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Estudos Sectoriais - Vulnerabilidade e Adaptação às Mudanças Climáticas em Cabo Verde

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MINISTÉRIO DO AMBIENTE E AGRICULTURA

MINISTÉRIO DO AMBIENTE E AGRICULTURA

MINISTÉRIO DO AMBIENTE E AGRICULTURA

MINISTÉRIO DO AMBIENTE E AGRICULTURA

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA

GEF/PNUD

GEF/PNUD

GEF/PNUD

GEF/PNUD

ESTUDOS SECTORIAIS

VULNERABILIDADE E ADAPTAÇÃO ÀS

MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM CABO VERDE

PROJECTO NAPA

- DOCUMENTO FINAL-

CONSULTOR

ENGº MANUEL ADILSON CARDOSO FRAGOSO

PRAIA

JUNHO

(2)

RESUMO EXECUTIVO ... 4

1. INTRODUÇÃO GERAL ... 6

2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO PAIS ... 10

2.1 CONTEXTO SOCIOECONÓMICO ... 11

2.2. CAPACIDADE DE RESPOSTA NACIONAL ... 13

3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS ... 14

3.1 Factores naturais e humanos nas mudanças climáticas ... 14

3.2 Efeito das mudanças climáticas no sistema climático ... 16

3.2.1 Alterações na Temperatura ... 16

3.2.2 Alterações nas Precipitações e na humidade atmosférica ... 17

3.2.3 Alterações no nível do mar ... 18

4. PRINCIPAIS GASES COM EFEITO DE ESTUFA EM CABO VERDE ... 20

5. SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE FACE ÁS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM CABO VERDE ... 21

5.1. CONCEITO DE VULNERABILIDADE ... 22

6.PRINCIPAIS SECTORES E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS ... 23

I. SECTOR AGROSILVOPASTORIL ... 23

I.1 Agricultura de Sequeiro ... 23

I.2 Agricultura de Regadio ... 25

I.3 Sector da Pecuária ... 25

I.4 Sector da Floresta/Desertificação ... 27

I.5. VULNERABILIDADE DO SECTOR AGROSILVOPASTORIL ... 28

I.5.1 Variabilidade e mudanças de parâmetros climáticos observados ... 30

I.5.2. Variabilidade e mudanças climáticas projectadas ... 30

I.5.2.1. Pluviometria ... 31

I.5.2.2. Temperatura ... 32

I.6. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NO SECTOR AGROSILVOPASTORIL ... 33

I.6.1. Impactos biológicos ... 33

I.6.2. Impactos na duração do ciclo de cultura ... 34

I.6.3. Impacto nos inimigos de cultura ... 34

I.6.4. Impacto em relação aos solos ... 34

I.6.5. Impacto sobre as necessidades hídricas das culturas/disponibilidade em água .. 35

I.7. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR AGROSILVOPASTORIL ... 35

ELEVADO – Índice de vulnerabilidade ... 38

ELEVADO – Índice de vulnerabilidade ... 41

II. SECTOR DOS RECURSOS HIDRICOS ... 45

II.1. Águas superficiais ... 45

II.2. Águas subterrâneas ... 47

II.3. VULNERABILIDADE – RECURSOS HIDRICOS ... 48

II.4. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NO SECTOR RECURSOS HIDRICOS ... 49

II.5. MEDIADS DE ADAPTAÇÃO – RECURSOS HIDRICOS ... 54

(3)

III.1. Condições turísticas ... 60

III.2. Condições naturais por Ilhas ... 62

III.3. Turismo – Situação actual do Sector ... 63

III.4. VULNERABILIDADE DAS ZONAS COSTEIRAS E DO SECTOR TURISTICO ... 66

III.4.1. Vulnerabilidade do sector turístico por Ilha ... 67

III.5. IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NAS ZONAS COSTEIRAS ... 80

III.5.1 Os Impactos directos associados às condições climáticas extremas ... 81

III.6. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – ZONAS COSTEIRAS E TURISMO ... 86

IV. SECTOR DA BIODIVERSIDADE ... 92

IV.1.VULNERABILIDADE – SECTOR DA BIODIVERIDADE ... 98

IV.2. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NA BIODIVERSIDADE ... 99

IV.3. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR DA BIODIVERSIDADE ... 101

ANEXO D.1 – Índice de Vulnerabilidade, Impactos e Medidas de Adaptação Biodiversidade. ... 103

ELEVADO – Índice de vulnerabilidade ... 103

V. SECTOR DA SAÚDE ... 104

V.1.VULNERABILIDADE DO SECTOR DA SAÚDE ... 109

V.2. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NA SAÚDE ... 110

V.3. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR DA SAÚDE ... 112

E.1 – Índice de Vulnerabilidade, Impactos e Medidas de Adaptação Saúde. ... 113

MODERADO – Índice de vulnerabilidade ... 113

VI. SECTOR DAS PESCAS ... 114

VI.1. VULNERABILIDADE DO SECTOR DASPESCAS ... 117

VI.2. IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMATICAS NAS PESCAS ... 120

VI.3. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR DAS PESCAS ... 120

VII. SECTOR DA ENERGIA ... 121

VII.1. VULNERABILIDADE DO SECTOR DA ENERGIA ... 122

VII.2 MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR DA ENERGIA ... 123

ANEXO F.1 - Índice de Vulnerabilidade, Impactos e Medidas de Adaptação Pescas. ... 124

ELEVADO – Índice de vulnerabilidade ... 124

VIII. SECTOR DA INDUSTRIA ... 125

VIII.1. VULNERABILIDADE DO SECTOR DA INDUSTRIA ... 125

VIII.2. MEDIDAS DE ADAPTAÇÃO – SECTOR DA INDUSTRIA ... 126

ANEXO H.1 – Índice de Vulnerabilidade, Impactos e Medidas de Adaptação Industria. ... 127

ELEVADA – Índice de vulnerabilidade ... 127

7. CONCLUSÃO ... 128

8. RECOMENDAÇÕES ... 129

9. BIBLIOGRAFIA ... 131

(4)

APRESENTAÇÃO RESUMO EXECUTIVO

A temperatura média global do planeta à superfície elevou-se de 0,6 a 0,7 ºC nos últimos 100 anos, com acentuada elevação desde a década de 60. A última década apresentou os três anos mais quentes dos últimos 1000 anos da história recente da Terra. Hoje, através das análises sistemáticas do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC), sintetizando o conhecimento científico existente sobre o sistema climático e como este responde ao aumento das emissões antropogénicas de gases do efeito estufa (GEE) e de aerossóis, há um razoável consenso de que o aquecimento global observado nos últimos 100 anos é causado pelas emissões acumuladas de GEE, principalmente o dióxido de carbono (CO2), oriundo da queima de combustíveis fósseis - carvão mineral,

petróleo e gás natural - desde a Revolução Industrial e, em menor escala, do desmatamento da cobertura vegetal do planeta, e o metano (CH4), e não por eventual

variabilidade natural do clima.

A mudança global do clima já vem se manifestando de diversas formas, destacando-se o aquecimento global, a maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, alterações nos regimes de chuvas, perturbações nas correntes marinhas, retracção de geleiras e elevação do nível dos oceanos. A menos que acções globais de mitigação do aumento de emissões de gases de efeito estufa sejam efectivamente implementadas nas próximas décadas (seria necessária uma redução de cerca de 60% das emissões globais de GEE para estabilizar suas concentrações em níveis considerados seguros para o sistema climático global), a demanda futura de energia, principalmente nos países em desenvolvimento, à medida que suas economias se expandem, terá como consequência alterações climáticas significativamente mais graves, como por exemplo, um aumento das temperaturas médias globais entre 1,4 e 5,8 graus Celsius (ºC) até o final do século, acompanhadas por substantivas e perturbadoras modificações no ciclo hidrológico em todo o planeta.

A Convenção do Clima surgiu em resposta às ameaças das mudanças climáticas para o desenvolvimento sustentável, a segurança alimentar e os ecossistemas do planeta, como um tratado internacional de carácter essencialmente universal – foi firmada e ratificada por praticamente todos os países.

O objectivo da Convenção é o de estabilizar a concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, em níveis tais que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. Ora, tal estabilização somente pode ser obtida pela estabilização das emissões líquidas (emissões menos remoções) dos gases de efeito estufa. Por outro lado, já é impossível evitar completamente a mudança global do clima. Desta forma, os esforços dos países acordados na Convenção visam diminuir a magnitude da mudança do clima.

