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São Francisco de Paula, o santo eremita, nasceu na Calábria, numa localidade chamada Paula, Itália, a 27 de Março de 1416. Em criança sofrera um acidente que quase lhe custara a vista. Os pais, em desespero, prometeram que caso se salvasse, o filho vestiria durante um ano o hábito de uma ordem e ingressaria num convento. Assim se cumpriu e o jovem Francisco d’ Alessio não só se tornou monge franciscano como veio a fundar a sua própria Ordem dos Eremitas Franciscanos, num convento, que construiria posteriormente, em Consenza. Por volta dos setenta anos, o santo viu-se à prova com uma dura missão. O rei francês, Luís XI, que padecia desde há muito de uma doença, acreditava que só através da intervenção de São Francisco, se poderia curar definitivamente. Apostando neste objectivo, mandou que o chamassem de Itália, para que a sua intervenção divina actuasse na corte francesa.

São Francisco que temia uma viagem desta natureza e dado que se encontrava numa idade avançada, procurou por todos os meios evitar esta missão, mas de nada lhe valeu, dado que o rei francês pediu a mediação do Papa neste assunto. Perante a missiva que, vinda de São Pedro, ordenava a viagem de São Francisco à corte francesa, o mesmo pôs-se a caminho, por entre vicissitudes como a passagem por regiões onde grassava a peste e a consequente permanência no lazareto da baía de Bornes, onde esteve de quarentena.

Chegado à corte francesa, o rei não teve a cura milagrosa e física que esperava, mas antes teve e assistiu à sua transformação moral, e de um monarca déspota que se preocupava apenas com o seu bem-estar, assistiu-se à mudança para um governante que na sua débil saúde se preocupou finalmente com os problemas do reino.

Falecendo o rei, o seu sucessor, Carlos VIII, procurou instaurar a Ordem dos Mínimos em França, em reconhecimento do grande feito do Santo, que, afinal,

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salvou, ainda que moralmente, a alma e a figura de Luís XI e ficou conhecido como o intercessor divino pela saúde dos monarcas.

Tendo morrido aos noventa e um anos, os últimos vinte e cinco passados na corte francesa, o santo foi alvo da veneração e da dedicação de uma Duquesa de Bourbon, filha de Luís XI e da mãe do futuro Francisco I, a Condessa de Angoulême, que patrocinou a construção da sua sepultura na igreja e convento da Ordem.

Por último o agradecimento da rainha Cláudia, que quando se encontrava desesperada para dar o futuro herdeiro à França vê realizado esse desejo, promove pessoalmente a canonização de São Francisco, que veio a ser realidade a 1 de Maio de 1519.

Em Portugal, a história da igreja de São Francisco de Paula tem o seu início em Janeiro de 1648, quando D. Ana de Lima doou os seus bens aos padres de São Francisco para que estes os administrassem da melhor forma. Como faltava uma casa para esta Ordem, D. João V, a 13 de Julho de 1717, concedeu aos padres o alvará e a licença para que pudessem construir o seu hospício em Lisboa.

Em 1710, o Marquês de Minas, D. Francisco de Sousa, trouxe de Espanha, frei Ascenso Vaquero e hospedou-o em sua casa. Oriundo da vila espanhola de Palma, tinha professado no Convento de Nossa Senhora da Conceição de Utrera, na Andaluzia e granjeou simpatias no Paço, onde acabou por se tornar numa espécie de enfermeiro da Família Real, ajudando na cura da doença da infanta D. Bárbara, futura princesa das Astúrias.446

Em 1719, frei Ascenso, terá tido a iniciativa de fundar a tão desejada casa e para isso contou com o apoio do então Marquês de Minas, que cedeu os terrenos necessários para a edificação da igreja e casa anexa, convertida em hospício de assistência aos mais pobres e que mais tarde foi transformado em convento.

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Sobre a fundação dos Mínimos em Portugal, sua trajectória e prodígios atribuídos a São Francisco de Paula, nomeadamente a sua intervenção divina em caso de Terramotos na cidade de Lisboa, leia-se “São Francisco de Paula e a sua projecção Lisboeta, no 450º aniversário da sua morte”, por Julião Pécantet, in Revista Municipal, Direcção Dr. Jaime Lopes Dias, nº 76, 1º Trimestre de 1958, p.5 a 23.

