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Importância da Regulação para Competição e o Investimento na Indústria de Gás

CAPITULO I: O SEGMENTO DO TRANSPORTE E SUA IMPORTÂNCIA NA

Seção 2.3: A importância da Regulação no processo da Abertura na Indústria de GN: O

2.3.3 Importância da Regulação para Competição e o Investimento na Indústria de Gás

Natural:

Helm e Jenkinson (1998) assinalam que as dificuldades encontradas no processo de transição de estruturas integradas verticalmente para estruturas competitivas justificam a importância da regulação no desenvolvimento tanto da competição, como no investimento nas indústrias de rede. Sendo assim, o regulador tem diferentes caminhos e modelos regulatórios disponíveis para atingir os objetivos propostos.

2.3.3.1 A Regulação no Investimento:

Mudar o padrão de competição afeta, diretamente, a natureza dos contratos de capacidade, os quais demandam estruturas regulatórias que corrijam os novos tipos de incertezas. Estas últimas são originadas pela incompletude dos contratos e o comportamento oportunista dos carregadores que, junto com as especificidades dos ativos, explicam os elevados custos de transação presentes no segmento de transporte, que podem comprometer a expansão da malha de dutos.

71 Para Almeida e Colomer (2013), a questão dos investimentos nas redes de transporte e distribuição, são temas importantes para a regulação da IGN. Nas fases iniciais caracterizadas por monopólios verticalmente integrados, os riscos dos investimentos em infraestrutura são mitigados pela propriedade comum dos ativos de transporte e da commodity. Mesmo quando o monopólio tem seu preço regulado, para evitar a cobrança de preços abusivos dos consumidores, a regulação tarifária tenta manter garantido a remuneração do investimento, daí a tradição de se regular os monopólios na indústria de gás pela metodologia do custo de serviço.

Com a liberalização dos mercados de GN e a introdução da competição, os riscos dos investimentos em infraestrutura se elevam já que a remuneração sobre o capital investido passa a sofrer influência do comportamento oportunistas dos carregadores. Portanto, na falta de uma regulação adequada para tratar destes riscos, os investimentos na rede podem não ocorrer nos níveis desejados.

Para evitar esta situação, os autores propõem criar incentivos regulatórios para os investimentos nos contratos de outorga34. No caso do regime de autorização, o empreendedor é autorizado a construir um duto por sua conta e risco. Em outros termos, ele deve negociar por sua conta os contratos de transporte, além de negociar as tarifas, e assumir os riscos inerentes ao negócio. Em um regime de concessão, o regulador estabelece as tarifas, a fim de garantir ao investidor uma remuneração mínima sobre o capital, além de, em muitos casos, ser o responsável pela alocação primária da capacidade de transporte. Logo, a concessão representa um menor risco para os investidores.

Outra forma de incentivar os investimentos mediante a regulação é a incitação dos mesmos dentro de um esquema de qualidade. Por exemplo, em alguns países é adotada uma regulação específica para incentivar a qualidade dos serviços nas indústrias de infraestrutura. A agência reguladora poderia estabelecer e monitorar os indicadores de qualidade dos serviços prestados (ALMEIDA, et al., 2013).

34 As atividades de transporte e distribuição são consideradas serviços de utilidade pública. Elas são realizadas por empresas

públicas ou privadas mediante a outorga do Estado. As outorgas se classificam em dois tipos básicos: regime de concessão ou regime de autorização (ALMEIDA, et al., 2013).

72 Em síntese, a criação de mecanismos para incentivar a realizar investimentos é um dos objetivos mais importantes da regulação, já que é possível expandir a malha de dutos, para alcançar um maior grau de maturidade e, por conseguinte, uma eficiência alocativa do mercado e superar o trade-off comum nas indústrias de rede.

2.3.3.2 A Regulação na Competição:

Com a abertura e a liberalização da IGN, se originaram dois mercados: (i) o mercado de gás natural, onde é comercializado o GN como commodity, e (ii) o mercado de transporte, que permite aos agentes comercializarem os serviços necessários para o transporte do gás natural pelos gasodutos (COLOMER, 2010a).