O Protocolo de Quioto representa o principal avanço obtido na Convenção, estabelecendo limites para a emissão de GEE dos países do Anexo I (Membros da OCDE e economias em transição), que em seu conjunto deverão no período 2008-2012 reduzi-las em 5,2% do total emitido por eles em 1990. Negociado em 1997, assinado por praticamente todos os países, e ratificado por uma grande maioria, o Tratado de Quioto entrou em vigor em 16 de Fevereiro de 2005. No entanto, os Estados Unidos (EUA) decidiram não buscar a sua

(5)

ratificação, no que foram seguidos pela Austrália, embora esta última tenha declarado que limitará as suas emissões como se houvesse ratificado.

Para os países em desenvolvimento e, sobretudo, para as maiores economias em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que devem, ao mesmo tempo, inserir-se na moderna economia globalizada e superar seus passivos social e económico, o Protocolo de Quioto é um dos itens prioritários na agenda ambiental. A importância do instrumento se dá, principalmente, por dois motivos: do ponto de vista político, o facto de os países do Anexo I terem metas, e os países em desenvolvimento não as terem, representou o claro fortalecimento do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, um dos pilares da posição dos países em desenvolvimento nas negociações internacionais sobre mudança do clima. Do ponto de vista económico, o facto de os países fora do Anexo I não terem metas assegura flexibilidade para seus projectos de desenvolvimento.

Nesse contexto, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Quioto cria grande expectativa no país pelos benefícios que poderá trazer para Cabo Verde. Por um lado, os projectos a serem realizados no âmbito do MDL representam uma fonte de recursos financeiros para projectos de desenvolvimento sustentável e, por outro, esses projectos deverão incentivar o maior conhecimento científico e a adopção de inovações tecnológicas.

Os países em desenvolvimento são de facto os mais vulneráveis à mudança do clima, em função de terem historicamente menor capacidade de responder à variabilidade natural do clima. A vulnerabilidade de Cabo Verde em relação à mudança do clima se manifesta em diversas áreas: por exemplo, aumento da frequência e intensidade de enchentes e secas, com perdas na agricultura e ameaça à biodiversidade; mudança do regime hidrológico, expansão de vectores de doenças endémicas. Além disso, a elevação do nível do mar pode vir a afectar todas as ilhas do arquipélago, em especial as ilhas mais planas. Cabo Verde é, indubitavelmente, um dos países que podem ser duramente atingidos pelos efeitos adversos das mudanças climáticas futuras, já que tem uma economia fortemente dependente de recursos naturais directamente ligados ao clima, a agricultura e no turismo.

Para um país com tamanha vulnerabilidade, o esforço de mapear tal vulnerabilidade e risco, conhecer profundamente suas causas, sector por sector, e subsidiar políticas públicas de mitigação e de adaptação ainda é incipiente, situando-se aquém de suas necessidades.

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1. INTRODUÇÃO GERAL

A mudança global do clima vem se manifestando de diversas formas, destacando-se o aquecimento global, a maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, alterações nos regimes de chuvas, perturbações nas correntes marinhas, retracção de geleiras e a elevação do nível dos oceanos. Desde a Revolução Industrial a temperatura média do planeta aumentou cerca de 0,6 graus Celsius (ºC) e recentemente o fenómeno tem se acelerado: as maiores temperaturas médias anuais do planeta foram registradas nos últimos anos do século XX e nos primeiros anos do século XXI.

A comunidade científica especializada no tema já não tem mais dúvidas de que este fenómeno, chamado de ampliação do “efeito estufa”, é causado principalmente pelo aumento da concentração na atmosfera de certos gases, ditos de efeito estufa. Eles impedem a liberação para o espaço do calor emitido pela superfície terrestre, a partir de seu aquecimento pelo sol, tal qual ocorre numa estufa. Dentre os gases de efeito estufa (GEE), os mais significativos são o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), emitidos

pela intensificação da actividade antrópica (humana). A concentração de CO2 na

atmosfera, que era de 280 ppm (partes por milhão) na era pré-industrial, já atinge hoje o nível de 379 ppm.

Este aumento da concentração de CO2 na atmosfera, responsável por mais da metade do

aquecimento global, é causado principalmente pelas emissões acumuladas desde a Revolução Industrial na queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural) e em menor escala, pela destruição da cobertura vegetal do planeta.

Apesar de haver muitas incertezas quanto aos impactos futuros da mudança do clima, importantes estudos científicos1apontam para um aumento da temperatura média global

na faixa de 1,4 a 5,8 ºC, no final deste século, conforme ilustrado na figura 1, constituindo-se, actualmente, em uma das principais preocupações da comunidade científica e da sociedade, a nível planetário.

(7)

Figura 1 – Médias Multi-modelos e Intervalos Avaliados para o Aquecimento Superficial.

As linhas sólidas são médias globais do aquecimento da superfície produzidas por vários modelos (relativas a 1980-99) para os cenários A2, A1B e B1, mostradas como continuações das simulações do século XX. O sombreamento denota a faixa de mais/menos um desvio-padrão para as médias anuais individuais dos modelos. A linha alaranjada representa o experimento em que as concentrações foram mantidas constantes nos valores do ano 2000. As colunas cinzas à direita indicam a melhor estimativa (linha sólida dentro de cada coluna) e a faixa provável avaliada para os seis cenários marcadores do RECE. A avaliação da melhor estimativa e das faixas prováveis nas colunas cinzas compreende os AOGCMs na parte esquerda da figura, bem como os resultados de uma hierarquia de modelos independentes e restrições das observações (IPCC, 2007)

Os efeitos adversos do aquecimento global e da maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos podem provocar um aumento da vulnerabilidade do planeta em diversas áreas, como por exemplo, perdas na agricultura e ameaça à biodiversidade, expansão de vectores de doenças endémicas, aumento da frequência e intensidade de enchentes e secas, mudança do regime hidrológico.

Além disso, a elevação do nível do mar pode vir a afectar regiões costeiras. Estas perspectivas são particularmente preocupantes para os países em desenvolvimento, que deverão sofrer mais fortemente os impactos das mudanças climáticas e poderão ter

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comprometido os seus esforços de combate à pobreza e os demais objectivos de desenvolvimento do milénio (IPCC, 2007).

Portanto, a questão da mudança do clima deve considerar, de um lado, a vulnerabilidade a que os biomas globais estão expostos, face aos impactos decorrentes da mudança do clima, e consequente necessidade de se definir estratégias de adaptação a esses impactos e, de outro lado, a questão da mitigação da mudança do clima, por meio de medidas que visam reduziras emissões de gases, ou “sequestrar” o carbono existente na atmosfera.

Em decorrência dos riscos acarretados pelas mudanças climáticas, foi estabelecida, no âmbito da Organização das Nações Unidas, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, aberta para adesões em 1992, durante a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, com o objectivo de estabelecer as directrizes e condições para estabilizar os níveis destes gases na atmosfera. A Convenção do Clima entrou em vigor em 21 de Março de 1994 e, até Novembro de 2004, havia sido assinada por 189 “Partes” (países), que assumem assim um compromisso internacional com os termos da Convenção.

Dentre as obrigações assumidas no Artigo 4 da Convenção por todas as Partes signatárias, levando em conta suas responsabilidades comuns mas diferenciadas, merece destaque o que estabelecem os itens 5 e 7:

“5. As Partes países desenvolvidos e outras Partes desenvolvidas incluídas no Anexo II devem adoptar todas as medidas possíveis para promover, facilitar e financiar, conforme o caso, a transferência de tecnologias e de conhecimentos técnicos ambientalmente saudáveis, ou o acesso aos mesmos, a outras Partes, particularmente às Partes países em desenvolvimento, a fim de capacitá-las a implementar as disposições desta Convenção. Nesse processo, as Partes, países desenvolvidos devem apoiar o desenvolvimento e a melhoria das capacidades e tecnologias endógenas das Partes, países em desenvolvimento. Outras Partes e organizações que estejam em condições de fazê-lo podem também auxiliar a facilitar a transferência dessas tecnologias.”

“7. O grau de efectivo cumprimento dos compromissos assumidos sob esta

Convenção das Partes países em desenvolvimento dependerá do cumprimento efectivo dos compromissos assumidos sob esta Convenção pelas Partes países desenvolvidos, no que se refere a recursos financeiros e transferência de tecnologia, e levará plenamente em conta o fato de que o desenvolvimento económico e social e a erradicação da pobreza são as prioridades primordiais e absolutas das Partes países em desenvolvimento.” A Convenção do Clima tem como órgão supremo a Conferência das Partes (COP), composta pelos países signatários, que se reúne anualmente para operacionalizar a Convenção e cuja primeira reunião ocorreu em Berlim, Alemanha, em 1995. Durante a COP 3, realizada em Quioto, Japão, em 1997, foi adoptado o Protocolo de Quioto, pelo qual os países industrializados deverão reduzir suas emissões de GEE 5,2%, em média, em relação às emissões de 1990, nos anos de 2008 a 2012.