A obra ainda esperou até 1743. Foi necessária a intervenção da rainha D. Mariana Vitória, que ao ver a sua filha mais velha, D. Maria Francisca, futura rainha D. Maria I, então uma criança de nove anos, doente e sem cura à vista, terá pedido a intervenção divina a São Francisco de Paula e aos padres da Ordem Terceira dos Mínimos, para o restabelecimento da princesa. A mesma fórmula de pedido à semelhança do que acontecera com as princesas da corte francesa e com a própria história pessoal de São Francisco, no desespero dos seus pais, em alcançar a sua cura.

A princesa D. Maria restabeleceu-se e, em agradecimento, a rainha D. Mariana Vitória terá patrocinado, à sua custa,447 as obras e a fundação do actual edifício em 1743. Os padres com tamanha responsabilidade, procuraram escolher e rodear-se dos melhores artistas e arquitectos para conferir a qualidade e a dignidade real ao espaço.

Tem-se atribuído a traça da igreja e do edifício anexo ao pintor Inácio de Oliveira Bernardes, mas, a partir do Contrato Notarial, celebrado em Lisboa, a 13 de Maio de 1750, entre os padres de São Francisco de Paula, na pessoa de Frei António de São Cipriano, e o mestre-de-obras canteiro Lourenço Moreira, pelo menos o altar-mor e a parte do interior da igreja deveu-se à acção de Mateus Vicente de Oliveira como atesta o documento:

(...) de fazer/ as obras de huns pedestais para a nova igreja dos ditos Religiosos de São Francisco de Paula desta corte conforme o risco e/ plantas feita pello Architeto Matheus Vicente (...)448

Não seria de estranhar a escolha do arquitecto Mateus Vicente. Colaborava ainda, nesta altura, nas obras de recuperação da Igreja de Santo Estêvão e a fama da boa prestação de serviços e da obra que estava a realizar em Queluz

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Apesar do empenho da futura rainha D. Mariana Vitória na concretização da obra, é certo que na época ainda reinava o seu sogro, D. João V, que só veio a falecer em Julho de 1750.

Foi este monarca que iniciou as obras e permitiu o seu arranque, concedendo a devida dispensa. Como veremos, as obras da igreja tiveram início em 1750 e posteriormente gozaram do efectivo empenho da rainha D. Mariana Vitória, finalizando o encargo, a sua filha a rainha D. Maria I, a partir de 1777.

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Ver Anexo I, Doc. nº34. DGARQ-IANTT, In Cartório Notarial nº 11 (antigo), Caixa 133, Livro nº 596, fl.15-16.

indiciavam aos padres de São Francisco de que se tratava da pessoa certa para desempenhar este encargo real.

Sendo também muito próximo da família real, dado que trabalhava para o infante D. Pedro, futuro marido de D. Maria e estava ao serviço da Casa do Infantado, Mateus Vicente seria uma das pessoas mais habilitadas para edificar esta igreja e a casa anexa449.

O projecto não seria fácil, o terreno onde se situa o edifício encontra-se em declive e adossado ao casario existente, tem pouca luz e houve necessidade de se apostar numa ampla escadaria de acesso ao interior do templo.

O exterior, embora sem prova documental e pela proximidade do traçado, permite-nos afirmar que a influência borrominiana está presente, maioritariamente no edifício e no convento anexo: no arco contracurvado a rematar a fachada e sobre o escudo das armas reais450, nas duas molduras recortadas e sobre as entradas para a escadaria451, nas duas torres do relógio,452 atribuídas ao bolonhês Giacomo Azzolini453, já de finais de 1700, e em toda a fachada da antiga parte conventual, hoje convertida em residência particular454. Neste último caso, em particular, e comparativamente, não só se encontram as influências borrominianas, como também são notórias as semelhanças com o palácio Barbacena, a Santa Clara, nos pormenores das janelas455, e com o antigo palácio do Patriarcado, na entrada principal da casa e na varanda, estilo balcão, ondulada e com o mesmo desenho típico de gradeamento456.

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São algumas as semelhanças que se encontram na fachada do antigo convento dos padres de São Francisco de Paula e a fachada principal do Palácio do Patriarcado no Campo Santana, nomeadamente a balaustrada das janelas centrais e o coroamento das mesmas com os arcos querenados. Ver Anexo I, Imagens nºs 137 e 138.

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Ver Anexo I, Imagem nº 136.

451

Ver Anexo I, Imagem nº 139.

452 Ver Anexo I, Imagem nº 135. 453

José Augusto França, Lisboa, História Física e Moral, Lisboa: Livros Horizonte, 2009, p. 313.

