• Nenhum resultado encontrado

Muitos estudos sobre os efeitos letais e subletais de inseticidas e/ou bioinseticidas em pragas são realizados para descobrir os impactos negativos (mortalidade), bem como aqueles não letais, que são aqueles sobre os aspectos biológicos que podem afetar a dinâmica populacional dos insetos (STARK; BANKS, 2003; DE BORTOLI et al., 2012).

Em relação às toxinas de Bacillus thuringiensis, as variações na suscetibilidade podem estar relacionadas também a fatores intrínsecos da população do inseto-alvo ou então à influência de bactérias presentes nos intestinos, promovendo, ou não, condições ideais para que ocorra a dissolução do cristal, a ativação da protoxina e, principalmente, a presença de receptores específicos na membrana epitelial do intestino dos insetos que se ligam às proteínas Cry (GILL et al., 1992; HÖFTE; WHITELEY, 1989; PEYRONNET et al., 1997; SCHNEPF et al., 1998).

A ligação de alguns receptores com determinadas toxinas pode não ser forte o suficiente para causar a morte do inseto, pois algumas delas são menos específicas, se ligam reversivelmente e de maneira pouco estável aos receptores (MONNERAT; BRAVO, 2000). As diferenças na eficiência dos produtos/isolados/toxinas nas populações testadas podem estar também relacionadas com a perda da ligação das toxinas com os receptores (FERRÉ; VAN RIE, 2002; SAYYED et al., 2004).

Alterações na ativação das protoxinas por proteases do intestino médio do inseto, variações do pH no lúmen do mesêntero e a recuperação das células do intestino após exposição às toxinas também podem reduzir a toxicidade ao Bt (LOEB et al., 2001; MA et al., 2005).

Laurentis (2013) verificou que o consumo foliar de lagartas de P. xylostella foi diferente entre as populações, sendo que na testemunha foi observado menor consumo que na população PX, sugerindo que o baixo consumo dessa população não estaria associado com a ingestão de cristais protéicos, mas a uma característica intrínseca da população, como, por exemplo, a associação com bactérias do intestino, podendo essas bactérias infuenciar negativamente a

alimentação dos insetos (PRAÇA et al., 2007) ou causar a paralização da alimentação em populações suscetíveis (ARONSON et al., 1991; GUPTA et al., 1985; NAVON, 2000).

Assim, mesmo que os produtos/isolados/toxinas não causem 100% de mortalidade, parâmetros biológicos podem ser influenciados, como o período de duração larval da praga que foi prolongado, o que é prejudicial à traça-das- crucíferas, uma vez que pode aumentar a exposição da praga aos inimigos naturais, além de diminuir o número de gerações, implicando em diminuição populacional do inseto no campo.

Assim, além da ação tóxica, o Bt pode propiciar aumento da exposição da praga aos inimigos naturais, favorecendo a ação dos mesmos, sendo que a interação desses dois agentes de controle é comum em programas de Manejo Integrado de Pragas, como citado por Trumble & Alvarado-Rodriguez (1993) e Haji et al. (2002) nas culturas de tomate no México, na Colômbia e no Brasil. Neste sentido, vários estudos vêm sendo realizados com o objetivo de verificar a eficiência e a compatibilidade de associação dessas táticas de controle biológico, ou seja, a interação de parasitoides e/ou predadores com o microbiano.

Nessa linha, Dequech et al. (2005) estudaram, em laboratório, a interação entre o parasitoide Campoletis flavicincta (Ashmead, 1890) (Hymenoptera: Ichneumonidae) e B. thuringiensis aizawai para o controle de Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) e observaram que esta interação foi positiva devido ao aumento da mortalidade larval da praga, sem afetar negativamente as características biológicas do parasitoide e de seus descendentes.

