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CAPÍTULO V A INSERÇÃO DA TERAPIA COMUNITÁRIA

5.3 TCI e as Políticas Públicas de Saúde – Política Nacional de Práticas

5.3.5 Implantação da TCI no SUS: controvérsias

O percurso de implantação da TCI em políticas de saúde e todas as pesquisas que o embasa, não se trata, todavia de um campo consensuado, havendo discussões quanto à efetividade dessa implantação. No âmbito desta pesquisa, entrevistados problematizaram esta questão.

O entrevistado C trouxe vários aspectos para reflexão sobre a TCI nas políticas públicas de saúde, pois considera que esta inserção foi resultado de uma vontade política, numa demonstração de sincronia de interesses entre os representantes do poder público e da TCI. E, em sendo resultado de uma vontade política, o entrevistado argumentou como frágil a manutenção da TCI nesse campo por estar condicionada à presença de determinados atores em postos de decisão política.

O que motivou na verdade foi a vontade política que os desejos naquele momento se confluíram entre a proposta que foi apresentada pelo mundo da Terapia Comunitária e a receptividade por parte do Ministério da Saúde, mas o que de fato determinou foi vontade política para que aquilo [implantação da TCI na ESF e Rede SUS] acontecesse na forma de um convênio (Entrevistado C).

O entrevistado C ressaltou que os convênios executados para as formações não incorreram nos desdobramentos necessários para o acompanhamento dos terapeutas comunitários da rede. Por meio do acompanhamento sistemático, os terapeutas poderiam ter sido supervisionados e o SUS, desenvolvido mecanismos de monitoramento e avaliação da implantação dessa abordagem. Considerou o processo interrompido, destacando que, apesar do alto custo que a implantação significou para o Estado, ele permaneceu sem perspectiva de continuidade, o que incorreu num desconhecimento pelo poder público da real implantação da TCI no SUS. Nesse cenário, indaga qual a avaliação da gestão pública municipal sobre a implantação da TCI em seus serviços.

[...] afora o benefício pessoal que os trabalhadores de saúde que fizeram a formação [em TCI] tiveram, efetivamente para o SUS não se tem notícia porque não se tem mecanismos de avaliação de uma coisa que não se está institucionalizada. Ora o povo se formou sem supervisão que foi o que aconteceu. O povo se formou e nós não temos uma notícia do que eles estão fazendo. A pergunta da avaliação tem se feita para a gestão municipal se contribui para o município, se reduziu no estudo de custo-efetividade alguma coisa. Isso foi bom para a humanização das relações? Não sei. São muitas perguntas para o município porque a gestão federal tem zero de informação (Entrevistado C).

O entrevistado C também acendeu o debate sobre a TCI ser uma política pública. Segundo ele, a TCI não é uma política pública uma vez que não possui, por exemplo, orçamento determinado e código de procedimento que a identifique dentro do Sistema de Saúde. Esclarece que os convênios não são políticas públicas, mas ações planejadas por tempo determinado. De acordo com o entrevistado, o fato de estar recomendada nas Conferências de Saúde pode contribuir para a TCI se tornar uma política pública, porém as recomendações em si não configuram que se tornou. Exemplificou que as práticas integrativas foram recomendadas ao longo de 20 anos, antes de serem efetivadas como uma política pública.

Enquanto o mundo da TC achar que é [política pública] não vai andar como deveria andar. [Os convênios] podem ter alguma consequência para os polos formadores que se estruturam, pode ter alguma consequência da capilaridade da terapia comunitária no país porque é antes e depois da formação do Ministério da Saúde (Entrevistado C).

O entrevistado A, tal qual o entrevistado C, argumentou pela fragilidade na inserção da TCI nas ações das políticas de saúde pelo fato de ela não constar no planejamento da saúde pública. De acordo com o mesmo, não há financiamento regular para as atividades de formação, intervisões continuadas e consolidação de dados de vigilância no território. Destacou, também, as dificuldades encontradas para o estabelecimento de parcerias com governos municipais devidas ao preconceito de gestores da rede de atenção psicossocial sobre a TCI, ao desconhecimento sobre a abordagem e sobre a possibilidade de sua contribuição na promoção, vigilância e atenção à saúde. Considera que os terapeutas comunitários têm pouco envolvimento e atuação nas esferas de controle social do SUS, a exemplo dos conselhos de saúde, comissões e conferências de saúde. Na visão do entrevistado A, esse cenário tem

repercutido nas ações para implantação da TCI, a exemplo do cancelamento de cursos por falta de verbas públicas.

O entrevistado C continuou contribuindo com as reflexões sobre a TCI nas políticas de saúde, ao afirmar que devem ser buscadas as devidas articulações para que ela se torne uma política pública, com alocação de recursos e os demais direitos assegurados.

Acho que o tema da Terapia Comunitária é um tema relevante e, em minha opinião, o próximo passo era buscar [...] junto ao Ministério da Saúde pra que ela se transforme numa política pública, com a alocação de recursos, com tudo o que tem direito.

Pelo exposto, vimos que há controvérsias nos posicionamentos quanto à implantação da TCI nas políticas de saúde. Encontramos posições que apontam para uma implantação mais efetiva ao passo que outras sinalizam para consideráveis fragilidades nesse processo. Temos, dessa forma, um campo em construção, cujo debate condiz com a proposta de Hartz e Contandriopoulos (2013), segundo os quais existem graus num processo de implantação, que devem ser obtidos por meio da utilização de indicadores, escores ou índices de integração e, que no caso da implantação da TCI, carece de estudos que aprofundem essa temática.

CAPÍTULO VI - TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NA