Cabo Verde assinou a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUCC) na Cimeira da Terra em Junho de 1992 e ratificou a dita Convenção em 29 de Março de 1995 e entrou em vigor em 22 de Junho do mesmo ano.

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Em 5 de Dezembro de 2005, Cabo Verde ratificou o Protocolo de Quioto. No entanto, o Protocolo de Quioto é importante para os países em desenvolvimento porque possibilita, na prática, a aplicação do princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, adoptado na Convenção, pelo qual cabe aos países industrializados, maiores emissores históricos, assumirem os compromissos relativos ao controle do aquecimento global. Nesse sentido, além do esforço doméstico de controlo das emissões pelos países industrializados (relacionados no Anexo I da Convenção), o Protocolo prevê mecanismos suplementares de flexibilização de suas metas de redução das emissões, por meio de três instrumentos:

i - o comércio de permissões de emissões (CE), que permite a uma Parte visada no Anexo I do Protocolo vender uma parcela de sua quota de emissão a uma outra Parte visada no Anexo I;

ii - a implementação conjunta (IC), que permite às Partes visadas no Anexo I realizar “projectos limpos” no território de outras Partes visadas no Anexo I, a fim de obter unidades de redução de emissões para cumprir uma parcela de seus compromissos quantificados de limitação das emissões;

iii - o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), que permite às Partes visadas no Anexo I financiar “projectos limpos” no território de Partes que não figuram no Anexo I, a fim igualmente de obter as unidades suplementares de redução de emissões.

Para que o Protocolo de Quioto entrasse em vigor era necessário que o acordo fosse ratificado por, pelo menos, 55 Partes da Convenção-Quadro, incluindo, entre essas, países industrializados que respondessem por, pelo menos, 55% das emissões totais de dióxido de carbono desse grupo de países, contabilizadas em 1990. Os Estados Unidos (EUA), responsável por 36,1% das emissões totais dos países industrializados, apesar de signatários da Convenção e de terem participado da Terceira Conferência das Partes em Quioto, anunciaram em Março de 2001 que não iriam ratificar o Protocolo.

Não obstante, ambas condições se encontram hoje satisfeitas, pois 128 países já ratificaram o Protocolo (Dezembro de 2004) e, com a recente ratificação pela Federação Russa (Rússia), responsável por 17,4% das emissões, se atinge mais de 60% das emissões totais de dióxido de carbono dos países industrializados, contabilizadas em 1990. Nestas condições, o Protocolo de Quioto entrou em vigor em 16 de Fevereiro de 2005.

A ratificação e a entrada em vigor do Protocolo de Quioto se reveste de uma dimensão estratégica para Cabo Verde na medida em que trata-se de um primeiro passo de grande relevância para o início do combate ao aumento do efeito estufa, que deverá contribuir para limitar os impactos adversos das mudanças climáticas.

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2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO PAIS

Cabo Verde é um país constituído por dez ilhas (Santo Antão, São Vicente, Santa Luzia, São Nicolau, Sal, Boavista, Maio, Santiago, Fogo e Brava) e treze ilhéus, localizado a cerca de 450 km da costa ocidental africana, ao largo do Senegal (Figura 2).

As ilhas são de origem vulcânica, de tamanho relativamente reduzido e dispersas e estão inseridas numa zona de elevada aridez meteorológica. Três das ilhas (Sal, Boavista e Maio) são relativamente planas, sendo as outras montanhosas. Ocupam, no seu conjunto, uma superfície emersa total de 4.033 Km2 e uma zona económica exclusiva (ZEE) que se estende por cerca de 734.000 km2 (Bravo de Laguna 1985).

A linha de costa é relativamente grande, com cerca de 1.020 km, preenchida de praias de areia negra e branca que se alternam com escarpas.

Fig.2. Localização geográfica de Cabo Verde

Perante a sua situação geográfica, o clima é do tipo subtropical seco, caracterizado por uma curta estação de chuvas (Julho a Outubro), com precipitações, por vezes torrenciais e mal distribuídas no espaço e no tempo, o que constitui o principal factor de aceleração da erosão dos solos. A média anual de precipitação é de cerca de 225 mm, com tendência para baixar desde a década de sessenta do século passado, com reflexos negativos não só nas condições de exploração agrícola, mas também no abastecimento de água (INMG 2003). Cerca de 20% da água de precipitação perde-se por escoamento superficial, 13% dirige-se à recarga de aquíferos e 67% desaparece por evaporação (INMG 2003).

À semelhança dos outros países sahelianos, mas de forma mais intensa, Cabo Verde tem sofrido os efeitos catastróficos da seca. Esta particularidade climática, caracterizada pela extrema insuficiência e irregularidade das precipitações, conjugada com a exiguidade do território e a alta propensão para erosão dos solos, é a causa principal da fraqueza estrutural do sector agrícola.

(11)

2.1 CONTEXTO SOCIOECONÓMICO

A população, num total de 434.625 habitantes e uma densidade de 108 habitantes/km2, é

muito jovem (42% tem idades inferiores a 14 anos); concentra-se em 54% nas áreas urbanas e apresenta uma taxa de crescimento de 2,4% (Quadro 1). As projecções demográficas indicam, para 2003, uma população residente de 458.748 habitantes (INE, 2002).

A degradação das condições de vida no meio rural tem contribuído para o empobrecimento das populações rurais e consequentemente para a sua deslocação para os centros urbanos, contribuindo assim para o aumento da pobreza urbana, sobretudo nas zonas periféricas dos centros urbanos. Caso medidas não forem tomadas para reverter esta situação, prevê-se que os centros urbanos passarão a albergar, dentro em breve, mais de 60 % da população residente.

Quadro 1: Estrutura da população de Cabo Verde

Parâmetros Cabo Verde

População Total 434.625

População residente 431.989

População feminina 223.995

População masculina 207.994

População 0 a 14 anos 181.993

População 65 anos e mais 27.122

Idade mediana da população (anos) 17

População urbana 232.147

População rural 199.842

Densidade Populacional 107

Número de agregados familiares 93.975

Número médio de pessoas por agregado familiar 5

Fonte: INE. 2002 (Censo 2000)

A população do Pais é mal distribuída entre as ilhas e intra ilhas. Assim, mais de metade da população concentra-se na maior ilha (Santiago), com cerca de 255.974 habitantes e deste mais de metade encontra-se na cidade da Praia, capital do País.

Um estudo levado a cabo pelo Banco Mundial (1996), revela que cerca de 30% da população é considerada pobre e 14% muito pobre, dos quais 70% dos pobres e 85% dos muitos pobres residem no meio rural. Cerca de 21% da população tem problemas de alimentação. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) a pobreza em Cabo Verde evoluiu de 30% na década de 90 para 37% em 2002. (Ver quadro n.º 2)

(12)

Quadro 2: Estimativa da pobreza em Cabo Verde em 2002

Distribuição por

ilhas População pobre % População muito pobre % pobre Não Total

Cabo Verde 92.828 20 79.899 17 297.960 470.687 Urbano 29.739 11 35.043 14 194.539 259.321 Rural 63.089 30 44.856 21 103.421 211.366 Sto Antão 17.553 35 9.861 19 23.209 50.623 S. Vicente 7.372 10 10.868 15 53.206 71.446 S. Nicolau 3.516 24 2.479 17 8.929 14.923 Sal 1.020 6 1.159 7 14.729 16.908 Boavista 102 2 662 13 4.377 5.141 Maio 1.812 25 1.022 14 4.557 7.391 Fogo 10.262 25 7.101 17 23.872 41.235 Santiago 50.329 20 44.697 17 160.948 255.974 Brava 862 12 2.050 29 4.134 7.046

Fonte: IDRF 2001/2002.INE

A pobreza em Cabo Verde é de carácter estrutural, resultante de uma situação socio-económica frágil, própria de uma economia de subsistência.

Cabo Verde faz parte dos PMA com um PIB per capita estimado em 1.663 USD (2003) devendo, no entanto passar, brevemente para o PDM. Salienta-se que o PIB per capita registou nos últimos anos uma evolução positiva passando de 300 USD em 1975 para 1.663 USD em 2003. De igual modo existe uma forte desigualdade entre o PIB do meio rural e urbano.

