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A amostra. Dados demográficos.

Neste estudo foram observados e analisados os dados clínicos de 50 indivíduos com enxaqueca, sendo a amostra constituída por 40 mulheres e 10 homens, com uma idade média de 35,54 + 11,90 anos, (variava entre 10-61 anos), sendo uma média de 36,35 + 10,85 anos (variava entre 10 e 60 anos) para as mulheres e uma média de 32,3 + 15,67 anos (variava entre 13 e 61 anos) para os homens.

A amostra controlo deste estudo consistiu em 52 indivíduos, incluindo 36 mulheres e 16 homens, com idade média de 24,76 + 9,55 anos, (variava entre 9-47 anos), sendo uma média de 25,25 + 10,50 anos (variava entre 9-47 anos) para as mulheres, e uma média de 23,68 + 7,16 anos (variava entre 13-37 anos) para os homens.

No grupo com enxaqueca os grupos etários mais numerosos são a 3ª e a 4ª décadas, enquanto no grupo controlo os grupos etários mais numerosos são a 2ª e a 3ª décadas.

Na distribuição por sexos verificou-se que o sexo feminino predomina nos dois grupos, na proporção de 40:10 (F:M) no grupo com enxaqueca, e de 36:16 (F:M) no grupo controlo.

A análise estatística inferencial, de acordo com o teste de qui-quadrado, permite afirmar que a distribuição dos sexos pelos dois grupos estudados é semelhante X2 (1)=1,55; p=0,21; N=102.

A distribuição por idade e sexo do grupo com enxaqueca encontra-se representada na figura 1a e a do grupo sem enxaqueca na figura 1b.

Idade 70 60 50 40 30 20 10 F re q u e n c y 12 10 8 6 4 2 0

Figura 1a) Distribuição por idade e sexo do grupo com enxaqueca

Masculino Feminino

Sexo

Idade 50 40 30 20 10 0 F re q u e n c y 10 8 6 4 2 0

Figura 1b) Distribuição por idade e sexo do grupo controlo

Masculino Feminino

Sexo

Erro refractivo esférico e total.

A média do erro refractivo esférico dos dois olhos de cada grupo foi calculada e comparada. O verdadeiro valor (com sinal positivo ou negativo), em vez do valor absoluto, foi tido em conta, para ser possível distinguir desvios no sentido da hipermetropia ou da miopia.

A média do erro refractivo esférico subjectivo dos doentes encontrada foi de -0,60 D + 1,90 (variou entre -8,00 D e +2,25 D). A média do erro refractivo esférico subjectivo do grupo controlo foi de -0,081 D + 0,442 (variou entre -1,75 D e +0,75 D). A diferença entre a média do erro refractivo esférico dos dois grupos não é estatisticamente significativa de acordo com o teste de Mann- Whitney U, p=0,54. A média do equivalente esférico dos doentes foi de -0,68 D + 1,96, sendo a média do equivalente esférico do grupo controlo de -0,15 D + 0,51. A diferença entre as médias do equivalente esférico não tem significado estatístico, de acordo com o teste de Mann-Whitney U, p=0,395.

Foram encontrados entre os indivíduos doentes 10 casos com emetropia, 9 casos de hipermetropia, 10 casos de miopia, 8 casos de astigmatismo, 3 casos de associação de hipermetropia com astigmatismo e 10 casos de associação de miopia com astigmatismo.

No grupo controlo foram encontrados 17 casos com emetropia, 5 casos de hipermetropia, 7 casos de miopia, 14 casos de astigmatismo, 3 casos de associação de hipermetropia com astigmatismo e 6 casos de associação de miopia com astigmatismo.

Erro refractivo astigmático.

A média do astigmatismo absoluto dos doentes foi de -0,122 D + 0,478 (variou entre -1,75 D e +2,00 D cilíndricas). A média do astigmatismo absoluto do grupo controlo foi de -0,112 D + 0,407 (variou entre -1,25 D e +1,50 D cilíndricas). A diferença entre as médias do astigmatismo dos dois grupos não é estatisticamente significativa de acordo com o teste de Mann-Whitney U, p=0,71.

Anisometropia.