Pratissoli et al. (2006) forneceram suspensões de B. thuringiensis como alimento para adultos de Trichogramma pratissolii Querino & Zucchi (Hymenoptera: Trichogrammatidae) e observaram que a bactéria não prejudica o parasitismo, entretanto, em alguns tratamentos, foi verificado o efeito negativo indireto sobre a porcentagem de emergência dos parasitoides. Em estudo semelhante, Santos Jr. (2009), alimentando Trichogramma pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) com mel contaminado com produtos

comerciais a base de B. thuringiensis, obteve percentuais de parasitismo em ovos de Helicoverpa zea (Boddie, 1850) (Lepidoptera: Noctuidae) superiores a 50%, e similares à testemunha.

Os resultados obtidos em laboratório por Carvalho et al. (2012) também mostram a possibilidade de interação da bactéria B. thuringiensis com o percevejo Podisus nigrispinus (Dallas, 1850) (Hemiptera: Pentatomidae) através da avaliação dos efeitos sobre as características biológicas do predador após a ingestão direta da suspensão bacteriana ou de lagartas contaminadas.

Assim, com os resultados obtidos, particularmente com a toxina Cry1Ac, verifica-se a possibilidade de sua utilização, inclusive para controle da população resistente de P. xylostella, mesmo em baixas concentrações, associando-a com outra medida complementar de controle.

Quanto ao modo de ação da toxina Cry1AC, apesar das análises realizadas no presente trabalho com as seis populações de P. xylostella, inclusive com uma delas selecionada para resistência em laboratório, os testes efetuados, tanto enzimáticos como moleculares, não foram conclusivos quanto aos fatores que podem influenciar a suscetibilidade de P. xylostella à Bt e estudos posteriores devem ser realizados para elucidar estes fatores.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, V. F. P.; VACARI, A. M.; POMARI, A. F.; DE BORTOLI, C. P.; RAMALHO, D. G.; DE BORTOLI; S. A. Interaction between the Predator Podisus nigrispinus (Hemiptera: Pentatomidae) and the Entomopathogenic Bacteria Bacillus thuringiensis. Environmental Entomology, College Park, v. 41, n. 6, p. 1454-1461, 2012.

DE BORTOLI, S. A.; VACARI, A. M.; MAGALHÃES, G. O.; DIBELLI, W.; DE BORTOLI, C. P.; ALVES, M. P. SUBDOSAGENS DE Bacillus thuringiensis EM Plutella xylostella (LEPIDOPTERA: PLUTELLIDAE) E Trichogramma pretiosum (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE). Revista Caatinga, Mossoró, v. 25, n. 2, p. 50-57, 2012.

DEQUECH, S. T. B.; SILVA, R. F. P. da; FIUZA, L. M. Interação entre Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae), Campoletis flavicincta (Ashmead) (Hymenoptera: Ichneumonidae) e Bacillus thuringiensis aizawai, em Laboratório.

Neotropical Entomology, Londrina, v.34, n.6, p.937-944, 2005.

FERRÉ, J.; VAN RIE, J. Biochemistry and enetics of insect resistance to Bacillus thuringiensis. Annual Review of Entomology, Stanford, v. 47, p. 501-533, 2002. GILL, S. S.; COWLES, E. A.; PIETRANTONIO, P. V. The mode of action of Bacillus thuringiensis endotoxins. Annual Review of Entomology, Stanford, v. 37,p. 615-636, 1992.

GUPTA, B. L.; DOW, J. A. T.; HALL, T. A.; HARVEY, W. R. Electron probe X-ray microanalysis of the effects of Bacillus thuringiensis var Kurstaki crystal protein insecticide on ions in an electrogenic K+-transporting epithelium of the larval midgut in the lepidopteran, Manduca sexta, in vitro. Journal of Cell Science, London, v. 74, p.137-152, 1985.

HAJI, F. N. P. PREZOTTI, L.; CARNEIRO, J. da S. ; ALENCAR, J. A. Trichogramma pretiosum para o controle de pragas no tomateiro. In: PARRA, J. R. P. et al.Controle biológico no Brasil, parasitóides e predadores. São Paulo: Manole, Cap.28, p.477-494. 2002.

HÖFTE, H.; WHITELEY, H. R. Insecticidal crystal protein of Bacillus thuringiensis.

