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Importância dos sistemas eleitorais nas eleições das mulheres

O sistema eleitoral adotado em cada país é apontado como um elemento importante para pensar a realidade das mulheres nas instâncias deliberativas, já que viabilizam, ou não, a representação política.

Para Tavares, sistemas eleitorais “são construções institucionais política e estrategicamente concebidas e tecnicamente realizadas, para viabilizar e sancionar a representação política” (1994, p. 33).

Hoje, os sistemas eleitorais são importantes para avaliar a eficácia das cotas. Vale ressaltar que fatores como os já discutidos na abordagem sobre gênero e patriarcado interferem no processo de participação efetiva das mulheres no parlamento.

Para Araújo, “[...] há uma forte relação entre sistemas eleitorais, tipos de lista de candidaturas e possibilidades de eficácia das cotas” (1999, p. 339).

A seguir, far-se-á uma rápida explanação sobre os sistemas eleitorais, relacionando-os com as questões de gênero.

3.2.1 Sistemas majoritários

Os sistemas majoritários “têm como propósito fundamental garantir a eleição do(s) candidato(s) com maior(es) contingente(s) de votos” (NICOLAU, 2002, p.10).

Os defensores dessa representação destacam a sua capacidade de produzir governos unipartidários, maior capacidade de controle dos representantes pelos representados, além da representação territorial.

O sistema majoritário favorece menos as mulheres em relação à ampliação da participação. Nesse sistema, as cotas encontram resistências porque, como o partido pode indicar apenas um candidato por distrito, as cotas implicam reordenamento nas indicações dos nomes já tradicionais dentro do partido. Nomes com tradição partidária teriam que abrir mão da candidatura para que uma mulher pudesse concorrer. O partido poderá perder a eleição se essa mulher não tiver visibilidade política.

3.2.2 Sistemas proporcionais

Os sistemas proporcionais “tencionam distribuir os postos em disputa, de maneira equânime à votação obtida pelos competidores” (NICOLAU, 2002, p. 10). Exemplo: se um partido recebeu 20% dos votos, deverá receber 20% das cadeiras no parlamento. Os defensores desse sistema argumentam que ele tem capacidade de proporcionar uma relação equânime entre votos e cadeiras e a possibilidade de garantir acesso às minorias, assegurando que a diversidade de opiniões presentes na sociedade esteja refletida no parlamento (NICOLAU, 2002, p.10). O Brasil atualmente utiliza esse sistema nas eleições para a Câmara dos Deputados, assembléias legislativas e câmara de vereadores.

Estudos mostram que a representação proporcional tende a favorecer mais as mulheres do que o majoritário. Na França, as mulheres foram eleitas em maior número quando o sistema eleitoral adotado foi o proporcional (ARAUJO, 1999).

Além do sistema eleitoral, o tipo de lista também é considerado um componente importante para eleger mulheres.

3.2.2.1 Representação proporcional de lista

3.2.2.1.1 Lista fechada

O partido define previamente a ordem em que os candidatos vão aparecer. Ao eleitor cabe apenas votar na legenda. Nesse caso, o partido tem muita influência na determinação de quem será eleito. Nesse modelo, as cadeiras que os partidos receberem serão preenchidas pelos primeiros candidatos da lista. A lista fechada permite que o partido tenha o controle do perfil dos parlamentares eleitos. Esse modelo beneficia grupos minoritários, quando isso for uma opção do partido (ARAUJO, 1999; ALVARES, 2005).

Portanto, lista fechada ajuda na governabilidade, mas é menos democrática. A lista fechada está entre as propostas de reforma política defendida pelas mulheres.

3.2.2.1.2 Lista aberta

O ordenamento da lista aberta é determinado pelo eleitor, não pelo partido. O sistema de lista aberta é utilizado no Brasil para eleições na Câmara dos Deputados,

Assembléias Legislativas e Câmara dos Vereadores, desde a eleição de 1945. A partir de 1986, esse sistema apresenta duas particularidades:

a) O eleitor pode votar no candidato de sua escolha, ou na legenda. Nesse último caso, os votos são contabilizados para efeito de distribuição das cadeiras, mas não é destinado a nenhum candidato da lista.

b) Formação de uma única lista de candidatos quando diferentes partidos estão coligados. Os candidatos que obtiverem o maior número de votos serão eleitos para preencher as vagas da coligação, independentemente do partido ao qual pertençam. Aqui, no Brasil, os partidos se unem nas eleições parlamentares, mas mantêm autonomia organizacional e apresentam lista própria de candidatos. A coligação permite que os votos sejam agregados, para efeito do cálculo das cadeiras no legislativo (NICOLAU, 2002). No Brasil, desde 1986, a combinação de coligação com voto de legenda tem permitido que um eleitor que vote na legenda, quando seu partido está coligado, não tenha seu voto contado necessariamente para ajudar a eleger um candidato do partido de sua preferência. Na prática, o voto é contado para definir o total de cadeiras a serem preenchidas pela coligação (NICOLAU, 2002).

