é todo grupo de pessoas físicas e/ou jurídicas, formal ou informalmente ligadas por determinados propósitos, interesses, aspirações ou direitos, divisíveis dos outros segmentos da sociedade. 2 – Grupo de Pressão é o grupo de interesses dotado de meios humanos e materiais necessários e suficientes – e da vontade de utilizá-los ativamente – para a promoção de seus objetivos, até vê-los atingidos (2007, p. 146). A Igreja, como qualquer outra sociedade organizada legalmente, constitui um grupo de interesse.

seculares e, depois, na sua separação dos Estados, foco nas suas questões centrais no jogo político.

A Igreja atua como grupo de pressão para fazer valer seus valores. Quanto mais um Estado se vê enfraquecido, desprestigiado por seus cidadãos ou por alguma filosofia ou ideologia, mais precisará das organizações religiosas nas políticas públicas (Azevedo, 2004) para colaborar no desenvolvimento das mesmas. Para a Igreja, o Estado moderno está moralmente enfraquecido pela influência das idéias liberais e, por isso, deve intervir. Exemplifico com o relato de Said Farhat no caso das pesquisas envolvendo o genoma humano: “Receavam os bispos brasileiros a possibilidade da clonagem de seres humanos” (Farhat, 2007, p. 378), daí pressionarem o Congresso brasileiro para não permitirem tais pesquisas. Esse exemplo de jogo político, alguns já citados em capítulos anteriores, pode ser acompanhado de outros que se referem à educação religiosa gratuita e obrigatória nas escolas de primeiro grau e aos direitos e à liberdade de todos os cidadãos106.

A Igreja tem valores em jogo que acredita ser superior aos valores do Estado, pelo embasamento teológico, dogmático, enfatizado ao longo da sua história e fundamentado em textos considerados inerrantes ou canônicos. Sobre esses interesses e o modo como a Igreja atua na política de ambos os Estados é que trabalho a seguir, sustentando a hipótese de que a Igreja tem perdido espaço e está em desvantagem quando a democracia desenvolve-se com mais autonomia. Por outro lado, a história registra vantagens para a Igreja quando os regimes democráticos são fragilizados quer pela tirania ou qualquer outra deturpação de governo, sem contar a dimensão da ineficácia de muitos setores do governo que não permitem maior agilidade na aplicação das políticas públicas.

Existe, ainda, uma correlação entre a hegemonia religiosa da Igreja nas sociedades argentina e brasileira, com seu poder político fortalecido pelas decisões tomadas a partir do centro e as fronteiras do Estado. Fronteiras que não se restringem à

106 - A Constituição Brasileira de 1988 reafirma a necessidade de se destacar, logo no preâmbulo, os Direitos Humanos: “valor supremo de uma sociedade fraterna e pluralista, sem preconceitos... promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil”. Nas legislações brasileiras infraconstitucionais, o artigo 208 do Código Penal define como crime a perturbação ao culto ou seu impedimento. O artigo 3º da Lei Nº 4898/1965 designa possíveis impedimentos de abuso de autoridade. Portanto, no Brasil, os direitos humanos de expressão de consciência e de liberdade religiosa estão amparados tanto pela Constituição quanto por leis infraconstitucionais, o que é demonstração de amadurecimento da laicidade do Estado. Também pode ser visto como uma conquista religiosa resultante da sua ação junto ao poder legislativo.

geografia, mas adentram nas esferas simbólicas e no poder de influenciar as decisões do Estado107.

O Estado, a partir da consolidação democrática, inicialmente pela liberdade do voto concedida aos cidadãos, independente de classe social, etnia, gênero ou religião, e depois pelas execuções de políticas públicas que visem a igualdade e a eqüidade entre pessoas das mais diferentes condições sociais e econômicas, adquire maior autonomia política e maior liberdade para compactuar com a sociedade através do consenso. A participação de diversas instituições religiosas e os atores políticos do jogo democrático, contribuem para a extensão do Estado e a compreensão da democracia108. Para Norberto Bobbio: “o primado do público significa o aumento da intervenção estatal na regulação coativa dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos infra-estatais, ou seja, o caminho inverso ao da emancipação da sociedade civil em relação ao Estado” (2007, p. 25). Ao Estado cabe a regulamentação das relações, o estabelecimento das leis e seu cumprimento, a ameaça da violência pelo descumprimento das regras. A tendência não é que o Estado perca território simbólico, mas ao contrário, que o Estado avance nas decisões políticas, buscando satisfazer os atores políticos de diversos matizes religiosos.

As decisões políticas do Estado, regra geral, são aceitas e cumpridas se a autoridade de quem decidiu é legitimada pela coletividade, caso contrário, estabelece-se o conflito entre decisões tomadas e nenhuma atitude relacionada à essa tomada de decisão, ou seja, inoperância na execução das políticas públicas. Mas pode existir coalizão de interesses entre segmentos antagônicos para a execução de uma determinada política pública, desde que a sua implementação resulte na satisfação dos interesses das partes, ainda que filosoficamente opostas e contraditórias, como no caso da teoria dos batistas e contrabandistas descritas por Jorge Vianna Monteiro109, quando, apesar dos interesses antagônicos, ambos trabalharam para a proibição de bebida alcoólica.

