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A IMAGEM DE CENTRO HISTÓRICO DA RIBEIRA, SEUS MARCOS URBANOS E ESPAÇOS PÚBLICOS

4 CICLOS DA RIBEIRA

4.3. A IMAGEM DE CENTRO HISTÓRICO DA RIBEIRA, SEUS MARCOS URBANOS E ESPAÇOS PÚBLICOS

No início do século XX, o bairro, na época com tradição comercial, abre espaço para atividades ligadas à cultura, ao entretenimento e à educação fazendo com que até hoje seja referido, equivocadamente, como sítio de fundação de Natal (ELALI, 2007; MONTEIRO & TRIGUEIRO, 2003). Entre as edificações realizadas neste período, se destaca boa parte do que hoje é considerada parte do referencial histórico-cultural do bairro: o Teatro Carlos Gomes – atual Teatro Alberto Maranhão (Figura 25), a Praça Augusto Severo (Figuras 26), o antigo Grande Hotel – atual Juizado de Pequenas Causas (Figura 27), a igreja do Bom Jesus (Figuras 28), o casario da Rua Chile (Figura 29), entre outras39.

O edifício do Teatro Alberto Maranhão, localizado na Praça Augusto Severo40, é tombado pela Fundação José Augusto – órgão responsável pelo patrimônio histórico cultural do Estado do Rio Grande do Norte. Inaugurado em 1904, o prédio, que conserva os traços da arquitetura eclética natalense, foi reformado pela primeira vez em 1912. Na segunda metade do século XX passou por mais duas modificações, uma em 1959 que trouxe benefícios na questão do conforto (instalação de ar-condicionado) e a outra em 1988 com melhorias nos camarins, salão nobre, jardim, platéia e palco.

Considerado um dos primeiros hotéis da cidade com capacidade e qualidade para receber visitantes, o antigo Grande Hotel fez parte da época áurea da Ribeira (FURTADO, 2006). Com uma localização privilegiada, na esquina da Av. Duque de Caxias e próximo ao Cais da Tavares de Lira, a edificação conserva traços da arquitetura protomoderna natalense.

A Igreja do Bom Jesus iniciou sua trajetória na Ribeira recebendo seus fiéis em uma capela construída há 200 anos. Com o passar do tempo e com as novas necessidades da comunidade, ela foi reformada algumas vezes e, atualmente, com três vezes o tamanho original, tem sua arquitetura descaracterizada.

39Verificar localização dessas construções no mapa da Figura 42.

40Inaugurada em 1907, o nome da praça homenageiao potiguar Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, um dos pioneiros brasileiros do desenvolvimento da aviação, ao lado de nomes como padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, Júlio César Ribeiro de Souza e Alberto Santos Dumont.

A Rua Chile, outrora Rua da Alfândega e do Comércio, já foi uma das principais ruas do bairro da Ribeira no início do século XX e abrigava em suas edificações parte dos principais produtos da época, como açúcar e algodão.

Figura 25: Teatro Alberto Maranhão. Fonte: PRAC – Ribeira, 2006.

Figura 27: Antigo Grande Hotel - Fonte: PRAC, 2006.

Figura 28: Igreja do Bom Jesus. Fonte: PRAC, 2006.

Figura 29: Casario conservado da Rua Chile. Fonte: PRAC, 2006.

Segundo Elali (2007), a imagem síntese da Ribeira está essencialmente associada a presença de prédios e conjuntos edificados remanescentes de épocas passadas, principalmente aos que tem uma forte presença na mídia:

Teatro Alberto Maranhão (citado por 84% dos respondentes), Casa da Ribeira (58%), antigo Grande Hotel (hoje ITEP), Igreja Bom Jesus, Capitania das Artes (antiga Capitania dos Portos), Rampa, prédios da Rede Ferroviária, casas da Rua Chile, conjunto formado pela Praça Augusto Severo e a Rodoviária Velha, e o Canto do Mangue (que realmente se encontra no bairro da Rocas, vizinho). (ELALI, 2007:18) Estes dados também comprovam a falta de informação dos entrevistados quanto aos atrativos históricos do bairro. Dentre os dez itens citados, quatro não estão localizados na Ribeira. A pesquisa de Trindade (TRINDADE, 2005:48), realizada entre os moradores da comunidade em 2005, aponta que as imagens do passado da Ribeira, mantidas no imaginário coletivo de seus habitantes, mostram uma idéia muito abstrata e pouco consciente do que a Ribeira representou para a cidade de Natal. Segundo o autor o bairro é visto como local que

deu origem a cidade, antigo bairro nobre, possuidor de grande movimentação diurna associada ao porto, antiga rodoviária e ferroviária.

Berço de ilustres moradores, como Luís da Câmara Cascudo41, Ferreira Itajubá42 e Café Filho43, a Ribeira possui uma imagem de forte apelo cultural e natural diante da população natalense. Mas sua importância é vista dentro do contexto geral da cidade e não por sua individualidade. De acordo com pesquisa de Trindade (2005:48), a imagem da Ribeira, construída pela população natalense é associada à cultura e ao entretenimento seguido pela referência de ser um bairro histórico. Este fato é reforçado pela freqüência no número de referências na mídia (4,8 inserções semanais em matéria de médio e pequeno portes), com 65% das notícias associadas a eventos culturais (ELALI, 2007).

