• Nenhum resultado encontrado

6. Desafios do Uso da Internet na Investigação e Prática Vocacional

2.5. Análise dos Resultados

3.2.1. Impacto Global na Prática Profissional

Em relação a esta variável, a hipótese inicial deste estudo era a de que o impacto da Internet contribuiu para modificar, de forma positiva, as práticas de orientação vocacional. De facto, uma vasta maioria de sujeitos corrobora esta hipótese, sendo que mais de metade dos participantes considera que o impacto foi elevado e um quarto, caracteriza-o como tendo sido médio. Esta hipótese é, também, amplamente justificada pelos dados da teoria, apresentados no segundo capítulo. Vários autores sustêm a tese de que o impacto da Internet é já uma realidade e defendem a necessidade de avaliar a dimensão e a qualidade deste impacto (ex. Gore & Leuwerke, 2000; Harris-Bowlsbey & Sampson, 2001; Lent, 1996; Herr, 1996; Offer & Sampson, 1999; Oliver & Zack, 1999; Plant, 2001; Prince, Chartrand & Silver, 2000; Stewart, 1999; Watts, 1996b).

No que toca à qualidade do impacto, a análise das respostas dos sujeitos permite concluir que a maioria dos participantes avalia o impacto como tendo sido positivo. Na esmagadora maioria das respostas é feita alusão aos contributos da Internet e apenas em dois casos se verificam referências aos possíveis danos que a Internet poderá causar. São estes, a possibilidade de os utilizadores ficarem confusos com demasiada informação e o facto de a Internet ter um impacto negativo ao limitar a comunicação face-a-face. De resto, são variadíssimas as melhorias imputadas à

Internet. Estas verificam-se no domínio da informação, da comunicação, da

intervenção, da formação, do desenvolvimento e manutenção de software e da investigação.

Tendo em conta a revisão da literatura efectuada, acerca do uso da Internet na Psicologia Vocacional, os resultados obtidos neste estudo parecem enquadrar-se nas diferentes sugestões e tipologias apresentadas por diversos autores.

Assim, no que respeita à informação, vários autores referem os contributos da

Internet. Offer e Sampson (1999) fazem alusão ao fornecimento de informação

relevante para o processo de orientação vocacional, como sendo uma das funções que esta ferramenta pode cumprir. Dikel (2002) apresenta uma tipologia dos sites existentes, entre os quais se encontram aqueles em que é possível obter informação vocacional. Na mesma linha de pensamento, Reile e Harris-Bowlsbey (2000), referem que os contributos da Internet, neste âmbito, se devem, essencialmente, à existência de inúmeras bases de dados com informação sobre cursos, profissões, instituições e empregos, que podem ajudar as pessoas e os profissionais a levar a cabo um processo de orientação vocacional. De resto, a possibilidade de aceder a maiores quantidades de informação actualizada, de forma rápida e barata, é uma das vantagens referidas, consensualmente, pelos autores da literatura produzida neste domínio (ex. Dikel, 2002; Gore & Leuwerke, 2000; Harris-Bowlsbey & Sampson, 2001; Offer & Sampson, 1999). Estes dados parecerem ser corroborados pelos resultados do presente estudo, na medida em que o acesso à informação foi, de longe, o aspecto mais vezes referido pelos participantes.

No que respeita à comunicação, a segunda categoria mais referida pelos sujeitos como sendo uma das áreas em que o impacto da Internet se fez sentir, encontram- se, na literatura revista, diversas referências ao auxílio que a Internet pode prestar neste domínio, nomeadamente no que concerne à comunicação entre os clientes com problemáticas diferentes, entre estes e os profissionais e dos profissionais entre si (ex. Harris-Bowlsbey, 1997; Offer & Sampson, 1999; Sampson, 2002a; Watts, 2002). Estes aspectos são, igualmente, referidos pelos sujeitos na reposta à questão sobre o impacto da Internet na sua prática profissional.

