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IMPORTÂNCIA DA TRADUÇÃO E DA VALIDAÇÃO DE INSTRUMENTOS DE

A dimensão do estado funcional do idoso é critério fundamental para se determinar uma conduta mais adequada. Os instrumentos que avaliam essa condição podem ser utilizados em pesquisas, triagens e avaliações clínicas. Apesar de haver um grande número de instrumentos que avaliam o desempenho funcional do idoso, poucos são adaptados e validados para a população brasileira. Para que o instrumento possa ser utilizado em diferentes países, faz-se necessária a adaptação linguística e cultural que consiga equivalência entre o teste original e a nova versão do instrumento. Entretanto ainda não há consenso entre os autores sobre a melhor estratégia para adaptação transcultural dos instrumentos (MITRE et al., 2008, PAIXÃO JÚNIOR; REICHENHEIM, 2005, HILTON; SKRUTLOWSKI 2002).

A condução de vários experimentos internacionais requer medidas similares para serem aplicadas em locais diferentes. Assim, a equivalência dessas medidas é um pré-requisito para os estudos e para a comparação entre os resultados de estudos nacionais e internacionais. A equivalência de medidas tem sido exaustivamente analisada. A opção mais viável, passível de gerar instrumentos capazes de permitir comparações entre culturas, tem sido a tradução e a adaptação cultural de testes já existentes e cujas propriedades de medidas já foram demonstradas na cultura e no idioma originais. Para isso, faz-se necessário uma avaliação rigorosa da tradução e da adaptação cultural, bem como a avaliação de suas propriedades psicométricas e clinimétricas após a tradução. Vários métodos têm sido propostos para assegurar uma correta adaptação cultural de instrumentos complexos. Geralmente são combinações de vários passos de tradução, retrotradução e análise por um especialista (GUILLEMIN, 1995).

A mensuração utilizando escalas pode dimensionar o comprometimento causado por alguma patologia, além de ser útil para acompanhar a evolução do estado clínico e para antecipar o prognóstico. Uma escala pode retratar um dano neurológico e perda ou anormalidade das funções psicológica, anatômica ou fisiológica, pode abordar uma incapacidade_ restrição ou carência resultante na habilidade de executar uma tarefa dentro dos padrões considerados normais, ou

ainda avaliar a desvantagem e invalidez_ prejuízos que afetam o indivíduo em seu contexto social após seu acometimento (CANEDA et al., 2006).

Segundo Bland e Altman (2002), para se validar um instrumento, deve-se perguntar se o instrumento abrange os aspectos a serem medidos (validade de conteúdo), se o instrumento tem correlações com outras variáveis (validade de constructo), se há consistência interna (se os itens que compõem o instrumento têm relação entre si e se é possível realizar teste-reteste para se avaliar a confiabilidade).

Um número considerável de termos tem sido usado indiscriminadamente para caracterizar as propriedades da validação. Esse campo da ciência (avaliação de medidas psicométricas para compor escalas de medidas) tem sido desenvolvido principalmente por cientistas sociais. A literatura biomédica não chegou a um consenso e alguns passos têm sido negligenciados (GUILLEMIN, 1995). Abaixo são citadas algumas propriedades dos instrumentos de avaliação:

1 _Validade é a habilidade de o método de avaliação medir o que se pretende medir (GUILLEMIN, 1995).

2 _Critério de validação é a qualidade do método de medição que corresponde às medidas entre examinadores que medem precisamente o mesmo fenômeno de interesse. Esse critério deveria ser o padrão-ouro e ser muito preciso, o que nem sempre é observado (GUILLEMIN, 1995).

3 _Validade construtiva é a propriedade do método de medição que avalia a precisão do objeto a ser construído (GUILLEMIN, 1995). É a relação entre a alteração constatada pelo instrumento e as alterações observadas pelos outros parâmetros de medida da atividade clínica decorrentes da ação de uma intervenção terapêutica. Deve-se comparar os resultados do novo instrumento com parâmetros clínicos laboratoriais já conhecidos (FALCÃO, 1999 e GUILLEMIN, 1995).

4 _Validade de conteúdo significa que o instrumento tem compreensibilidade, que inclui todos os conceitos importantes dos componentes de estados de saúde relevantes para uma determinada avaliação. Refere-se à escolha e à importância relativa dada aos itens de um instrumento de avaliação e à possibilidade de verificar se seus domínios são compreensíveis e verdadeiramente bem demonstrados através de seus ítens ou questões (FERNANDES, 2003).

5 _Validade de critério é a capacidade de um novo instrumento de avaliação apresentar resultados correspondentes àqueles observados pelo padrão-ouro

utilizado em determinada avaliação (FERNANDES, 2003, FALCÃO, 1999 e GUILLEMIN, 1995).

6 _Validade externa é a capacidade de o teste ser reprodutível em diferentes condições, capturando o mesmo conceito de avaliação do paciente (FALCÃO, 1999).

7 _Validade discriminante ou de sensibilidade à alteração é a capacidade de detectar diferenças mínimas no teste (FALCÃO, 1999).

8 _Confiabilidade é a possibilidade de repetição das medidas do método (confiança interexaminadores e intraexaminador), é a capacidade de o teste dar os mesmos resultados em repetidas administrações, sob as mesmas condições e de indicar o grau de semelhança entre as medidas (GUILLEMIN, 1995). O grau de confiabilidade de uma escala pode ser estimado mensurando-se a concordância dos resultados obtidos por diferentes examinadores em sua aplicação a um mesmo paciente. A concordância interexaminadores é obtida por meio do cálculo de coeficientes de concordância (CANEDA et al., 2006).

9 _Reprodutibilidade refere-se às medidas de um fenômeno estável, repetido por pessoas ou instrumentos diferentes, em momentos e lugares diferentes e que alcançam resultados semelhantes. A aplicação dos testes deve ser reprodutível através do tempo, isso significa que deve reproduzir o mesmo resultado ou resultados muito semelhantes quando administrados duas ou mais vezes ao mesmo indivíduo, considerando que o estado de saúde não tenha alterado nos intervalos das aplicações (FERNANDES, 2003).

É possível que algumas das etapas metodológicas propostas não sejam muito relevantes para o processo de tradução e adaptação cultural, sendo plausível menos rigidez na sua execução. Isso implicaria em menores custos e menor consumo de tempo e poderia levar à produção de instrumentos tão válidos quanto aqueles pretendidos pelo processo internacionalmente aceito (FERNANDES, 2003).

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