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4. SITUAÇÃO ATUAL DO PROCESSO DE REABERTURA DA ESTRADA

4.1 Impasses do processo

O grande impasse referente a reabertura desta via está na questão ambiental. Algumas instituições da sociedade civil brasileira assinaram uma

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O Projeto de Lei na integra pode ser encontrado no site do Senado

cartilha22 para requerer aos poderes públicos que o Projeto de Lei para reabrir a Estrada não se concretize. De acordo com a cartilha, para reabrir o caminho, o projeto espera alterar a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (9.985/2000), criar a categoria, inexistente hoje na Legislação Brasileira, de “Estrada-Parque” e instituir a “Estrada-Parque Caminho do Colono” em meio ao Parque Nacional. Com isso, o espaço teria sua integridade gravemente ameaçada e a iniciativa abriria um precedente sem volta para afetar a estrutura de outras Unidades de Conservação do país.

O que deixa a situação ainda pior é que, se aprovado o projeto, uma das consequências deverá ser a perda da designação de Sítio do Patrimônio Natural Mundial, solicitada pelo Brasil e concedida pela Unesco. Para as instituições ambientais, a abertura do caminho devastará parte do Parque, que levou dez anos para se recuperar, causará grande impacto à região e gerará danos irreversíveis à fauna e à flora locais, além de prejudicar a qualidade de vida dos moradores das comunidades do entorno, ao oferecer riscos à segurança pública regional.

Outro fator é que, de acordo com a Polícia Federal, com a estrada aberta, iria aumentar o contrabando de mercadorias e o tráfico de drogas, armas e artigos ilícitos na região da fronteira. Porém, se analisarmos a situação por outra perspectiva, com a estrada aberta seria muito mais fácil conter estas ações, pela facilidade em adentrar e monitorar o Parque.

São dois lados de uma mesma moeda, onde cada qual defende o seu ponto de vista e interesses.

O tema Caminho do Colono é extremamente polêmico, fechar definitivamente ou reabrir, vai ser um ato muito complicado, precisando-se entender que o Parque Nacional do Iguaçu tem valor internacional, devido ser um Patrimônio da Humanidade. É uma reserva que pertence ao Brasil, depois ao Paraná e principalmente à população lindeira ao parque e é esta, a principal responsável por sua preservação. Não há meios de se colocar um guarda-parque a cada cem metros, deve-se sim, conscientizar a população para que ela tenha respeito ao patrimônio (MULLER, 1997, p.45).

Para a reabertura da Estrada, o melhor seria, segundo Dallo (1999), a união entre o IBAMA e a população lindeira, visando sua preservação. O interesse da

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A cartilha pode ser encontrada na integra no site: http://www.spvs.org.br/wp- content/uploads/2013/12/Cartilha-FINAL-web.pdf

população pela questão uniu partidos políticos, religiões, culturas e famílias, no ideal de resgatar o direito de ir e vir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, teve como objetivo analisar e descrever a importância da Estrada do Colono, à luz de questões históricas, sociais e econômicas, bem como, apresentar a problemática em questão, quanto ao seu fechamento, desencadeado principalmente pelo local em que esta estrada estava inserida. O fato de a Estrada do Colono ter sido construída dentro do Parque Nacional do Iguaçu, fez com que ações ambientalistas da região exigissem o fechamento do trecho, que, por anos, serviu como elemento de ligação do Sudoeste com o Oeste do estado do Paraná.

Em tempos anteriores, tal estrada teve grande influência para a colonização e penetração dos povos do Sul nas outras regiões do país, sendo que esta facilitava- lhes o acesso. Sendo assim, teve grande importância histórica para todo o país. Neste período, a região era mata fechada, mas, com o tempo, foram sendo abertas picadas na mata, que, aos poucos transformaram-se em uma estrada. Sem preocupações quanto à questão ambiental, a abertura da estrada teve um único objetivo: o de colonizar e integrar o Sudoeste com o Oeste do Estado do Paraná. Com o tempo esta integração foi se consolidando, as regiões passaram a ter fortes ligações econômicas, culturais e afetivas. Histórias consolidadas por um elo, que de uma hora para outra foi cortado. Questões ambientais motivaram o fechamento da Estrada. Justificava-se que o trecho traria danos ambientais incalculáveis ao PNI e também por pressões da UNESCO, que ameaçava com a retirada do título de Patrimônio Natural da Humanidade do Parque.

Desde o fechamento da Estrada, em 12 de setembro de 1986, a população luta pela sua reabertura. Durante os anos de 1986 a 2003, ocorreram várias reuniões e manifestações como forma de tentar reverter a situação, sendo que, por muitas vezes durante este período, a Estrada foi reaberta à força e mantida na ilegalidade. Porém, no ano de 2003, houve uma forte ação policial, para garantir o

fechamento definitivo da Estrada. Desde então a estrada permanece fechada, sendo proibido adentrar no Parque, mas isso não quer dizer que a população deixou de lutar. Ainda hoje tramita no Senado, o projeto de Lei N° 7.123/2010 do Deputado do Paraná, Assis do Couto, pela reabertura da Estrada. Tal projeto visa reabrir o trecho como Estrada-Parque Caminho do Colono, tendo em vista o cuidado com a questão ambiental das Unidades de Conservação, bem como a preservação do Parque. Apesar de ainda estar em tramitação, tal projeto já desencadeou incalculáveis debates.

O motivo que leva a, ainda hoje, esta questão ser debatida, é o fato de que os interesses da população, que tiveram grande importância histórica, foram minimizados ou mesmo esquecidos. Com as distâncias ampliadas, os dois municípios deixaram de realizar trocas comerciais entre si e os elos consolidados por anos foram simplesmente deixados de lado. Contudo a insatisfação da população gerada pelo fechamento da estrada, confere ao seu fechamento todos os problemas enfrentados pelos municípios vizinhos. O fechamento desta Estrada provocou um impacto econômico e populacional local, principalmente pelo fato de que muitos dependiam do comércio gerado pelo grande fluxo de pessoas. Porém, ao que pode-se perceber observando os dados populacionais e analisando os municípios das regiões, este problema não se refere apenas ao fechamento da estrada, mas sim a vários fatores regionais.

Encontrar equilíbrio entre o progresso e a preservação é o grande impasse da atualidade. Quando se fala na reabertura, ou não, da Estrada do Colono, as opiniões são muito divergentes. A reabertura da estrada trará, com certeza, danos ao meio ambiente, pois o local, hoje, se encontra preservado. No entanto, se o olhar se voltar à questão histórica e econômica, muitos seriam os motivos para sua reabertura. Para que se chegue a uma solução, seria necessário um ajuste entre ICMBio, o Ministério Público e os municípios lindeiros, maiores interessados na reabertura e uso deste trajeto, bem como, na sua preservação.

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