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I. SECTOR AGROSILVOPASTORIL

I.6. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NO SECTOR

As consequências das mudanças climáticas sobre os vegetais e o seu habitat podem provocar vários tipos de impactos: i) Biológicos; ii) na duração do ciclo de cultura; iii) inimigos de cultura; iv) Solos, v) Necessidades hídricas das culturas/disponibilidade em agua, etc.

I.6.1. Impactos biológicos

Em termos biológicos as mudanças climáticas, particularmente o aquecimento climático, devido ao aumento da temperatura podem provocar vários tipos de impactos, nomeadamente:

i) Na produção em termos de quantidade e qualidade;

ii) À montante da fileira, modificando o consumo da água, de fertilizantes, herbecidas e produtos fitossanitários e à jusante caso a qualidade dos produtos tenha modificado;

iii) No ambiente, nomeadamente no caso do aumento da frequência e da intensidade de lixiviação do azoto no solo e de outros elementos minerais tenham modificados;

iv) No espaço rural através da possível modificação de especulações, de construção de grandes obras hidráulicas e no abandono de terras.

Estes impactos são de grande complexidade e varia em função de culturas e de cultivares. No que tange à produção agrícola, os dados obtidos através da modelização e validados com os resultados de experiências, apontam para uma diminuição da produção total para a maioria das culturas dos países tropicais e sub-tropicais. O contrário poderá ocorrer nos países da Europa onde, possivelmente a produção vai aumentar para a maioria das culturas devido sobretudo ao efeito directo do aumento da concentração do CO2 na atmosfera. Este aumento de concentração parece ter um efeito favorável na

agricultura, pelo facto de contribuir para o aumento dos rendimentos graças a uma melhor actividade fotossintética, bem como numa utilização mais eficiente da água e por conseguinte no aumento da biomassa vegetal.

A produção total é resultante do somatório dos efeitos directos (aumento de concentração do CO2) e indirectos (aumento da temperatura do ar tendo como consequência a

diminuição do ciclo vegetativo)

Nestas condições a produção e a produtividade das culturas, devido às mudanças climáticas, variará, consideravelmente, tanto a nível regional como local, mudando assim o padrão de produção.

A semelhança da produção agrícola, para o sector silvopastoril, os dados aponta a mesma tendência. Em certas regiões do globo, nomeadamente em África, a modificação da configuração espço-temporal das temperaturas, do raio solar e dos ventos, bem como o aumento da frequência e da intensidade dos incêndios florestais, devido às mudanças climáticas, terá um impacto negativo no sector florestal com reflexo directo na aceleração do processo da desertificação. Situação inversa poderá acontecer na Europa, onde o

aumento da concentração do CO2 e as altas temperaturas teriam um efeito benéfico no aumento da área florestal.

O desenvolvimento da pecuária terá um duplo efeito: um directo provocado pelo aumento da temperatura e indirecto a partir da disponibilidade forrageira.

Pelo exposto a produtividade e a produção agrosilvopastoril estão projectadas a aumentar em algumas regiões (Europa) e diminuir em outras, em particular, nos trópicos e subtrópicos. Zonas onde Cabo Verde encontra-se inserido.

I.6.2. Impactos na duração do ciclo de cultura

O desenvolvimento fenológico das culturas ou seja o desenrolar dos stadiums vegetativo e reprodutivo, está directamente ligado a temperatura do vegetal ou do ar que o rodeia. Assim o aumento geral da temperatura traduzir-se-ia numa aceleração do desenvolvimento e de evoluções mais rápidas que nas condições actuais. Neste contexto, a duração do ciclo vegetativo será mais reduzido e os órgãos reprodutores atingem a fase de maturação muito mais rápido, causando perdas substâncias na produção.

I.6.3. Impacto nos inimigos de cultura

As plantas daninhas terão os mesmos efeitos que aqueles das plantas cultivadas. Portanto, elas beneficiarão do aumento da concentração em CO2, do aumento da

temperatura e a aceleração do ciclo vegetativo causando problemas de competitividade com as plantas cultivadas em certas regiões. No entanto, em outras regiões as plantas daninhas poderão conhecer uma redução devido a diminuição da pluviometria e um melhor controlo das culturas. Nestas regiões o aquecimento do clima poderá beneficiar a multiplicação e invasão das plantas C4 com reflexo na competitividade em relação a água. Mas que poderá ser aproveitada como plantas forrageiras para o desenvolvimento da pecuária.

Do mesmo modo, o aumento das temperaturas conjugado com o aumento da humidade do ar e da pluviometria, em certas regiões, conduzirá a uma situação favorável de desenvolvimento de certas doenças criptogâmicas, de pragas e em particular de insectos de pragas e de vectores de doenças. Em outras regiões, nomeadamente as tropicais e subtropicais os insectos poderão conhecer um aumento significativo devido as condições favoráveis de desenvolvimento, sobretudo as altas temperaturas que favorecem a eclosão.

I.6.4. Impacto em relação aos solos

O impacto das mudanças climáticas em relação aos solos também se manifesta de forma

diferente segundo as regiões. As alterações nos solos dependem também de outros factores nomeadamente das propriedades físico-químicas dos mesmos.

A fertilidade de solos, em particular o teor de azoto, será afectada sobretudo pela lixiviação provocada pelo aumento da pluviometria e consequentemente a redução da fertilidade dos solos.

O aumento das precipitações em algumas regiões terá um grande risco de erosão de solos. Na nossa sub-região os dados apontam para um aumento da frequência de chuvas torrenciais, provocando obviamente a erosão hídrica. Em Cabo Verde esta situação poderá agravar-se devido a nossa condição geomorfológica e solos pouco profundos e com pouca vegetação

I.6.5. Impacto sobre as necessidades hídricas das culturas/disponibilidade em água

Estima-se que nas próximas décadas as necessidades hídricas das culturas vão aumentar significativamente.

A satisfação do consumo de água de uma cultura depende de vários factores tais como: a pluviometria, o stock de agua nos solos, da existência ou não de fontes de agua para rega, assim como do enraizamento dos vegetais. Por outro lado as necessidades instantâneas de uma cultura dependem das condições climáticas (evapotranspiração que depende também de outros factores, mormente da insolação, do vento e da humidade do ar) e do stadium de desenvolvimento das mesmas. O aumento destes parâmetros terá como consequência o aumento da ETP, implicando maior consumo e perdas da água. Sabendo que o consumo total de uma cultura e dependente do ciclo vegetativo e que as altas temperaturas terão uma repercussão directa na redução do ciclo vegetativo, por conseguinte na redução das necessidades hídricas totais das culturas, convém reflectir em termos da eficiência de utilização da água e não em função das necessidades totais. Do aumento ou a diminuição da pluviometria irá depender a disponibilidade hídrica para satisfazer as necessidades das culturas. Assim, em certas regiões ela poderá eventualmente aumentar com o aumento da pluviometria.

Para Cabo Verde tudo indica que a disponibilidade hídrica irá diminuir, uma vez que as altas temperaturas associadas ao aumento da evapotranspiração, provável diminuição da humidade e da pluviometria irão afectar de forma negativa a quantidade de água disponível.