O país registou ao longo dos últimos anos um crescimento económico anual médio na ordem dos 6 %, impulsionado pelas reformas visando a melhoria do ambiente económico, sobretudo através da liberalização económica dos mercados e do desenvolvimento do sector privado.

O sector dos serviços domina a actividade económica do país com cerca de 72 % do PIB, seguido do secundário com 20 %. Os sectores da agricultura e da pesca empregam mais de 60 % da população e representam apenas 10% a 12 % do PIB (2002). O sector industrial concentram-se principalmente nas ilhas de Santiago e S.Vicente. O quadro abaixo ilustra os principais indicadores demográficos e socio-económicos do Pais.

(13)

Quadro 3: Principais indicadores demográficos e socio-económicos

SUPERFÍCIE 4.033 Km2

ÁREA CULTIVÁVEL 35.000 há

DENSIDADE DA POPULAÇÃO 111,7 Habitantes/km2

POPULAÇÃO • Feminina • Masculina 450.489,2 hab 232.200 217973

ESPERANÇA DE VIDA A NASCENÇA

• Feminina • Masculina

71,2 anos ( 2002) 71,3 anos (2002) 67,1 anos (2002)

TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS

• Feminina • Masculina

71 % 62,5% 82,1%

TAXA BRUTA DE ESCOLARIZAÇÃO (Todos os níveis)

• Feminina • Masculina 77% 76% 79% REPARTIÇÃO DA POPULAÇÃO • População urbana • População rural 55,20% (2002) 44,805 (2002)

POPULAÇÃO ACTIVA (15-64 anos)

• Ambos os sexos • Sexo masculino • Sexo feminino • Taxa de desemprego 53,1% da forca de trabalho 90,0% 45,4% 25,4%

ÍNDICE SINTÉTICO DE FECUNDIDADE 4,0 (2002)

SAÚDE

• Taxa de mortalidade infantil (por 1000) • Acesso a agua potável

• Taxa de cobertura da rede de distribuição de agua potável • Habitantes por medico

• Habitantes por enfermeiro • Habitantes por cama hospitalar

32,2 (2002) 76,1 % 33% 2.682 (2002) 1.205 (2002) 626 (2000) EDUCAÇÃO

• Taxa liquida de escolarização no ensino básico integrado • Taxa liquida de escolarização no ensino secundário • Taxa de alfabetização de adultos

95,1 % (2002/2003) 56,6% (2002/2003)

64%

ECONOMIA

• Produto Nacional Bruto (PNB) • PNB por Habitante

• Media anual da inflação

400 Milhões de USD 1.420 USD (2002)

4,4 %

Fonte: PNUD. Rapport Mondial sur le Développement Humain. Ministério das Finanças e do Planeamento. 2004. Estratégia de Crescimento e de Redução da Pobreza.

2.2. CAPACIDADE DE RESPOSTA NACIONAL

Têm-se verificado nos últimos anos um crescente reconhecimento para necessidade de adopção de estratégias para mitigação do impacto da variabilidade e mudanças climáticas. A mitigação deste fenómeno é de extrema importância no contexto de desenvolvimento económico, dado aos impactos negativos que esta possa criar.

Esta adopção, não pode ser vista somente como uma reacção aos referidos impactos, mas também como mudança de consciência da sociedade, conducente a um melhor uso dos recursos naturais de forma a evitar efeitos negativos sobre si mesmo.

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Contudo, verifica-se um contínuo aumento do conhecimento nesta matéria bem como alguns projectos correntes com vista a mitigação a curto prazo e investigação científica para um melhor entendimento do fenómeno. Estas iniciativas incluem investigadores, agências governamentais, instituições de previsões meteorológicas, agências internacionais de apoio alimentar, Instituto Nacional de Gestão de Calamidades e agências não governamentais.

3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS

3.1 Factores naturais e humanos nas mudanças climáticas

A terra, em especial a sua superfície, absorve o raio solar, que posteriormente é distribuída, através da circulação atmosférica e oceânica, no espaço percorrendo grandes distâncias.

Em média anual e para a Terra em geral o raio solar incidente é mais ou menos igual ao raio emitido pelo sol em direcção à terra e o raio emitido pelo globo terrestre. Portanto, todo e qualquer factor que estimule alterações no raio solar ou aquele que é enviado para o espaço ou ainda que altera a distribuição da energia na atmosfera ou entre esta, as terras emersase os oceanos tem influencia directa ou indirectamente no clima.

Por outro lado, as actividades humanas contribuem para o aumento significativo da concentração dos gases com efeito de estufa na atmosfera. Estes têm como efeito directo a redução da eficiência e da eficácia da superfície da terra em reflectir o raio incidente para o espaço, provocando o aquecimento da superfície da terra. A perda da mais pequena quantidade de calor no espaço tem como consequência o reforço do efeito de estufa, fenómeno que ocorre na atmosfera terrestre há milhares de anos provocados pela presença de gazes na natureza tais como: o vapor de água, o dióxido de carbono, o ozono, os metanos e o óxido nítrico.

Mudanças na atmosfera da quantidade de gás causador do efeito estufa e aerossol, mudanças da radiação solar e na propriedade da superfície da terra alteram o equilíbrio energético do sistema climático. Estas mudanças são expressas como uma força radioactiva que é usada para comparar como uma gama de factores humanos e naturais influencia o aquecimento ou esfriamento do clima global. Desde o TAR (Terceiro Relatório de Avaliação), novas observações relacionadas à emissão do gás estufa, à actividade solar, à propriedade da superfície da terra e a alguns aspectos do aerossol têm levado a melhorias na estimativa quantitativa da força radioactiva.

A concentração de dióxido de carbono, de gás metano e de óxido nitroso na atmosfera global tem aumentado marcadamente como resultado de actividades humanas desde de 1750, e agora já ultrapassou em muito os valores da pré-industrialização determinados através de núcleos de gelo que estendem por centenas de anos (veja fig. SPM-1, em anexo). O aumento global da concentração de dióxido de carbono ocorre principalmente devido ao uso de combustível fóssil e a mudança no uso do solo, enquanto o aumento da concentração de gás metano e de óxido nitroso ocorre principalmente devido à agricultura.

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- As concentrações actuais, a nível Mundial, do Dióxido de Carbono (CO2), do Metano

(CH4) e do Óxido Nitroso (N2O) aumentaram de forma notável devido às acções humanas

desde 1750.

- O dióxido de carbono é o mais importante gás estufa antropogénico (veja fig. SPM-2, em anexo). A concentração global de dióxido de carbono tem crescido desde a época pré-industrial que era em torno de 280 ppm para 379 ppm3 em 2005. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera excedeu em muito a faixa natural durante dos últimos 650.000 anos (180 à 300ppm) determinado através de núcleos de gelo. A taxa anual de crescimento da concentração de dióxido de carbono foi maior nos últimos dez anos (1995-2005 média: 1,9 ppm por ano) do que foi desde o começo da medição contínua e directa da atmosfera (1960-2005 média: 1,4 ppm por ano) apesar de existir variações de crescimento de um ano para outro.

O aumento do CO2 é devido à utilização dos combustíveis fósseis e o modo de gestão

das terras.

- A concentração de gás metano na atmosfera global aumentou de um valor do período pré-industrial de cerca de 715 ppb para 1732 no começo da década de 1990, e está em 1774 ppb em 2005. A concentração de gás metano em 2005 excedeu em muito a faixa natural dos últimos 650.000 anos (320 para 790 ppb) como determinado através de núcleos de gelo. A taxa de crescimento tem declinado desde o começo da década de 1990, consistente com o total de emissões (quantidade total de fontes naturais e antropogênicas), sendo quase constante durante este período.

-A concentração de óxido nitroso na atmosfera global aumentou de um valor do período pré-industrial de cerca de 270 ppb para 319 ppb em 2005. A taxa de crescimento tem sido aproximadamente constante desde 1980. Mais de um terço de toda a emissão de óxido nítrico são antropogênicas e principalmente devido à agricultura.

- A força radioactiva combinada devido ao aumento de dióxido de carbono, de gás metano e de óxido nítrico é +2.30 [+2.07 para +2.53] Wm2 e sua taxa de crescimento durante a era industrial tem sido sem precedentes em mais de 10.000 anos (veja figura SPM-1 e SPM-2 em anexo) (IPCC-GIEC-02-2007).

- A força radioactiva de dióxido de carbono aumentou em 20% de 1995 até 2005, a maior mudança percebida em qualquer outra década em pelo menos 200 anos.