Relativamente à terceira categoria referida pelos participantes, a intervenção, pode constatar-se algum desfasamento entre os dados da teoria e os resultados obtidos. Apesar de referida por vinte e quatro sujeitos, os contributos referidos nesta categoria ficam aquém daqueles que poderiam vislumbrar-se a partir das sugestões

avançadas pelos diversos autores da literatura vocacional. De facto, segundo alguns autores, a panóplia de serviços que poderiam beneficiar do apoio da Internet é extensa e variada, cobrindo todas as vertentes do processo de intervenção vocacional, desde o mero fornecimento de informação, até à consulta psicológica vocacional via Internet, passando pelo acesso a materiais de auto-avaliação, de exploração do meio, recursos de apoio à tomada de decisão, apoio na procura de emprego e sites através dos quais se torna possível realizar um processo de orientação completo on-line (ex. Dikel, 2002; Harris-Bowlsbey, 2002a; Offer, 2002; Reile & Harris-Bowlsbey; Sampson, 1999, 2000, 2002a; Tait, 1999; Watts, 1996a, 2002). Contrastando estes dados com os resultados obtidos neste estudo, pode afirmar-se que o impacto da Internet na prática dos profissionais de orientação que participaram neste estudo corrobora, apenas em parte, a hipótese inicial. Com efeito, as áreas referidas por estes profissionais não vão muito para além dos benefícios em termos do acesso a novos recursos, nomeadamente recursos de cariz informativo, do facto de a Internet permitir que os clientes funcionem em registo de auto-ajuda, do impacto em termos da procura de emprego e das vantagens no que toca à autonomia e motivação dos clientes para encetarem processos de orientação. Não é feita qualquer referência à prestação de serviços de intervenção via Internet, muito menos à consulta psicológica vocacional via Internet.

No que diz respeito ao impacto da Internet na formação dos profissionais de orientação, os resultados deste estudo decalcam os dados da teoria. À semelhança daquilo que foi referido por alguns profissionais de orientação, vários autores salientam o papel da Internet na preparação dos profissionais para os desafios que se lhes colocam (ex. Reile & Harris-Bowlsbey, 2000; Sattem, Reynolds, Brnhardt & Burdeshaw, 2000). Assim, ao permitir o acesso a cursos de formação à distância, sem as limitações espácio-temporais inerentes à formação presencial, a Internet constitui-se como um óptimo veículo de promoção da formação destes profissionais. Ainda segundo Offer e Sampson (1999), o fornecimento de programas de ensino à distância é uma das funções que a Internet pode cumprir ao serviço da Psicologia Vocacional, sendo este, também, um dos aspectos referidos pelos profissionais de orientação envolvidos neste estudo.

O desenvolvimento e manutenção de software, bem como outro tipo de tarefas relacionadas com a Internet, formam outro dos pontos focados pelos sujeitos. Estes aspectos são, também, apontados na literatura como sendo consequências inevitáveis da adopção da Internet enquanto ferramenta de trabalho. Segundo Gore e Leuwerke (2000), os profissionais de orientação têm de lidar e ultrapassar este novo desafio, sob pena de não serem capazes de prestar serviços de qualidade. A este propósito Harris-Bowlsbey (2000) menciona a necessidade de incluir estas novas competências nos planos de formação dos profissionais de orientação.

Por fim, somente três participantes fazem alusão directa ao impacto da Internet na realização de investigação. As referências encontradas na literatura revista, acerca do contributo da Internet para a realização de investigação são, igualmente, parcas. De facto, a maioria dos autores centra-se em questões relacionadas com a intervenção (ex. Bezanson, 2000; Harris-Bowlsbey, 1997, 2002a,b; Jarvis, 1998; Jepsen, 2000; Panke, Carr, Arkin & Sampson, 2001; Sampson, Carr, Panke, Arkin, Minvielle & Vernick, 2001; Savard, Gingras & Turcotte, 2002; Sverko, Akik, Babarovic, Brcina & Sverko, 2002; Watts, 2002) e, na maioria dos casos, a investigação é citada pelos mesmos como uma necessidade e não como uma das áreas que poderá ter beneficiado do aparecimento da Internet. Há, no entanto, algumas excepções. Gore e Leuwerke (2000), por exemplo, mencionam o facto de a

Internet permitir a distribuição de instrumentos de avaliação e questionários para

investigação, por todo o mundo com um custo e esforço mínimos. Refira-se, ainda, a este propósito, um estudo realizado por Iaccarino (2000), via Internet, uma demonstração prática de como a Internet pode constituir-se como uma ferramenta auxiliar para os investigadores.