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4. PROGRAMAS DE BOAS PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS NA AVICULTURA DE

4.3.2 Indicadores ambientais

4.3.2.4 Iluminação

A iluminação tem sido uma importante ferramenta na produção de frangos de corte em aspectos comportamentais e fisiológicos (EFSA, 2012a). As granjas no Brasil vêm passando por mudanças no galpão convencional, que é caracterizado por utilizar iluminação natural (PULICI, 2012) (FIGURA 21). Das empresas respondentes, 93,3%

(14/15) informaram ter algum percentual de galpões com controle de iluminação no seu sistema de integração. Nessas empresas, foi verificada uma variação nos programas de intensidade luminosa (FIGURA 22). Observa-se que mais da metade das empresas informou utilizar a intensidade luminosa de cinco lux como um dos possíveis programas de controle de iluminação. Esse resultado é compatível com a recomendação das empresas de linhagens de frangos de corte, que incluem iluminações que variam entre 25 e 60 lux na primeira semana de vida das aves, reduzindo-se em seguida para cinco a dez lux (COBB®, 2008; ROSS®, 2009;

HUBBARD®, 2014).

FIGURA 21 - GRANJAS DE FRANGOS DE CORTE NO BRASIL EM GALPÃO CONVENCIONAL COM CONTROLE DE ILUMINACÃO A 25 LUX (A, FONTE: PAULO VERDI) E COM ILUMINAÇÃO NATURAL (B, FONTE: JULIANA FEDERICI)

As legislações internacionais que regulamentam a intensidade de iluminação indicam o uso de intensidade mínima de 20 lux (EUROPEAN COMMISSION, 2007;

DEFRA, 2009a; NEW ZEALAND, 2012). Apenas a regulamentação da Suíça permite o nível mínimo de cinco lux (SWITZERLAND, 2011). No relatório do EFSA (2010a) sobre as características dos galpões de avicultura da União Europeia, não está claro o valor praticado nas granjas, sendo que somente consta a informação de que as granjas deveriam atender 20 lux. O relatório do Welfare Quality® (2010), no entanto,

A B

mostrou intensidades de 6,2 a 7,5 lux na Holanda e 16,6 a 76,2 lux na Itália, demonstrando uma variação entre os países membros do bloco europeu. Intensidades mais baixas e luzes azuis podem ser usadas para reduzir medo durante manejo, controlar problemas de canibalismo (PRESCOTT, 2004) e reduzir morte súbita (EFSA, 2010b). No entanto, alguns estudos concluíram que baixos níveis permanentes de iluminação podem trazer prejuízos ao bem-estar animal, como alterações morfológicas dos olhos compatíveis com dificuldades de visão (BLATCHFORD et al., 2009; EFSA, 2012a) e baixa atividade diurna como ciscar e limpar penas (ALVINO;

ARCHER; MENCH, 2009; EFSA, 2012a). Aves mantidas em intensidade de um lux tiveram mais problemas de pododermatite e realizaram menos atividades como ciscar quando comparadas com aves mantidas em intensidades de dez a 40 lux (DEEP et al., 2010, 2012). Segundo o EFSA (2010b), a baixa iluminação é um dos perigos potenciais que pode levar a baixo grau de bem-estar animal, sendo um item que necessita regulamentação no Paraná.

FIGURA 22 - INTENSIDADES LUMINOSAS PRATICADAS EM GRANJAS DE FRANGOS DE CORTE COM CONTROLE DE ILUMINAÇÃO DE 14 EMPRESAS NO ESTADO DO PARANÁ.

O PERCENTUAL TOTAL É MAIOR QUE 100% POIS ALGUMAS EMPRESAS ADOTAM MAIS DE UM PROTOCOLO DE INTENSIDADE DE ILUMINAÇÃO

O fotoperíodo é outro item de importância para o BEA. Um total de 60,0% (9/15) de empresas informou usar período de seis a oito horas de escuro em granjas tanto com iluminação natural como artificial. Outros 26,7% (4/15) adotam o padrão de mínimo de quatro horas de escuro em 24 horas. Uma empresa (6,7%) informou trabalhar com regime de oito a doze horas de escuro para frango pesado, e uma (6,7%) não tem um fotoperíodo determinado, modificando o ciclo de luz conforme o peso das aves. Algumas regulamentações internacionais, como DEFRA (2009) e

EUROPEAN COMISSION (2007), determinam que as aves tenham um mínimo de seis horas de escuridão em um período de 24 horas, sendo que se deve respeitar o mínimo de quatro horas consecutivas de escuro. Há outras fontes de informação na literatura que indicam o tempo mínimo de escuridão de seis (RSPCA, 2011), quatro (UBABEF, 2008; NCC, 2010) e três (NEW ZEALAND, 2012) horas em um período de 24 horas. Em todos os casos, aceita-se períodos de 23 a 24 horas de iluminação na primeira e última semana de alojamento das aves. Em torno de 46,7% das empresas (7/15) informaram adotar regime de 23 horas de luz durante a primeira semana de alojamento das aves, e uma empresa (6,7%) informou usar esse regime nos cinco dias que antecedem o abate. O descanso é essencial ao animal e tem papel importante na conservação de energia, na recuperação de tecidos e no crescimento (MALLEAU et al., 2007). Há indícios de que o descanso auxilia o animal na adaptação ao ambiente, permitindo uma maior capacidade de lidar com situações de estresse e condições adversas (BLOKHUIS, 1984). Os resultados demonstram que a maioria das empresas adotava um regime de fotoperíodo compatível com o recomendado pela literatura para que as aves tenham um período de descanso adequado.

PRESCOTT (2004) recomendou a adoção de janelas para iluminação natural em granjas climatizadas por haver a vantagem do controle de temperatura ambiental sem as consequências negativas ao BEA ocasionadas pelas baixas intensidades luminosas. Alguns estudos foram realizados para avaliar os efeitos do uso de iluminação natural em granjas climatizadas no Reino Unido (MORRISONS, 2012;

BAILIE; BALL; O’CONNELL, 2013). A adoção de padrões mais naturais de iluminação, além de ser objeto de estudo, passou recentemente a ser considerada melhor prática de bem-estar animal. O relatório da rede varejista MORRISONS (2013) determinou como item mandatório o uso de janelas para iluminação natural nas granjas de todos os seus fornecedores de carne de frango. A certificação GLOBALG.A.P.®, que é a principal certificação de frangos de corte em uso no Brasil e inclui requisitos de BEA, desenvolveu um módulo voluntário de bem-estar de frangos de corte em adição ao esquema tradicional de certificação (GLOBALG.A.P.®, 2013b). Neste esquema voluntário há requisito de incentivo ao uso da iluminação natural. Desta forma, a mudança das granjas do Brasil do padrão convencional com iluminação natural para o climatizado com baixa iluminação pode ter consequências futuras ao produtor. Isto se observa pois os países que lideram a normatização de assuntos relacionados ao BEA mostram uma tendência de se mover no sentido contrário ao Brasil em relação

ao uso de luz natural. Assim, pode haver a perda de uma vantagem competitiva em termos de comércio exterior caso a iluminação natural seja futuramente um requisito obrigatório de BEA nas relações comerciais internacionais.