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Implementação/desenvolvimento do Projeto

Sendo o trabalho de projeto caraterizado pela sua dimensão investigativa, o docente enquanto investigador deve ter bem presente o seu objeto de estudo e a problemática a que pretende dar resposta, pois só desta forma contribuirá de forma positiva para o ensino. Como cada contexto é único e cada grupo apresenta as suas especificidades, as estratégias e metodologias desenvolvidas não devem ser pensadas de forma global, mas sim tendo em conta as várias particularidades da amostra. Torna-se então pertinente “determinar quando há que agir neste ou naquele sentido – sucessão de ações – o que há a fazer (conteúdo das ações) – e como fazer, que meios, técnicas a utilizar – o processo”

(Leite, Malpique, & Santos, 1990).

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Com vista a respeitar todas as etapas do projeto (a identificação/formulação do problema, a pesquisa e produção e a apresentação/globalização/avaliação final) (idem, 1990) o trabalho desenvolvido ao longo de alguns meses seguiu um plano cronológico (cf. anexo 27). Desta forma, depois de filtrada uma problemática e de delineados os objetivos, foi criado um pré-teste para aferir os conhecimentos prévios dos alunos acerca da temática, um conjunto de propostas didáticas, um pós-teste para identificar sinais de aprendizagem e, por fim, foi realizada uma análise cuidada dos dados recolhidos.

Pré-teste

Na tentativa de aferir os conhecimentos dos alunos acerca do tópico em estudo - a evolução da língua - para além da observação direta sobre o público-alvo, recorreu-se a um pré-teste sob a forma de inquérito por questionário.

Composto por três questões, duas delas de resposta aberta e uma de escolha múltipla, o pré-teste tinha como objetivo averiguar se os estudantes conseguiam enumerar as duas razões que podem justificar a existência de palavras comuns no português e no castelhano: o contacto entre os povos que permite a migração de um termo de uma língua para a outra ou a divergência de uma língua comum (o latim). Por sua vez, o pré-teste permitiu ainda apurar se as crianças encaram com respeito a diversidade dialetal numa língua, pois esta é o reflexo de um processo de mudança, não devendo ser assumida como um “erro”.

O pré-teste foi implementado no início da primeira sessão pelo par pedagógico da mestranda para que os estudantes não o associassem com a sessão desenvolvida posteriormente, dando-lhe resposta com naturalidade e mostrando o verdadeiro conhecimento que possuíam do assunto.

Primeira sessão – Os dialetos de Portugal

A primeira sessão teve início com a questão “em Portugal todos os falantes falam do mesmo modo?”, para que depois de criado um ambiente de discussão na turma se procedesse à exploração da atividade. Os estudantes escutaram áudios de alguns dos dialetos de Portugal como o micaelense ou o flaviense, tentando identificar a zona do país de que estes são caraterísticos. Para que esta tarefa de localização se tornasse mais simples, a docente levou para a sala de aula um mapa de dimensões consideráveis (cf. anexo 29), dividido por regiões (Minho, Trás-os-Montes, Beiras, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve,

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Açores e Madeira) e cartões circulares para que os alunos assinalassem as diferentes regiões. Foi proposto aos alunos que escrevessem nos cartões uma caraterística, que para eles definisse cada um dos dialetos, sendo que tal tarefa foi desenvolvida em grande grupo. Para acompanhar a tarefa foi entregue a cada estudante um guião de registo (cf. anexo 30), para que estes assinalassem algumas das conclusões que iam construindo.

Depois de assimilado o conceito de dialeto e de conhecida a diversidade intralinguística, os estudantes sempre orientados pelo questionamento e pelo registo das informações no quadro e no caderno diário construíram algumas hipóteses que justificassem a diversidade intralinguística em Portugal (cf. anexo 31).

Os alunos tiveram ainda contacto com os falares ditos prestigiados (norma-padrão do português), tomando consciência do seu papel no processo evolutivo da língua.

Segunda sessão - A segunda língua oficial portuguesa - o mirandês

Com a finalidade de dar a conhecer o mirandês aos estudantes, a segunda intervenção começou com a apresentação de um grupo musical oriundo de Miranda do Douro, os Galandum Galundaina. Os alunos localizaram Miranda do Douro no Google maps, ficando com a ideia de que este concelho faz fronteira com dois países, Portugal e Espanha.

Posteriormente, os estudantes ouviram uma música dos Galandum Galundaina – L Pandeiro – tentando escrever aquilo que escutavam (cf. anexo 32). A audição da música tinha como propósito levar os estudantes a descobrirem as diferenças entre uma língua oficial e um dialeto. Para comprovarem que o mirandês se trata realmente de uma Língua e não de um dialeto, a docente distribuiu a letra da música (cf. anexo 33) a cada um dos estudantes, que tiveram de rodear três palavras comuns e três palavras não comuns ao português europeu (cf. anexo 34).

Depois de realizada a tarefa, a mestranda explicou aos alunos que o mirandês teve uma origem diferente do português e do castelhano, questionando-os então do porquê de haver semelhanças entre as três línguas, se estas não derivaram de uma outra comum. Os estudantes criaram e registaram as hipóteses no quadro que para eles justificassem a presença de semelhanças entre as três línguas, nomeadamente a proximidade geográfica.

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Criado o debate os estudantes perceberam que as línguas através do contacto são influenciadas umas pelas outras, dando-se a migração de caraterísticas linguísticas.

Considerando que o mirandês, pelo número de reduzido de falantes, é uma língua que se encontra em risco, constituiu a atividade seguinte a visualização de uma reportagem acerca da importância da preservação desta língua, para que mais uma vez fosse criado um ambiente de discussão na turma, que levasse os alunos a pensarem sobre os comportamentos que podem contribuir para a preservação da língua mirandesa, não perdendo de vista o processo evolutivo desta língua.

A sessão terminou com a criação de um título para a música tendo em conta o sentido global da sua letra (cf. anexo 35).

Terceira sessão – Pintura de uma tela

Na terceira sessão os estudantes pintaram uma tela (cf. anexo 36) alusiva ao tópico central das sessões – a evolução da língua.

A sessão teve início com o levantamento das questões centrais da primeira e da segunda sessões, que depois de discutidas e reavivadas em grande grupo foram recriadas.

A tela permitiu aos alunos representarem as suas ideias não exclusivamente por palavras, apresentando-se como uma atividade promotora da articulação de duas áreas do saber, o Português e as Expressões. O resultado final seria partilhado com a restante comunidade escolar, na tentativa de despertar o interesse de outros pelo tópico em estudo.

Pós-teste

Depois de desenvolvidas as sessões e dando algum tempo aos alunos para que estes maturassem as aprendizagens, foi-lhes pedido que preenchessem novamente um inquérito. Mantendo as preocupações do pré-teste, o pós-teste sofreu algumas alterações que para a mestranda pareceram adequadas. Assim, ao questionário inicial foi retirada a questão 1 e acrescentada uma nova questão (questão 2) que permitia aferir se os alunos compreendiam que a escrita é normativa, e que a diversidade ocorre essencialmente ao nível da oralidade.

Porém, uma mudança ao nível da oralidade pode conduzir a mudanças na

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escrita, no entanto este é um processo demorado e depende da vontade dos falantes.