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Parque Nacional do Iguaçu: estrada do colono e a história de um povo

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Academic year: 2021

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Aline Luciana Giongo Schenckel

Parque Nacional do Iguaçu: Estrada do Colono e a história de um povo.

IJUÍ – RS

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Universidade Regional do Noroeste do Estado do

Rio Grande do Sul

Departamento de Ciências Sociais

CURSO DE HISTÓRIA

Parque Nacional do Iguaçu: Estrada do Colono e a história de um povo

Elaborado por:

Aline Luciana Giongo Schenckel

Como requisito final para obtenção do grau de

Licenciado em História

IJUÍ – RS

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Aline Luciana Giongo Schenckel

Parque Nacional do Iguaçu: Estrada do Colono e a história de um povo.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito final para obtenção do grau de licenciada em História, sob orientação da Prof. Jaeme Luiz Callai.

IJUÍ-RS

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, por ter me concedido mais esta oportunidade, de concretizar meus objetivos. Agradeço aos MEUS FAMILIARES, por terem me apoiado em todos os momentos desta caminhada. Agradeço ao meu ESPOSO E FILHO, pela ajuda e compreensão nos momentos de dificuldade. Agradeço aos MEUS PROFESSORES, pelos conhecimentos transmitidos.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta pesquisa a meu marido, a meu filho, que é a razão de meus esforços, a meus pais, que me concederam mais esta oportunidade e a toda minha família, por ter acreditado em mim e me apoiado em todos os momentos da minha caminhada em busca de meus objetivos e ideais.

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso aborda o tema “Parque Nacional do Iguaçu: Estrada do Colono e a história de um povo”, tendo como objetivo analisar a importância histórica da Estrada do Colono - que estava inserida dentro do Parque Nacional do Iguaçu e serviu, por muitos anos, como ligação entre o Oeste e Sudoeste do Estado do Paraná - bem como, relacionar as consequências do fechamento da Estrada do Colono, às quais ocasionaram muitos danos econômicos, culturais e sociais para os municípios vizinhos, motivando lutas por sua reabertura até os dias atuais.

Palavras-chave: Estrada do Colono, Parque Nacional do Iguaçu, Sudoeste

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ÍNDICE DE IMAGENS

Imagem 01: Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. ...14

Imagem 02: Localização do Parque Nacional do Iguaçu e municípios vizinhos...15

Imagem 03:Delimitação da estrada do colono e do Parque nacional do Iguaçu...16

Imagem 04: PNI, Estrada do Colono, municípios vizinhos e vila Benjamin...19

Imagem 05: Localidade Porto Moises Lupion, em Capanema - acesso à balsa que fazia a travessia até a Estrada do Colono...20

Imagem 06: A estrada em temporada de chuvas: caminhões, carros e ônibus atolados...21

Imagem 07: Travessia de pessoas, carros e animais, pela balsa...22

Imagem 08: Estrada do colono - quando o fluxo ainda era permitido...23

A imagem 09: A população na luta pela reabertura da estrada no ano de 1997...25

A imagem 10: Manifesto pela reabertura da estrada, no mês de Maio de 1997...25

Imagem 11: Trevo que dá acesso à Argentina e ao Porto Moisés Lupion...28

Imagem 12: Ponto de comércio abandonado em Porto Moisés Lupion...29

Imagem 13: Ponto de comércio de água e geladinhos, abandonado no Porto Moisés Lupion...29

Imagem 14: Lanchonete que se encontra abandonada no Porto Moisés Lupion...30

Imagem 15: Local onde era a Estrada que agora é mata fechada...30

Imagem 16: Ponto de embarque e desembarque da balsa, no Porto Moisés Lupion...31

Imagem 17: Restaurante do senhor Antoninho, atualmente utilizado como moradia...32

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 01: Queda populacional no município de Capanema nos anos de 1991 a 2010, considerando o fechamento da Estrada...36 Tabela 02: Dados populacionais de Medianeira de 1991 á 2010...37 Tabela 03: Dados populacionais de Serranópolis do Iguaçu dos anos de 2000 e 2010...38 Tabela 04: Dados populacionais dos municípios lindeiros ao Parque nos anos de 2000 e 2010...39

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LISTA DE SIGLAS

PNI – Parque Nacional do Iguaçu.

DNER - Departamento Nacional de Estradas e Rodagem

UNESCO - A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

AIPOPEC - Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono, a favor da abertura da estrada.

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. ONG - Organização Não- Governamental.

IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal TRF - Tribunal Regional Federal

STJ - Supremo Tribunal de Justiça PT - Partido dos Trabalhadores

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...11

1. FORMAÇÃO E IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU...13

1.1 Relação do parque e da estrada...15

1.2 Parque e estrada: preservação ou progresso? ...17

2. ORIGENS DO CAMINHO DO COLONO ...18

2.1 Consequências do Fechamento da Estrada ...22

3. QUESTÃO HISTÓRICA E SOCIOECONOMICA DA ESTRADA ...24

3.1 Cronologia histórica da luta pela reabertura ...24

3.2 Considerações das populações e depoimentos ...27

3.3 As novas dimensões espaciais da região após fechamento da estrada ...35

4. SITUAÇÃO ATUAL DO PROCESSO DE REABERTURA DA ESTRADA...40

4.1 Impasses do processo ...41

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...43

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INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo abordar a história polêmica da Estrada do Colono, que se situava dentro do Parque Nacional do Iguaçu (PNI) e que serviu, por muitos anos, de ligação entre o Oeste e Sudoeste do Estado do Paraná, tendo sido fechada, por uma liminar, no ano de 1986. Os dados obtidos têm como referência fatores históricos do povoado de Capanema, que formou-se nas proximidades da região Sudoeste do Parque, a partir de um povo advindo de fluxos migratórios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por volta do ano de 1950.

Cabe a este trabalho o estudo da História do Parque e a análise da importância histórica de um trecho da BR 163, conhecida carinhosamente como Estrada do Colono, que ocupava uma extensão de 17,6 km, interligando as duas regiões paranaenses acima citadas. A Estrada foi fechada, embora possibilitasse fluxos de transporte e de comunicação entre municípios vizinhos, e esse fato é, ainda hoje, alvo de muitos debates e divergências.

A Estrada do Colono foi aberta pelo DNER1, em 1954, e fechada por uma liminar da 1º Vara Federal de Curitiba/PR, em 12 de setembro de 1986. Neste mesmo ano o Parque foi considerado Patrimônio Natural da Humanidade, pela UNESCO2. A delimitação e transformação deste lugar em área de preservação alteraram seu uso e práticas desenvolvidas por comunidades da região.

Especificamente, o objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso é analisar a função e a importância da Estrada do Colono para os moradores locais, considerando seus interesses e necessidades, bem como, o interesse e necessidade da preservação do Parque Nacional do Iguaçu.

A persistência na retomada da Estrada do Colono, por alguns sujeitos das comunidades no entorno do Parque Nacional do Iguaçu, despertou meu interesse em investigar a amplitude dessa problemática, bem como a história da população

1

Departamento Nacional de Estradas e Rodagem

2 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO – acrômio

de United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) tem como objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante a educação a ciência, a cultura e as comunicações.

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dessas comunidades, principalmente nos municípios mais afetados pelo fechamento da referida estrada - Capanema, Medianeira e Serranópolis do Iguaçu.