454

Ver Anexo I, Imagem nº 137.

455 Ver Anexo I, Imagens comparativas nºs 138 e 141, dos dois exemplos. 456 Ver Anexo I, Imagem nº 138.

Ainda na fachada e na entrada para as duas escadas laterais, os nichos apresentam os símbolos “M” que surgem desenhados nas pilastras e nos remetem para uma possível “assinatura” do arquitecto457

.

As armas do rei D. José I, no frontão principal, não deixam dúvidas de que se trata de uma obra de mecenato real, anterior a 1755, e que assim beneficiou de alguns donativos do rei. Uma obra iniciada em 1750, no final do reinado de D. João V e também coincidente com o início do reinado do monarca.

A intervenção de Mateus Vicente em São Francisco de Paula deu-se em dois momentos. Um primeiro em 1750, com a assinatura deste contrato notarial e um segundo, em 1781, que coincide com a morte da rainha D. Mariana Vitória, e a obra do seu mausoléu, atribuído a Machado de Castro, sendo importante a sua actuação na posterior integração do monumento no interior da igreja.

Pela leitura do mesmo contrato notarial ficamos a saber que a obra se iniciou anteriormente a 13 de Maio de 1750, que as plantas foram executadas por Mateus Vicente e que a obra foi realizada pelo mestre-de-obras do ofício de canteiro, Lourenço Moreira, morador na Ribeira de Barcarena, a terra natal do arquitecto, que também iniciou a sua actividade profissional como canteiro. Provavelmente não só se conheciam como Lourenço Moreira terá sido recomendado pelo arquitecto para realizar a empreitada.

Foram utilizados mármores, a mais nobre das pedras, no altar-mor e sobretudo nos pedestais, em diferentes tonalidades ou como vem referido no documento458:

(...), “diferentes pedras nas cores a saber branco vermelho e a/ zuis que

ahi se apresentou e entregou a elle dito Mestre Lourenço Moreira”459

Mais uma vez a escolha e a preferência de Mateus Vicente pela conjugação do cromatismo dos mármores teve como função conferir harmonia ao conjunto, elemento característico da sua traça, e a luz necessária que não havia, devido à localização do edifício num espaço estreito e em declive.

457

Ver Anexo I, Imagem nº 142.

458

Ver Anexo I, Imagem nº 143.

459 Ver Anexo I, Doc. nº34. DGARQ-IANTT, In Cartório Notarial nº 11 (antigo), Caixa 133, Livro

O preço da obra foi arrematado pela quantia de 500 mil réis a pagar na condição de que a mesma estaria terminada em finais de Agosto de 1750460.

A compra da pedraria estaria a cargo do mestre canteiro de Barcarena, que ficava obrigado a cumprir o estipulado nas plantas que se lhe entregaram na altura em que assinou o referido contrato com Frei António de São Cipriano, o procurador dos padres vigários e provinciais da mesma Ordem de São Francisco.

Os mármores escolhidos: o amarelo de Negrais, o rosa de Morelena e os azuis de Negreiros, materiais da zona de Pero Pinheiro e de Sintra, são de zonas conhecidas pelas suas pedreiras e localidades habitualmente indicadas pelo arquitecto, materiais esses também usados nas obras de Queluz, contemporâneas às de São Francisco de Paula.

O resultado da obra no altar-mor compõe-se de quatro colunas de amarelo de Negrais com os capitéis de ordem compósita, lavrados sustentando um arco quebrado por entre o denticulado de cantaria de lioz branco de Pero Pinheiro461. À direita encontra-se a tribuna real, enquadrada na parede de mármore rosa e assente em seis volutas adossadas à mesma parede, para a rainha D. Mariana Vitória e a família assistirem às celebrações religiosas.462

A tribuna está revestida a veludo vermelho. Serviria a rainha, que podia desta forma assistir à missa sem ser vista, e aceder à igreja por uma entrada localizada nas traseiras da igreja.

Por baixo da tribuna existem duas portas de acesso ao corredor da sacristia e, ao centro, um nicho com um altar dedicado à Virgem463, sob um friso com o efeito de um arco contracurvado.

A tribuna encontra-se actualmente fechada, a porta que lhe dava acesso foi encerrada464 e converteu-se esse mesmo espaço numa sala cujo tecto, apresenta as armas da rainha D. Mariana Vitória, sustentadas por dois anjos465.