Segundo Trindade (2005), o Teatro Alberto Maranhão é o local mais citado como relevante para a história de Natal (34%), seguido pelo antigo Grande Hotel (18%). Contudo, 12% dos entrevistados não souberam informar que locais seriam esses e o que eles representam, revelando a falta de conhecimento com relação ao patrimônio histórico do bairro. O aumento exponencial de habitantes entre os anos 1940 e 1950 é um fato a ser levado em conta quando nos deparamos com a falta de ‘apego’ à história da Ribeira e da própria cidade. Segundo Teixeira (2007) “o município de Natal, que contava 54.836 habitantes em 9 de janeiro de 1940, totalizava 103.215 pessoas dez anos depois, em 7 de janeiro de 1950. Isso representa um aumento espetacular de 88,22 % da população em somente uma década”. Como boa parte desta população é oriunda de outros municípios, principalmente do interior do Estado, a cidade de Natal teve em sua formação um número grande de pessoas com pouca ligação com sua história, deixando nas mãos dos antigos moradores dos bairros fundadores e de seus parentes a difícil tarefa de manter sua memória.

41 Luís da Câmara Cascudo (1898 - 1986) foi um historiador, folclorista, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro. Passou toda a sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo da cultura brasileira. Foi professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisador das manifestações culturais nacionais. Entre suas obras destacam-se: o Dicionário do Folclore Brasileiro (1952), Alma patrícia (1921), obra de estréia, Contos tradicionais do Brasil (1946).

42 Ferreira Itajubá (1875 – 1912) foi auxiliar do comércio, orador popular, jornalista, professor, funcionário público e dono de circo, cujos espetáculos tinham lugar no quintal de sua casa. Considerado como poeta e boêmio, Itajubá escreveu dois livros: Terra Natal e Harmonias do Norte.

43João Café Filho (1899 – 1970) foi um advogado e político brasileiro. Assumiu a Presidência da República , entre 24 de Agosto de 1954 e 8 de Novembro de 1955, para completar o mandato de Getúlio Vargas após este ter cometido suicídio.

Pelo fato de ter sido o centro ativo até meados do século passado, a Ribeira apresenta um patrimônio edificado formado por diferentes estilos arquitetônicos de épocas passadas. Não se restringindo apenas a exemplares coloniais e ecléticos, o bairro – que possui a maior concentração da arquitetura protomodernista de Natal – possui vários edifícios que funcionam como ‘marcos urbanos’, imóveis que apresentam características físicas marcantes aliadas a importantes usos ou a usos únicos na cidade, se tornando muito conhecidos e referidos pela população (FERRAZ, TRIGUEIRO e TINOCO, 2007).

O antigo edifício do IPASE, hoje Edifício Presidente Café Filho, ocupado por setores da Previdência Social (Figura 30) é um desses marcos. Construído nos anos 1950, com inovações tecnológicas, e propriedades espaciais multifuncionais, é uma das primeiras e mais imponentes obras que reúnem características do movimento moderno erigidas na cidade (MEDEIROS, 2001). Outro importante marco urbano modernista é o edifício da antiga rodoviária (Figura 31) situado na Praça Augusto Severo (LIMA, 2002). Construção que assinala o ímpeto modernizador do início dos anos 1960 e hoje passa por um processo de revitalização para abrigar novos usos que farão parte da reurbanização do bairro.

Figura 30: IPASE. Fonte: MUsA, UFRN.

Figura 31: Antiga Rodoviária da Ribeira. Fonte: Valéria Ferraz, 2008.

Edifícios como o Ministério da Fazenda (Figura 32), o Banco do Brasil (Figura 33), o Procon (Figura 34), a Junta Comercial (Figura 35), a Receita Federal (Figura 36), também

Figura 37: Avenida Duque de Caxias Figura 38: Larga da Rua Chile. Fonte: PRAC-Ribeira, 2006. Fonte: Valéria Ferraz, 2008.

Além da importância das características físicas do bairro, a imagem de apelo natural da Ribeira é outra particularidade marcante e bem avaliada nos estudos de Elali. O pôr-do-sol no Rio Potengi (Figura 39) e o Porto de Natal (Figura 40) são vistos como merecedores de destaque pelos usuários, motivo pelo qual o projeto (não executado) da Prefeitura Municipal de Natal para o Cais da Tavares de Lira45 (Figura 41) prevê a remodelação do espaço para se tornar um local apropriado para apreciar esta paisagem tão valorizada pelos natalenses.

Figura 39: Pôr-do-sol no Rio Potengi. Fonte:www.picasaweb.google.com

Figura 40: Entrada do Porto de Natal pela Rua Esplanada Silva Jardim (vizinha ao Largo da Rua Chile). Fonte: Valéria Ferraz, 2008.

45 O Projeto Cais da Tavares de Lira busca a revitalização do Cais da Rua Tavares de Lira com espaços previstos para apreciação do Rio Potengi.

Cais da Tavares de Lira Figura 41: Foto atual no detalhe acima à esquerda e simulação da vista da R. Tavares de Lira em

direção ao Rio Potengi - já com o novo Cais. Fonte: SEMURB, 2006.

Figura 42: Localização de alguns marcos urbanos e espaços públicos da Ribeira. Fonte: Valéria Ferraz, 2008.