Para que se possa entender a importância dessa Estrada, compreender a ordem cronológica dos fatos, este trabalho irá descrever, inicialmente, o processo de formação histórica do PNI em que a Estrada do Colono estava inserida, bem como a relação da população com o Parque e o grande impasse entre a preservação e o progresso. No capítulo seguinte, será descrita a história da Estrada do Colono, desde suas origens até o seu fechamento, destacando a importância desta para alguns municípios lindeiros3. O terceiro capítulo apresenta a cronologia das lutas pela reabertura deste caminho, desenvolvidas por moradores da região, bem como os depoimentos de alguns deles e, também, uma análise das consequências geradas pelo fechamento da estrada. O último capítulo irá relatar a situação atual da Estrada do Colono, um tema que ainda hoje gera muita polêmica, principalmente pelo impasse ambiental.

O trabalho foi elaborado a partir da coleta de dados em alguns livros, teses, documentos da Prefeitura Municipal de Capanema compilados com a AIPOPEC4, o IBAMA5, o ICMBio6, o IBGE7 e por meio de pesquisa de campo na região de Capanema. Existem pouquíssimos livros, documentos ou dados específicos sobre o assunto, além do que, são antigos e pouco esclarecedores, pois apresentam apenas parte de uma história, com informações fragmentadas e sem imparcialidade. Infelizmente os municípios da região pouco investem em acervos históricos, o que dificulta a possibilidade de manter a história viva.

3

Lindeiro refere-se a está na divisa, confrontante, ou seja os municípios que estão na divisa com o PNI.

4

Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono, a favor da abertura da estrada. 5

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 6

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das Unidades de Conservação do Brasil.

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1. FORMAÇÃO E IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU

O Parque Nacional do Iguaçu é considerado uma das maiores reservas de Floresta Subtropical Úmida Temperada das Bacias do Paraná e Uruguai. Sua vasta extensão cria um ambiente propício ao desenvolvimento, preservação e estudo de componentes da fauna e da flora local, bem como possibilita a visitação pública.

Os primeiros registros da região do Iguaçu datam do século XVI, proveniente de pioneiros espanhóis que, com as suas expedições, chegavam a Bacia do Prata. Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca foi o primeiro a desbravar as Cataratas do Iguaçu, em 1542.

As Cataratas do Iguaçu foram descobertas pelo navegador espanhol Álvaro Núñes, conhecido como Cabeza de Vaca. No dia 31 de Janeiro de 1542, ao descer o rio de canoa à procura de uma rota para Assunção, no Paraguai, Cabeza de Vaca, ao avistar as cataratas, gritou: ‘Santa Maria, que beleza! Com sorte e habilidade escapou das armadilhas do rio, ele entrou para a história por seu feito e sua frase célebre. Aquela região já era conhecida por índios, tanto que o nome Iguaçu deriva de uma palavra guarani que significa ‘água grande’ (CLEMENTE, 1996, p.34).

A visita de Santos Dumont, em 1916, o deixou impressionado com a beleza natural do lugar e este fato veio a contribuir para que as terras que abrigam as cataratas passassem a ser consideradas de interesse público. Em julho do mesmo ano, o presidente do Estado do Paraná, Affonso Alves de Camargo, tornou pública essa área. Porém a sua transformação em Parque Nacional só foi efetivada através do decreto federal nº 1035, em 10 de janeiro de 1939.

O Parque localiza-se na bacia hidrográfica do rio Iguaçu, a 17 km do centro da cidade de Foz do Iguaçu. Faz fronteira com a República Argentina, onde está implantado o Parque Nacional Iguazú, criado em 1934. O limite entre os dois países e seus parques nacionais é formado pelo rio Iguaçu, que nasce próximo a Serra do Mar, em Curitiba, e percorre todo o Estado do Paraná, numa extensão de cerca de 1.300 km. A foz do rio ocorre 18 km depois das Cataratas, onde ele deságua no rio Paraná. Esse encontro de rios forma uma tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai (OSTROVSKI, 2002, p.34).

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Imagem 01: Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Fonte:h t t p : / / w w w . o r i e n t e m i d i a . o r g / a t r i p l i c e f r o n t e i r a n o v a m e n t e n a m i r a d a -g r a n d e - m i d i a / Acesso Dia 06/03/2015.

Portanto, o Parque Nacional do Iguaçu compreende uma área de 185.262,2 hectares, tendo sido criado por Getúlio Vargas em 10 de Janeiro de 1939 e tombado, em 1986, pela UNESCO8 como Patrimônio Natural da Humanidade. Porém este título não cabe somente a ele.

O PNI divide o título de Patrimônio Mundial com o Parque Nacional Iguazú, localizado na outra margem do rio, na Argentina. Inscrito como Bem Natural em 1986 na Lista de Patrimônio Mundial, em conjunto os dois parques abrigam a totalidade das quedas d’água e formam uma das maiores áreas de floresta subtropical preservada no mundo, cobrindo 225 mil hectares, dos quais 75 % estão em território brasileiro (UNESCO, 2002).

No Brasil, o Parque Nacional do Iguaçu é o segundo mais visitado. Ele faz divisa com os municípios de Foz do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Santa Tereza do Oeste, Capitão Leônidas Marques, Capanema e Serranópolis.

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Imagem 02: Localização do Parque Nacional do Iguaçu e municípios vizinhos

Fonte: www.cataratasdoiguaçu.com.br 04 de janeiro de 2015.

O Parque hoje é dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das Unidades de Conservação do Brasil.

1.1 Relação do parque e da estrada

Dentro do Parque Nacional do Iguaçu (PNI) encontrava-se a conhecida Estrada do Colono, também chamada Caminho do Colono. Esse caminho ligava os extremos regionais dos municípios de Capanema e Medianeira. Após 1997 a área próxima ao parque foi desmembrada de Medianeira, recebendo o nome de Serranópolis do Iguaçu.

A estrada foi aberta e considerada rodovia pelo DNER9 em 1954, mas foi fechada por uma liminar em 1986. A referida liminar busca proteger a área do Parque da ação humana, porém não deixou de ter sido alvo de disputas e reaberturas forçadas, mantida na ilegalidade durante anos. A delimitação e

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transformação deste lugar em área de preservação alteraram seu uso e as práticas desenvolvidas por comunidades da região, pelo fato de que a Estrada do Colono perdeu sua função, enquanto um fixo que possibilitava fluxos10 de transporte e de comunicação entre municípios vizinhos. Estes fluxos dão sentido e vida a cada momento, ao longo de um período de diversos processos históricos e, dessa forma, são fixos que perdem a possibilidade de exercer inter-relações.

Imagem 03:Delimitação da estrada do colono e do Parque nacional do Iguaçu.

F O N T E :

http://www.oeco.org.br/convidados/27717-reabertura-da-estrada-do-colono-ameaca-iguacu-e-lei-do-snuc dia 11/05/2015. C r é d i t o : I n s t i t u t o S o c i o a m b i e n t a l

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Fixos e Fluxos são expressões utilizadas por Milton Santos, referem-se a relação entre o local e os diversos agentes da sociedade em diferentes escalas.

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1.2 Parque e estrada: preservação ou progresso?

Quando se fala da reabertura ou não da estrada, as opiniões são muito divergentes. A reabertura da estrada trará, com toda a certeza, danos ao meio ambiente, pois o local, que hoje se encontra preservado, se recupera de danos antes causados pela ação humana. No entanto, se o olhar se voltar à questão histórica e econômica, muitas pessoas terão motivos para comemorar, se acontecer a sua reabertura, pois este trecho foi de extrema importância em tempos anteriores.