- As contribuições antropogênicas para o aerossol (principalmente sulfato, carbono orgânico, carbono negro, nitrato e poeira) juntos produzem um efeito de resfriamento, com uma força radioactiva directa de – 0.5 [-0.9 para – 0.1] Wm2 e uma força indirecta de nuvem de albedo de – 0.7 [-1.8 para – 0.3] Wm2. Aerossol também influencia o tempo de vida de uma nuvem e sua precipitação.

- Contribuições antropogênicas significativas para a força radioactiva vêm de várias outras fontes. Mudanças no ozónio troposférico devido às emissões do ozono formado por químicos (óxido de nitrogénio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos contribuem +0.35 [+0.25 para 0.65] Wm2.

- A força radioactiva directa devido a mudanças nos halocarbonos é +0.34 [+0.31 para +0.37] Wm2.

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- Mudanças na superfície de albedo, devido à mudança na cobertura do solo e depósitos de aerossol de carbono negro na neve, exercem forças respeitáveis de – 0.2 [-0.4 apa 0.0] e +0.1 [0.0 para +0.2] Wm2. Termos adicionais menores que +-0.1Wm2 são mostrados na figura SPM-2 em anexo.

- Mudanças na radiação solar desde de 1750 são estimadas em causar uma força radioactiva de +0.12 [+0.66 para 0.30] Wm2, a qual é menos da metade estimada no TAR. (GIEC-02-2007)

3.2 Efeito das mudanças climáticas no sistema climático

Observações feitas ao longo de vários anos confirmam a tese de que o clima da Terra está a mudar. Estas observações permitem uma melhor compreensão das mudanças climáticas e particularmente a rapidez com que ela se processa. Essas variações estão a causar alterações nos parâmetros do sistema climático global, mas também a nível regional e local.

A seguir apresentamos alguns parâmetros climáticos, os mais susceptíveis às mudanças climáticas a nível global e com prováveis efeitos nefastos para o nosso país:

• Temperatura;

• Precipitações e a humidade atmosférica e do solo; • Nível do mar;

• Variabilidade do clima e dos fenómenos meteorológicos e climáticos extremos

3.2.1 Alterações na Temperatura

Desde o fim do século XIX a temperatura media à superfície do globo aumentou de cerca de 0,6ºC ± 2ºC. No entanto, a maior parte dos aumentos de temperatura mundial observado durante o fim do século XIX verificou-se durante dois períodos distintos: de 1910 a 1945 e após 1976. O ritmo de crescimento foi de uma média de 0,15ºC por década, durante estes dois períodos.

Recentemente, o aquecimento foi mais acentuado nas terras emersas que nos oceanos. Durante o período de 1950 a 1993, o aumento da temperatura à superfície do mar representou em média metade daquele observado no ar à superfície da terra. A figura que se segue ilustra a temperatura média registada durante o período 1860 a 2000, (GEIC-2001).

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Gráfico 1: Anomalias registradas nas temperaturas anuais combinadas do ar à superfície

da Terra e à superfície do mar de 1961 a 2000, em relação ao período de 1961-1990. Duas incertezas de desvio padrão estão representadas em forma de barras sobre a temperatura anual.

As temperaturas médias no hemisfério norte durante a segunda metade do século 20 eram muito provavelmente maiores do que qualquer outro período de 50 anos nos últimos 500 anos e provavelmente a maior nos últimos 1300 pelo menos. Alguns estudos recentes indicam uma variação de temperaturas no hemisfério norte maior do que aquela sugerida pelo TAR, particularmente considerando que períodos mais frios existiram nos séculos 12 até 14, 17 até 19. (GEIC-2007).

Períodos mais quentes anteriores ao século 20 estão dentro da faixa de incerteza dada no TAR – Terceiro Relatório de Avaliação.

3.2.2 Alterações nas Precipitações e na humidade atmosférica

O efeito das mudanças climáticas tem provocado um desequilíbrio na repartição das precipitações a nível do globo.

À excepção da Ásia Oriental, a altura anual das precipitações nas terras emersas aumentou nas latitudes médias e elevadas do hemisfério Norte (provavelmente a um ritmo de 0,5 a 1 % por década). Do mesmo modo, a altura das precipitações à superfície da terra nas zonas tropicais aponta para um aumento de cerca de 0,2 a 0,3 % por década durante o século XIX. Nas zonas subtropicais (de 10 º a 30 º de latitude Norte) as precipitações à superfície das terras emersas, em média, diminuíram (provavelmente em media de 0,3 % por década). No entanto, nos últimos tempos tem-se verificado alguns sinais de inversão.

Entretanto, as medições directas da altura das precipitações mostram claramente um aumento das chuvas a nível da maioria dos oceanos tropicais.

No hemisfério Norte existe uma forte correlação entre o aumento das precipitações nas terras emersas nas latitudes médias e elevadas e o aumento da nebulosidade total. De igual modo, é muito provável que a quantidade total de vapor de água atmosférica tem aumentado de vários pontos percentuais, por década, nesta região do globo.

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Nos últimos 10 anos, e de uma maneira geral, os dados científicos indicam um aumento geral do vapor de água atmosférica à superfície do globo e na parte baixa da troposfera. Da mesma forma a concentração do vapor de água na parte baixa da estratosfera, provavelmente, aumentou de cerca de 10%, por década, desde o começo das observações realizadas em 1980, (GEIC-2001).

3.2.3 Alterações no nível do mar

Segundo os dados maregráficos o nível médio do mar tem aumentado 1,0 a 2,0 mm por ano, durante século XX. O valor central se estabelece a 1,5 milímetros por ano. As causas do aumento do nível do mar, à escala de séculos ou de décadas, estão directamente relacionadas com o clima e com a sua alteração.

Assim a variação térmica aparece como sendo uma das principais causas das variações históricas do nível médio do mar, devendo este fenómeno ter um papel relevante na elevação do nível do mar durante os próximos 100 anos.

O nível médio do mar varia igualmente com a diminuição ou aumento da massa de água dos oceanos. Assim, a principal reserva de água existente no continente sob forma de gelo glaciar ou do lençol glaciar constituem o principal factor do aumento ou diminuição do nível médio do mar. Nestes termos a expansão térmica e fusão de grandes massas glaciares serão, sem margens de dúvidas, as maiores causas da elevação do nível do mar durante os próximos tempos.

A média global do nível do mar no último período inter glacial (cerca de 125.00 anos atrás), era provavelmente 4 a 6 metros maior do que durante o século 20, devido à recuperação da camada polar. Dados provenientes de núcleos de gelo indicam que as médias de temperaturas polares naquela época eram 3 a 5°C maiores do que no presente momento, por causa da diferença da órbita da Terra. As camadas de gelo da Groenlândia e de outros campos de gelo do Árctico provavelmente contribuíram não mais que 4 metros para o aumento do nível do mar observado. Talvez tenha havido a contribuição da Antártida. (GEIC-2007).

Interesse despertado pelo tema “Mudança Climática”

De acordo com inquérito realizado no quadro do projecto NAPA, em cada 4 indivíduos 3 deles manifestaram grande interesse no tema em questão e, cerca de 4 %deles não dão atenção alguma ao fenómeno. Apesar dessa proporção ser importante ao nível nacional, constata-se uma certa disparidade entre os diferentes concelhos do país (quadro 2). Com efeito, na maioria dos concelhos, todos os entrevistados (100 %) manifestam ao menos algum interesse no tema, com maior expressão para “grande interesse”, salientando proporções significativas no que diz respeito a falta de interesse, com casos gritantes para os concelhos do Maio e de Ribeira Brava (25 % e 17 %, respectivamente).

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Quadro 4 – Distribuição percentual dos entrevistados segundo o interesse despertado

pelo tema “mudanças climáticas”, por Concelho

Concelho Interesse despertado pelo tema mudanças climáticas Grande Algum Nenhum Total

Ribeira Grande 85,0 15,0 - 100,0 Paul 85,0 15,0 - 100,0 Porto Novo 87,2 12,8 - 100,0 S. Vicente 90,0 10,0 - 100,0 Ribeira Brava 66,7 16,7 16,7 100,0 Tarrafal S. Nicolau 68,2 31,8 - 100,0 Sal 81,8 13,6 4,5 100,0 Boavista 75,0 20,0 5,0 100,0 Maio 50,0 25,0 25,0 100,0 Tarrafal Santiago 71,4 28,6 - 100,0

Santa Catarina Santiago 73,7 26,3 - 100,0

Santa Cruz 75,0 25,0 - 100,0 Praia 50,0 45,5 4,5 100,0 S. Domingos 75,0 25,0 - 100,0 Calheta S. Miguel 84,2 10,5 5,3 100,0 Mosteiros 78,3 8,7% 13,0 100,0 S. Filipe 73,9 26,1 - 100,0

Santa Catarina Fogo 83,3 16,7 - 100,0

Brava 75,0 20,0 5,0 100,0

Total 75,4 20,3 4,3 100,0

Fonte: INMG, inquérito sobre as mudanças climáticas

Gráfico 2: Interesse para com as mudanças

Climáticas (%)

75,5 4,3

20,3

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4. PRINCIPAIS GASES COM EFEITO DE ESTUFA EM CABO VERDE

A emissão de gases com efeito de estufa em Cabo Verde esta ligada principalmente as actividades agro-pecuárias e energéticas, mas também aos veículos a motor e a actividade sísmica na ilha do Fogo, sendo esta insignificante.

