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IMÓVEIS POR NÚMERO DE PAVIMENTOS EM ALVENARIA

RIQUEZA FAMILIAR E DIVERSIFICAÇÃO DOS BENS

IMÓVEIS POR NÚMERO DE PAVIMENTOS EM ALVENARIA

Zona Urbana Quantidade

Um pavimento 1.842

Dois pavimentos 25

Três pavimentos 03

TOTAL 1.870

Fonte: CUNHA, João Fernandes da Cunha. Município de Juazeiro (Bahia). Memória. Separata dos Anais do I Congresso de História da Bahia. 1950. Salvador: Tipografia Bizantina. p 433.

Os dados coletados por João Fernandes da Cunha coincidem com a análise anteriormente feita nos inventários pesquisados. É possível inferir que poucos eram os imóveis na cidade que possuíam dois ou três pavimentos.

As informações fornecidas por João Fernandes da Cunha coincidem com as informações transcritas dos inventários. As casas são simples, não há relatos de imóveis com dois pavimentos e sim, um imóvel plano com onde funcionavam residências e casas comerciais ao mesmo tempo ou mesmo residências com outras instalações como casa de farinha, tanque de cal ou pequenas roças, como eram chamadas as pequenas plantações de subsistência. A grande quantidade de imóveis residenciais de taipa nos mostra que muitos moradores usavam a taipa como material de construção em suas casas como no inventário do Capitão Manoel Lins Teixeira: “Casa coberta de telha de adobe na Vila do Juazeiro e no Largo da Praça com duas janelas de frente e uma porta. Morada de casas cobertas de telha no mesmo lugar, feita de madeira, com portas e janelas de frente, onde funcionam as lojas.” 195

No inventário de Antônio José da Silva consta uma casa coberta de palha com quatro vãos, a qual foi avaliada por oitenta mil réis; uma casa de farinha, em Angico, e aqui podemos inferir que essas famílias tinham nas casas de farinha a possibilidade de

produzirem alimentos de subsistência. Uma casa coberta de palha e quatro vãos na Fazenda Coimbra.196

O inventário de Benedito Ignácio de Figueiredo traz a descrição de uma casa de telha com oitenta palmos de frente, dividida em duas partes: uma para residência da própria família e outra formando uma fábrica de farinha de mandioca e “todos os acessórios para tal mister”.197

Observarmos em grande parte das transcrições a presença de instalações para o fabrico de farinha nas propriedades. Kátia Mattoso afirma que a farinha de mandioca desempenhava no Brasil, o mesmo papel que o trigo na Europa, e que, a farinha foi a responsável pela regulação de preços de outros gêneros alimentícios, por ser a base da alimentação para várias categorias sociais. Erivaldo Fagundes Neves afirma que as dificuldades no abastecimento do sertanejo e a impossibilidade de transportar as monoculturas fizeram com que as famílias desenvolvessem a diversidade de culturas além da criação de gado.198

Ainda com relação a produção de farinha de mandioca Luiz Cleber Morais Freire em sua dissertação de mestrado Nem tanto ao mar nem tanto à terra: agropecuária,

escravidão e riqueza em Feira de Santana 1850-1888, argumenta que a produção de

farinha de mandioca era de extrema importância para o funcionamento das fazendas da região por ele pesquisada. A farinha servia de alimento para os escravos, para a família dos fazendeiros. Além de se adaptar a qualquer terreno e de possuir qualidades nutricionais, a farinha de mandioca era o alimento básico do sertanejo. Para o autor com a sabedoria adquirida dos índios, os colonos aprenderam a manusear a mandioca, e, além de fazer e saborear a farinha, ainda produziam a goma, o beiju e a tapioca, elegendo-a como elemento primordial à alimentação da colônia. 199

Luiz Cleber Morais Freire informa ainda que a tarefa de produzir a farinha de mandioca nas “casas de farinha” era uma tarefa feminina, transmitidas pelas índias. Ao homem cabia a tarefa pesas de impulsionar a roda e apertar a prensa. 200

O inventário de Manoel Martins Duarte traz algumas posses de terra em diversas fazendas como “Polso” da Onça, Curral Velho, Carahiba, vinte e cinco cabeças de gado

196

APEB 04/1398/1867/06. Inventário. Seção Judiciária. Juazeiro

197

APEB 07/3167/13. Inventário. Seção Judiciária. Juazeiro

198 MATTOSO, Kátia M. de Queiroz. (2004)Op. cit. p 116. NEVES, Erivaldo Fagundes. (2008) Op.cit.p 184. 199 FREIRE, Luiz Cleber Morais. Nem tanto ao mar nem tanto à terra: agropecuária, escravidão e riqueza

em Feira de Santana 1850-1888. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. 2007. p 68.

de toda sorte, dois currais, éguas, cavalos e uma casa de telha com dois vãos e duas portas.201

No inventário de Joaquim José Ribeiro de Magalhães, uma morada de casas de palha com cento e vinte pés de coqueiro, Fazenda Olho d‟água das fruteiras e hortas, meia légua de terra do sobrado, uma casa na vila com seis comprimentos de fundo na Rua Santa Cruz, um sobrado, uma casa de paiol, uma casa com dois vãos e uma casa no beco da Casa Grande.

Embora Laura Mezan cite os quintais e áreas externas como um prolongamento das casas, além da existência de pomares, esta foi a única referência a quintais e árvores frutíferas nos arredores das casas. Percebe-se o grau de simplicidade das residências de Juazeiro, feitas de materiais encontrados na região como barro, madeira ou taipa e algumas com tijolos de adobe, essas um pouco mais “sofisticadas”, talvez. Poucas referências quanto a um segundo pavimento nas casas bem como grande simplicidade nos móveis utilizados, a não ser em poucos, nos quais aparece a referência a sobrado, aqui descrito como “morada de casas”. Geralmente os sobrados possuíam lojas, instaladas no primeiro pavimento para garantir a privacidade das famílias que ocupavam os andares superiores; os escravos ocupavam o porão ou sótão. Com relação a presença de casas comerciais ou negócios funcionando ao lado das residências, isto parece ser um lugar comum na cidade de Juazeiro. Acredita-se que isto facilitava o trânsito dos proprietários de “casa” para o “trabalho”, maior fiscalização dos empregados, e a permanência da figura feminina na casa comercial e no cuidado com a casa.202

Sobre as habitações sertanejas, Erivaldo Fagundes Neves, afirma que as paredes eram de enchimento ou taipa, os tetos de palha de ouricuri, casa de pau d‟arco. Apenas os fazendeiros mais abastados edificavam suas casas com alicerces de pedra, paredes de adoube, argila crua e cobria com telhas vãs. As portas e janelas “de espessas vergas” eram sempre fechadas com trancas móveis que as atravessavam na horizontal, mas poderiam também usar taramelas giratórias.203

201

APEB. Seção Judiciária - Inventário – Juazeiro - 08/3431/0/6.

202 APEB. Seção Judiciária - Inventário – Juazeiro - 08/3356/19. 203 NEVES, Erivaldo Fagundes. (2008) op. cit.p 102.