460 Ibidem, fl. 15v.

461 Conforme o que estava estipulado no referido contrato notarial, nas plantas desenhadas por

Mateus Vicente e cumpridas pelo mestre canteiro Lourenço Moreira. Ver a transcrição do respectivo contrato notarial em Anexo II, Doc. nº34.

462 Ver Anexo I, Imagem nº 144. 463 Ver Anexo I, Imagem nº 145.

Todo o altar-mor está revestido a mármores rosa, amarelo e azul, bem como o resto do templo, o que nos sugere uma continuidade da obra no mesmo modelo aplicado naquele altar.

Data de 1754 o seguinte documento:

Manual da despesa das obras da Igreja deste Real Convento por conta da augusta Rajnha Nossa Senhora466

Neste códice estão descritas as despesas e o rol de trabalhadores que intervieram

(...) no Real Convento feito na obra da igreja e de mais despesas/ pertencentes a dita obra adeministrada pelo Mui Reverendo/ Padre Frei Francisco de Paula Bocio anno de 1754.

Trata-se de uma descrição das despesas com a obra da igreja, no seguimento da primeira fase de construção da mesma, iniciada em 1750 com Mateus Vicente, que desenhou as plantas do altar-mor.

Neste códice são descritas as obras de alvenaria e os pagamentos feitos aos trabalhadores por cada semana de trabalho, desde o mês de Maio de 1754 até ao mês Julho de 1758. Não existe qualquer menção ao arquitecto interveniente, nem à autoria do risco, facto apenas desvendado pelo contrato notarial acima referenciado, em que vem indicado o nome de Mateus Vicente como o autor da obra do altar-mor.

Pela descrição das despesas, a obra sempre prosseguiu a um bom ritmo e neste ano foram pagas grandes quantias de dinheiro para os materiais, podendo-se afirmar a boa vontade na prossecução do empreendimento e na continuidade da obra.

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A obra realizada na década de setenta do século XX, foi mandada executar pelo padre da época, pela pouca serventia que a tribuna desempenhava para a igreja.

465 Ver Anexo I, Imagem nº 146. 466

Original existente em DGARQ- IANTT, trata-se de um códice de 239 folhas, disponível em suporte microfilme para consulta, já referenciado e apresentado por Maria Teresa Sequeira Santos em: A Igreja de São Francisco de Paula: o encomendante, os artistas e a obra. Texto policopiado. Tese de Mestrado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1996.

Figuram nas respectivas folhas, e em primeiro lugar, os mestres Clemente José, Manuel Álvares, José Antunes, Simão Francisco seguindo-se o pagamento da cal e das telhas467.

Em Agosto de 1754 foram gastas as importâncias de 37 mil e 500 réis com as 125 covadas de alvenaria, cada uma a 300 réis, as 900 telhas, 2 escadas e os 300 tijolos rebatidos. 468

Em Setembro desse ano um novo avanço nas obras. Por esta altura, foi pago ao ladrilhador o seu ordenado, assim como as grades para as janelas do coro, os gatos de ferro, as cruzetas com os seus ferrolhos, duas cegonhas e duas argolas para os sinos e as 19 carradas de pedra de alvenaria.469

Em finais de Outubro de 1754, foi emitido um decreto a favor do Vigário Geral do convento, permitindo-se a tomada de mais seis palmos da rua para a construção da igreja que se estava a edificar470

No ano de 1755, figuram como intervenientes principais nas obras o Mestre Clemente José, Manuel Vieira, José de Matos, José da Silva, Henrique José e como trabalhadores Matias Roiz, Marcos do Monte, José de São Paulo, Tomás de Oliveira, Manuel dos Santos e Belchior Gonçalves471.

Em Junho de 1755 procedia-se à colocação das 12 carradas de lajes para o fundamento do alicerce a 850 réis cada uma e:

467 Ibidem, fl.16. 468 Ibidem, fl.17. 469 Ibidem, fl.31. 470

Diz o Padre Frei Francisco de Paula Vigário Geral/ do convento de São Francisco de Paula desta corte, e ão presen/ te administrador da obra da Igreja que para collocação do dito/ santo por ordem, e a sua custa da Rainha Nossa Senhora se está/ fazendo no sítio do dito convento/ Atendendo ao que o suplicante me representa, e por/ especial. Sou servido ordenar, que possão tomar/ seis palmos da rua para a Igreja. O Senado da/ Câmara o tenha assim entendido, e o mande exe/ cutar na forma do estilo. Bellem, quatro de No/ vembro, de mil settecentos cincoenta e quatro. In AML-AH, Chancelaria Régia, Livro VI de Consultas, Decretos e Avisos de D. José I, fl. 215-218. PT/AMLSB/AL/CMLSB/ADMG-E/61/2119.

