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4 A ÁREA DE ESTUDO E SUA LOCALIZAÇÃO

4.3 A BACIA DO RIO JACUTINGA

4.3.8 Os fatores de poluição na bacia do Rio Jacutinga

4.3.8.1 A pecuária intensiva

Santa Catarina era no ano 2000, o maior produtor de suínos do Brasil, responsável por 24% da produção e 60% da exportação nacional, Segundo publicação da FIESC (apud ICEPA, 2002). Em 2011, nos 10 municípios que compõe a bacia do rio Jacutinga existiam 293.684 bovinos, 1.211.164 suínos e 20.095.462 aves (IBGE, 2011).

Considerando a área total dos 10 municípios que compõe a bacia do rio Jacutinga, que é de 3.858,50 km2, a densidade pecuária média em 2011 era de 76 bovinos, 314 suínos e 5.208 aves/km2 (Figura 23).

Figura 23: Densidade de bovinos, suínos e aves dos municípios da bacia do rio Jacutinga em 2011.

Fonte: IBGE CIDADES, 2011.

A atividade suinícola compreende um rebanho mundial de 787 milhões de cabeças e representa 40% do total da carne consumida, constituindo-se na principal fonte de proteína animal no planeta (MIRANDA, 2007).

Reflexo da adoção de um pacote tecnológico altamente internacionalizado, o número de grandes propriedades tem crescido

77 significativamente (mais de 2.000 cabeças nas granjas), numa dramática concentração da atividade. Nos Estados Unidos da América (EUA), de um total de 750 mil produtores em 1974 passou-se a 157 mil no final de 1996, e o número de animais permaneceu o mesmo. Apenas 3% dos produtores respondem por 51% do total de suínos produzidos. Como conseqüência da concentração da produção mediante o aumento do número de suínos por unidade de área, ocorreu um impacto ambiental altamente negativo em determinadas regiões (MIRANDA, 2007).

Em alguns estados americanos tem acontecido um maior rigor na aplicação da legislação, e o estabelecimento de um limite para cada propriedade, como forma de diminuir os impactos sociais e ambientais negativos da atividade (NRCS, 1997).

Considerando a União Europeia EUA e Brasil, a densidade de animais por unidade de área no Brasil é baixa (Tabela 03).

País População Suínos Suínos per

capita Área (km3) suínos/ Dens. km2 Alemanha 83.251.851 26.251.000 0,32 357.021 73,53 Reino Unido 59.778.002 5.330.000 0,09 244.820 21,77 França 59.765.983 15.271.000 0,26 547.030 27,92 Itália 57.715.625 9.166.000 0,16 301.230 30,43 Espanha 40.077.100 23.518.000 0,59 504.782 46,59 Holanda 16.067.754 11.154.000 0,69 41.526 268,60 Grécia 10.645.343 903.000 0,08 131.940 6,84 Bélgica 10.274.595 6.600.000 0,64 30.510 216,32 Portugal 10.084.245 2.344.000 0,23 92.391 25,37 Suécia 8.876.744 1.989.000 0,22 449.964 4,42 Áustria 8.169.929 3.305.000 0,40 83.858 39,41 Dinamarca 5.368.854 12.879.000 2,40 43.094 298,86 Finlândia 5.183.545 1.423.000 0,27 337.030 4,22 Irlanda 3.883.159 1.782.000 0,46 70.280 25,36 Luxemburgo 448.569 76.000 0,17 2.586 29,39 UE-15 379.591.298 121.991.000 0,32 3.238.062 37,67 EUA 280.562.489 58.900.000 0,21 9.629.091 6,12 Brasil 176.029.560 35.500.000 0,20 8.511.965 4,17

Tabela 03: Comparativo da população suína em relação à população humana e à área total dos principais produtores mundiais de suínos.

Fonte: SEGANFREDO, 2007.

No entanto, as médias nacionais não constituem bons indicadores da real pressão da atividade sobre os recursos naturais, pela concentração da produção em determinadas regiões. O critério mais

78 adequado para se avaliar essa concentração é aquele que considera o rebanho total comparativamente à Superfície Agrícola Útil (SAU) para a destinação dos nutrientes gerados. A Superfície Agrícola Útil é a área de terra arável, ou seja, o conjunto de terras que se pode aproveitar para o cultivo agrícola (SEGANFREDO, 2007).

Índices elevados de concentração animal por unidade de área aumentam a vulnerabilidade ambiental. A densidade populacional da pecuária nos municípios da bacia do rio Jacutinga indica uma superpopulação de animais em alguns dos municípios e permite estimar o volume de efluentes produzidos. Dos tipos de pecuária praticados, a densidade suinícola é a mais preocupante, pelo volume de efluentes gerados. Comparando-se a densidade média de suínos no Brasil, que é considerada baixa (Tabela 03), nos municípios da bacia do rio Jacutinga, as maiores densidades estão nos municípios de Arabutã (901 suínos/km2), Itá (609 suínos/km2)e Lindóia do Sul(627 suínos/km2).