Na época em que havia trânsito pela Estrada do colono houve, consecutivamente, um grande desenvolvimento econômico. É isso que faz com que a população acredite que a região apenas voltará a ter um forte desenvolvimento se a estrada voltar a gerar movimentos diários para as cidades lindeiras. Este desenvolvimento estava voltado, na época, não só para os moradores vizinhos ao Parque Nacional do Iguaçu, que investiram no sentido de atender as pessoas que por ali passavam, mas, principalmente, para os municípios, no comércio, no setor hoteleiro e na arrecadação municipal.

Mesmo sabendo que a sociedade muda com o decorrer dos tempos, temos consciência de que o crescimento seria ampliado significativamente, nas áreas de maior influência. Com toda a certeza de que, se reaberta, levaria à necessidade de conscientização da preservação ambiental, tendo em vista a preservação da natureza através de obras projetadas no Plano de Manejo.

A interdição judicial da Estrada do Colono não levou em consideração o Plano de Manejo, traçado anteriormente, e isso gerou forte comoção popular, tendo em vista o fato de a população estar à espera desta decisão, para que os municípios lindeiros voltassem a ter esse acesso liberado. Também, por ser esse trajeto uma rota de passagem e ponto de parada de viajantes do sul do país.

A Estrada do Colono, segundo Ostrovski (2002, p.47) é considerada um dos elementos que facilita a inserção da região Oeste do Estado do Paraná dentro da economia regional e nacional, tendo em vista reduzir a distância do polo colonizador à região a ser colonizada, sendo o tempo de viagem diminuído. Foi, também,

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utilizada em tempos anteriores por migrantes rio-grandenses e catarinenses que vieram com intenção de colonizar o Oeste Paranaense.

Com o passar do tempo, a ligação e as transações comerciais entre os municípios de Capanema, Serranópolis e Medianeira se solidificaram, tornando-se um caminho indispensável para esses municípios, devido a seus principais produtos de comercialização serem de origem agrícola, como a soja, o milho e o trigo.

Dentro do contexto histórico da colonização do Oeste do Paraná, a Estrada do Colono teve sua importância, sendo também um elemento de ligação para o desenvolvimento econômico local. Hoje, as comunidades se habituaram às mudanças impostas pelo fechamento da Estrada do Colono, porém, a história de muitos ficou marcada por décadas de convívio e o desenvolvimento da região, na época, foi fortemente afetado.

Assim, podemos compreender como foi construído o conflito dentro das relações entre a população lindeira, o IBAMA11 e órgãos ambientais, levando isso à temática da Estrada do Colono durante anos, aos noticiários locais e também nacionais, onde os conteúdos focavam as bandeiras da pró-abertura (associações, imprensa local e comunidade) e do pró-fechamento (órgãos ambientais, imprensa nacional e ONGs12).

2. ORIGENS DO CAMINHO DO COLONO

A Estrada do Colono era um trecho de 17,6 quilômetros ligando Oeste e Sudoeste do Estado do Paraná, tendo sido construída por volta de 1954. Embora existam citações, em peças do processo judicial, no projeto de Lei da Câmara nº 7.123 de 2010, sobre o uso deste caminho, desde a década de 20, é certo que tratava-se de uma picada, no meio da mata densa que cobria toda a região. Em 1948, o então governador, Moisés Lupion, inaugurou o Porto Lupion, no município de Capanema, no Rio Iguaçu, junto à divisa do PNI13, estabelecendo um serviço regular de balsas entre as duas margens, ainda que, servindo apenas para trânsito

11

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 12

Organização Não- Governamental. 13

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de animais e carroças. Porém, há relatos de que esta estrada já tenha sido usada em tempos mais remotos, sendo conhecida por alguns como Picada Benjamim.

Os primórdios do atual traçado do Caminho do Colono se perdem no tempo e, a Coluna Prestes14, na época da Revolução de 1924, protagonizou, naquela região, confrontações dramáticas entre os legalistas e os revolucionários como registram os historiadores, subiu ao Rio Grande do Sul, atravessou o rio Iguaçu e passou por uma trilha primitiva do Caminho do Colono, até a localidade de Benjamim Constant. Portanto, Prestes certamente não inaugurou seu uso, naqueles tempos históricos, o traçado poderia ser nada mais que um carreiro de acesso à vila de Benjamim Constant, hoje apenas lembrada pelo nome de Picada Benjamim15 (DALLO, 1999, p.89).

Imagem 04: PNI, Estrada do Colono, municípios vizinhos e vila Benjamin.

Fonte:https://www.google.com.br/maps/place/Benjamim+-+PR/@-25.429928,-54.0882967,10z/data=!4m2!3m1!1s0x94f14516a8575c37:0x218eed94b22a4e4b Modificado dia

04/06/2015 por Aline Luciana Giongo Schenckel

Um fato certo é que o caminho que foi usado naqueles tempos continuou servindo para as levas colonizadoras, nos tempos do Território do Iguaçu e

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A Coluna Miguel Costa Prestes, mais conhecida como Coluna Prestes, foi um movimento liderado por militares, que faziam oposição à República Velha e às classes dominantes na época. Teve início em abril de 1925.

15

A Picada Benjamim, no espaço geográfico do Oeste do Paraná fica aproximadamente a uns 45 quilômetros ao sul do antigo leito da Estrada interditada, nas margens da BR-277, ao lado do posto da Polícia Federal em Céu Azul.

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prosseguiu, até muito recentemente, sustentando os avanços contemporâneos das frentes agrícolas.

Sua importância para todo o Oeste Paranaense, à visão de seu sentido econômico, tem valor histórico e cultural inestimável. O crescimento acelerado de toda a região, e sem outras vias nas proximidades, conforme Dallo (1999, p.89), fez convergir para o Caminho do Colono todo o movimento de cargas e passageiros que procedia do Sul.

Entre passageiros e cargas, havia todo tipo de destinação, quer novas famílias sulinas deslocando-se para as fronteiras agrícolas que se abriam em Mato Grosso e Rondônia, quer familiares frequentando os seus residentes em um e outro lado do Parque Nacional. Os percursos, portanto, eram de poucos a centenas de quilômetros. Ambas as funções sociais e econômicas, de interesses comerciais e comunitários vinham sendo exercidos ao longo desse Caminho. (DALLO, 1999, p.89).

Imagem 05: Localidade Porto Moises Lupion, em Capanema - acesso à balsa que fazia a travessia até a Estrada do Colono.

Fonte: Prefeitura Municipal de Capanema PR. S.d.

O Caminho do Colono, aberto em uma galeria florestal de 12m de largura, segue a direção geral N-S, com poucas curvas e alguns declives acentuados. O caminho atravessa dois riachos maiores, os córregos Capoeirinha e o do Quilômetro Oito, ambos com nascentes e foz no Parque. Sobre estes riachos haviam pequenas

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pontes. O pavimento era primário, composto por solo de dominância argilosa e, apesar dos cuidados, os períodos de chuva apresentavam dificuldades na travessia. O Caminho do Colono atravessa o Parque subindo desde o rio Iguaçu até a borda de maior altitude em Serranópolis. O percurso parece ser ecologicamente conveniente, por ser paralelo ao das sucessões dos ecossistemas, que se admite propagar dos rios para as costas, mais altas do terreno. Não há, de acordo com cartas edáficas, mudanças dos tipos de solos ao longo do percurso, salvo na chegada do rio Iguaçu, onde tem aluviões fluviais. Como a vegetação e o substrato são relativamente homogêneos, deve-se esperar que a vida animal também seja comum à do restante do Parque. (DALLO, 1999, p.62).

Imagem 06: A estrada em temporada de chuvas: caminhões, carros e ônibus atolados.

