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4. PROGRAMAS DE BOAS PRÁTICAS AGROPECUÁRIAS NA AVICULTURA DE

4.3.1 Indicadores nutricionais

A disponibilidade de alimento e água para frangos de corte, incluindo tipo, quantidade e modo de fornecimento, tem efeito importante para o bem-estar das aves (APPLEBY; MENCH; HUGHES, 2004). As empresas estudadas trabalham com diferentes tipos de ração conforme a idade das aves, divididas nas fases pré-inicial ou inicial, crescimento e final. Aproximadamente 58,8% (10/17) das empresas usam cinco tipos de ração, 35,3% (6/17) usam quatro tipos e 5,9% (1/17) seis tipos, sendo que o número total de empresas é maior pois algumas produzem griller e frango pesado ou empregam idades diferentes de abate para frango pesado.

Todas as empresas avaliadas (15/15) tinham fábrica de ração própria, sendo que uma unidade de uma empresa também terceirizava o serviço. O atendimento dos níveis nutricionais nas rações, bem como a ausência de contaminantes químicos e biológicos, são determinantes no BEA. Neste sentido, os programas de boas práticas de fabricação (BPF) nas fábricas de ração são importantes para estabelecer os procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais para garantir a qualidade e a segurança alimentar animal (MAPA, 2007). No Brasil as fábricas de ração devem ter programas de BPF em atendimento à Instrução Normativa 4/2007 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), desta forma 73,4% (11/15) das empresas avaliadas responderam ter algum nível de BPF implementado. As demais

empresas, 26,6% (4/15), tinham fábricas certificadas em uma ou mais das seguintes normas: GlobalG.A.P.® Compound Feed Manufacturing (CFM), ISO 9001, Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Sindirações. A certificação na norma ISO 9001, apesar de não ser específica de BPF, atua no sistema de gestão da qualidade promovendo o controle de matérias primas, processo e produto final, mas também leva ao cumprimento da legislação local pelo atendimento do requisito 7.2.1, onde a organização deve determinar os requisitos estatutários e regulamentares aplicáveis ao produto (ISO, 2008). A qualidade da ração parece ser um item de importância para as empresas entrevistadas, pois 66,7% (10/15) comentaram espontaneamente que a análise de matérias-primas e/ou ração é um item usado como indicador nutricional das aves. Este fato pode ser justificado porque o efeito positivo do cuidado com a qualidade da alimentação em frangos de corte é convergente com os interesses econômicos da empresa.

A distribuição dos comedouros e bebedouros também afeta diretamente o bem-estar das aves, pois é determinante quanto à presença de disputa ou dificuldade para acessá-los. Todas a empresas entrevistadas informaram inicialmente a proporção de número de aves/comedouro, que variou de 12 a 60 aves para um comedouro. Alguns protocolos de certificação determinam de forma mais clara um espaçamento mínimo por ave de acordo com o tipo de equipamento, sendo que para os comedouros circulares há a indicação de 1,0 a 1,6 cm por ave (RSPCA, 2011; GLOBALG.A.P.®, 2013a). A transformação para cm/ave foi realizada por dez empresas durante ou após a entrevista (FIGURA 20 A), sendo que os respondentes necessitaram confirmar a medida dos comedouros em uso, que variou de 20 a 45 cm de diâmetro. Assim, ficou evidente que os respondentes não mantinham o monitoramento do espaço de comedouro disponível por ave. Uma vez que os comedouros variam na sua dimensão conforme o fabricante, a adoção de um padrão baseado em espaço/animal ao invés de número de comedouros/animal pode ser mais efetivo para garantir melhor acesso das aves ao alimento, com menor disputa por espaço.