A anisometropia foi considerada uma variável contínua e foi calculada como a diferença absoluta interocular entre o equivalente esférico de cada olho. A média da anisometropia foi de 0,415 D + 1,145 para o grupo com enxaqueca e de 0,122 D + 0,179 para o grupo controlo. Esta diferença não é estatisticamente significativa (Teste de Mann-Whitney U, p=0.07).

Heteroforias.

Os resultados obtidos com a utilização da Asa de Maddox para despiste de forias (estrabismo latente) de perto, revelou a presença de ortoforia em 25 controlos (48%) e em 21 doentes (42%). 9 indivíduos (17,30%) do grupo controlo e 6 doentes (12%) apresentaram entre 0.1-2∆ de exoforia, 12 indivíduos de cada grupo (23% dos controlos e 24% dos doentes) apresentaram 2∆ de exoforia. Ocorreu apenas 1 caso de endoforia (com 7∆) entre os controlos e 4 casos entre os doentes: 1 caso com 0.1-3∆, 1 caso com 3∆ e um caso com 7∆. Tabela 1.

Tabela 1: Pesquisa de heteroforias com Asa de Maddox.

Casos clínicos

Controlos Doentes Total

Endo 7 1 0 1 5-7 0 2 2 3 0 1 1 0.1-3 0 1 1 0.1 25 21 46 Exo 0.1-2 9 6 15 2 12 12 24 2-4 1 0 1 4 0 2 2 4-6 0 2 2 6 3 1 4 8-10 0 2 2 Asa Maddox () 10 1 0 1 Pupila

O diâmetro pupilar médio do grupo de doentes (média do somatório do diâmetro das pupilas dos dois olhos) foi 5,32mm + 1,19 (DP) e o do grupo controlo foi 5,72mm + 1,17 (DP). De acordo com o teste de t-student a diferença entre o diâmetro pupilar médio dos dois grupos é estatisticamente significativa : t=-2,421; p=0,016 <α. De acordo com o intervalo de confiança I.C.

a 95% ]-0,074; -0,728[, os doentes têm, em média, um diâmetro pupilar entre 0,074 a 0,728 mm menor do que os do grupo controlo.

A anisocoria média do grupo de doentes foi de 0,12mm + 0,385 (DP) e a do grupo controlo foi 0,02mm + 0,139 (DP). No grupo de doentes foram registados 5 casos de anisocoria, sendo 1 caso com 2mm (doente do sexo feminino) e 4 casos com 1mm (1 doente do sexo masculino e 3 do sexo feminino). No grupo controlo apenas se observou 1 caso de anisocoria com 1 mm (sexo feminino). De acordo com o teste de t-student a diferença entre a anisocoria média dos dois grupos não é estatisticamente significativa: t=1,77; p=0,08> α.

A enxaqueca.

Classificação

De acordo com os critérios de classificação da Sociedade Internacional de

Cefaleias, os doentes estudados classificam-se da seguinte forma: 1.1 Enxaqueca sem aura: 18 doentes.

1.2.1 Aura típica com cefaleia típica (de enxaqueca): 24 doentes. 1.2.5 Enxaqueca hemiplégica esporádica (SHM): 8 doentes.

Idade de início

A distribuição dos indivíduos observados com enxaqueca pela idade de início da mesma, está resumida na Tabela 2, onde se verificou que 92% dos indivíduos iniciam as suas crises antes dos 40 anos, sendo a média de idades de início da enxaqueca de 23,36 + 10,96 anos (com limites entre 2-58 anos), ou seja, 23,10 + 10,43 anos (variou entre 2-52 anos) para as mulheres e 24,4 + 13,42 anos (variou entre 12-58 anos) para os homens. O início das enxaquecas ocorreu antes dos 10 anos em 6%, antes dos 20 anos em 50% e antes dos 30 anos em 86% dos casos. (Tabela 2)

A distribuição por idade de início e por sexo revelou que o início predomina largamente entre os 11 e os 20 anos e que a média de idades de início é mais baixa no sexo feminino (23,10 anos + 10,43) do que no sexo masculino (24,40 anos + 13,42). A significância da diferença entre médias de idade de início da dor nos dois sexos foi avaliada com o teste de t-student para amostras independentes e o resultado obtido permitiu concluir que as diferenças observadas na média de idade de início da dor dos dois sexos, não são estatisticamente significativas t(48)=-0,226; p=0,822.

