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30 II A SPECTOS C OMERCIAIS

No documento MERCOSUL ACESSO AO MERCADO (páginas 30-34)

1. INSTRUMENTOSDEPROTEÇÃOCONTRAPRÁTICASDESLEAIS

1.1. “Dumping” e subsídios

O MERCOSUL adotou várias resoluções e decisões sobre a matéria, em estreita sintonia com as diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC), tais como as a seguir relacionadas:

••••• Decisão nº. 3/92, do CMC, que regula o “Procedimento de queixas e consultas sobre práticas desleais de comércio

aplicáveis durante o período de transição”.

••••• Decisão nº. 7/93, do CMC, que aprova o “Regulamento relativo à defesa contra as importações que sejam objeto de

“dumping” ou de subsídios provenientes de países não-membros do Mercado Comum do Sul”, vigente a partir de 1º de janeiro de 1995.

••••• Resolucões nº. 63/93, 49/94, 129/94 e 05/95, relativas a «Investigações de dumping».

O regulamento aprovado pela Decisão nº. 7/93 não disciplina as situações que possam ocorrer no interior do MERCOSUL; somente atende aquelas que, geradas fora da Região, causem prejuízo ou ameacem causar prejuízo ao todo ou a parte do mercado comum.

No âmbito da OMC, a norma vigente é que, em matéria de “dumping” serão observados os dispositivos do “Acordo relativo à Aplicação do Artigo VI do GATT de 1994” e em matéria de subsídios, o “Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias”.

1.1.1. Elementos caracterizantes de “dumping”

O Regulamento pertinente à defesa contra as importações que sejam objeto de “dumping” ou de subsídios provenientes de países não-membros do MERCOSUL expressa, em seu Artigo 2º, que “se considerará que um produto é objeto de “dumping” toda vez que o mesmo for introduzido no mercado de um dos países integrantes do MERCOSUL com um preço inferior a seu valor normal, ou seja, quando seu preço de exportação for menor que o preço comparável no curso de operações comerciais normais, de um produto similar destinado ao consumo no país exportador”.

Os principais elementos que caracterizam uma situação de “dumping” no MERCOSUL são:

• que o preço de exportação de um produto importado por qualquer um dos países- membros da Região, no país de origem, seja inferior ao valor normal de um produto similar destinado ao consumo no mercado do país de origem do produto (país exportador). Entende-se por “valor normal” o preço realmente pago ou a pagar e por “produto similar” o produto idêntico ou aquele que, embora não sendo igual em todos os seus aspectos, tem características muito semelhantes às do produto considerado.

• que se produza dano ou que exista ameaça grave de dano à produção doméstica de um produto similar, ou ainda que se possa vir a retardar sensivelmente sua produção na Região.

• que exista relação causal entre a prática comercial desleal e a ameaça de dano importante à produção nacional ou de atraso na implantação de um projeto no respectivo segmento de produção.

1.1.2. Elementos caracterizantes de subsídio

A finalidade dos subsídios é beneficiar as exportações de um país por meio de prêmios, incentivos ou subsídios, outorgados direta ou indiretamente pelo Governo de um país e que não se circunscrevam ao terrítório desse país.

O Regulamento sobre defesa contra as importações que sejam objeto de “dumping” ou de subsídios provenientes de países não-membros do MERCOSUL expressa, em seu Artigo 3º, que poderão ser estabelecidos direitos compensatórios com o objetivo de contrabalançar a concessão de subsídios, diretos ou indiretos, no país de origem ou de exportação, à fabricação, produção, exportação ou transporte de qualquer produto primário ou não-primário, cuja exportação para o MERCOSUL ocasione prejuízo ou atrase sensívelmente a implantação de uma produção doméstica regional.

Os elementos característicos da aplicação de subsídios guardam certa semelhança com aqueles pertinentes à prática de “dumping”, cabendo mencionar, entre outros, que se configura tal situação quando o preço de exportação no país de origem esteja comprovadamente subvalorizado em comparação com um produto similar não subsidiado; que esta subvalorização provenha de subsídios estatais diretos ou indiretos; que se produza dano ou exista ameaça de dano a segmento específico da indústria nacional. Para que se configure esta última situação é necessário que as importações registrem um valor mínimo determinado e que, do mesmo modo, o subsídio incorporado tenha um patamar mínimo.