As actividades do sector agro-pecuário contribuem directamente na emissão de gases com efeito de estufa. A intensificação da agricultura pressupõe um maior consumo de factores de produção tais como os pesticidas e fertilizantes. Uma má gestão e aplicação destes produtos fitofarmacêuticos podem conduzir a uma deterioração dos recursos naturais com destaque para os solos e recursos hídricos. A emissão do dióxido do carbono (CO2) resultante da queima de plantas e de resíduos agrícolas e do óxido de

azoto (NO) proveniente da utilização de adubos azotados químicos e ou orgânicos na agricultura também concorrem para a emissão de gazes com efeito de estufa.

A pecuária vem contribuindo com a emissão de metano (CH4) através da fermentação

entérica dos animais domésticos e do estrume animal.

As actividades energéticas contribuem igualmente para a emissão de gases com efeito de estufa e tem essencialmente duas fontes de origem: i) energia não comercial a base de lenha e de bio-massa e ii) a produção de electricidade. Os principais poluentes resumem-se no resumem-seguinte: Partículas, SO2, NO2, CO e hidrocarbonetos.

Os veículos a motor são considerados os principais agentes de poluição do ar através da queima de gasóleo e a evaporação da gasolina. Em Cabo Verde o parque auto vem aumentado de ano para ano, com maior concentração para a ilha de Santiago. Todavia medidas paliativas contra a poluição de meio ambiente estão sendo aplicadas, só poderão ser importadas gasóleo e gasolina sem chumbo.

A presença de um vulcão ainda activo, em Cabo Verde, com fortes possibilidades de entrar em erupção, poderá contribuir para emissão de gases com efeito de estufa. Na última erupção ocorrida em 1995, segundo Le Guern et al (1995) os gases emitidos pelo vulcão foram os seguintes: gás carbónico, sulfuroso e Cloro. Todas elas são consideradas como substâncias poluentes.

Em termos de percentagem o sector energético comercial (combustíveis fósseis) contribui com mais de 60 %. O quadro a seguir resume a emissão de gases com efeito de estufa em Cabo Verde.

Quadro 5: Emissão de gases com efeito de estufa por sector em Cabo Verde

Emissões CO2 CH4 CO N2O NOx ECO2 % Combustíveis fósseis (Gg) 217.73 0.009 0.574 0.006 0.723 219.87 66.45 Bio massa (Gg) 27.38 0.39 4.11 0.003 0.0076 37.99 11.46 Agricultura - 1.82 - 0.004 - 39.42 11.91 Resíduos Sólidos e Aguas residuais - 1.46 - 0.010 - 33.69 10.18 Total (Gg) 245.10 3.68 4.68 0.023 0.799 330.90 100 Fonte: SEPA (1999)

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5. SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE FACE ÁS MUDANÇAS CLIMÁTICAS EM CABO VERDE

Com o intuito de certificar se as pessoas são conscientes dos riscos que as mudanças climáticas apresentam para o ecossistema, e em particular para o futuro do homem, quis se saber quais são os perigos reais do fenómeno, e qual a sua acção directa e/ou indirecta sobre a sobrevivência do homem. A nível nacional, a maior parte dos entrevistados (92,8 %) conhecem os perigos inerentes a essas mudanças, quer dizer que sentem-se vulneráveis ao fenómeno. De entre os 7,2 % restantes, 0,2 % declararam não conhecer os efeitos, e por isso não sabem se são ou não vulneráveis, enquanto que 7 % não se sentem vulneráveis, o que pode ser explicado pelo facto de 18 % dos entrevistos não conhecerem o significado de vulnerabilidade. Se se observar os resultados por concelho, verifica-se proporções significativas de entrevistados que declararam que as mudanças climáticas não constituem grandes perigos para o ecossistema, particularmente em alguns concelhos de Santiago (Calheta de S. Miguel 21 %, Santa Catarina 19 % e S. Domingos 15 %). Raros são os casos em que as pessoas disseram não saber se as mudanças climáticas as afectam ou não.

Quadro 6 – Situação percentual de conhecimento sobre a vulnerabilidade face as Mudanças Climáticas em Cabo Verde.

Vulnerabilidade face as mudanças climáticas

Total

Sim Não sabe Não

Ribeira Grande 100,0 - - 100,0 Paul 90,0 10,0 - 100,0 Porto Novo 94,7 5,3 - 100,0 S. Vicente 100,0 - - 100,0 Ribeira Brava 88,5 11,5 - 100,0 Tarrafal S. Nicolau 95,2 4,8 - 100,0 Sal 95,5 4,5 - 100,0 Boavista 89,5 10,5 - 100,0 Maio 100,0 - - 100,0

Gráfico 3: Situação de vulnerabilidade individual face as

Mudanças climáticas (%)

0,2 7,0

92,8

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Tarrafal Santiago 91,3 8,7 - 100,0 Santa Catarina Santiago 81,0 19,0 - 100,0 Santa Cruz 100,0 - - 100,0 Praia 86,4 9,1 4,5 100,0 S. Domingos 85,0 15,0 - 100,0 Calheta S. Miguel 78,9 21,1 - 100,0 Mosteiros 91,3 8,7 - 100,0 S. Filipe 100,0 - - 100,0

Santa Catarina Fogo 94,7 5,3 - 100,0

Brava 100,0 - - 100,0

Total 92,8 7,0 ,2 100,0

Fonte: INMG, inquérito sobre as mudanças climáticas

No que tange a dependência financeira dos entrevistados, constata-se que mais de metade dos entrevistados (63%) depende dos recursos hídricos, em particular da agricultura (75 %) e da pecuária (60 %). Por outro lado, os dados recolhidos mostram que, na opinião dos entrevistados, as mudanças climáticas começam a surtir efeitos negativos provocando a crise da produção agrícola (79 %), a diminuição da procura da água para irrigação (61 %) e a falta de pasto (73 %).

5.1. CONCEITO DE VULNERABILIDADE

Algumas definições de vulnerabilidade são necessárias para o entendimento do exposto nesse capítulo. Segundo Blaikie et al; apud Confalonieri (2002), vulnerabilidade são “características de uma pessoa ou grupo em termos de sua capacidade de antecipar, lidar com, resistir e recuperar-se dos impactos de um desastre climático.” Segundo Adger, apud Canfalonieri (2002), “ é a exposição de indivíduos ou grupos ao estresse (mudanças inesperadas e rupturas os sistemas de vida) resultante de mudanças socio-ambientais.” Já segundo Pelling e Uito, apud Confalonieri (2002), “ é o produto da exposição física a um perigo natural e da capacidade humana para se preparar para e recuperar-se dos impactos negativos dos desastres.”

A vulnerabilidade é algo inerente a uma população determinada, e variará de acordo com suas possibilidades culturais, sociais e económicas. Segundo o IPCC (2001), aqueles que possuem menos recursos serão os que mais dificilmente se adaptarão e portanto são os mais vulneráveis. A capacidade de adaptação é dada pela “riqueza, tecnologia, educação, informação, habilidades, infra-estrutura, acesso a recursos e capacidade de gestão.

O conceito de vulnerabilidade é extremamente vasto, devido à imensidão de factores que concorrem para o seu evento e a natureza do seu impacto. A vulnerabilidade a mudanças climáticas compreende dois componentes: o risco de ocorrência dum evento (ex: seca, cheias) e a capacidade de adaptação das comunidades perante esse evento (tais como recursos materiais, financeiros, implementação de estratégias de adaptação, etc).

Para a presente análise, considera-se de vulnerabilidade a todos os impactos físicos naturais e sócio económicos consequentes da ocorrência de eventos climáticos extremos, e a incapacidade das populações adaptarem-se, e ainda agravados pelos níveis de pobreza extrema que a população enfrenta.

(23)

6.PRINCIPAIS SECTORES E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS I. SECTOR AGROSILVOPASTORIL

O sector agrário é caracterizado por uma grande vulnerabilidade, tendo em conta a escassez dos recursos naturais, (água e solo) o sistema de exploração e as condições climáticas.