Tabela 2. – Enxaqueca: distribuição da idade de início por sexo

Sexo

Feminino Masculino

Casos Tabela N % Casos Tabela N %

0-10 3 6,0% 0 ,0% 11-20 17 34,0% 5 10,0% 21-30 14 28,0% 4 8,0% 31-40 3 6,0% 0 ,0% 41-50 2 4,0% 0 ,0% Idade início dor 51-60 1 2,0% 1 2,0% Localização da dor

A localização preferencial da dor foi a constante da Tabela 3, em que se salientam as localizações temporal em 50% dos casos e frontal/orbitária em 32% dos casos. 10% dos doentes localizaram-na ao vértex e apenas 8% occipital. A lateralização da dor foi bilateral em 74% dos casos. Nos casos em que foi unilateral, verificou-se um predomínio do lado esquerdo – 18% sobre o lado direito - 8%. (Tabela 4)

Tabela 3: Localização da dor

Localização Número de doentes Percentagem

Temporal 25 50%

Frontal/orbitária 16 32%

Vértex 5 10%

Occipital 4 8%

Tabela 4: Lateralização da dor

Lado Número de doentes Percentagem

Direito 4 8%

Esquerdo 9 18%

Bilateral 37 74%

Intensidade da dor

A intensidade da dor foi descrita como sendo habitualmente ligeira em 4 doentes (1 mulher e 3 homens); moderada em 31 doentes (28 mulheres e 3 homens); severa em 15 doentes (11 mulheres e 4 homens). (Tabela 5).

A análise estatística inferencial relativamente à “intensidade da dor vs sexo”, permite afirmar que a incidência de intensidade da dor moderada a severa é dependente do sexo do indivíduo (X2(2)=10,04; p=0.008; N=50), ou seja a diferença entre os dois sexos é estatisticamente significativa, tendo em conta uma probabilidade de erro de tipo II α=0.05.

Tabela 5. – Enxaqueca: intensidade da dor vs sexo

Sexo

Feminino Masculino

No. doentes No. doentes

Ligeira 1 3 Moderada 28 3 Intensidade da dor Severa 11 4

A Tabela 6 ilustra a relação entre a idade de início da dor e a intensidade da dor. Como foi referido anteriormente, a idade média de início da enxaqueca na amostra de doentes foi de 23,36 + 10,96 anos. Verificou-se que nesse período (entre os 11 e os 30 anos), 4% dos doentes apresentavam uma cefaleia ligeira, 50% uma dor moderada e 26% uma cefaleia severa. Quando a enxaqueca teve início depois dos 40 anos, (ocorre em 4 doentes) metade desses doentes tinham uma cefaleia ligeira e metade moderada. Nenhum referiu intensidade severa. (Tabela 6).

Tabela 6. – Idade de início da dor vs intensidade da dor

Intensidade da dor

Ligeira Moderada Severa

Casos Tabela N % Casos Tabela N % Casos Tabela N % 0-10 0 ,0% 2 4,0% 1 2,0% 11-20 2 4,0% 12 24,0% 8 16,0% 21-30 0 ,0% 13 26,0% 5 10,0% 31-40 0 ,0% 2 4,0% 1 2,0% 41-50 0 ,0% 2 4,0% 0 ,0% Idade de inicio da dor 51-60 2 4,0% 0 ,0% 0 ,0%

Factores de agravamento da dor

A maioria dos doentes referiu a luz e/ou o ruído como os principais factores causadores de agravamento da dor, sendo que no grupo estudado pela autora, 26% dos doentes referiram que a dor agravava com a luz e o ruído, 18% com a actividade física, luz e ruído, 14% apenas sentiam agravamento com a luz, outros 14% agravamento unicamente com o ruído e 12% referiram que a dor piorava com certos cheiros, luz, ruído e actividade física. (Tabela 7).