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2.1 Consequências do fechamento da estrada

De acordo com os dados do Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu16, a Estrada foi usada de maneira precária até 1972, quando o Departamento de Estradas e Rodagem do Paraná providenciou um revestimento de pedra e saibro no trecho. No início da década de 80, o Plano Rodoviário Estadual do Paraná previa o asfaltamento da Estrada do Colono, identificada como PRT-163, ou BR 163. Porém, os primeiros contatos do governo paranaense com o órgão responsável pelo Parque Nacional do Iguaçu (o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF, ligado à época, ao Ministério da Agricultura) para pedido de licença de execução da obra, resultaram em negativas das autoridades federais. Levando, portanto ao seu fechamento e dando início a uma polêmica que procede até os dias atuais.

Em relação aos aspectos sociais, o fechamento da Estrada prejudicou famílias, que viram-se, repentinamente, isoladas de seus filhos, irmãos, pais, que vivem do outro lado do Parque e, tão importantes como estes, amigos de longa data com quem negociavam, compartilhavam seus interesses, comungavam suas alegrias, problemas e comemoravam suas festas regionais. As distâncias impostas com a interdição atingiram fortemente este convívio social.

Imagem 07: Travessia de pessoas, carros e animais, pela balsa.

Fonte: Prefeitura Municipal de Capanema PR. S. d.

16

O Plano de Manejo é um documento técnico, que com base nos objetivos de uma unidade de conservação, define seu zoneamento, orienta e controla o manejo dos seus recursos, os fusos da área, o desenvolvimento e incrementação das estruturas necessárias para apoiar o seu manejo e uso. O Plano de Manejo do PNI pode ser encontrado na integra no site

http://www.cataratasdoiguacu.com.br/manejo/siuc/planos_de_manejo/pni/html/index.htm> Acesso em 10 Abr.2015

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Muitos paranaenses defendem a reabertura dessa Estrada, visando reduzir o tempo de tráfego, em aproximadamente uma hora, entre as cidades do Sudoeste do Paraná e Foz do Iguaçu. Pelo fato de que, para se chegar ao município de Serranópolis, situado na região Oeste do Paraná, faz-se uma volta de aproximadamente 200 km. Este trajeto de Capanema até Serranópolis, quando feito pela Estrada do Colono, tinha uma distância de 40 km, aproximadamente. Também, para se chegar a Foz do Iguaçu, a distância, que é de 280 Km, pela BR 277 - considerada a Rodovia da Morte - passa a ser de 120 km, se esse trajeto fosse feito pela Estrada do Colono.

Imagem 08: Estrada do colono - quando o fluxo ainda era permitido.

Fonte: Prefeitura Municipal de Capanema. S.d.

Estas foram as causas pelas quais os atingidos pela interdição promoveram protestos e reuniões (alguns serão relatados mais adiante no trabalho) em favor da reabertura do Caminho do Colono. Ainda hoje, uma parcela da população dos municípios mais afetados luta pela reabertura desta Estrada, agora com visões e ideias diferentes das que se tinham há anos atrás e pensando, é claro, na preservação, tanto histórica quanto ambiental, da área em questão.

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3. QUESTÃO HISTÓRICA E SOCIOECONOMICA DA ESTRADA

3.1 Cronologia histórica da luta pela reabertura

A via de deslocamento entre o Oeste e Sudoeste do Paraná, utilizada regularmente desde a intensificação do processo de ocupação desta parte do Estado, nos anos de 1950, passa, após uma decisão da justiça, a ser alvo de debates e muitas manifestações.

Em consequência das obras de asfaltamento da BR 163, que previam a inclusão da Estrada do Colono, ambientalistas passaram a se manifestar, denunciando o risco de comprometimento do PNI. A partir disso, a justiça, a pedido o Ministério Público, determinou o fechamento da Estrada. Após a decisão judicial, que levou ao fechamento da estrada, foi fundada a Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono (AIPOPEC), uma ONG17 cuja diretoria é tradicionalmente composta, em sua maioria, por representantes políticos locais - prefeitos e vereadores. Essa associação utilizou-se dos diversos recursos políticos e jurídicos disponíveis para procurar reverter a decisão que levou ao fechamento da estrada. A sua própria fundação representou a necessidade de catalisar e articular as forças políticas e empresariais contrárias à interdição da via. A partir de então, a reivindicação pela reabertura da Estrada do Colono adquiriu um conteúdo litigioso, expresso por inúmeros conflitos entre as partes envolvidas, implicando em diversas ações judiciais que ocorreram durante anos, desde o seu fechamento, em 1986.

A organização de um movimento local gerou, no dia 8 de maio de 1997, um movimento de violência, com invasão do Parque e retirada da vegetação do antigo leito da estrada, infringindo a lei ambiental. Esta invasão desrespeitou todo o ordenamento jurídico do país e do mundo, já que o Parque Nacional foi nomeado Patrimônio Natural da Humanidade.

17

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A imagem 09: A população na luta pela reabertura da estrada no ano de 1997.

Fonte: Gazeta do Paraná 1997. Acervo Prefeitura Municipal de Capanema.

Este movimento foi provocado por quase oito mil homens, formando duas frentes de trabalho na estrada, sendo que cerca de 300 deles ficaram acampados dentro da unidade de conservação por um longo período.

A imagem 10: Manifesto pela reabertura da estrada, no mês de Maio de 1997.

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O ano de 1997 foi marcado por diversas reuniões e manifestações em prol da derrubada da liminar para o fechamento da Estrada e a sua reabertura. No dia 13 de maio uma manifestação reuniu cerca de 30 mil pessoas, em Serranópolis do Iguaçu e Capanema, além de dezenas de prefeitos e deputados. Nessa manifestação, a estrada foi renomeada como Caminho do Colono, por isso as duas nomenclaturas podem ser aceitas. Após esse fato, a estrada foi ocupada pelos moradores lindeiros e, no dia 27 de maio, ocorreu a cassação da liminar pelo juiz Paim Falcão e a Estrada pode ser oficialmente reaberta no dia 11 de junho de 1997. Porém, logo após, decisões suspendem a ação do juiz.

Um marco das disputas relacionadas à problemática abordada nesse artigo, ocorreu no ano de 1997, quando representantes da AIPOPEC e lideranças políticas dos municípios diretamente interessados na questão organizaram uma mobilização da comunidade local, envolvendo especialmente os moradores de Capanema, Serranópolis do Iguaçu e Medianeira, para pressionar pela reabertura da Estrada do Colono. A estratégia de ocupar o parque, criando uma situação de grande repercussão local e na mídia, estava vinculada ao interesse de levar o Poder Judiciário a se manifestar. Num primeiro momento, os resultados se deram em conformidade com o esperado pelo movimento pró-reabertura. Ao mesmo tempo em que a estrada era reaberta de maneira efetiva, a AIPOPEC mobilizava seus advogados para atuarem na outra frente da disputa – a jurídica. Assim, em 12 de maio de 1997 foi protocolado no Tribunal Regional Federal (TRF) pedido para que fosse derrubada a liminar que interditou a estrada, o qual foi acatado e forneceu respaldo legal à reivindicação dos manifestantes. Porém, pouco tempo depois, outra decisão judicial, agora do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), anulou o despacho que permitia a reabertura da polêmica via. Este é apenas um exemplo de como a questão foi frequentemente permeada por decisões conflitantes no plano jurídico. (DIAS Edson dos Santos. Jun. 2009, p. 209-230).