Segundo o recenseamento geral da agricultura (RGA) 2004, a superfície agrícola total cultivável é de 44.358,8 ha, dos quais 40.294,8 ha em regime de sequeiro e 3.475,5 ha em regime de regadio. Cerca de 70,4 % da área cultivável apresenta uma superfície inferior a 1 ha e deste mais de metade apresenta uma superfície inferior a 0.5 ha.

As terras agrícolas estão divididas, na sua maioria, em pequenas parcelas com áreas unitárias muito reduzidas. Ainda, segundo o RGA o número de parcelas agrícolas é de 85.671 sendo 87% pertencentes ao regime de sequeiro, 12% de regadio e 1% misto (sequeiro/regadio)

Várias formas de exploração agrícola são praticadas, sendo as mais frequentes a conta própria com cerca de 57,4%, seguido de parceria com 21% e renda com 12,5%. Estes últimos constituem um forte “handicap” no investimento fundiário.

A agricultura é praticada segundo o regime de sequeiro e de regadio em cerca de 44.506 explorações agrícolas de tipo familiar. Cerca de 76% das explorações é de tipo pluvial enquanto que cerca de 17% é de regime irrigado. Apenas 56 explorações agrícolas são do tipo não familiar. Os sistemas de cultura praticados variam muito pouco entre os três estratos climáticos (semi-árido, Sub-húmido e húmido).

A área média de uma exploração agrícola varia em função do tipo de regime de exploração. Assim, a área média de regadio é de cerca de 0,25 ha enquanto que para o regime de sequeiro ela ronda os 1,15 ha (PEDA, 2004).

I.1 Agricultura de Sequeiro

A área cultivada no regime de sequeiro varia de ano para ano e está ligado a vários factores. Segundo o RGA ela é de 35.494,9 ha. Cerca de 44% das explorações agrícolas encontram-se localizadas no estrato climático semi-árido, seguido do sub-húmido com 33% e apenas 7,9 % no estrato húmido.

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As principais ilhas de vocação agrícola de sequeiro são: Santiago, Fogo e Sto Antão, representando mais de 88% das explorações agrícolas em regime de sequeiro. Estima-se que o número de explorações agrícolas é de 33.895, sendo a ilha de Santiago com maior número (20.393), seguido da ilha do Fogo (5.090) e Sto Antão (4.563). (RGA, 2004)

O sistema de exploração agrícola em regime de sequeiro é praticada, em todas as ilhas tendo como principal culturas a consociação de milho-feijões diversos: feijão pedra (Lablab dolichos), bongolom (Vigna unguiculata), sapatinha (Phaseolus vulgaris), fava (Phaseolus lunatus) e feijão congo (Cajanus cajan).

Em média o rendimento para a cultura do milho, único cereal produzido em Cabo Verde, está na ordem dos 300 Kg/ha e para a cultura dos feijões, situa-se na ordem dos 90 Kg/ha (PEDA, 2004)

O gráfico a seguir apresenta a evolução do milho no período de 1987 a 2006. Durante o período em apreço registou-se uma produção média de 11.454,9 toneladas de milho, mas com uma grande variabilidade de ano para ano. Registou-se uma produção recorde de milho (36.439 toneladas) em 1999, seguido de 2000 (24341 T) e 1987 (21182 T), anos considerados excepcionais em termos de pluviometria. Ainda, durante o período em referência a produção mais baixa foi obtida em 1996 com apenas 1304 toneladas.

Durante a campanha agrícola 2006/07, segundo os dados provisórios, cerca de 33.297 ha de terrenos de sequeiro foram cultivadas, com uma produção, em cereal, estimada em 11.811 toneladas.

Gráfico 4. Evolução da produção do milho de 1987/2006

21182 16507 9714 11418 8258 1026611888 3163 8166 1304 49004883 36439 24341 19549 5067 12554 40403648 11811 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 19871988 19891990 1991 19921993 1994 1995 19961997 19981999 200020012002 2003 2004 20052006 Producao(T) Ano

(25)

I.2 Agricultura de Regadio

Segundo o RGA, 2004 as zonas irrigadas ocupam cerca de 3.026,5 ha durante a época fresca e cerca de 2.807,8 ha durante a época quente. A intensidade de exploração das áreas irrigadas varia em função da disponibilidade intra-anual dos recursos em água subterrâneas que, por seu lado, é fortemente condicionado pelos constrangimentos climáticos. A área potencial ronda os 3.475,5 ha. No entanto, segundo um estudo do INGRH existem a possibilidade desta área atingir os 5.000 ha.

As ilhas de Santiago e Sto Antão totalizam cerca de 90% das terras irrigadas. As parcelas irrigadas encontram-se sobretudo no fundo dos vales e na parte mais baixa das encostas bem como nos pequenos planaltos.

As explorações agrícolas de regadio encontram-se divididas em pequenas parcelas, onde mais de 77% tem uma área inferior a 1 ha. Os resultados do RGA, 2004 indicam que a agricultura irrigada é realizada em 11.858 parcelas. Destas cerca de 85.8 % são conduzidas em alagamento, 7,9% com irrigação e 3,8% misto (alagamento e micro-irrigação).

Estima-se que a área irrigada passou de 200 ha em 2000 para mais de 400 ha em 2005. Apesar das múltiplas vantagens do sistema de rega localizada, a sua expansão está condicionada sobretudo, pelo custo elevado dos equipamentos e também pela organização tradicional da calendarizarão da água.

A maioria das terras irrigadas continua a ser utilizada para a produção de cana-de-açúcar destinada ao fabrico de aguardente. Em 2000 a área irrigada com esta cultura era de 45%, com uma maior concentração na ilha de Sto Antão.

As principais culturas praticadas no regadio dizem respeito à cana sacarina, bananeira e diversos legumes tais como tomate, cenoura, couve, cebola, pimentão etc, bem como raízes e tubérculos, nomeadamente batata-doce, batata comum e mandioca.,

A produção frutícola tem vindo a assegurar anualmente cerca de 8.600 toneladas de frutas, destacando-se a banana, a papaia, a manga, os citrinos e o abacate, que contribui para um consumo per capita de 84 kg, (Plano Director da Horticultura, 2004). À excepção da banana e da papaia, a produção de frutas é realizada essencialmente em regime de sequeiro, pelo que os rendimentos estão ainda muito aquém do seu potencial. Em certas zonas de microclima especial pratica-se a produção de frutas de clima temperado e sub-tropical.

I.3 Sector da Pecuária

A pecuária constitui um sector importante na economia doméstica rural, representando cerca de 25% dos rendimentos da população rural. Estima-se que cerca de 35% do

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A pecuária nacional caracteriza-se pela sua fraca produção e produtividade, devido a escassez de recursos, fragilidade do meio, aleatoriedade do clima e utilização de técnicas rudimentares de criação e ser predominantemente do tipo tradicional.

Os resultados do RGA, 2004 apontam para um efectivo pecuário estimado em cerca de 616.996 cabeças, sendo 55.6 % de aves, 24 % de caprinos, 12,5 % de suínos, 3,6 % de bovinos, 1,8 % de equídeos, 1,7 % de ovinos e 0,7 % de coelhos. A ilha de Santiago possui aproximadamente 51 % dos efectivos a nível nacional, seguida da ilha do Fogo com 16.5 % e Stº Antão com 12 %.

O RGA (2004) aponta para um aumento dos efectivos de bovinos, suínos, caprinos e ovinos que constituem os animais que representam os maiores rendimentos para os agregados familiares. O quadro a seguir apresenta a evolução do efectivo pecuário.

Quadro 7: Evolução do efectivo pecuário

Ano Bovinos Suínos Caprinos Ovinos

1988 17986 57977 95338 4193 1989 18700 85500 108000 5600 1990 19191 98962 109392 5544 1991 16262 126548 123745 6087 1992 16891 161823 133771 6683 1993 17545 206931 144610 7337 1994 ND ND ND ND 1995 21826 70011 112331 9216 2004 (RGA) 22306 77316 148094 10400

Fonte:Plano Estratégico de Desenvolvimento Agrícola-2004/Recenseamento Geral da Agricultura-2004

Este sector envolve mais de 41.000 famílias representando cerca de 60% da população total, sem excluir as zonas urbanas, onde embora com menor frequência, não deixa de ser significativa a criação de animais de pequeno e médio porte em unidades intensivas e/ou de subsistência que se desenvolvem nas periferias.