Tabela 7. – Factores de agravamento da dor Sexo Feminino Masculino Casos Tabela N % Casos Tabela N % Cheiros 0 ,0% 0 ,0% CF 1 2,0% 0 ,0% CFL 1 2,0% 0 ,0% CFLR 6 12,0% 0 ,0% CLR 2 4,0% 0 ,0% CR 1 2,0% 0 ,0% Actividade Física 1 2,0% 1 2,0% FL 0 ,0% 1 2,0% FLR 6 12,0% 3 6,0% Luz 6 12,0% 1 2,0% LR 11 22,0% 2 4,0% Agravamento Ruído 5 10,0% 2 4,0%

C: Cheiros; F: Actividade Física; L: Luz; R: Ruído

Sintomas associados à dor

Os sintomas associados à dor mais comuns foram, por ordem decrescente de frequência, as náuseas (enjoos) associadas à fotofobia e à fonofobia em 26% dos casos, seguindo-se estes mesmos três sintomas associados a vómitos em 18% dos casos; fotofobia associada a fonofobia em 14% dos doentes; fotofobia como sintoma isolado em 12% dos casos; fonofobia como sintoma isolado em 10% dos casos. 4% dos doentes (2 mulheres) referiram não ter quaisquer sintomas associados à dor, na maior parte das suas crises. (Tabela 8).

Tabela 8. – Sintomas associados à dor

Sexo

Feminino Masculino

Casos Tabela N % Casos Tabela N %

Enjoos 0 ,0% 1 2,0% EL 1 2,0% 0 ,0% ELR 10 20,0% 3 6,0% ELRV 9 18,0% 0 ,0% ER 2 4,0% 0 ,0% EV 1 2,0% 0 ,0% Fotofobia 5 10,0% 1 2,0% LR 5 10,0% 2 4,0% LRV 2 4,0% 0 ,0% Fonofobia 3 6,0% 2 4,0% Sem sintomas associados 2 4,0% 0 ,0% Sintomas associados Vómitos 0 ,0% 1 2,0% EL:enjoos+fotofobia;ELR:enjoos+fotofobia+fonofobia;ELRV:enjoos+fotofobia+fonofobia+vómitos ER:enjoos+fotofobia;EV:enjoos+vómitos;LR:fotofobia+fonofobia;LRV:fotofobia+fonofobia+vómitos. Qualidade da dor

A dor era pulsátil em 29 casos (58%) e não pulsátil em 21 casos (42%) (Tabela 9).

Tabela9. – Enxaqueca: qualidade da dor

Frequencia Percentagem Percentagem Cumulativa Pulsátil 29 58,0 58,0 Não Pulsátil 21 42,0 100,0 Total 50 100,0

Relativamente à diferença entre os sexos no que respeita à qualidade da dor, verificou-se que 23 mulheres (46%) e 6 homens (12%) apresentavam dor pulsátil. 17 mulheres (34%) e 4 homens (8%) apresentavam uma dor não pulsátil. (Tabela 10).

Tabela 10. – Qualidade da dor vs sexo

Sexo

Feminino Masculino Total

Pulsátil 23 6 29

Qualidade da

dor Não Pulsátil

17 4 21

Relativamente à relação entre a qualidade da dor e a idade do início da dor, observou-se um maior número de casos de pulsatilidade nos indivíduos cuja idade de início da dor se situa entre os 11-20 anos (np=16; 32%) e entre os 21-

30 anos (np=10; 20%), comparativamente aos restantes intervalos de faixa

etária. (Tabela 11).

Contudo, a análise estatística inferencial (teste de qui-quadrado de independência) permite afirmar que a incidência de pulsatilidade é independente da idade de início da dor (X2 (2)=8,36;P=0.12; n=50).

Tabela 11. – Idade de início da dor vs qualidade da dor

Pulsatilidade

Pulsátil Não Pulsátil

Casos Tabela N % Casos Tabela N %

0-10 2 4,0% 1 2,0% 11-20 16 32,0% 6 12,0% 21-30 10 20,0% 8 16,0% 31-40 1 2,0% 2 4,0% 41-50 0 ,0% 2 4,0% Idade de início da dor 51-60 0 ,0% 2 4,0% Duração da dor

Relativamente aos resultados da fase da dor verificou-se que a duração da dor era <4h em 34% dos doentes. Variou entre 4-24 h em 44% dos doentes. Nos restantes 22% a dor variou entre um mínimo de 24h a um máximo de 96h. (Tabela 12).