Apesar de a Estrada ser ilegal, o fluxo de pessoas e turistas aumentou cada vez mais e os moradores não desistiram, apesar da insegurança que a ilegalidade traz. Durante anos, a Estrada foi reaberta à força pela população e mantida na ilegalidade, sendo que parte dela foi até mesmo cascalhada para facilitar o tráfego. Até o ano de 2001 foram realizadas diversas manifestações em prol de sua reabertura legal.

A ação policial que interditou a estrada, em junho de 2001, não representou o desfecho para a situação analisada. No ano de 2003, a problemática envolvendo a Estrada do Colono emergiu novamente, em razão de mais uma tentativa forçada de reabertura da via, fato esse que, por algum tempo, ocupou o espaço de cobertura na mídia nacional e, principalmente, paranaense, com repercussões políticas e desdobramentos dramáticos sobre os moradores da cidade de Capanema, desencadeados por nova operação da Polícia Federal que garantiu o cumprimento de decisão da

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Justiça para o fechamento da estrada. (DIAS Edson dos Santos. Jun. 2009, p. 209-230).

O ano de 2003 foi marcado pela mais violenta ação já ocorrida em Capanema. No dia 8 de outubro um batalhão de policiais e o exército tomaram a estrada. A balsa, que estava sendo soldada em Capanema, foi transportada até a praça central da cidade pelos moradores e utilizada como símbolo de resistência. Isso ocasionou um dramático confronto entre os manifestantes e policiais, tendo a utilização, por parte da polícia, de balas de borracha e bombas de efeito moral, com o objetivo de deter a resistência. Vários dos manifestantes ficaram feridos, alguns foram presos e, no dia seguinte, a balsa foi retirada da praça e explodida para evitar o seu uso. Isso provocou o fechamento integral da estrada, pois desde a ocorrência desse fato, ela permanece fechada definitivamente e os moradores proibidos de adentrar o Parque e até mesmo, no caso de Capanema, de chegar às margens do rio Iguaçu próximas ao Parque.

Todos os fatos ocorridos desde o fechamento da estrada, que não foram poucos, ficaram marcados na memória de muitos moradores e lideranças da região, que ainda hoje lutam pela sua abertura legal.

3.2 Considerações das populações e depoimentos

Como forma de compreender melhor os motivos que levam a tantos anos de luta por uma causa, realizei uma pesquisa de campo, a partir de uma visita ao município de Capanema e aos moradores que residem na localidade de Porto Moisés Lupion18, próximo ao rio Iguaçu e lindeiros do Parque Nacional do Iguaçu.

Gostaria de, inicialmente, relatar as minhas impressões ao chegar à localidade de Porto Lupion. Pude perceber que há uma grande quantidade de moradias e comércios abandonados. Apesar disso, há uma pequena comunidade de moradores que, em sua maioria, são aposentados, trabalham em plantações de fumo ou moram no local e trabalham na cidade, que fica a 20 km do Porto. A partir de relatos feitos pelos moradores, acredita-se que hoje residam ali apenas 5% da

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Distrito do município de Capanema, local de embarque e desembarque da balsa que dava acesso ao Parque e palco de muitas manifestações.

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população que residia no período em que a Estrada do Colono estava aberta. Muitos deixaram o local, pois a fonte de renda das famílias foi tirada, até por que na época o comércio era a principal fonte de renda, como contam os moradores. Segundo eles, nas margens da rodovia havia todo tipo de comércio.

Ao analisar a situação e os relatos destes moradores, percebi a forte ligação que estes têm com a estrada e, principalmente, a adoração que demonstram por este local. Ao relatar sobre o passado, as mãos ficam tremulas, os olhos vibram ao olhar para o rio, que agora é apenas parte de uma paisagem para se admirar.

Imagem 11: Trevo que dá acesso à Argentina e ao Porto Moisés Lupion.

Fonte: Foto tirada por Aline L. Giongo Schenckel- 18/05/2015

Com o objetivo de propiciar alternativas de desenvolvimento à região de Capanema, o Governo do Estado do Paraná inaugurou, no ano de 1994, a Ponte Internacional sobre o rio Santo Antônio, sendo uma ligação rodoviária com a Argentina, mas que não se liga a Serranópolis. Esta ligação propicia um auxílio para o desenvolvimento da região, porém não nutre a falta que a Estrada do Colono faz. Apesar disso, percebe-se uma diferença nas moradias e no próprio asfalto da rodovia até o trevo, que dá acesso ao país vizinho, pois a rodovia apresenta-se em

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bom estado, mas ao entrar na rodovia que dá acesso ao Porto Moisés Lupion, percebe-se um grande abandono.

Imagem 12: Ponto de comércio abandonado em Porto Moisés Lupion.

Fonte: Foto tirada por Aline L. Giongo Schenckel - 18/05/2015

Imagem 13: Ponto de comércio de água e geladinhos, abandonado no Porto Moisés Lupion.

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Imagem 14: Lanchonete que se encontra abandonada.

Fonte: Foto tirada por Aline L. Giongo Schenckel - 18/05/2015

As famílias relatam que, devido ao fechamento do Caminho do Colono, sentiram e ainda sentem os prejuízos causados àquela comunidade. São pessoas que vieram com a intenção de ali fixarem-se, na atividade diária, devido ao movimento que existia na época em que a estrada dava trânsito a muitas pessoas e veículos.

Imagem 15: Local onde era a Estrada que agora é mata fechada.

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Imagem 16: Apresenta o ponto de embarque e desembarque da balsa, no Porto Moisés Lupion, em Capanema.

Fonte: Foto tirada por Aline L. Giongo Schenckel - 18/05/2015

Quando cheguei à comunidade, ansiosa para ver o local de desembarque da balsa, fui até a proximidade do Rio Iguaçu e encontrei dois moradores, sentados no antigo restaurante que fica bem próximo do rio. Tirei algumas fotografias e fui conversar com os dois moradores.

Um deles é o dono da propriedade, o senhor Antoninho Segundo Lorejam(A.L), que hoje tem 66 anos e veio morar no local em 1983. Destaco a seguir alguns dos relatos feitos por ele:

A.L- "Quando a Estrada do Colono era aberta passavam por aqui muitas pessoas, ônibus lotados de passageiros, carros de famílias que iam visitar parentes do outro lado do Parque. As filas eram enormes e o comércio se desenvolvia de forma acelerada, com barracas de todos os tipos e produtos."

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Imagem 17: Restaurante do senhor Antoninho, atualmente utilizado como moradia.

Fonte: Foto tirada por Aline L. Giongo Schenckel dia 18/05/2015

A.L- "O meu restaurante era um “rio de dinheiro”, eu ficava na porta e mandava que alguns entrassem, enquanto outros aguardavam na fila para se alimentar. Além do meu restaurante, havia outra lanchonete e barracas que também lucravam muito. Quando iniciou o processo de fechamento da estrada, as autoridades locais e a diretoria se reuniam em meu restaurante, a portas fechadas para debater as possibilidades e mobilizações para a reabertura da estrada. Após o fechamento, em 1986, a Estrada foi reaberta, sempre que conseguíamos tomar o poder. A primeira vez ela foi reaberta por 10 anos, fecharam e tomamos o poder novamente por mais 4 anos. Depois disso, conseguimos deixar aberta por mais um ano, quando o exército estourou a balsa e proibiu os moradores de transitar com barcos na proximidade do Parque e de pescar no rio Iguaçu. A maioria dos moradores foram embora. Eu moro há alguns anos em Capanema, depois que a Estrada fechou passei a ser taxista, mas mantenho a minha propriedade, local que visito semanalmente e que uso para lazer com a minha família, que não deixou de adorar este lugar. Apesar de desanimado, após tantas lutas travadas pela abertura da Estrada, este lugar pertenceu à minha família e faz parte da minha história, tenho prazer em preserva-lo. Quase desisti, no ano passado, em junho, quando uma grande quantidade de chuvas atingiu todo o Estado do Paraná e três usinas do Rio

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Iguaçu abriram suas comportas, de forma imprudente e não houve mais controle da vazão de água. O rio subiu tanto e de forma desordenada que não tive tempo de tirar nada, só peguei meus documentos. Perdi tudo, foi muito triste; em todos os anos que morei aqui nunca vi algo assim, pois não foi uma enchente provocada pela natureza, mas sim por falha humana. Ninguém foi indenizado pela falha, então, há alguns meses, resolvi reformar a casa para poder vir para cá passar os fins de semana com a família. Já perdi as esperanças de ver esta Estrada aberta novamente."

