• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 01 DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO DO CAMPO

1.2 As concepções da Educação Ambiental

1.2.1 Por uma Educação Ambiental Crítica

A Educação Ambiental, na perspectiva crítica ou transformadora, vai ganhando corpo em sua discussão na década de 80 quando os educadores se aproximam dos movimentos sociais e quando as ciências sociais passam a contribuir com seus objetos para a análise da EA, reformulando o pensar acerca das concepções que se tinha, até então, de uma EA conservadora e meramente instrumentalizadora.

Loureiro (2004) afirma que a aproximação de educadores envolvidos com a educação popular e instituições públicas de educação junto aos militantes de

9

Para compreender melhor a concepção de sociologia ambiental, ler LAYRARGUES, Philippe Pomier - Muito prazer, sou a Educação Ambiental, seu novo objeto de estudo sociológico. Acessado em: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro1/gt/teoria_meio_ambiente/Philippe%20Pomier%20 Layrargues.pdf.

movimentos sociais e ambientalistas com foco na transformação societária e no questionamento radical aos padrões industriais e de consumo consolidados no capitalismo contribuiu para o caráter crítico que a EA ganhou.

Compreendendo a sociedade atual da forma que está posta, vê-se que são muitos os desafios que a educação necessita transpor. A EA não está longe dessa perspectiva. Segundo Loureiro (2009):

Para Tertulian (2004, p.07) „se a essência do homem se define como a totalidade das relações sociais, então a realização e a libertação do gênero humano estão indissociavelmente ligados à transformação do mundo.‟ E, acrescentaríamos, à superação do capitalismo como condição indissociável de construção de uma nova sociedade que seja a expressão e a condição de tal emancipação e de relação não – alienadas na natureza. (p. 08).

A Educação ambiental se configura emancipatória, a partir do momento em que promove um rompimento da dicotomia natural e social e se apresenta enquanto processo educativo capaz de trazer à tona uma concepção renovada das questões socioambientais.

A reflexão desta perspectiva de educação ambiental torna -se crítica ao perceber, problematizando e complexificando, os antagonismos e complementaridades da realidade em suas múltiplas determinações materiais, epistemológicas, culturais,

entre outras, instrumentalizando para uma prática de

transformação desta realidade, a partir da construção de uma nova percepção que se reflete em uma prática diferenciada […]. (GUIMARÃES, 2006, p. 26).

Compreendendo o papel emancipatório da educação para uma transformação profunda na base societária, vê-se que a EA, enquanto educação política, não se furta do seu papel crítico ao analisar os processos sociais e compreender a práxis educativa como construtora de valores. A Educação Ambiental que aqui se discute parte da concepção de uma EA crítica e emancipatória que é concebida como uma Educação Ambiental de

[...] práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais, individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade– natureza. Dessa forma, para a real transformação do quadro de

crise estrutural e conjuntural em que vivemos, a Educação Ambiental, por definição, é elemento estratégico na formação de

ampla consciência10 crítica das relações sociais e de produção que

situa, a inserção humana na natureza. (LOUREIRO, 2005, p. 69).

Faz-se mister entender de que educação se está partindo, para entender o objeto aqui analisado. A educação não é nem deve ser encarada como um produto social; pelo contrário, deve partir dela a emancipação humana, a superação do sistema que existe hoje.

Para promover uma aprendizagem significativa e fazer com que a emancipação aconteça a educação necessita estar pautada em novos paradigmas, uma vez que o atual, da racionalidade, não permite que a escola cumpra sua função social.

O que existe é uma escola que recebe, a todo o momento, políticas pensadas pelo Estado sem uma construção participativa dos sujeitos, que, por sua, vez não se veem como parte do processo que eles mesmos desenvolvem e no qual estão inseridos. É preciso pensar uma outra escola, uma outra atividade educativa,

[...] quando pensamos em mudar a realidade em busca de novos patamares societários na natureza, não bastam a ação comunicativa, a razoabilidade argumentativa e a alteridade. Esses valores e o diálogo devem ser construídos na prática pedagógica vinculados à compreensão crítica dos interesses, necessidades e conflitos estabelecidos em dada organização social, no caso, uma organização capitalista, portanto, desigual no uso e apropriação da base vital e na distribuição do que é socialmente criado, produzido. (LOUREIRO, 2009, p. 06).

Loureiro (2007) apresenta a importância e relevância de se compreender de que emancipação humana a EA discute quando afirma que, no Brasil , os ambientalistas de origem anarquista afirmam que o pensamento marxista serve apenas parcialmente para explicar a emancipação, e essa reflexão gera um erro de compreensão, pois o que se deve é a busca da emancipação como um todo, tendo a lucidez de entender que essa não acontecerá sem a superação da expropriação, da legitimação de preconceitos e outras formas de dominação.

10 Segundo o autor, a consciência a que ele se reporta é aquela entendida no sentido proposto por Paulo Freire (1983), em Pedagogia do Oprimido, que implica o movimento dialético entre o desvelamento crítico da realidade e a ação social e transformadora, segundo o princípio de que os seres humanos se educam reciprocamente e mediados pelo mundo.

A EA transformadora ou crítica tem como finalidade revolucionar os indivíduos em suas subjetividades e práticas nas estruturas sociais e naturais existentes. Para Loureiro (2004), essa EA se propõe atuar criticamente na superação das relações sociais vigentes, na conformação de uma ética que possa se afirmar como „ecológica‟ e na objetivação de um patamar societário que seja a expressão da ruptura com os padrões dominadores que caracterizam a contemporaneidade.

A Educação Ambiental Transformadora enfatiza a educação enquanto processo permanente, cotidiano e coletivo pelo qual agimos e refletimos, transformando a realidade de vida. (…) Baseia-se no princípio de que as certezas são relativas; na crítica e autocrítica constante e na ação política como forma de se estabelecer movimentos emancipatórios e de transformação social que possibilitem o estabelecimento de novos patamares de relações na natureza (LOUREIRO, 2004, p. 81).

Ainda afirma que,

[...] a educação transformadora busca redefinir o modo como nos relacionamos conosco, com as demais espécies e com o planeta. Por isso é vista como um processo de politização e publicização da problemática ambiental por meio do qual o indivíduo, em grupos sociais, se transforma e à realidade.” (LOUREIRO, 2004, p. 81).

Essa Educação Ambiental requer “a construção de novos objetos interdisciplinares de estudo, através da problematização dos paradigmas dominantes, da formação dos docentes e da incorporação do saber ambiental emergente em novos programas curriculares.” (LEFF, 1999, p. 115).

A proposta da EA crítica transpõe a separação do homem da natureza. Ela analisa a relação em sua unicidade, não dissocia ambos; ela rompe com a dicotomia teoria e prática, compreende a práxis educacional como atividade educativa capaz de mudar e superar a realidade.

[...] Em uma perspectiva crítica, o melhor em termos ambientais é o resultado da dinâmica social, não podendo ser confundido com uma construção idealmente concebida por setores dominantes que falam genericamente em nome da salvação do planeta. (LOUREIRO, 2005, p. 71) (grifos do autor).

A discussão da relação homem e natureza transcende a ideia de somente salvar o planeta. Compreender essa relação ontológica é imprescindível para perceber que existe

a urgência de uma nova EA capaz de compreender a totalidade dessa relação, sem dicotomizar o social do ambiental como se fossem partes antagônicas. Esse pensamento ultrapassado enfraquece as estruturas de uma EA crítica e se põe em uma postura condescente ou passiva em relação ao sistema capitalista.

1.2.2 A afirmação do local frente às questões globais: Uma questão da EA no