Tabela 12. – Enxaqueca: duração da dor Sexo Feminino Masculino N. doentes N % N. doentes N % <1h 8 16,0% 1 2,0% 1-4h 6 12,0% 2 4,0% 4-6h 5 10,0% 0 ,0% 6-12h 6 12,0% 3 6,0% 12-24h 5 10,0% 3 6,0% 1-2d 6 12,0% 1 2,0% Duração da dor 3-4d 4 8,0% 0 ,0% Número de crises

Todos os doentes estudados tiveram mais do que 5 crises de enxaqueca.

Medicação efectuada

Todos os doentes com excepção de 1 (2% dos casos), utilizam

habitualmente tratamento com fármacos para alívio das cefaleias.

O tratamento das enxaquecas pode ser essencialmente de duas formas:

sintomático na fase aguda e preventivo da ocorrência de novas crises, indicado

sobretudo nas formas recorrentes com frequência elevada de crises. Nestas últimas estão indicadas os dois tipos de tratamento.

No grupo de doentes estudados o objectivo da maioria foi o de tratar a crise dolorosa, o que foi feito em 88% dos casos. Utilizaram fármacos para prevenir as crises 10% dos doentes. Os fármacos mais utilizados como tratamento foram os analgésicos e os anti-inflamatórios não esteroides, em 74% dos casos, seguindo-se os agonistas dos receptores da serotonina (zolmitriptano) em 14% dos doentes. 2% recorrem habitualmente a tratamentos com fármacos ergotamínicos. O tratamento de tipo preventivo é feito por 6% dos doentes com propanolol e 4% dos doentes com um anti-epiléptico, o topiramato. Nenhum doente utiliza em simultâneo os dois tipos de tratamento (sintomático+preventivo), mas vários doentes utilizam diferentes tipos de fármacos para tratamento das várias crises.

Enxaqueca com aura: tipo de aura

A enxaqueca com aura visual típica foi descrita em 24 doentes (48%) da amostra, enquanto 26 doentes (52%) se apresentaram com enxaqueca sem aura visual típica, mas tendo alguns deles outros tipos de auras (enxaqueca

sem aura em 18 doentes-36% e enxaqueca hemiplégica esporádica em 8 doentes-16%) .

Todos os doentes com aura visual tinham antecedentes de pelo menos 3 crises de enxaqueca com aura.

A enxaqueca sem qualquer tipo de aura (quer visual, quer sensitiva ou motora) manifestou-se em 18 doentes, sendo 14 mulheres (77,78%) e 4 homens (22,22%).

Distúrbio motor exclusivo, associado à enxaqueca foi encontrado em 3 doentes (1homem e 2 mulheres) (6%). Enxaqueca e distúrbio sensitivo em 4 doentes (1 homem e 3 mulheres) (8%). Enxaqueca e distúrbio sensitivo associado a disturbio motor em 1 doente (sexo masculino) (2%). Não foi encontrado qualquer caso de aura caracterizada apenas por alterações da fala. Dos 24 doentes que manifestaram episódios com aura visual típica (21 mulheres e 3 homens) (48%), 5 doentes (mulheres) (20,83%), apresentaram aura visual acompanhada de parestesias. 11 doentes (10 mulheres e 1 homem) (45,83%) apenas aura visual. 1 doente (sexo masculino) (4,16%) aura visual associada a distúrbio motor dos membros superiores e inferiores dos dois lados do corpo. 2 doentes (um do sexo masculino e outro feminino) (8,33%), aura visual associada a perturbação motora e da fala. 1 doente (mulher) (4,16%) aura visual com alteração da fala. 4 doentes (sexo feminino) (16,66%) a aura visual acompanhava-se de perturbações sensitivas (parestesias e/ou adormecimento) combinadas com alteração motora.

(Tabela 13).