1.1.3. Objeto da reclamação

A reclamação por “dumping” tem por finalidade obter do Governo a aplicação de direitos “anti dumping”, mediante imposição de uma tarifa adicional. A tarifa adicional deve guardar proporção com a margem de “dumping” à qual se refere. Esta margem será determinada mediante comparação com um preço representativo de produto similar

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quando este é exportado para um país, ou com o custo de produção no país de origem mais uma quantia razoável a título de gastos administrativos, de venda e de despesas de caráter geral. A margem de “dumping” é definida pelo Regulamento do MERCOSUL como o montante em que o valor normal supere o preço de exportação.

O direito “anti dumping” deve ser igual ou menor do que a margem de “dumping” e suficiente para corrigir o dano causado à produção nacional.

Por sua vez, a reclamação por subsídio tem por finalidade obter do Governo a aplicação de direitos compensatórios, mediante uma tarifa adicional incidente sobre a importação, de modo a neutralizar ou prevenir o efeito da subvenção. O mencionado direito compensatório deve ser igual ou menor do que a quantia concedida a título de subvenção.

1.1.4. Procedimento para a reclamação por “dumping” ou subsídio 1.1.4.1. Formas de iniciação

O trâmite poderá ser iniciado a pedido da parte interessada ou por solicitação oficial. A parte interessada poderá ser, por exemplo, os produtores de determinado segmento econômico, uma associação, câmara ou entidade de classe, em nome próprio ou de seus associados.

A investigação por solicitação oficial poderá ser pedida pelos Governos dos países-membros ou por iniciativa de organismo regional ou sub-regional de integração, quando se trate de assunto que afete interesses comunitários.

O Regulamento do MERCOSUL estabelece em seu Artigo 7.1 que a petição deverá ser apresentada pela “produção doméstica” afetada ou em seu nome.

1.1.4.2. Coleta de provas e informações

Quando o empresário resolver canalizar a reclamação por alguma das opções anteriormente descritas, deverá proceder à coleta de provas para fundamentar sua pretensão. As fontes de coleta podem ser oficiais ou privadas e internas ou externas.

1.1.4.3. Forma de apresentação das provas

As provas consideradas pertinentes deverão ser apresentadas por escrito, acompanhadas da solicitação de início de investigação correspondente, perante o país importador dos produtos objeto de “dumping” ou subsídio, de acordo com as normas da OMC. Os formulários próprios deverão ser acompanhados da prova instrumental que respalda a solicitação.

1.1.4.4. Exame da pertinência

Após a apresentação, as autoridades competentes analisarão a exatidão e pertinência das provas incorporadas à solicitação e determinarão se as mesmas são suficientes para justificar o início de uma investigação. O Regulamento do MERCOSUL dispõe em seu Artigo 7.5 que a decisão de abertura ou não de investigação deverá ser tomada no prazo de 45 dias contados a partir do momento do registro da petição.

A investigação será encerrada quando for recusada a solicitação, por se entender que não há prova suficiente da existência de práticas desleais ou nexo causal com o dano invocado, ou ainda, segundo os acordos da OMC, por se entender que a margem de “dumping” ou subvenção é “de minimis” ou que o volume das importações reais ou potenciais é “insignificante” (no caso de “dumping”).

Considera-se que a margem de “dumping” é “de minimis” quando resulta inferior a 2% do preço de exportação, e de 1% quando se trata de subsídio. Considera-se “insignificante” o volume das importações quando estas representam menos de 3% das importações do produto similar no país importador, quando provenham de um único país; e mais de 7% se provenientes de vários países.

Se consideradas pertinentes as provas apresentadas, a solitação será formalmente aceita e terão início as investigações. Antes de iniciar a investigação, entretanto, as autoridades deverão fazer a notificação correspondente ao Governo do país exportador. Uma vez aceita, o país ou países, assim como as demais partes interessadas, cujos produtos sejam objeto da reclamação, serão informados da investigação. A informação deverá, ademais, ser publicada em órgão de difusão oficial.

1.1.4.5. Instrução de investigação

Previamente ao início da investigação, o país que tramita a solicitação concederá, ao Governo do país exportador do produto que possa ser objeto da investigação, a oportunidade de celebrar consultas, com a finalidade de esclarecer a situação e alcançar uma solução mutuamente satisfatória. O Governo convidado deverá responder em 15 dias e, em caso afirmativo, deverá convocar audiência no prazo de 30 dias.

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Os acordos da OMC estabelecem prazo de um ano a um ano e meio, contados a partir do início da investigação, como prazo máximo de duração do processo. Ao longo da investigação, as partes terão plena oportunidade de defender seus interesses. A qualquer momento poderá ser suspensa a investigação, desde que se receba, da parte que originou a prática desleal, o compromisso formal de eliminar ou limitar a causa do dano ao segmento nacional prejudicado.