107 - A Igreja atua como grupo de pressão, exemplo disso é relatado por Said Farhat no caso das pesquisas envolvendo o genoma humano: “Receavam os bispos brasileiros a possibilidade da clonagem de seres humanos” (Farhat, 2007, p. 378).

108 - Utilizo a definição lógica dos termos: quanto maior a extensão menor a compreensão, e quanto maior a compreensão menor a extensão. Quero dizer com isso que o Estado, ao estender seu poder sobre a Igreja, ele é em extensão, e à medida em que a Igreja perde sua hegemonia, a democracia é em compreensão. Isso pode ser simplificado parafraseando Aristóteles: quanto maior a hegemonia da Igreja, menor será o desenvolvimento da democracia. Insiro aqui um componente que, embora lógico, também me parece ser novo na discussão, trata-se da maior democracia quanto mais a Igreja se fragmenta em seitas. Nesse caso, levando-se em conta essas premissas, o Brasil é um país mais democrático que a Argentina.

109 - Jorge Vianna Monteiro, 2007, reporta-se ao episódio dos Batistas e Contrabandistas (p. 113): “Tal denominação curiosa decorre da ambientação que Yandle propõe para sua teoria: a regulação do mercado de bebidas alcoólicas que impede que os pontos-de-venda funcionem aos domingos. Em defesa da

No jogo político, a pressão religiosa para a continuidade da criminalização do aborto tem como força aparentemente contrária o Estado. No entanto, pela escassez de recursos alocados para a área da saúde, e pelas políticas públicas de saúde, não é interessante para o Estado a descriminalização do aborto, visto que é o sistema de saúde que arcaria com mais de um milhão de abortos por ano feitos no Brasil. A criminalização do aborto foi ratificada na 13ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em Brasília aos 18 de novembro de 2007 por 70% dos cinco mil participantes (portalmédico.org.br), excluindo-se o tema no encaminhamento ao governo do relatório final. Logo, o Estado tem um forte argumento para não desenvolver uma política pública de saúde sobre o aborto.

Na Argentina, os números oficiais dos abortos ultrapassam os quatrocentos mil por ano. No entanto, discute-se na mídia em geral as dificuldades de implementação dessa assistência quando o aborto não mais for considerado crime. A insistência nessas discussões passa pela necessidade política de reconhecimento dos eleitores da dignidade moral dos eleitos, se assim é, a importância da justificação religiosa para a classe política está atrelada à domesticação da classe dominada, nos moldes sociológicos. É quando um grupo de interesse, depois de assumir posições proativas, dedica-se não só a divulgação de seus interesses, mas também busca a consecução dos seus objetivos (Farhat, 2007).

Temas polêmicos como casamento homossexual, pesquisas com células – tronco, aborto, entre outros, são utilizados pela Igreja para demonstrar sua influência na cultura e nos valores da sociedade em geral110. Temas que servem também para que o Estado, utilizando-se da influência da Igreja, se livre da responsabilidade social que é

temperança, os batistas atuam no interesse geral; por seu turno, prevendo obter ganhos especiais decorrentes da restrição à competição nesse mercado, os contrabandistas acionam o mecanismo do rent

seeking. É como se formassem uma coalizão de batistas e contrabandistas”.

110 - Desde a Encíclica Casti Conubii, do Papa Pio XI, de 31 de dezembro de 1932, a Igreja trata das questões relacionadas ao aborto, proíbe aos médicos qualquer intervenção que coloque em risco a vida da mãe ou do filho. A encíclica exerceu muita influência nos Estados da Argentina e do Brasil, e serve como apoio para as instituições que lutam contra o aborto, como a Pró-vida de Anápolis, citada neste trabalho. Depois, na Encíclica Evangelium Vitae, do Papa João Paulo II, de 1995, entra em cena a questão econômica como crítica aos mais ricos, e procura ensinar que os mais pobres são vítimas do sistema capitalista. Outras questões são as violências contra o planeta e contra a dignidade humana, a violência contra os nascituros, a violência contra a vida praticada pelos que defendem o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido, o sexo fora do casamento ou ainda o praticado com uso de anticoncepcionais, de preservativos, etc. É outro documento que fortalecerá as ações das entidades religiosas contra o aborto, contra o uso de preservativos, contra o planejamento familiar e contra algumas pesquisas na área da saúde, pressionando os Estados a não prosseguirem com certas pesquisas como a das células-tronco.

constitucionalmente de sua competência111. Na avaliação do custo e do benefício político compensa possível desgaste, desde que esse desgaste seja administrado politicamente por ambas as partes envolvidas no jogo. O desgaste não pode refletir em perda de credibilidade por parte dos políticos e nem dos religiosos, pois ambos são percebidos socialmente pela honestidade: “a seleção é definida por indicadores mais permanentes e não-políticos da qualidade, como a integridade e a competência” (Monteiro, 2007, p. 117). A seleção significa, na política, a supremacia dos votos de um candidato sobre os demais, e na religião é a adesão à uma instituição eclesiástica em detrimento das outras. Nem a Igreja e nem o Estado estão dispostos a pagar um alto preço nesse jogo político de interesses particulares.

Se no passado “a religião mostrou ser uma das forças mais eficientes e poderosas de unificação na vida de todos os tipos de Estado” (Wach, 1990, p. 249), também hoje o Estado não pode prescindir da Igreja que é uma das religiões institucionalizadas, inclusive utilizando-se dela para justificar suas ações. Por isso a idéia de assinar

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