Microbiol Reviews, Washington, v. 53, p. 242-255, 1989.

LAURENTIS, V. L. Variabilidade populacional de Plutella xylostella e

suscetibilidade à Bacillus thuringiensis. 2013. 71 f. Dissertação de Mestrado.

FCAV-Unesp, Jaboticabal, SP. 2013.

LOEB, M. J.; MARTIN, P. A .W.; HAKIN, R. S.; GOTO, S.; TAKEDA, M. Regeneration of cultured midgut cells after exposure to sublethal doses of toxin from two strains of Bacillus thuringiensis. Journal of Insect Physiology, Oxford, v. 47, p. 599-606, 2001.

MA, G.; SARJAN, M.; PRESTON, C.; ASGARI, S.; SCHMIDT, O. Mechanisms of inducible resistance against Bacillus thuringiensis endotoxins in invertebrates.

Insect Science, Elmsford, v. 12, p. 319-330, 2005.

MONNERAT, R. G.; BRAVO, A. Proteínas bioinseticidas produzidas pela

bactéria Bacillus thuringiensis: modo de ação e resistência, In: MELO, I.S.;

AZEVEDO, J. L (Eds.), Controle Biológico. Embrapa Meio Ambiente, Jaguariúna, 2000. p. 163-200.

NAVON, A. Bacillus thuringiensis insecticides in crop protection – reality and prospects. Crop Protection, Washington, v. 19, p. 669–676, 2000.

PEYRONNET, O.; VACHON, V.; BROUSSEAU, R. Effect of Bacillus thuringiensis toxins on the membrane potential of lepidopteran insect midgut cells. Applied

Environmental Microbiology, Washington, v. 63, n. 5, p. 1679-1684, 1997.

PRAÇA, L. B.; MARTINS, É. S.; MELATTI, V, M.; MONNERAT, R. G. Bacillus thuringiensis Berliner (Eubacteriales: Bacillaceae): Aspectos gerais, modo

de ação e utilização. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Brasília,

2007. 40 p. (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Documentos 239). PRATISSOLI, D.; POLANCZYK R. A.; VIANNA, U. R.; ANDRADE, G. S.; OLIVEIRA, R. G. S. Desempenho de Trichogramma pratissolii Querino & Zucchi (Hymenoptera, Trichogrammatidae) em ovos de Anagasta kuehniella (Zeller) (Lepidoptera, Pyralidae) sob efeito de Bacillus thuringiensis Berliner. Ciência

Rural, Santa Maria, v. 36, n. 2, p. 369-377, 2006.

SANTOS JR., H. J G. Seleção de Bacillus thuringiensis Berliner (Bacillaceae)

e populações de Trichogramma spp. (Westwood) (Hym.: Trichogrammatidae) para o controle de Helicoverpa zea (Boddie) (Lep.: Noctuidae). 2009. 77 f.

Tese (Doutorado em Entomologia Agricola) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2009.

SAYYED, A. H.; RAYMOND, B.; IBIZA-PALACIOS, M. S.; ESCRICHE, B.; WRIGHT, D. J. Genetic and biochemical characterization of field evolved resistance to Bacillus thuringiensis toxin Cry1Ac in Diamondback moth, Plutella xylostella. Applied and Environmental Microbiology, Washigton, v. 70, n. 12, p. 7010-7017, 2004.

SCHNEPF, H. E.; CRICKMORE, N.; VAN RIE, J.; LERECLUS, D.; BAUM, J.; FEITELSON, J.; ZEIGLER, D. R.; DEAN, D. H. Bacillus thuringiensis and its pesticidal crystal proteins. Microbiology and Molecular Biology Reviews, New york, v. 62, p. 775–806, 1998.

STARK J D, BANKS J E. Population-level effects of pesticides and other toxicants on arthropods. Annual Review of Entomology, Stanford, v. 48, p. 505-519. 2003. TRUMBLE, J.; ALVARADO-RODRIGUEZ. B. Development of economic evaluation of an IPM program for fresh market tomato production in Mexico. Agriculture,

Documentos relacionados