Tabela 13. - Enxaqueca com aura visual: tipo de aura

Localização da aura visual

Estes distúrbios têm início no centro do campo visual em 14 doentes (12 mulheres e 2 homens), 6 dos quais (5 mulheres e 1 homem), referiram que a aura se desloca progressivamente para a periferia de ambos os lados do campo visual; nos restantes 8 doentes (7 mulheres e 1 homem) a aura só é observada no centro do campo de visão. Em outros 10 doentes (9 mulheres e 1

Tipo de aura No. (%) de doentes (n=24)

Aura visual 11 (45,83)

Aura visual + sintomas sensitivos 5 (20,83)

Aura visual + sintomas motores 1 (4,16)

Aura visual + sintomas sensitivos + sintomas motores

4 (16,66)

Aura visual + disartria 1 (4,16)

Aura visual + disartria + sintomas motores

homem) a manifestação visual surge como hemianópsia envolvendo o lado direito do campo visual em 4 doentes (4 mulheres) e surge nos dois lados de forma alternante, conforme as crises, em 6 doentes (5 mulheres e 1 homem).

Lateralidade da aura visual e da cefaleia

A relação entre a lateralidade da cefaleia e a localização da aura visual foi

variável. A maioria dos doentes, 33,33% tinham aura visual bilateral e cefaleia bilateral. 25,0% dos doentes apresentavam cefaleia unilateral com aura visual bilateral. 16,67% cefaleia unilateral e aura visual unilateral, ipsilaterais. Nenhum destes doentes referiu situação de cefaleia unilateral e aura visual unilateral em lados opostos. 25,0% dos casos referiram ocorrência de cefaleia bilateral, com aura visual unilateral. (Tabela 14)

Tabela 14. – Lateralidade da aura visual e da cefaleia

Lateralidade No. (%) de doentes (n=24)

Aura visual + cefaleia contralateral 0 (0%)

Aura visual + cefaleia ipsilateral 4 (16,67%)

Aura visual bilateral+cefaleia unilateral 6 (25,00%) Aura visual unilateral+cefaleia bilateral 6 (25,00%) Aura visual bilateral+cefaleia bilateral 8 (33,33%)

Duração da aura visual

Os dados clínicos obtidos relativamente à duração da aura visual, mostraram que em 7 dos 24 doentes (29,16%), tinham aura com duração <5 minutos; 8 (33,33%) entre 5 a 60 minutos; 9 (37,51%) duração >60 minutos. (Tabela 15).

Tabela 15. – Enxaqueca: duração da aura visual

Duração da aura (minutos) No. (%) de doentes (n=24)

< 5 7 (29,16)

5-60 8 (33,33)

>60 9 (37,51)

Características da aura visual

Relativamente às características da aura visual, 9 destes 24 doentes, (8 mulheres e 1 homem) ou 37,51% deste grupo, apresentavam apenas visão enevoada; 4 doentes (3 mulheres e 1 homem) ou 16,66% viam escotomas cintilantes (o típico espectro de fortificação); 4 doentes (mulheres) ou 16,66%

tinham combinação de visão enevoada com escotomas cintilantes; 2 doentes (1 mulher e 1 homem) ou 8,33% apresentavam combinação de escotomas cintilantes com linhas em zig-zag; 2 doentes (ambas mulheres), ou 8,33%, referiram visão enevoada alternando com escotomas cintilantes, linhas em zig- zag e manchas coloridas de tonalidade amarelada; 1 doente (mulher), ou 4,17% referiu ver linhas em zig-zag como única manifestação da aura visual; 1 doente (mulher) ou 4,17% da amostra, referiu flashes de luzes cintilantes alternando com manchas coloridas de cor vermelha; 1 doente (mulher) ou 4,17% referiu manchas coloridas de várias cores alternando com linhas em zig- zag. (Tabela 16)

Tabela 16. – Enxaqueca: características da aura visual

Sucessão da aura e da cefaleia

Através do inquérito tentou-se saber se a fase da aura e da cefaleia (fase drómica) estavam separadas por um intervalo de tempo. A cefaleia surge antes da aura em 1 doente (mulher); durante a aura em 10 doentes (todas mulheres); e depois da aura nos restantes 13 doentes (10 mulheres e 3 homens). O intervalo de tempo entre as duas fases varia entre 5 minutos a várias horas; 2 destes doentes não souberam definir quanto tempo depois, com exactidão. A doente que disse ter primeiro a cefaleia, também não foi capaz de dizer quanto tempo depois surge a aura visual.