O outro morador é o senhor Domingos Teles Pereira, tem 74 anos, veio para a região em 1962 e trabalhou por 20 anos como balseiro. Senhor Domingos agora mora na residência de Antoninho, como chacareiro. Alguns relatos dele:

"Já trabalhei em várias balsas da região. Nesta, por quase 20 anos. Depois que ela fechou fiquei alguns anos na Argentina, mas resolvi voltar para Porto Lupion. Hoje fico aqui relembrando o tempo em que trabalhava na balsa e a quantidade de pessoas que passavam por aqui. Trabalhava para os Andreis, que eram donos da balsa e de uma grande quantidade de propriedades na região. Esta Estrada tem muitas histórias e faz parte da história de muitas pessoas. Hoje somos proibidos de entrar de barco no rio e nem podemos chegar perto da mata." (Domingos Teles Pereira)

Outra visita foi realizada ao Sr. João Noredi da Silva, pai de família, com 61 anos de idade, morador na localidade há 50 anos, que trabalhava como gerente da balsa que fazia a travessia no Rio Iguaçu.

Imagem 18: Balsa que fazia a travessia pelo Rio Iguaçu.

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Conta o Sr. João que "passava, na época, em torno de 400 carros pequenos e 80 caminhões diariamente, como também, linhas de ônibus das empresas Unesul e Hélios, que faziam horários diários a Medianeira, Cascavel e Foz do Iguaçu. Também outras empresas que vinham do Rio Grande do Sul e se dirigiam ao Mato Grosso, passavam naquela estrada. Quando havia feriados prolongados, o fluxo de veículos era de até 1000, tendo em vista ser o caminho mais curto para a visitação às Cataratas do Iguaçu ou para realizarem compras no Paraguai." (João Noredi da Silva)

Com esse movimento diário, o pequeno comércio ali existente começou a investir. Os pequenos proprietários incrementaram seus estabelecimentos, vislumbrando possibilidades de melhoria de vida. Restaurantes foram abertos, facilitando com isso a refeição das pessoas que, em horários de almoço e jantar, passavam pelo local. Esta perspectiva durou pouco tempo, tendo em vista o fechamento da Estrada do Colono, ficaram as dívidas pelos investimentos feitos, trazendo, assim, sérias consequências à comunidade local e às famílias que ali residem.

A esperança destas famílias durou pouco, tendo em vista o exército ter acampado no local, detonando a balsa que fazia a travessia do Rio Iguaçu, ficando, aquelas pessoas, isoladas de seus familiares que residem em Serranópolis, outra cidade lindeira do Caminho do Colono. Todos os moradores do Porto Moisés Lupion se queixam em relação à permissão de funcionamento da Estrada das Cataratas e a proibição e interdição do Caminho do Colono, argumentando que Foz do Iguaçu pode, por ser uma cidade turística, e aqui, uma estrada que servia de ligação entre o Sul do país e outras regiões do Brasil, está sendo contestada por pessoas que nunca aqui vieram para analisar a situação.

3.3 As novas dimensões espaciais da região após fechamento da estrada

O fechamento da Estrada revelou a grande importância desta para os municípios lindeiros, tanto na questão histórica, quanto nas questões econômicas e

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populacionais. É importante pensar o seu papel na combinação de um conjunto de estruturas específicas de classe, de demografia e de receita.

A reabertura da estrada é de interesse direto e indireto de diversos setores das comunidades lindeiras. E é estratégica para os polos nos municípios de Capanema, Medianeira e Serranópolis do Iguaçu. Para compreender melhor a importância desta Estrada aos municípios lindeiros, destacarei alguns dados populacionais retirados do Censo, que revelam a diminuição populacional ou estagnação dos municípios da região.

Destaco inicialmente o município de Capanema, o primeiro ponto avançado da região ocidental do Paraná, depois da cidade de Palmas, é o Município de Clevelândia, que abrange toda a zona do Sudoeste, desde os limites de Palmas até a divisa internacional do Brasil com a República Argentina. Foi o espírito aventureiro e desbravador de alguns modernos bandeirantes que deu início ao povoamento do território da faixa de fronteira, penetrando a mata virgem para colonizar e criar novos núcleos populacionais.

Aos poucos foram surgindo alguns aglomerados humanos, muitos dos quais, graças à fertilidade da terra, ao dinamismo dos seus idealizadores e à abertura de novas vias de comunicação e transporte, progrediam extraordinariamente. O desbravador pioneiro da região foi Octávio Francisco de Mattos, que depois de haver exercido altas funções públicas em outros Municípios, inclusive a de Prefeito Municipal de Clevelândia, resolveu penetrar o interior do sertão e estabelecer os fundamentos de uma nova povoação. Vencidos os obstáculos, o intrépido bandeirante viu surgir nos limites da fronteira, um povoado a que se deu a denominação de Capanema. Sem chegar a ser distrito, a localidade foi elevada à categoria de município em 1951. A partir de 1952, o desenvolvimento do município foi bastante acentuado, rodovias foram abertas em todas as direções, criaram-se escolas e uma usina termoelétrica foi construída.

O município de Capanema é um dos mais afetados pelo fechamento da Estrada do Colono, pois era o local de embarque e desembarque da balsa, o que gerava muitos empregos aos moradores lindeiros e a todo o município, pelo grande fluxo de pessoas que ocasionava.

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Tabela 01: Queda populacional no município de Capanema nos anos de 1991 á 2010, considerando o fechamento da Estrada.

Fonte:<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=410450&sear ch=parana|capanema|infogr%E1ficos:-evolu%E7%E3o-populacional-e-pir%E2mide-et%E1ria> Acesso

em 15 Abr. 2015

De acordo com a Tabela e gráfico apresentados anteriormente, Capanema veio sofrendo declínios populacionais desde o ano de 1991 e só teve um pequeno aumento no ano de 2010. Torna-se pertinente analisar que, do ano de 1991 ao ano de 1996, ocorreu uma queda muito acentuada, período este que é convergente com o fechamento da Estrada e lutas pela sua reabertura. Muitos abandonaram a região por falta de emprego.

A tabela apresenta dados desde o ano de 1991 e Capanema sofreu modificações administrativas muito antes disso. De acordo com o IBGE, primeiramente houve desmembramento de Clevelândia, em 1951, tendo anexado, em 1957, os distritos de Ampére e Pérola D’Oeste, estes desmembrados em 1961.

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No ano de 1962 os distritos de Centro Novo, Cristo Rei, São Luiz e São Valério são anexados à Capanema, porém, em 1968, São Valério e Centro Novo passam a ser distrito do município de Planalto. Ainda em 1968 o município de Pinheiro é anexado à Capanema. De acordo com uma divisão territorial, datada de 1979, o município é constituído de três distritos: Cristo Rei, Pinheiro e São Luiz. Torna-se importante analisar que esta queda não tem influência no desmembramento de distritos de Capanema.