Para a pecuária bovina, as maiores densidades estão nos municípios de Arabutã (136 bovinos/km2), Itá (127 bovinos/km2), e Lindóia do Sul (122 bovinos/km2).

Para a avicultura, as maiores densidades estão nos municípios de Ipumirim (16.406 aves/km2), Arabutã (15.447 aves/km2), e Catanduvas (10.476 aves/km2) (Tabela 04). MUNICÍPIO Área (km²) População total Pop.

hab./km2 Bovinos /km2 Suínos /km2 Aves /km2

Água Doce 1.313,02 6.961 5,3 50 50 677 Arabutã 132,23 4.193 31,71 136 901 15.447 Catanduvas 198,03 9.555 48,25 32 45 10.476 Concórdia 797,26 68.621 86,07 111 528 6.965 Ipumirim 247,07 7.220 29,22 96 425 16.406 Irani 327,05 9.531 29,14 65 424 1.917 Itá 165,46 6.426 38,84 127 690 8.693 Jaborá 191,12 4.041 21,14 85 577 9.100 Lindóia do Sul 188,64 4.642 24,49 122 627 5.527 Vargem Bonita 298,61 4.793 16,05 32 37 2.128 Tabela 04: Comparativo da densidade populacional nos municípios da bacia do rio Jacutinga em relação à densidade pecuária em 2011.

79 A suinocultura catarinense destaca-se pela competitividade internacional e pela produtividade. Ocupa cerca de 12 mil suinocultores em escala comercial e outros 12 mil com produção de subsistência, num rebanho permanente de 6,2 milhões de cabeças. É responsável por 25% da produção nacional, que é de 2,7 milhões de toneladas/ano, e participa com 28% das exportações brasileiras (IBGE, 2011).

O mercado nacional de suínos está concentrado em cinco grandes empresas, todas com matriz em Santa Catarina, e essas empresas detêm 60% dos abates e 70% dos negócios suinícolas do país, sendo que, dos abates totais, 82% originam-se nos sistemas integrados. Paralelamente a estes sistemas integrados, existem cerca de 120 pequenos e médios frigoríficos com inspeção federal, estadual e municipal, que abatem em média 100.000 animais/mês oriundos de pequenos e médios produtores, mas que têm grande importância econômica e social (ACCS, 2009).

Do rebanho catarinense, 79% encontra-se na região Oeste, participando com 21,43% do PIB Estadual (ICEPA, 2005). A atividade emprega diretamente em torno de 65 mil trabalhadores e, indiretamente, mais de 140 mil pessoas (ACCS, 2009).

Segundo o Levantamento Agropecuário Catarinense – LAC, que pesquisou 230.157 estabelecimentos agrícolas nos 293 municípios catarinenses por um ano, no período entre setembro de 2002 e agosto de 2003, o desenvolvimento regional está diretamente relacionado ao setor agropecuário, caracterizado pela predominância de pequenas unidades familiares de produção diversificada, caracterizando o Estado de Santa Catarina como um dos seis principais produtores de alimentos (ICEPA, 2005), resultado da especialização das regiões geográficas do Estado, fato esse que tem se mostrado benéfico ao progresso econômico pela melhoria dos índices de produtividade.

É possível evidenciar a importância da produção de suínos e aves no Estado de Santa Catarina e, neste contexto, a relevância da RH3 e da área de abrangência do Sistema Jacutinga, importante produtora de alimentos com suporte na pecuária intensiva de suínos e aves. A produção de suínos está concentrada nas microrregiões geográficas de Concórdia, Joaçaba (RH3), e Chapecó (RH2), as quais ocupam as três primeiras colocações e juntas produzem 55,6% da produção estadual de suínos. As mesmas microrregiões contribuem com 61,5% da produção estadual de aves. Segundo o ICEPA (2002), a especialização regional na produção dos principais produtos agropecuários catarinenses, evidencia

80 suas características hidrológicas favoráveis, fator determinante na instalação aí da agroindústria de alimentos.

A microrregião de Concórdia, composta pelos municípios da AMAUC, é a maior produtora de suínos e aves do Estado (Tabela 05).

1. Produtos Primeira MICRORREGIÃO PRODUTORA (%) Segunda Terceira Total % Frango Concórdia 23,5 Joaçaba 21,5 Chapecó 16,5 61,5 Suínos Concórdia 23,8 Joaçaba 17,7 Chapecó 14,1 55,6 Tabela 05: Percentual do Valor Bruto de Produção - VBP das 03 principais microrregiões geográficas, para os produtos da agropecuária de SC – 2001. Fonte: ICEPA, 2005. (adaptado pela autora)

O município de Concórdia, pólo regional da área de abrangência do Sistema Jacutinga, apresenta significativa tendência de crescimento na produção de suínos (Figura 24) com uma densidade de 528 suínos/km2.

Figura 24: Produção de suínos no município de Concórdia em 2004 e 2011. Fonte: IBGE CIDADES, 2011.