1.1.4.6. Aplicação de medidas definitivas

Se a investigação determinar definitivamente a existência de “dumping” ou de subsídios, a autoridade competente aplicará as seguintes medidas: a) no caso de importações subsidiárias, será imposto um direito compensatório igual ou inferior à quantia do subsídio, e b) no caso de “dumping”, será imposto um direito “anti-dumping” igual ou inferior à totalidade da margem de “dumping”.

Ambos os direitos poderão ser cobrados retroativamente sobre as importações efetuadas ao longo do período durante o qual foram aplicadas as medidas provisórias, em caso de haverem sido adotadas (Art. 11.1 do Regulamento do MERCOSUL). A retroatividade poderá alcançar no máximo 90 dias antes da data de início da vigência dos direitos provisórios.

As medidas terão vigência pelo período necessário para eliminar ou neutralizar o dano causado pela prática desleal, no prazo máximo de 5 anos, podendo ser estendido, caso se considere necessário manter a medida como modo de impedir a repetição ou continuação da prática.

1.2. Medidas provisórias

A qualquer momento, durante o transcurso da investigação, poderão ser aplicadas medidas provisórias. Tais medidas consistirão na imposição de direitos compensatórios ou direitos “anti-dumping” provisórios, garantidos por depósito em dinheiro ou à vista, haveres bancários ou títulos da dívida pública nacional, em montante igual à quantia do subsídio ou direito “anti-dumping” provisoriamente estimados.

As medidas provisórias poderão ser aplicadas pelo prazo máximo de 120 dias no caso de subsídios e de até 180 dias no caso de “dumping”, a pedido de exportadores que representem percentual significativo do mercado em questão.

2. REGIME TARIFÁRIO APLICADOÀS IMPORTAÇÕESDE TERCEIROS PAÍSES

2.1. Introdução

Ao constituir o Mercado Comum do Sul, o Tratado de Assunção previu que, durante o período de transição – desde sua entrada em vigor até 31 de dezembro de 1994, entre os principais instrumentos constitutivos estaria incluído o estabelecimento de “uma tarifa externa comum que incentive a competitividade externa dos Estados Partes” (Tratado de Assunção, Artigo 5, item c).

A formação de uma união aduaneira exige que os Estados Membros apliquem a mesma tarifa aduaneira às importações procedentes de terceiros países. No caso do MERCOSUL, essa tributação (Tarifa Externa Comum - TEC) foi fixada através de uma porcentagem sobre o valor da mercadoria (direitos “ad valorem”). Seu estabelecimento teve como pré-requisito a adoção de uma nomenclatura tarifária específica (Nomenclatura Comum do MERCOSUL – NCM) para a sub-região e um acordo sobre o nível de proteção aplicável a cada um dos itens da Tarifa.

2.2. O processo de adoção da TEC e suas principais características

2.2.1. O processo propriamente dito

O Conselho do Mercado Comum estabeleceu as pautas básicas da Tarifa Externa Comum, determinando que os Estados Partes deveriam adotar mecanismos de convergência de suas respectivas tarifas externas nos prazos vigentes (Decisão 7/94):

a) os bens de capital deveriam convergir de forma linear e automática até um imposto de importação comum de 14%, em 1º de janeiro de 2001, podendo determinar-se, por consenso, tributações em níveis inferiores. O Paraguai e o Uruguai foram autorizados a atingir essa alíquota em 1o de janeiro de 2006;

b) para os bens de informática e de telecomunicações, a convergência, linear e automática, da tarifa de importação máxima comum de 16% deverá ser efetivada em 1o de janeiro de 2006.

A Decisão prevê que o Brasil, a Argentina e o Uruguai mantenham, até 1o de janeiro de 2001, uma quantidade

máxima de 300 itens alfandegários da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) como exceção à Tarifa Comum, excluindo dessa quantidade os itens correspondentes a bens de capital, de informática e de telecomunicações. O Paraguai, por sua vez, poderá estabelecer até 399 exceções, excluindo também os itens correspondentes a bens de capital, de informática e de telecomunicações.

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Posteriormente, mediante a Resolução nº. 47/94 do Grupo Mercado Comum (GMC), estabeleceu-se o mecanismo operacional para a definição das listas de exceção à TEC. Cada país poderia apresentar, até 30 de abril de 1995, um número reduzido de itens tarifários adicionais com a finalidade de completar a lista básica de exceções à TEC, respeitando para cada país o limite máximo definido pela Decisão do Conselho.

