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Integração Vertical como Solução para os Elevados Riscos de Investimentos

CAPITULO I: O SEGMENTO DO TRANSPORTE E SUA IMPORTÂNCIA NA

Seção 1.4: Integração Vertical como Solução para os Elevados Riscos de Investimentos

Segundo o anterior, e com o objetivo de reduzir os custos de transação e criar mecanismos para promover o investimento, a integração vertical se apresenta como uma opção de coordenação das atividades econômicas que contribui a diminuir os problemas associados as hipóteses comportamentais e o efeito das práticas oportunistas nas transações.

Nessa lógica, as indústrias tendem a integrar-se verticalmente realizando todas as atividades da cadeia produtiva. Em alguns casos, outras se integram parcialmente, pois transacionam com um pequeno número de fornecedores e distribuidores, aliás o objetivo é o mesmo, reduzir os riscos aos quais se expõe ao relacionar-se com outros agentes, ademais de criar um ambiente seguro para investir nos ativos específicos, que são requeridos para realizar as operações (LAUREANO, 2005). Nas seguintes subseções são descritas tanto a importância da integração vertical, e como porque é adotada em uma indústria em rede como é a de GN.

1.4.1 A Integração Vertical: A importância de sua adoção:

A tendência das industrias ou firmas de integrar-se verticalmente é ligada diretamente com as características das relações comerciais, particularmente com a magnitude dos custos de transação envolvidos. Para Williamson (1985) as transações possuem umas série de características como: (i) a frequência com as que são realizadas as transações entre os agentes;

45 (ii) a incerteza no momento de ser efetuadas as mencionadas transações e (iii) as especificidades dos ativos (explicadas anteriormente).

Essas particularidades, tendem a “produzir um resultado discriminador – principalmente em termos de economias de custos de transação” (Williamson, 1996, p. 12). Desse modo, a fim de reduzir os elevados custos, as indústrias ou firmas internalizam suas atividades para monitora- las e coordena-las diretamente.

Só para exemplificar a situação, na IGN, a maioria das atividades da cadeia produtiva são exercidas pela Petrobras, a qual controla o 93% da produção de gás natural e o 97% do direito de propriedade dos dutos para transportar o combustível, além de ter participações nas empresas locais de distribuição de GN, assim como em importantes projetos termoelétricos. A internalização das atividades, foi crucial para a expansão da indústria nascente no Brasil e a definição da estrutura de organização do setor (COLOMER, 2015).

Desta forma, a coordenação das transações mediante uma série de mecanismos criados a partir das relações hierárquicas, permite reduzir os problemas gerados pela incerteza comportamental, e a possíveis práticas oportunistas (FAN, 2000). Segundo Pondé (1993) outra uma vantagem de esta forma de organização, é o poder de adaptação ante uma situação não prevista. Para o autor, são substituídas as negociações entre duas o mais firmas independentes, pela implementação de mecanismos de decisão administrativos, os quais modificam a conduta interativa entre os agentes.

Em síntese, a adoção da integração vertical depende: (i) do ambiente onde são desenvolvidas tanto as transações, (ii) os custos que são gerados pelas transações realizadas, (iii) a influência das externalidades geradas no mercado e (iv) a forte presença de ativos específicos. Uma vez internalizadas as atividades, podem ser controladas tanto a incerteza como os possíveis comportamentos oportunistas adotados pelos agentes. A sua vez, os elevados custos de transação são reduzidos e os níveis de risco são controlados, para assim fomentar o investimentos em aquelas atividades ou elos da cadeia produtiva que o requerem, nas fases iniciais da indústria.

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1.4.2 A Integração Vertical na Indústria de Gás Natural:

As indústrias que operam em rede tendem a estruturar-se verticalmente, razão pelo qual o monopólio natural é a forma mais adequada para operar eficientemente. O monopolista que opera neste segmento, no qual não é economicamente viável a existência de vários ofertantes, pode causar prejuízos na concorrência nos demais segmentos da cadeia produtiva, pois passa a ter incentivos para restringir o acesso de outros agentes nos segmentos competitivos (PEDRA, et al., 2005).

Tal prática é conhecida como market foreclosure (fechamento de mercado) e fez referência à prática, executada por uma firma dominante de negar ou dificultar acesso adequado a qualquer insumo ou serviço essencial (PEDRA, et al., 2005). Autores como Coase (1937) e Williamson (1985) asseguram que a principal vantagem da integração vertical é minimizar a somatória dos custos de transação16, eliminando os conflitos de interesses, e reduzindo o problema de incerteza comportamental. Ponde (1994), afirma que a integração vertical é uma forma de introduzir adaptações sequenciais nas transações mediante processos administrados.