Na outra extremidade do Parque Nacional do Iguaçu temos o município de Medianeira e, posteriormente desmembrado, Serranópolis do Iguaçu. De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Medianeira, este município que teve seu nascimento planejado em 20 de outubro de 1949, na cidade gaúcha de Bento Gonçalves, quando os fundadores da Colonizadora Industrial e Agrícola Bento Gonçalves Ltda. iniciaram os estudos para a implantação do projeto de fundação. Para dirigir a empresa foram escolhidos para Diretores os senhores Pedro Soccol e Jose Callegari. Medianeira foi desmembrado de Foz do Iguaçu, e elevado à autonomia de Distrito pela Lei, em 1952, e município, pela Lei de 1960.

Tabela 02: Dados populacionais de Medianeira de 1991 á 2010.

Fonte:<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=411580&sear ch=|medianeira> Acesso em 15 Abr. 2015

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Ao observar os dados da tabela e gráfico, percebe-se uma queda populacional vertiginosa dos anos de 1996 à 2001, influenciado, principalmente, pelo desmembramento, em 1997, de dois Distritos Administrativos de Medianeira - Flor da Serra e Jardinópolis - cuja junção, somada ao Parque Nacional do Iguaçu, deu origem ao nome de Serranópolis do Iguaçu.

Para falar da influência do fechamento da Estrada do Colono cabe ressaltar o município de Serranópolis do Iguaçu, que após ser desmembrado de Medianeira, foi de elo de ligação, entre Estrada do Colono e Capanema. O município de Serranópolis do Iguaçu está localizado no Extremo Oeste do Estado do Paraná. De acordo com dados da prefeitura Municipal, o município de Serranópolis do Iguaçu apresenta uma trajetória marcada por grandes conquistas, onde prevaleceu sempre o espírito do trabalho e da união, na busca das soluções comuns a todos. No início da colonização, a população era exclusivamente de gaúchos e catarinenses. Mais tarde passou a receber as migrações do norte do Estado, formando, aos poucos, uma rica etnia, com pessoas das mais diversas origens, predominando os descendentes de italianos e alemães. A base econômica do município é caracterizada pela agricultura e pela pecuária, sendo a agricultura a principal fonte de renda do município.

Tabela 03: Dados populacionais de Serranópolis do Iguaçu dos anos de 2000 e 2010.

Fonte:<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=412635&search=|serran opolis-do-iguacu> Acesso em 15 Abr. 2015

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De acordo com os dados da tabela, Serranópolis do Iguaçu teve resultados negativos desde o fechamento da Estrada, dos anos de 2000 à 2007, pela falta de emprego para a população, embora tenha apresentado um pequeno aumento populacional em 2010.

Estes foram os municípios que mais sofreram com o fechamento da Estrada do Colono, pois ficavam nos dois extremos da Estrada e sofriam grande influência econômica do fluxo de pessoas, nestes locais. Após o fechamento da Estrada, Capanema e Serranópolis do Iguaçu se viram isolados um do outro.

A tabela a seguir revela dados populacionais do ano de 2000 e 2010, de acordo com o Censo dos determinados anos, destacando os municípios lindeiros. Cabe lembrar que, do ano 2000 em diante, não houve desmembramentos nos municípios citados, pois estes ocorreram em anos anteriores.

Tabela 04: Dados populacionais dos municípios lindeiros ao Parque nos anos de 2000 e 2010.

Dados populacionais dos municípios lindeiros pelo Censo de 2000 e 2010 Município População em 2000 População em 2010 Capanema 18.239 18.526 Capitão Leônidas Marques 14.377 14.970 Céu Azul 16.352 11.032 Foz do Iguaçu 258.543 256.088 Matelândia 14.344 16.078 Medianeira 37.827 41.817 Santa Terezinha do Itaipu 18.368 20.841

Santa Tereza do Oeste 10.754 10.332

São Miguel do Iguaçu 24.432 25.769

Serranópolis do Iguaçu 4.714 4.568

Fonte: Censo Demográfico de 2000 e 2010. Elaborada por Aline L. Giongo Schenckel Ao observar a tabela, é importante ressaltar que os municípios que mais sofreram com o fechamento da estrada foram Capanema e Serranópolis do Iguaçu,

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sendo que os outros municípios continuaram a ser elementos de ligação do Oeste com o Sudoeste do Paraná, pela BR 163 atual e pela BR 277.

4. SITUAÇÃO ATUAL DO PROCESSO DE REABERTURA DA ESTRADA

A intenção de reabrir a Estrada ainda está muito presente na mente de moradores antigos e representantes da região, de acordo com notícia publicada pelo site Eco19 no dia 05/02/2014. O deputado Assis do Couto (PT-PR)20 foi ao plenário defender seu projeto de reabertura da Estrada do Colono. Um dos fatores apresentados pelo deputado foi o de que a primeira tentativa de fechar a estrada, ocorrida nos anos 80, serviu para encobrir a ocultação de 5 cadáveres de guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária e de um argentino, desaparecidos ao ingressar no Parque em 1974. De acordo com o deputado, os militantes teriam sido assassinados numa emboscada, fruto da repressão militar da época. Fato este é condizente, pois o local foi alvo de confrontações dramáticas entre os legalistas e os revolucionários.

Em 1981, houve o primeiro Plano de Manejo do Parque determinando o fechamento da Estrada do Colono - o caminho só foi fechado, de fato, em 1986, já no governo Sarney. A história da Estrada foi apresentada pelo deputado como forma de sensibilizar os parlamentares presentes, destacando todo seu processo e origem. Os defensores da reabertura da estrada argumentam que ela é mais antiga que o Parque Nacional e, por isso, deveria ser aberta.

Quase 12 anos depois, em forma de Projeto de lei, a Câmara dos Deputados aprovou o texto que reabre a Estrada do Colono e acrescenta o conceito de Estrada-Parque, na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), já que a categoria não existe na principal legislação que regulamenta as Unidades de Conservação brasileiras.Tal projeto, defendido pelo deputado Assis do Couto, altera a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, para criar a categoria de Unidade de Conservação, denominada Estrada-Parque, e institui a Estrada-Parque Caminho do

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Site Eco http://www.oeco.org.br/noticias/27988-2014-ano-de-aprovar-reabertura-da-estrada-do-colono-no-senado

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Colono no Parque Nacional do Iguaçu. O Projeto de Lei da Câmara N° 7.123 / 201021, define a seguinte emenda:

Altera a Lei nº 9985/00 – que regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências – para incluir a Estrada-Parte no Grupo das Unidades de Uso Sustentável; define a Estrada-Parque como uma via de acesso dentro de uma unidade de conservação cujo formato e dimensões são definidos pelos aspectos históricos, culturais e naturais a serem protegidos; elenca requisitos para a implantação de uma estrada-parque; cria a Estrada-Parque Caminho do Colono no Parque Nacional do Iguaçu, a ser implantada no histórico leito do Caminho do Colono, situado entre o km 0 e o km 17,5 da PR-495, antiga BR-163; determina que além dos requisitos previstos na Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, na Estrada-Parque Caminho do Colono somente será permitida a circulação de automóveis de passeio e caminhonetes, de coletivos de transporte de turistas até 3 (três) eixos e de veículos oficiais, inclusive do Exército Brasileiro, sendo vedada a circulação de veículos de carga e de veículos desregulados conforme legislação pertinente; estabelece que a juízo do órgão gestor da unidade de conservação, poderá ser instalado museu sobre a história da Estrada- Parque e os atributos naturais do Parque Nacional.

