• Nenhum resultado encontrado

Importância da Educação Ambiental para a escola do campo

CAPÍTULO 01 DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO DO CAMPO

1.2 As concepções da Educação Ambiental

1.2.3 Importância da Educação Ambiental para a escola do campo

No Brasil, a Educação do campo se tornou realidade somente a partir das conferências promovidas pelas universidades e movimentos sociais. A proposta de educação voltada para a valorização do campo e do camponês é recente, no que tange à sua estrutura. O conceito de escola rural ou do campo sempre existiu, mas só recentemente é que o conceito de Educação do Campo ganhou um caráter ideológico no que tange a uma educação voltada para comunidades do campo; ela vem romper paradigmas antigos que permeavam a antiga educação rural e como era estruturada para reafirmação dos camponeses a uma realidade precarizada.

A tônica da educação rural foi uma educação urbana e hegemônica, aplicada ao campo em uma escola precária, desenvolvida por professores sem formação inicial adequada.

[...] É sabido que por décadas a presença de diversos agentes públicos construindo escolas precárias, contratando professores temporários, disponibilizando escasso material didático e pagando míseros salários tem sido não apenas uma presença nem sempre pautada pelo dever público de garantir direitos aos povos do campo. [...] (ARROYO, 2004, p. 93).

Ele ainda complementa descrevendo que a Educação do campo,

ficou paralisada, abandonada e reduzida aos primórdios do ensino primário porque entregue por décadas à articulação e às barganhas entre as forças locais e entre as forças centrais. Os avanços significativos havidos nas três últimas décadas não se fizeram presentes nas chamadas educação rural. O que sugere que não é qualquer “trato público” que garantira o direito a educação dos povos do campo. A política pública descolada da esfera política dos direitos perde qualquer sentido público. (ARROYO, 2004, p. 101).

Essa realidade da Educação do campo, segundo Arroyo (2004), se dá devido ao avanço do privado, o crescimento do agronegócio em detrimento da agricultura familiar,

a precarização da força de trabalho e as políticas públicas educacionais que priorizaram escolas nucleadas e multisseriadas para resolver o déficit escolar que o campo enfrenta.

O agronegócio e a expulsão da terra aumentam a tradicional precarização da força humana que trabalha e a degradação crescente das formas de produção da existência. A educação é diretamente afetada na medida em que desenraizam os povos da terra, da cultura e das formas de produção. [...] Não serão suficientes políticas pontuais, corretivas nem compensatórias, mas serão necessárias políticas publicas que tentem dar conta da complexa e esperançadora dinâmica do campo. (ARROYO, 2004, p. 96).

Sobre isso Fernandes, Cerioli e Caldart (2009) acrescentam:

[...] O rápido avanço do capitalismo no campo esteve baseado, no Brasil, em três elementos fundamentais: um desenvolvimento desigual, nos diferentes produtos agrícolas e nas diferentes regiões; um processo excludente, que expulsou e continua expulsando camponeses para as cidades e para regiões diferentes de sua origem; um modelo de agricultura que convive e reproduz simultaneamente relações sociais de produção atrasadas e modernas, desde que subordinadas ambas à lógica do capital. [...] (p. 28).

Compreendendo a EC, Caldart (2000) afirma que a escola do campo não é um modelo diferente de escola, ela é uma escola diferenciada a partir do momento em que reconhece e contribui para fortalecer os povos do campo enquanto sujeitos sociais. A EC poderá contribuir, de forma que os povos do campo tenham mais ação junto à sociedade, a partir do momento em que eles comecem a atuar levando sua história, cultura, saberes, e especificidades.

No sistema capitalista, o tempo é acelerado pela idéia do progresso, oculta o nosso passado e substitui pelo presente que também é efêmero. É com essa noção de temporalidade que se destituem as condições de existência no campo, quando tratam os trabalhadores como improdutivos, e a agricultura de base camponesa/familiar como incompatível com o progresso, pois somente o que interessa é a produção em larga escala, independentemente de quantos famintos aumentam por segundo no mundo. (JESUS, 2004, p. 120).

A EA não deve ser a mesma para o campo e para a cidade, uma vez que ela em sua essência se constitui como um processo educativo que propõe rever a sociedade a

partir da realidade do aluno, e, dessa forma, é necessário que ela contribua para a formação do sujeito na construção dessa nova especificidade capaz de questionar os paradigmas existentes da sociedade capitalista. Portanto, é imprescindível uma EA diferenciada para cada realidade, que valorize as questões locais e as fortaleça e que contribua para a transformação da sociedade em que essa EA se apresenta. Quando não se pensa a EA dessa forma, ocorre uma apropriação superficial do ato educativo.

Defendemos que o meio rural precisa de uma EA específica, diferenciada, isto é, alternativa, voltada aos interesses e ao desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos que moram e trabalham no campo. Ela deve ser uma educação que atenda às diferenças históricas e culturais, contribuindo para que o povo viva com dignidade e para que, organizados, resistam

contra a expulsão e a expropriação. (ZAKRZEVSKI , 2004, p.

84).

A EA que se propõe aqui, para a escola do campo, deve compreender as especificidades dessa realidade buscando coadunar os princípios da EA com a EC, já que ambas partem dos movimentos sociais ambientalistas (EA) e os do campo (EC), a favor da mudança societária e construção de novos valores.

A escola do campo por muitos anos foi renegada, posta de lado. Para as comunidades campesinas a “escolinha rural” era a único acesso ao conhecimento. Souza

(2008) afirma, em sua tese11, que para os assentados do sudoeste baiano a escola tem

um papel simbólico nesses assentamentos, pois é um referencial importante para as crianças e adolescentes. “Um dos aspectos que comumente os assentados referem-se com orgulho é a existência da Escola, que oferece o ensino do pré-escolar a 8ª série do 1º grau.” (SOUZA, 2008, p. 586).