FIGURA 20 - PERCENTUAL DE EMPRESAS DO ESTADO DO PARANÁ CONFORME PROPORÇÃO DE ESPAÇO DE COMEDOURO POR FRANGO (A) E AVES POR BICO DE BEBEDOURO (B)

Para os bebedouros também há recomendações de proporção em relação ao número de aves, variando conforme o tipo de bebedouro. A figura 20 B ilustra a proporção de aves por bebedouro tipo bico nas empresas respondentes. Entre as respondentes, em apenas uma empresa havia granjas com bebedouros pendulares, sendo informado o número de 80 aves por bebedouro pendular como padrão da empresa. Os bebedouros tipo bico têm indicação máxima de dez a vinte aves para cada bico (WELFARE QUALITY®, 2009; RSPCA, 2011; GLOBALG.A.P.®, 2013a) e os pendulares de um bebedouro para 150 aves (GLOBALG.A.P.®, 2013a) ou um para 100 aves (WELFARE QUALITY®, 2009; RSPCA, 2011), sendo que quanto menor essa proporção, melhor o acesso das aves à água. Os valores em outro estudo no estado do Paraná foram de 8,4 (7,9-9,6) aves/bico em granjas certificadas e de 9,1 (7,9-12,1) aves/bico em granjas não certificadas (SOUZA et al., 2015, no prelo)1. A avaliação realizada em países da União Europeia mostrou uma variação de 9,8 a 19,0 aves/bico na Holanda e 15,0 a 16,0 aves/bico na Itália (WELFARE QUALITY®, 2010).

Os valores encontrados neste estudo são compatíveis com aqueles indicados por empresas fornecedoras de linhagens de aves. A COBB-VANTRESS® (2013) recomenda proporção de dez a 12 aves/bico, a ROSS® (2009) de 12 aves/bico e de 167 aves/bebedouro pendular, e a HUBBARD® (2014) estabelece para locais de clima quente a proporção de seis a dez aves/bico e de 60 aves/bebedouro pendular.

Outro importante item para avaliação de sede é o consumo de água dos animais (MANNING et al., 2007; EFSA, 2012a; OIE, 2013a). Alguns códigos de prática recomendam que todos os aviários tenham sistemas de medição do consumo de

1SOUZA, A. P. O. et al. Broiler chicken welfare assessment in GLOBALGAP certified and non- certified farms in Brazil. Animal Welfare, v. 24, n. 1, 2015.

água, pois seu aumento ou decréscimo pode indicar problemas de saúde (UBABEF, 2008; DEFRA, 2009a; OIE, 2013a). Das empresas respondentes, 73,3% (11/15) tem hidrômetro individual por granja em todos os integrados, 20,0% (3/15) adotaram a obrigatoriedade de hidrômetro para novas granjas e 6,7% (1/15) não tem hidrômetro nas granjas. Apesar das avaliações de hidrômetro e do número de bebedouros serem adotadas por alguns protocolos como análise de ausência de sede, estas medidas com base nas instalações podem ser falhas se não houver uma boa manutenção dos equipamentos para evitar vazamentos ou entupimento de bicos. Além disso, um indicador com base no animal pode ser mais efetivo no diagnóstico de bem-estar (SPRENGER; VANGESTEL; TUYTTENS, 2009; VANDERHASSELT et al., 2014).

Atenção também deve ser dada à fonte de água e sua qualidade (MANNING, CHADD, BAINES, 2007). Onze empresas (73,3%) informaram fazer análises microbiológicas anualmente, sendo que uma delas faz semestralmente para granjas certificadas GLOBALG.A.P.®. Três empresas (20,0%) fazem análise microbiológica para registro de novos integrados, sem repetição anual, e uma informou não ter uma frequência estabelecida. De acordo com a Instrução Normativa n. 36 do MAPA, de 06/12/12 (MAPA, 2012), os estabelecimentos avícolas comerciais devem realizar análise microbiológica para registro das granjas e repetir anualmente. Estes resultados sugerem que os indicadores relacionados à disponibilidade e qualidade de água tem sido objeto de adequação nas granjas, mas ainda estão sujeitos a melhorias.