A preocupação com a concentração suinícola deve-se, especialmente pelo volume de efluentes e pela degradação ambiental, além da dependência de fontes permanentes de água de boa qualidade.

81 Embora a concentração pecuária em determinadas microrregiões facilite o desenvolvimento destas atividades pela especialização e produtividade, é relevante que sejam avaliados os impactos negativos dessa opção econômica, e as possíveis relações entre o crescimento da produção intensiva de suínos e aves e os episódios de escassez hídrica que têm se repetido nos últimos anos, além de suas conseqüências diretas para a qualidade ambiental.

Analisando-se os dados de densidade populacional na área dos 10 municípios que compõem a bacia do rio Jacutinga, tem-se uma população humana de 125.983 habitantes, equivalente a uma densidade média de 33 hab/km2.5 A densidade populacional da pecuária nesses municípios, porém, aponta para a necessidade de planejamento integrado, considerando-se o volume de resíduos e efluentes gerados por cada um desses segmentos pecuários.

A poluição hídrica é uma dolorosa realidade em diferentes partes do planeta. Considerando-se o descaso habitual com a destinação de resíduos, pode-se dizer que a vulnerabilidade ambiental é merecedora de atenção. A contaminação do ar e dos solos fatalmente vai contribuir para a poluição hídrica, ao resultar em cargas poluentes que podem se infiltrar no ambiente subterrâneo, ampliando os riscos de poluição desses mananciais, da mesma forma que o uso do solo é determinante na redução dos riscos de poluição e vulnerabilidade dos recursos hídricos (SCHEIBE et al., 2012).

Assim como a preservação de florestas nativas indica a ausência de carga poluente, a presença de adensamentos urbanos, industriais e de pecuária intensiva, de monoculturas de exóticas dependentes de fertilizantes químicos e agrotóxicos, constitui fator de risco e aponta para o aumento da degradação dos corpos hídricos.

Observou-se em campo que apenas uma pequena parcela da bacia em estudo é utilizada no cultivo, especialmente de grãos como milho, soja, trigo e feijão (culturas temporárias), e parte dessa área abriga cultivos permanentes com destaque para a produção de maçã, cana-de- açúcar, erva-mate, laranja e uva, cultivares esses que recebem volumes significativos de fertilizantes químicos. Ainda assim, a determinação dos usos da terra, pode permitir uma melhor percepção dos riscos de poluição aos recursos hídricos, bem como, amenizar os eventos de

5 Como apenas as sedes dos municípios de Catanduvas, Vargem Bonita e Arabutã

localizam-se na área de abrangência da bacia do rio Jacutinga, a densidade populacional na mesma é menor que a média calculada para a área total dos municípios.

82 poluição se manejada com o uso de culturas que poderiam assimilar maiores concentrações de nutrientes.

A bacia do Rio Jacutinga, originalmente coberta por densa floresta de Araucárias na porção médio-montante e por floresta estacional decidual na porção médio-jusante, ainda preserva boa cobertura vegetal, com 42% de sua área marcada por florestas nativas e em diferentes estágios de regeneração. Sua topografia bastante ondulada, nas porções médio-jusante, não permite processos de mecanização agrícola, porém, na porção montante há ocorrência de áreas mais planas em altitudes próximas a 1000 metros, onde se observam cultivos mecanizados e produção de grãos.

O uso da terra na bacia do rio Jacutinga evidencia o predomínio de florestas em diferentes estágios, em 41,68% da área, pastagens e campos naturais em 37,25%, agricultura em 12,18%, reflorestamentos em 6,50%, e apenas 0,74% de áreas urbanizadas (Quadro 02).

Sobre a poluição hídrica na bacia do rio Jacutinga, a questão mais preocupante decorre da concentração suinícola aliada à topografia fortemente ondulada. Primeiro pela inexistência de área agrícola suficiente para a destinação do volume de dejetos aí produzidos, e pelo escorrimento desses em momentos de grande pluviosidade, facilitado pela topografia. Segundo, pela acentuada perda de solos e sedimentos carreados pelas precipitações, mesmo quando apenas pequenas áreas encontram-se descobertas, ampliando a vulnerabilidade das águas e os custos de sua potabilização, além de concorrer para o acúmulo de sedimentos nos leitos dos corpos hídricos.

83 5 ÁGUA PARA O ABASTECIMENTO PÚBLICO

A água, recurso essencial à manutenção da vida, é um bem comum, cujo acesso deve ser assegurado a todas as pessoas, em quantidade suficiente e qualidade adequada à saúde e ao bem-estar.

Enquanto recurso natural dotado de valor econômico (Lei 9433/97, art. 1º. § II), requer a responsabilidade pública para fazer valer a garantia de acesso e a qualidade necessária. Como recurso natural, a água entra nas agendas internacionais, em decorrência da preocupação com a degradação crescente dos corpos hídricos superficiais, e da intensidade também crescente da perfuração de poços profundos, em busca de águas de melhor qualidade.

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