Em outras palavras, a verticalização é definida como a atuação de uma empresa, que perpassa um único estágio da cadeia produtiva de um determinado produto. É considerada completa quando a firma participa no processo produtivo, desde a transformação da matéria prima até o acabamento final e venda do produto (SCM, 2002). A forma mais comumente usada para verticalizar as atividades de uma determinada indústria, é o processo de fusão de empresas que atuam em estágios diferentes de uma cadeia (SCM, 2004).

Segundo o anterior, como toda indústria de rede, a indústria de gás natural, é composta por diversas atividades dependentes uma das outras. Dessas atividades, algumas são passíveis à introdução da concorrência, como é o caso dos segmentos de E&P e comercialização, já que é possível introduzir a competição mediante a entrada de novos agentes no mercado. (SCM, 2002).

16 No caso da IGN, os custos de transação, são associados aos contratos implícitos de capacidade de transporte garantindo a

47 Mas, nos segmentos de transporte e distribuição de GN, a entrada de novos agentes pode ser considerada pouco vantajosa em termos econômicos, dada a presença dos elevados custos presentes na constituição das redes físicas para movimentar o combustível, razão pela qual assumem uma organização de caráter de monopólio (SCM, 2004).

Deve-se ressaltar que na IGN, o segmento de transporte de gás natural, (que se dá através da rede de gasodutos) apresenta tal forma de organização. Neste tipo de indústrias, em suas fases iniciais e em um ambiente desregulado, os problemas de coordenação, nos diferentes segmentos da cadeia produtiva, são resolvidos com o estabelecimento de monopólios (estatais ou privados) verticalmente integrados (COLOMER, 2010a). Este modelo de organização industrial proporciona uma série de vantagens, como a obtenção de ganhos de escala, a redução dos custos de transação, além de promover os investimentos na expansão da rede de transporte (SCM, 2004).

Outra vantagem é que os ganhos derivados a partir da redução dos custos de transação não são repassados necessariamente aos consumidores finais, quer dizer, as empresas se apropriam desses ganhos mantendo o mesmo patamar de preços (SCM, 2002).

Além disso, com a implementação da integração vertical os agentes buscam diminuir os riscos, que associam-se a: (i) resultados das estratégias aplicadas pelos agentes e (ii) a preservação dos mercados. No primeiro caso, com a ocorrência de um evento não antecipado, os agentes tenderiam a atuar em seu benefício próprio, gerando uma série de problemas entre várias empresas que participam em uma cadeia produtiva, mas, este poderia ser reduzido com a presença de um só agente verticalmente integrado. No segundo caso, os riscos e sua diminuição, são relacionados com a garantia do abastecimento, pois a empresa será, simultaneamente, ofertante e demandante (SCM, 2004).

Outro aspecto a ressaltar da adoção da integração vertical como forma de organização, e que em certa medida gera certo debate e dá um caráter de dualidade, é a aplicação de subsídios

48 denominados cruzados17, os quais permitem que os agentes custeiem as atividades menos rentáveis utilizando os recursos obtidos das atividades mais lucrativas.

Desde o ponto de vista empresarial, a adoção desses subsídios é uma vantagem, já que no caso das indústrias que operam em rede, os segmentos potencialmente competitivos (afetados pela ausência de uma regulação concreta) poderão ser financiados pelos recursos obtidos das atividades monopólicas, as quais não tem uma concorrência direta e possuem uma garantia do mercado, podendo cobrar preços muito acima de seus custos (SCM, 2004).

Mas a dualidade radica nesse ponto, ou seja, a adoção desses subsídios cruzados tem como efeito a geração de uma concorrência desleal naquelas atividades potencialmente competitivas, impedindo assim, a entrada de novos agentes aos mercados (SCM, 2004). Não obstante, nas fases iniciais de uma indústria que opera em rede, como é o caso da IGN, a qual possui uma alta especificidade dos ativos utilizados para desenvolver suas atividades, além de um reduzido grau de maturidade, é necessário promover este tipo de práticas, a fim de incrementar os níveis do investimento e assim permitir a rápida expansão e consolidação do setor.

Em conclusão, a integração vertical é parte da lógica empresarial dos agentes, a fim de tentar reduzir seus custos e aumentar seus lucros. Diante das vantagens obtidas pelo processo de verticalização e das características técnicas e econômicas das indústrias de rede, em diferentes países a indústria gasífera adotou este tipo de estratégia a fim de alcançar um alto grau de maturidade em seus mercados e ter um maior desenvolvimento em sua malha de transporte. Mas sua presença no longo prazo, dificulta o desenvolvimento da competição naqueles segmentos como são E&P e comercialização. Além de fortalecer a presença de um monopólio natural nas atividades de transporte e distribuição de GN.