Segundo Colomer (2010a), a definição das condições de acesso de terceiros às malhas de transporte e das regras de alocação primária e secundária de capacidade de transporte, a delimitação dos diferentes mercados de capacidade, a separação dos direitos de propriedade e a regulação tarifária dos setores de monopólio natural são essenciais para criar mercados competitivos de transporte de gás natural, que podem ser de três tipos conforme a tabela abaixo:

Tabela No. 5: Tipos de mercado e suas características.

TIPO DE

MERCADO CARACTERÍSTICAS

PRIMÁRIO

 Refere-se a venda de capacidade pelas empresas de transporte aos carregadores iniciais.  Sua estruturação depende da separação dos direitos de propriedades da capacidade de

transporte

 O arcabouço regulatório define as regras de alocação, a duração dos contratos, as diferentes modicidades contratuais permitidas (firme, quase-firme, interruptível) e a metodologia tarifária utilizada pelas empresas de transporte

Caracteriza-se pela predominância de contratos de longo prazo com cláusulas de ship- or-pay, devido ao elevado retorno dos investimentos, especificidade dos ativos e a ociosidade.

 A estrutura tarifária é composta por: tarifa de reserva de capacidade (para cobrir os custos de investimento) e a tarifa de operação do serviço de transporte, que só é cobrada quando são usados os dutos de transporte

SECUNDÁRIO

 Define-se como a venda de capacidade de transporte para qualquer carregador diferente do carregador inicial, seja pela empresa transportadora ou por outros carregadores  Risco de adotar um comportamento oportunista por parte dos transportadores e uma

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 Para evitar este tipo de comportamentos pode ser adotada uma estrutura tarifária com uma parcela de reserva, penalizando a não liberação da capacidade ociosa

Estabelecimento de cláusulas de use-it-or-lose-it35 para liberar a capacidade ociosa

AJUSTE

 Corrige os problemas relacionados ao equilíbrio do fluxo de gás na rede, uma vez feita a separação dos direitos de propriedade e a definição do direito de acesso às redes de transporte

 Surge pela necessidade de ajuste que devem fazer os carregadores e os operadores do sistema dadas as oscilações na demanda pelos serviços de transporte

 Seu funcionamento depende da definição clara da propriedade das capacidades, do estabelecimento das penalidades a serem impostas aos carregadores em desequilíbrio e de um elevado número de carregadores

Fonte: Elaboração Própria. A partir da informação de (COLOMER, 2010a).

Note-se que, nos mercados de capacidade, os contratos desempenham um papel importante beneficiando a todos os agentes. Os agentes escolhem o tipo de contrato que melhor se ajusta as suas necessidades, dessa forma, cada participante da indústria monta seu portfólio de contratos, com o objetivo de minimizar seus custos e riscos, além de maximizar seus ganhos.

Concluindo, a regulação na competição é essencial para o funcionamento do mercado, especialmente em países com um reduzido grau de maturidade, os quais precisam de um arcabouço normativo claro e definido para o correto desenvolvimento da IGN.

Seção 2.4: As Trocas Operacionais como mecanismo para incentivar a Competição no segmento de transporte de gás natural.

O processo de liberalização da indústria de gás natural intensificou as transações comerciais de commodity, exigindo uma maior flexibilidade do mercado de capacidade de transporte. Na análise feita por Colomer (2010a), em uma estrutura desverticalizada, fatores como as especificidades dos ativos, os altos investimentos em ativos fixos e as economias de escala exigem uma série de garantias contratuais que reduzam os riscos de possíveis comportamentos oportunistas adotados pelos utilizadores da rede.

35 Neste tipo de clausulas, o carregador não possui o direito de propriedade sobre a capacidade de transporte contratada (usada

ou não), razão pela qual, o transportador possui o direito de revender a capacidade não utilizada para outros carregadores (COLOMER, 2010a).

74 De acordo com o exposto por Juris (1998), a abertura do mercado final de GN e a introdução da concorrência36 demandam serviços de transporte mais flexíveis e competitivos às empresas transportadoras. Nesse cenário, os contratos de longo prazo que garantem a viabilidade econômica dos investimentos na malha de gasodutos devem vir acompanhados por mecanismos contratuais de curto prazo que garantem maior flexibilidade as negociações de capacidades.