Apesar de os prazos para o recebimento das emendas já terem passado, o processo ainda segue em tramitação no Senado, após ter sido votado e aprovado pelos deputados federais. O Projeto de Lei é composto por quatorze páginas, que compreendem toda a história da Estrada do Colono, bem como todos os artigos que são defendidos pelo presente Projeto de Lei.

De acordo com tal projeto, a Estrada-Parque teria parceria com o Estado, deveria ser implantada no mesmo leito histórico da antiga BR- 163 e receberia o nome de PR 495. Além do que, teria o Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu ajustado às disposições da Lei. Para que se chegue a uma solução para este impasse, que percorre anos, seria necessário um ajuste entre ICMBio Ministério Público e municípios.

4.1 Impasses do processo

O grande impasse referente a reabertura desta via está na questão ambiental. Algumas instituições da sociedade civil brasileira assinaram uma

21

O Projeto de Lei na integra pode ser encontrado no site do Senado

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cartilha22 para requerer aos poderes públicos que o Projeto de Lei para reabrir a Estrada não se concretize. De acordo com a cartilha, para reabrir o caminho, o projeto espera alterar a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (9.985/2000), criar a categoria, inexistente hoje na Legislação Brasileira, de “Estrada-Parque” e instituir a “Estrada-Parque Caminho do Colono” em meio ao Parque Nacional. Com isso, o espaço teria sua integridade gravemente ameaçada e a iniciativa abriria um precedente sem volta para afetar a estrutura de outras Unidades de Conservação do país.

O que deixa a situação ainda pior é que, se aprovado o projeto, uma das consequências deverá ser a perda da designação de Sítio do Patrimônio Natural Mundial, solicitada pelo Brasil e concedida pela Unesco. Para as instituições ambientais, a abertura do caminho devastará parte do Parque, que levou dez anos para se recuperar, causará grande impacto à região e gerará danos irreversíveis à fauna e à flora locais, além de prejudicar a qualidade de vida dos moradores das comunidades do entorno, ao oferecer riscos à segurança pública regional.

Outro fator é que, de acordo com a Polícia Federal, com a estrada aberta, iria aumentar o contrabando de mercadorias e o tráfico de drogas, armas e artigos ilícitos na região da fronteira. Porém, se analisarmos a situação por outra perspectiva, com a estrada aberta seria muito mais fácil conter estas ações, pela facilidade em adentrar e monitorar o Parque.

São dois lados de uma mesma moeda, onde cada qual defende o seu ponto de vista e interesses.

O tema Caminho do Colono é extremamente polêmico, fechar definitivamente ou reabrir, vai ser um ato muito complicado, precisando-se entender que o Parque Nacional do Iguaçu tem valor internacional, devido ser um Patrimônio da Humanidade. É uma reserva que pertence ao Brasil, depois ao Paraná e principalmente à população lindeira ao parque e é esta, a principal responsável por sua preservação. Não há meios de se colocar um guarda-parque a cada cem metros, deve-se sim, conscientizar a população para que ela tenha respeito ao patrimônio (MULLER, 1997, p.45).

Para a reabertura da Estrada, o melhor seria, segundo Dallo (1999), a união entre o IBAMA e a população lindeira, visando sua preservação. O interesse da

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A cartilha pode ser encontrada na integra no site: http://www.spvs.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Cartilha-FINAL-web.pdf

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população pela questão uniu partidos políticos, religiões, culturas e famílias, no ideal de resgatar o direito de ir e vir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, teve como objetivo analisar e descrever a importância da Estrada do Colono, à luz de questões históricas, sociais e econômicas, bem como, apresentar a problemática em questão, quanto ao seu fechamento, desencadeado principalmente pelo local em que esta estrada estava inserida. O fato de a Estrada do Colono ter sido construída dentro do Parque Nacional do Iguaçu, fez com que ações ambientalistas da região exigissem o fechamento do trecho, que, por anos, serviu como elemento de ligação do Sudoeste com o Oeste do estado do Paraná.

Em tempos anteriores, tal estrada teve grande influência para a colonização e penetração dos povos do Sul nas outras regiões do país, sendo que esta facilitava-lhes o acesso. Sendo assim, teve grande importância histórica para todo o país. Neste período, a região era mata fechada, mas, com o tempo, foram sendo abertas picadas na mata, que, aos poucos transformaram-se em uma estrada. Sem preocupações quanto à questão ambiental, a abertura da estrada teve um único objetivo: o de colonizar e integrar o Sudoeste com o Oeste do Estado do Paraná. Com o tempo esta integração foi se consolidando, as regiões passaram a ter fortes ligações econômicas, culturais e afetivas. Histórias consolidadas por um elo, que de uma hora para outra foi cortado. Questões ambientais motivaram o fechamento da Estrada. Justificava-se que o trecho traria danos ambientais incalculáveis ao PNI e também por pressões da UNESCO, que ameaçava com a retirada do título de Patrimônio Natural da Humanidade do Parque.

Desde o fechamento da Estrada, em 12 de setembro de 1986, a população luta pela sua reabertura. Durante os anos de 1986 a 2003, ocorreram várias reuniões e manifestações como forma de tentar reverter a situação, sendo que, por muitas vezes durante este período, a Estrada foi reaberta à força e mantida na ilegalidade. Porém, no ano de 2003, houve uma forte ação policial, para garantir o

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fechamento definitivo da Estrada. Desde então a estrada permanece fechada, sendo proibido adentrar no Parque, mas isso não quer dizer que a população deixou de lutar. Ainda hoje tramita no Senado, o projeto de Lei N° 7.123/2010 do Deputado do Paraná, Assis do Couto, pela reabertura da Estrada. Tal projeto visa reabrir o trecho como Estrada-Parque Caminho do Colono, tendo em vista o cuidado com a questão ambiental das Unidades de Conservação, bem como a preservação do Parque. Apesar de ainda estar em tramitação, tal projeto já desencadeou incalculáveis debates.

O motivo que leva a, ainda hoje, esta questão ser debatida, é o fato de que os interesses da população, que tiveram grande importância histórica, foram minimizados ou mesmo esquecidos. Com as distâncias ampliadas, os dois municípios deixaram de realizar trocas comerciais entre si e os elos consolidados por anos foram simplesmente deixados de lado. Contudo a insatisfação da população gerada pelo fechamento da estrada, confere ao seu fechamento todos os problemas enfrentados pelos municípios vizinhos. O fechamento desta Estrada provocou um impacto econômico e populacional local, principalmente pelo fato de que muitos dependiam do comércio gerado pelo grande fluxo de pessoas. Porém, ao que pode-se perceber observando os dados populacionais e analisando os municípios das regiões, este problema não se refere apenas ao fechamento da estrada, mas sim a vários fatores regionais.

Encontrar equilíbrio entre o progresso e a preservação é o grande impasse da atualidade. Quando se fala na reabertura, ou não, da Estrada do Colono, as opiniões são muito divergentes. A reabertura da estrada trará, com certeza, danos ao meio ambiente, pois o local, hoje, se encontra preservado. No entanto, se o olhar se voltar à questão histórica e econômica, muitos seriam os motivos para sua reabertura. Para que se chegue a uma solução, seria necessário um ajuste entre ICMBio, o Ministério Público e os municípios lindeiros, maiores interessados na reabertura e uso deste trajeto, bem como, na sua preservação.

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