A escola do campo, (assentamentos ou comunidades rurais), necessita ter um currículo diferenciado da escola urbana, consequentemente, a dimensão socioambiental que deve permear esse currículo deve trazer contribuições para a compreensão política da EC. A escola do campo não deve está à margem das transformações sociais, pois, dessa forma, ela enfraquece seu currículo, o papel da EA, e a formação de seus discentes.

11

SOUZA, S. T. Da negação ao discurso “hegemônico” do capital à atualidade da luta de classes no campo brasileiro. Camponeses em luta pelo/no território no Sudoesteda Bahia. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal de Sergipe. Núcleo de Pós-Graduação em Geografia. Departamento de Geografia. São Cristóvão, 2008.

Estamos entendendo por escolas do campo aquela que trabalha os interesses, a política, a cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas formas de trabalho e de organização, a sua dimensão de permanente processo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do desenvolvimento social e econômico igualitário desta população. A identificação política e inserção geográfica na própria realidade cultural do campo são

condições fundamentais de sua implementação. (FERNANDES;

CERIOLI; CALDART, 2009, p. 53).

A EA para as escolas do campo se faz importante. Ela pode contribuir para o discente camponês compreender suas relações com o espaço agrário, e como ele deve atuar enquanto protagonista de sua realidade, investigando-a e modificando-a, analisando as relações sociais e como elas são e estão estabelecidas. Sobre a contribuição da EA para as escolas do campo, tem-se que:

[...] O círculo do conhecimento, popular e acadêmico, tecido na urdidura da trama de uma educação do campo, propõe uma rede interconectada entre elos, nós e sentidos sob um desenho democrático e descentralizado de um único poder. Ancorada nestes significados, a EA deve propor a existência de uma comunidade de aprendizagem, com abandono de um “eu-isolado- periférico” para um “nóscoletivo-cooperativo”. A liberação e a libertação no interior de um grupo pesquisador reativa as potencialidades e democratiza espaços de participação. É o sentido de compreender a memória coletiva da cotidianidade rural, marginalizada pelos desmontes econômicos e esquecidos

pelas políticas públicas voltadas à condição urbana.

(ZAKRZEVSKI , 2004, p. 85).

Para as escolas do campo é importante que os seus projetos políticos deem conta da dimensão socioambientalem seus currículos. É necessário que a EA esteja presente nos documentos oficiais, nos projetos da Educação do campo, nos projetos políticos pedagógicos garantindo a interlocução entre as escolas do campo e a EA de forma interdisciplinar e crítica.

Não basta apenas a EA estar inserida nos documentos oficiais da escola, mas ela deve estar vinculada às causas, aos desafios, aos sonhos, à história e à cultura dos povos que vivem no meio rural. Precisamos encontrar um lugar apropriado para a EA dentro do

projeto educativo das escolas rurais12, bem como evidenciar e

12

Compreendo a diferença epistemológica e ideológica entre a Educação rural e Educação do campo, e compreendendo que a primeira já está superada em sua conceituação, mas como o artigo da autora data

fortalecer as relações entre a EA e outros aspectos da educação no campo. Precisamos ter cada vez mais claro qual é o papel político da EA no meio rural. Ela é um componente nodal e não apenas um acessório da educação, pois envolve a reconstrução do sistema de relações entre as pessoas, a sociedade e o ambiente natural [...]. Portanto, a EA pode colaborar na construção de uma

proposta educacional alternativa, contribuindo no

desenvolvimento de sociedades mais responsáveis.

(ZAKRZEVSKI , 2004, p. 85).

A EA deve promover um conhecimento crítico da realidade que entorna o ser humano. Zakrzevski (2004) afirma que a EA emancipatória no campo contribuirá para que seus sujeitos se percebam como protagonistas na apropriação e na elaboração do conhecimento, seja ele referente ao mundo natural ou ao cultural, fazendo-os compreender que eles são sujeitos ativos na mudança da realidade em que vivem.

Esse conhecimento crítico da realidade possibilita o sujeito agir de forma eficaz diante dos problemas que a sociedade a ele apresenta.

[...] se podemos afirmar que a vinculação do conhecimento a práticas sociais é fundamental para evitar a transmissão de conhecimentos que não levam à autonomia, isso tem de ser feito sob condições de clareza de questões que situa, o sentido prático da competência. Afinal, devemos ser competentes para o quê? Para quem? Caso essa problematização não seja explicitada, a tendência é desenvolver a competência para os interesses do mercado, para uma inserção individual competitiva que ignora o outro e os interesses públicos. Evidentemente, não estamos aqui defendendo uma escola que desconsidere as necessidades de fomentar o tensionamento dialético entre esse interesse e necessidade mais imediata e a função emancipatória e humanizadora da educação. (LOUREIRO, 2009, p. 12).

No pensamento de Loureiro (2009) se percebe a importância da EA na construção de conhecimentos capazes de levar o discente camponês a uma reflexão política e social do espaço em que ele está inserido e atuando de forma direta. A EA é importante para a escola do campo, justamente por possibilitar a interdisciplinaridade; por promover um pensar crítico sobre a relação homem e natureza, rompendo com essa dicotomia, e, ainda, por promover uma construção de saberes capazes de revelar um novo olhar para a sociedade campesina.

de 2004, anterior à política de Educação do Campo, conservei a terminologia, mas fica claro que ela queria se referir à Educação do Campo.