O prazo previsto para a apresentação de um número reduzido de itens adicionais à lista básica de exceções foi prorrogado, pela Resolução 8/95 do Grupo Mercado Comum, até 20 de maio de 1995. Os Estados Partes poderiam proceder à revisão de suas listas básicas de exceções, compreendendo os itens agregados desde 1o de janeiro de 1995,

dentro do número máximo de itens estabelecido pela Decisão nº. 7/94, ou seja, 300 itens para a Argentina, Brasil e Uruguai e 399 itens para o Paraguai. A revisão das listas básicas poderia consistir na substituição de até 100 itens alfandegários na lista de cada país. As listas resultantes do processo de revisão entraram em vigor em 30 de maio de 1995. Com base nesses antecedentes, o Conselho do Mercado Comum adotou a Decisão nº. 22/94, mediante a qual se aprovou definitivamente a TEC, estruturada sobre a base da Nomenclatura do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias. A Decisão aprovou:

a) as listas básicas de convergência do setor de bens de capital, as quais poderiam ser complementadas até 30 de abril de 1995, e as listas de convergência do setor de informática e de telecomunicações. Nas referidas listas estão registradas os itens tarifários de ambos os setores, sujeitos ao mecanismo de convergência e ao esquema de convergência que lhes será aplicado até que se alcance a alíquota definida na TEC;

b) as listas básicas de exceções nacionais estabelecidas conforme a Resolução 47/94 do Grupo Mercado Comum. Nas referidas listas – como no caso do item “a” – estão registrados os itens tarifários temporariamente excetuados da TEC por cada Parte e o esquema de convergência que lhes será aplicado até que se alcance a alíquota definida na TEC; e

c) as listas de produtos excetuados da TEC, em virtude do Regime de Adequação Final à União Aduaneira, nas condições estipuladas pela Resolução nº 48/94 do GMC.

Também nas referidas listas estão registrados os itens e o esquema de convergência aplicável até que se alcance, para terceiros países, a alíquota definida na TEC.

A decisão 22/94 dispôs que a Tarifa Externa Comum, as respectivas listas de convergência, as listas de exceções nacionais e as listas de exceções resultantes do Regime de Adequação entrariam em vigor em 1º de janeiro de 1995, em

substituição às respectivas tarifas nacionais.

Partindo-se do princípio de que os planos de estabilização econômica adotados pelos Estados Partes do MERCOSUL poderiam requerer ações pontuais de curto prazo na área aduaneira, com vigência por tempo limitado e caráter de exceção, o Grupo Mercado Comum resolveu autorizar o Governo do Brasil a adotar ações específicas no campo alfandegário, ligadas aos objetivos da luta contra a inflação e à garantia de abastecimento no contexto do programa de estabilização em implementação no país. (Grupo Mercado Comum, Resolução 7/95, Art. 1º).

As ações pontuais referidas na Resolução poderiam atingir uma lista de até 150 itens alfandegários, divididos em duas categorias:

• itens fixos, que permanecerão sujeitos às ações pontuais pelo prazo integral de sua vigência (um ano), envolvendo um mínimo de 75 itens alfandegários;

• itens móveis, que poderão estar sujeitos às ações pontuais por prazo inferior a um ano e serem substituídos a cada três meses, contados a partir da entrada em vigor da lista, totalizando um máximo de 75 itens alfandegários.

A Resolução estabeleceu que os outros Estados Partes poderiam aplicar, durante o período de sua vigência, as mesmas alíquotas, de modo a preservar as condições equivalentes de competitividade na região (Art.7º).

Cabe destacar, por último, que o Conselho do Mercado Comum delegou, no Grupo Mercado Comum, competên- cia para modificar as alíquotas da TEC.

2.3. Principais características da TEC

2.3.1. Os níveis alfandegários

A Tarifa Externa Comum aprovada pela Decisão 22/94 contava com uma carga tarifária que variava de 0% a 20%, distribuída em onze níveis tarifários aplicáveis, praticamente, a 80% dos produtos importados de terceiros países. Os 20% restantes correspondem aos produtos excetuados da TEC, e que estão sujeitos à tarifa de cada um dos Estados Partes.

Em 12 de novembro de 1997, por meio do Decreto nº 2376/97, foram aprovadas alterações na TEC, que passou a vigorar com intervalos tarifários de 0% a 23%.

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