• Nenhum resultado encontrado

4 A ÁREA DE ESTUDO E SUA LOCALIZAÇÃO

8.1 A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA

A qualidade da água talvez seja um dos aspectos mais carentes de informação na área estudada, embora seja necessário que a água apresente um determinado padrão de qualidade, e seja monitorada com a freqüência devida. O monitoramento da qualidade constitui a forma mais importante de instrumentalizar a gestão dos recursos hídricos e a saúde pública. A possibilidade de exposição das pessoas a fatores de risco potentes para produzir doenças, requer um olhar sistêmico sobre os processos que envolvem os recursos ambientais, de modo a permitir que se amplie a compreensão sobre a saúde ambiental, e sobre as ações necessárias à sua manutenção.

A ninguém é lícito conspurcar ou contaminar as águas que não consome, com prejuízo de terceiros. [...] que os trabalhos para a salubridade das águas sejam realizados à custa dos infratores que, além da responsabilidade criminal, se houver, também respondam pelas consequentes perdas e danos, e por multas (BRASIL/CASA CIVIL, 1934, art. 109 e 110).

A qualidade da água está diretamente relacionada com a forma como cuidamos do solo, do ar e das florestas, que são mantenedores de serviços essenciais à vida no planeta. Desconsiderá-los, pode colocar em condição de vulnerabilidade a própria sobrevivência humana.

As principais doenças de origem hídrica, relacionadas com as condições da água e a ausência de saneamento, vão desde as diarréias e infecções de pele, até hepatites infecciosas, esquistossomose, malária, dengue, verminoses, escabioses, problemas neurológicos e gastrintestinais, podendo ser letais à vida humana (Quadro 11). Ainda assim, agrotóxicos e metais pesados não são monitorados com a frequência9 devida nos sistemas de abastecimento público.

Segundo Clarke e King (2005), os produtos químicos utilizados na fertilização agrícola escoam para rios e lagos pela lixiviação do solo, provocando a contaminação da água que abastece a população. Fosfatos e nitratos espalhados pelos solos para promover o crescimento das

123 plantações podem apresentar efeitos desastrosos, promovendo a proliferação de algas e colocando em risco a sobrevivência da ictiofauna. “Os nitratos dos suprimentos de água estão se tornando uma ameaça para os seres humanos e os animais” (Clarke e King, 2005, p.36). Ainda segundo esses autores, o emprego de água rica em nitrato para irrigar as plantações que também são fertilizadas, pode reduzir a produtividade e tornar a lavoura vulnerável a pragas e doenças, podendo induzir ao aumento do uso de pesticidas.

Substância Efeitos nocivos à saúde humana

Arsênio Em doses baixas causa debilidade muscular, perda de apetite e náuseas. Em doses altas compromete o sistema nervoso. Cádmio Provoca desordem gastrintestinal grave, bronquite, enfisema,

anemia e cálculo renal.

Chumbo Provoca cansaço, ligeiros transtornos abdominais, anemia e irritabilidade.

Cianetos Pode ser fatal em doses altas.

Cromo Em doses baixas causa irritação nas mucosas gastrintestinais, úlcera e inflamação da pele. Em doses altas causa doenças no fígado e rins, podendo levar à óbito.

Fluoretos Em doses baixas melhoram a fertilidade, o crescimento e a proteção contra cáries em crianças e adolescentes. Em doses altas provocam inflamação no estômago e intestinos com hemorragias, e fluorose com danos aos ossos e dentes. Mercúrio Causa transtornos neurológicos e renais, efeitos tóxicos nas

glândulas sexuais, altera o metabolismo do colesterol e provoca mutações.

Nitratos Causam deficiência de hemoglobina no sangue de crianças, podendo levar à morte por cianose.

Prata É fatal para as pessoas em doses altas. Provoca a descoloração da pele, dos cabelos e das unhas. Aldrin e

Dieldrin

Afetam o sistema nervoso central. Em doses altas são fatais para os humanos.

Benzeno Exposição aguda ocasiona depressão. Estudos sugerem relação entre exposição a benzeno e leucemia. Clordano Provoca vômitos e convulsões. Pode causar mutações. DDT Causa problemas principalmente no sistema nervoso central. Lindano Irritação do sistema nervoso central, náuseas, vômitos, dores

musculares e respiração debilitada.

Quadro 11: Componentes químicos que afetam a saúde humana e seus efeitos. Fonte: BARBOSA, 2008; CLARKE e KING, 2005; MENDES e OLIVEIRA, 2004.

124 Por sua vez, a indústria utiliza cerca de 20% da água doce consumida no planeta (CLARKE e KING, 2005), e 70% do efluente industrial nos países em desenvolvimento é despejado nos corpos hídricos sem tratamento, poluindo mananciais superficiais e subterrâneos. Entre as substâncias presentes nos efluentes industriais estão os poluentes orgânicos que esgotam o oxigênio da água, metais pesados como o chumbo e o mercúrio, e produtos químicos persistentes que permanecem no ambiente por muito tempo, concentrando-se na cadeia alimentar. E estão relacionados a graves danos à saúde.

A qualidade da água - assim como a saúde humana - resulta da qualidade das ações humanas no ambiente. Nesse sentido, os desafios na construção da sustentabilidade, estão interligados à promoção do saneamento, da saúde e da educação.

A saúde, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o estado de completo bem-estar físico, mental e social, indica para a importância do saneamento no controle dos fatores do meio físico, que possam exercer efeito deletério sobre a saúde (BARBOSA, 2008). Uma percepção mais esclarecida dos riscos decorrentes da precariedade do saneamento ambiental poderia evitar inúmeros problemas à saúde pública, e desonerar a sociedade dos gastos com doenças.

Considera-se, nesta perspectiva, que os recursos destinados à manutenção da saúde pública por meio de tratamentos, internações e medicamentos, são “gastos” realizados na tentativa de recuperar a saúde ou amenizar a doença e, portanto, não deveriam ser considerados “investimentos em saúde pública”.

Assim sendo, os recursos públicos destinados à saúde, deveriam primar pelo princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (BRASIL/CF, art. 1º, III), ter rigorosa aplicação em políticas de prevenção (BRASIL/CF, art. 198, II), e no sentido de coibir a degradação ambiental, de forma a contribuir efetivamente para a manutenção de condições ambientais favoráveis à saúde da população.

8.2 OS PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS

Documentos relacionados