Tipo de aura No. (%) de doentes (n=24)

Visão enevoada 9 (37,51)

Escotomas cintilantes 4 (16,66)

Visão enevoada + escotomas cintilantes 4 (16,16)

Escotomas cintilantes +linhas em zig-zag 2 (8,33)

Visão enevoada; escotomas cintilantes; linhas em zig-zag; manchas coloridas

2 (8,33)

Linhas em zig-zag 1 (4,17)

Flashes de luzes cintilantes; manchas coloridas

1 (4,17)

Número de crises com aura visual

Relativamente ao número de vezes que os doentes estudados já tinham experimentado aura visual, verificou-se que a mesma ocorreu por 3 vezes em 2 doentes, 4 vezes em 2 doentes, entre 5 e 10 vezes em 9 doentes e mais do que 10 vezes em 11 doentes.

IV DISCUSSÃO

Toda a investigação que envolva o estudo de cefaleias torna-se difícil, porque está em causa a análise e a interpretação de resultados de um sintoma subjectivo e não susceptível de quantificação exacta. Os sintomas ou sinais relativos às enxaquecas, são na maior parte das vezes múltiplos e variáveis de episódio para episódio, fazendo com que muitas vezes os doentes só se recordem dos mais frequentes ou dos mais característicos das crises mais recentes, omitindo nas suas respostas sobre as crises, certos dados relevantes, que ocorreram por exemplo, em episódios mais antigos ou menos frequentes.

Neste trabalho o grupo alvo do estudo foram indivíduos com enxaqueca, já estudados por neurologia e que faziam parte da consulta de Neurologia do HGSA. A redução do número de doentes relativamente ao inicialmente previsto (80 doentes), deveu-se ao facto de a meio do estudo a autora do trabalho ter deixado de exercer funções no Hospital Geral de Santo António, o que não só a impediu de reunir maior número de doentes, como também de efectuar novas avaliações ou esclarecimentos de quaisquer dúvidas, com os que entretanto tinha observado. Também a impediu de reobservar os individuos doentes numa fase em que estivessem com crise de enxaqueca para reavaliar o diâmetro pupilar e assim poder confirmar ou excluir a disfunção do sistema nervoso autónomo, que era um dos objectivos do trabalho.

O grupo alvo de indivíduos que fizeram parte do grupo controlo foi obtido em duas instituições privadas, porque não se efectuam consultas de rastreio com regularidade, num Hospital Central “de fim de linha”, como é o caso do Hospital Geral de Santo António. Não foram objecto de análise comparativa a profissão e a classe social, porque nesse aspecto haveria uma grande diferença entre os dois grupos (uma das clínicas privadas, por exemplo, só é frequentada por bancários e seu agregado familiar; no HGSA foram observados doentes de classes sociais mais baixas do que a grande maioria dos indivíduos do grupo controlo observados no Hospital da Arrábida). O estado matrimonial também não foi objecto de avaliação, porque sendo o grupo controlo de rastreio, na sua maioria constituido por individuos em média muito mais jovens do que os do grupo de doentes, a variabilidade da situação matrimonial seria muito grande entre os dois grupos, com um claro predomínio dos solteiros no grupo controlo. Por outro lado a autora considerou que estes dados – profissão, classe social, estado civil – não teriam grande relevância no que pretendia estudar.

Questionário

O questionário utilizado foi baseado nos utilizados por Pereira Monteiro46 e por Daniela Cologno131. Mostrou-se eficaz na concretização dos objectivos do estudo, mas há aspectos que merecem correcção para futuros trabalhos, nomeadamente:

1. Saber qual a frequência média de crises de enxaqueca (mês ou ano). 2. Saber se as crises são habitualmente do mesmo tipo.

3.Relativamente às crises não pulsáteis, saber exactamente como descreveriam a dor dessas crises.

4. Saber se a dor muda de lado nas diferentes crises.

Um dos principais problemas da utilização deste tipo de questionário a indivíduos com cefaleias, é o facto de uma grande percentagem das pessoas que têm cefaleias poderem ter vários tipos de cefaleias, não sendo possível ter- se garantia de que as respostas dadas ao questionário se referissem apenas aos episódios de enxaqueca. Por outro lado verifica-se também uma deficiente memorização de grande parte dos pormenores da dor ou dos sintomas

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