As listas abertas são menos favoráveis à eleição das mulheres, conforme avaliação feita por Araújo (1999) e corroborada pela pesquisa de campo desta tese. No caso do Brasil, as cotas foram ineficazes para eleger mulheres. Em 2002, segundo o TSE, a presença feminina nas Assembléias Legislativas e no Parlamento, no Brasil como um todo, cresceu de 10,0% para 12,5%. Na Assembléia Legislativa de São Paulo, cresceu de 8,5% para 10,6% - aumento considerado tímido. Nas eleições de 2006, de acordo com o TSE, novamente as cotas para candidaturas se mostraram pouco eficientes, na elegibilidade feminina. No Brasil, o número de mulheres eleitas diminuiu de 12,5% para 11,61%. Em São Paulo, aumentou de 10,6% para 11,7%.

Além da competição entre os partidos, nesse modelo de lista, a disputa entre os candidatos de um mesmo partido é grande. As mulheres também aparecem em menor número em postos estratégicos do cenário político. Também, na grande maioria, possuem menos recursos para investir nas campanhas, já que são mais pobres do que os homens.

A crítica mais contundente, atribuída à representação proporcional, reside na ênfase da representação, em detrimento da governabilidade. Dificilmente, nesse sistema, um único partido conquista a maioria absoluta das cadeiras. Acordos pós-eleitorais deverão ser costurados entre os partidos, para formar a base de sustentação do governo. Os críticos desse sistema acreditam que, dificilmente, o governo consiga manter uma base formada pelas preferências que os eleitores apresentaram nas urnas (NICOLAU, 2002, p. 57). O caso brasileiro é emblemático. Sem alianças no parlamento, dificilmente o governo consegue administrar. Esses acordos envolvem interesses particulares que, muitas vezes, fogem das propostas apresentadas pelos candidatos, por ocasião da campanha eleitoral.

3.2.2.1.3 Lista flexível

O partido apresenta uma lista, mas o eleitor pode votar alterando esse ordenamento. Nesse caso, as mulheres enfrentam os mesmos problemas da lista aberta.

3.2.2.1.4 Sistema misto

Esse sistema tenta combinar algumas características positivas do sistema majoritário e do sistema proporcional. Do sistema proporcional, é retirada a virtude de assegurar a representação dos pequenos partidos. Já o sistema majoritário, quando

implementado em distritos de um representante, aumenta a possibilidade de os eleitores fiscalizarem as ações de seus representantes (NICOLAU, 2002, p.67).

Esse modelo é criticado porque o processo eleitoral é muito difícil. Os eleitores encontram dificuldades para entenderem a complexidade da lei. Além do mais, existe a possibilidade de criar representantes com status diferenciado.

Enquanto que os deputados eleitos pela parte majoritária submetem-se a um confronto eleitoral direto com outros candidatos no distrito, o parlamentar da parte proporcional elege-se em listas fechadas sendo, portanto, incapaz de obter votos individuais. Essa dualidade estimula a criação de conexões eleitorais diferenciadas: o deputado eleito pela parte majoritária tem fortes incentivos para cultivar laços territoriais com seu distrito; já os parlamentares eleitos pela lista terão maiores incentivos para fortalecer sua posição dentro do partido (NICOLAU, 2002, p.68).

Segundo Araújo (1999), no Ocidente, a legislação sobre cotas só foi aprovada em países com sistema misto ou proporcional. Ela acredita que o sistema eleitoral é o mais importante aspecto - embora não o único - que explica os resultados obtidos pelas mulheres até agora. O sistema eleitoral também elucida as razões pelas quais a política de cotas foi aceita sem maiores questionamentos. Na verdade, ela não altera a lógica da composição das listas e nem as chances eleitorais dos homens.

Embora a autora desta tese não concorde com a idéia de que o sistema eleitoral seja o maior culpado pela ínfima participação das mulheres, esse dado é importante para entender a facilidade com que as cotas foram aprovadas no Brasil. Como elas não alteram a lógica política, os homens continuam com as mesmas chances eleitorais da época anterior à aprovação das cotas. Vale lembrar que, por ocasião da aprovação da lei de cotas, também foi aprovada a ampliação do número de vagas nas listas eleitorais, passando a um máximo de 150% das cadeiras em disputa. Quanto ao preenchimento das vagas destinadas às mulheres, caso o partido não tenha mulheres candidatas suficientes para preencher os 30%, os partidos seriam obrigados a manter o percentual de reserva e não poderiam ocupar as vagas com

candidatos de outro sexo, mas não seriam obrigados a preenchê-las integralmente com candidatos do mesmo sexo. Nesse caso, o partido não sente necessidade de investir para formar quadros políticos de mulheres. Afinal, se não for possível preencher cotas de 30%, o partido não será punido.