A actividade pecuária apresenta algumas potencialidades, nomeadamente no que diz respeito aos recursos alimentares das zonas de culturas de sequeiro, de regadio, zonas florestadas e achadas onde é possível a recolha e conservação de pasto e a prática da silvopastorícia e ainda a existência de algumas espécies forrageiras tanto herbáceas como lenhosas bem adaptadas; áreas florestadas com espécies forrageiras; possibilidades da prática da agrosilvopastorícia nas zonas agrícolas; animais rústicos bem adaptados ao clima; unidades de fabrico de alimentos concentrados para animais.

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Como a agricultura, a pecuária é também dependente da aleatoriedade do clima, isto é, das precipitações e por conseguinte da produção de pasto, passando muitas vezes por diversas dificuldades, sobretudo nos anos de seca, afectando de forma particular os ruminantes.

Apesar da dependência da pecuária dos bons ou maus anos agrícolas em termos de produção da massa forrageira, ela apresenta-se algumas potencialidades, conscientes dessa realidade certos criadores começam a investir algum capital no desenvolvimento do seu efectivo, sobretudo na avicultura, suíno-cultura e ruminantes.

Contudo, não obstante a sua fraca participação na formação do PIB, a pecuária desempenha um papel particularmente importante na satisfação das necessidades das populações em proteínas e gordura animal, assegurando quase 100% do abastecimento do mercado nacional em carne e ovos e em menor escala em leite. Assim constitui uma fonte de rendimento complementar das famílias rurais, de poupança e geradora de empregos

I.4 Sector da Floresta/Desertificação

A florestação em Cabo Verde, levada a cabo de forma intensiva, desde a independência nacional, pelos sucessivos governos, com o forte apoio da cooperação internacional, tem exercido um papel crucial na luta contra a desertificação e, num segundo plano, permitindo a satisfação das necessidades de uma boa parte da população, em particular a do meio rural, em bens e serviços, com destaque para as energéticas e forrageiras.

Assim, o sector florestal, à semelhança dos demais que compõem o sector agrário, pese embora a sua fragilidade, é de extrema importância para o País, permitindo a subsistência de um grande número de famílias cujo sustento e organização da vida familiar estão estreitamente associados à terra, muito embora não se atinja a auto-suficiência alimentar. Neste particular, é inegável a enorme contribuição do sector florestal na melhoria das condições de vida das populações, quer pelos seus efeitos directos já mencionados, quer garantindo um rendimento mínimo através da criação de empregos públicos, a estabilidade e coesão do tecido social, sobretudo pelo contributo que dá na fixação das populações no meio rural.

Desde sempre os programas de florestação no país foram os da protecção dos solos, conservação da água e regularização do regime hidrológico, na procura do equilíbrio dos ecossistemas e da restituição de um ambiente físico adequado à vida e sobrevivência a longo termo.

A importância da fatia dos sucessivos orçamentos de investimento reservados ao sector, confirma a ideia já assente de que o Governo de Cabo Verde colocou sempre como prioritário, a preservação do meio ambiente. Esse enorme investimento permitiu a Cabo Verde dispor actualmente de cerca de 20% da sua superfície, florestada (contra menos de 1% em 1975).

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Contudo, mesmo se tratando de investimentos a fundo perdido, orientados sobretudo por objectivos ambientais e socio-económicos, não se pode negligenciar as contribuições do actual potencial silvo-pastoril, susceptíveis de serem valorizadas, do ponto de vista macro-económico.

De uma superfície florestal de apenas 3.000 ha em 1975, passou-se para uma superfície superior a 85.934 ha em 2004, tendo sido fixadas até 2003 cerca de 36.142.133 plantas florestais. (Livro branco sobre o estado do Ambiente Em Cabo Verde, 2004). As espécies florestais mais representativas segundo o estrato climático são: Zona árida e semi-árida (Prosopis juliflora; parkinsónia aculeata; Acacia holocericiae; Acacia bivenosa; Acacia

victoriae, Acacia cyanophila, Atriplex numularia) e Zonas húmidas e sub-húmidas

(Grevilha robusta; Eucalyptus spp; Pinus spp; cupressus spp; Acacia mollissima (cf, anexo 1).

Actualmente, constata-se que se torna difícil continuar a aumentar o património florestal segundo os mesmos moldes, de índole fundiário, e que, para além das variáveis já referidas, é importante falar-se de um potencial económico sobre o qual se deverá definir uma estratégia de exploração sustentada.

A área nacional coberta por terras com potencial forrageiro e de pastagem, sem incluir as zonas de vários estratos climáticos, de potencial extremamente variado e dependente das grandes variações anuais de precipitação, foi estimada em cerca de 60.850 ha com 87 % do potencial nas ilhas de Santiago, Fogo, Santo Antão e São Nicolau.

Devido aos constrangimentos naturais, as espécies florestais utilizadas não são as mais adequadas para o sector de indústria de transformação de madeira. O seu uso tem sido mais dirigido para a produção de carvão e utilização como combustível lenha.

O sector florestal em Cabo Verde é extremamente vulnerável devido ao problema da seca e da desertificação. Este último traduz-se na perda de produtividade e de complexidade biológica ou económica das terras cultivadas, de pastagens e florestal, devido sobretudo às variações do clima e de actividades humanas não sustentáveis. As formas, mais frequentes, de utilização de solos não sustentável estão ligadas à sobrexploração das terras, ao sobrepastoreo, à deflorestação e às práticas culturais inadequadas.

Em Cabo Verde as secas cíclicas, as chuvas torrenciais e irregulares, a escassez do coberto vegetal aliadas às condições geomorfológicas do país e uma enorme pressão humana sobre os recursos naturais constituem as principais causas da desertificação.

I.5. VULNERABILIDADE DO SECTOR AGROSILVOPASTORIL

O sector agrário é caracterizado por uma grande vulnerabilidade, tendo em conta a escassez dos recursos naturais, (água e solo) o sistema de exploração e as condições climáticas.

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Segundo o recenseamento geral da agricultura (RGA) 2004, a superfície agrícola total cultivável é de 44.358,8 ha, dos quais 40.294,8 ha em regime de sequeiro e 3.475,5 ha em regime de regadio. Cerca de 70,4 % da área cultivável apresenta uma superfície inferior a 1 ha e deste mais de metade apresenta uma superfície inferior a 0.5 ha.

As terras agrícolas estão divididas, na sua maioria, em pequenas parcelas com áreas unitárias muito reduzidas. Ainda, segundo o RGA o número de parcelas agrícolas é de 85.671 sendo 87% pertencentes ao regime de sequeiro, 12% de regadio e 1% misto (sequeiro/regadio).

Várias formas de exploração agrícola são praticadas, sendo as mais frequentes a conta própria com cerca de 57,4%, seguido de parceria com 21% e renda com 12,5%. Estes últimos constituem um forte “handicap” no investimento fundiário.

A agricultura é praticada segundo o regime de sequeiro e de regadio em cerca de 44.506 explorações agrícolas de tipo familiar. Cerca de 76% das explorações é de tipo pluvial enquanto que cerca de 17% é de regime irrigado. Apenas 56 explorações agrícolas são do tipo não familiar.

Os sistemas de cultura praticados variam muito pouco entre os três estratos climáticos (semi-arido, Sub-humido e húmido).

A área media de uma exploração agrícola varia em função do tipo de regime de exploração. Assim a área media de regadio é de cerca de 0,25 há enquanto que para o regime de sequeiro ela é de cerca 1,15 há. (Plano estratégico de desenvolvimento agrícola, 2004).

Cabo Verde é um país vulnerável aos fenómenos naturais, particularmente as secas cíclicas, as chuvas torrenciais e irregulares e as actividades humanas não sustentáveis que têm como consequência a alteração dos microclimas e a desertificação. A sua própria origem vulcânica bem como a sua geomorfologia dominado por ecossistemas de montanha aumenta ainda mais a sua vulnerabilidade.

Neste contexto, as condições agro-ecologicas e climáticas condicionam fortemente o desenvolvimento da agricultura, fazendo com que esta actividade económica seja muito vulnerável, impossibilitando a cobertura da demanda alimentar da população.

A forte pressão sobre as terras cultiváveis e de pastagens conjugada à prática incorrecta da utilização das mesmas tem provocado a destruição da estrutura do solo.

De igual modo a má condução das explorações da pecuária tem contribuído, também, para a degradação e erosão do solo. Ainda a destruição de barreiras naturais na orla marítima através da extracção de inertes, particularmente a areia em algumas praias, a sobre-exploração de furos e poços tem conduzido a uma aceleração da entrada da água do mar, provocando a salinização de solos nos perímetros irrigados, particularmente os situados na foz das bacias hidrográficas.

Referências

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