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“(...) de as trazer da praia athe a obra, duas mil telhas e do concerto da calha472.

Na última semana de Outubro, que principiou em 27 e findou em 31 do dito ano473, foram realizados os últimos pagamentos antes do dia do Terramoto de 1755.

A relação de despesa da obra é sequencial e termina precisamente a 31 de Outubro de 1755. A folha seguinte, já nos remete para as despesas do ano de 1756.

Sem a descrição da relação da despesa com os materiais e com os trabalhadores presume-se que nestes oito meses, a obra tenha parado, devido a outras prioridades em matéria de reconstrução da cidade.

Em Agosto de 1756, figura uma nova equipa que prossegue com a construção da igreja. São enumerados em primeiro lugar os Mestres Francisco Xavier do Cabo e Rodrigo da Fonseca, seguindo-se os trabalhadores: Baptista Nunes, Marcos do Monte, José da Costa, Domingos Nunes e José Gomes.

Com menos pormenores na descrição da despesa, não são apresentados quaisquer elementos que indiciem que a igreja tenha sofrido ruína com o terramoto. Aliás, as despesas agora apresentadas referem-se a pequenos arranjos estéticos e finais da obra, o que nos permite afirmar que a construção da igreja estivesse praticamente concluída em 1754.

Apesar do nome de Mateus Vicente não vir mencionado no livro de despesa a sua actuação no interior da igreja para além da capela-mor é inegável.

No interior da igreja as paredes são em calcário branco e rosa e o pavimento em granito474.

No tecto encontra-se a pintura representando São Miguel a entregar a tarja

“Charitas” a São Francisco de Paula e sobre o altar-mor os atributos da Ordem

472

Ibidem, fl.99.

473

Ibidem fl.127.

Franciscana: Jejum, Pobreza, Obediência, Castidade e, no topo, a Humildade e a Caridade.

As seis capelas laterais existentes no interior da igreja são rematadas por arcos querenados475, à semelhança da traça habitual do arquitecto, decoradas com as vistosas volutas, palmas e festões476. Mais tarde, a mesma solução é adoptada na capela do Paço da Bemposta477.

As telas, a partir da descrição feita por Cirilo Volkmar Machado, são atribuídas a Vieira Lusitano o pintor da corte, que também trabalhou para a Casa do Infantado.478

As capelas estão destinadas ao culto de Santo António e à Sagrada Família do lado do Evangelho. As capelas do lado oposto são dedicadas, respectivamente, a São Miguel, Assunção da Virgem, Adoração dos Pastores e a Nossa Senhora da Conceição.

A restante obra pictórica é pelo mesmo autor, Cirilo, atribuída a Inácio de Oliveira Bernardes, responsável pelas telas alusivas à vida de São Francisco, do seu patronato e das divisas do fundador da ordem dos frades menores.

Toda a nave da igreja é decorada com a talha dourada, característica do barroco da época, numa clara influência italiana e com alguns traços que se encontram na Basílica da Estrela.479

Apesar de não se apurarem mais documentos que atestem a autoria de Mateus Vicente na construção do restante espaço da igreja de São Francisco de Paula,

475

Ver Anexo I, Imagem nº 147.

476 Ver Anexo I, Imagens nºs 148 e 149. 477 Ver Anexo I, Imagem nº 150.

478

Cirilo Volkmar Machado cita a autoria das telas e do risco da igreja de São Francisco de Paula respectivamente a Vieira Lusitano e a Inácio de Oliveira Bernardes. Nunca mencionou a presença de Mateus Vicente de Oliveira como arquitecto da igreja. Ou desconhecia este facto, o que seria de estranhar dada a contemporaneidade dos intervenientes, ou o tornou propositadamente omisso, dado que sabemos que não nutria grande simpatia por Mateus Vicente, chegando ao ponto de o caracterizar como uma pessoa de “(...) espírito mesquinho”. In Collecção de memórias, relativas às vidas de Pintores e Escultores, Architectos e Gravadores Portuguezes, e dos Estrangeiros que estiveram em Portugal, Lisboa, 1823. Reedição da Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1922.

479 Esta opinião é perfilhada por Julião Pécantet, quando afirma “O interior, de um baroco muito

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