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O Partido dos Trabalhadores – PT

6.1.1 O movimento de mulheres e o Partido dos Trabalhadores

O movimento para a formação do PT, nos fins dos anos 70 e começo da década de 80, reúne proletários, intelectuais, estudantes, além de "grupos que expressavam a luta contra formas específicas de opressão na sociedade brasileira: mulheres, negros, homossexuais e deficientes físicos" (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1990, p. 19).

Desde o começo, muitas feministas e mulheres ligadas ao Movimento de Mulheres se filiaram, tendo papel fundamental na definição dos rumos do partido. Nos Congressos de Mulheres, muitas das futuras reivindicações das petistas já estavam presentes. O PT, na medida do possível, estava presente nesses Congressos.

- No 1º Congresso da Mulher Paulista, em 1979, mesmo ano em que o partido foi criado, além de outros tópicos, discutiu-se a anistia, a participação política da mulher, a discriminação sofrida na sociedade, falta de creches, desigualdade salarial e repúdio ao controle de natalidade (COMISSÃO DE MULHERES DO PT, 1982, p. 1).

- Em 1980, as mulheres realizaram o 2º Congresso do Movimento de Mulheres, dando ênfase à opressão sofrida pelas trabalhadoras, empregadas domésticas, negras e donas de casa. Nesse Congresso, o PT ainda estava desarticulado, mas já conseguiu distribuir uma nota de apoio (COMISSÃO DE MULHERES DO PT, 1980, p. 1).

- Em 1981, o 3º Congresso do Movimento de Mulheres convocou para lutarem por creches, contra a violência, pela saúde e pelo trabalho. Presente, o Partido dos Trabalhadores justificou a não-criação de um Departamento Feminino como os demais: as mulheres não deveriam estar separadas dos homens para discutirem seus problemas. Elas deveriam analisar também os problemas gerais, e os homens participarem da luta contra a opressão feminina. Em suma: homens e mulheres deveriam estar lado a lado na militância. O Partido dos Trabalhadores acreditava que, em vez de criar Departamentos Femininos, apoiaria os Movimentos já existentes na sociedade (Movimento de Mulheres por Creches, Movimento Feminista). A organização das mulheres petistas dar-se-ia por núcleos, por local de moradia e trabalho, junto com os demais militantes. O PT chega à conclusão de que é necessário um pólo organizador que, junto à Executiva Regional e subordinado a ela, levasse a bom termo

todas as questões referentes à situação da mulher. Visando a implementar essas medidas, o PT criou uma comissão de trabalho (COMISSÃO DE MULHERES DO PT, 1981, p. 1).

Em 1987, foi criada a Subsecretaria de Mulheres do PT, ligada à Secretaria Nacional de Movimentos Populares (SNMP). Em 1996, desvinculou-se da SNMP, tornando-se a Secretaria Nacional de Mulheres do PT.

Os objetivos dessa secretaria são:

desenvolvimento e o fortalecimento de espaços de organização das mulheres do partido; a inclusão de uma agenda feminista nas ações e no programa do partido; a potencialização da participação das petistas no movimento de mulheres; o incentivo aos debates sobre a elaboração de uma plataforma feminista geral e sobre a construção de uma política do PT para as mulheres (NASCIMENTO, 2003).

Segundo o Estatuto do Partido dos Trabalhadores em vigência,

“Art. 121: Os Setoriais são instâncias partidárias integradas por filiados que atuam em determinada área específica, com o objetivo de intervir partidariamente junto aos movimentos sociais organizados”

“Art. 123: As Secretarias Setoriais, consideradas como formas organizativas dos Setoriais, são as seguintes: Combate ao Racismo, Mulheres, Juventude, Agrária, Meio Ambiente e Desenvolvimento, e Sindical”.

“Art. 124: Os Setoriais e Secretarias Setoriais devem ter atuação permanente, enquanto instância de formulação e articulação partidárias”.

Em 1988, quando conquistou as primeiras prefeituras no país, foram criadas as primeiras Coordenadorias da Mulher, com o mesmo nível das Secretarias de Estado, de modo a implementar políticas públicas, voltadas para a promoção e a eqüidade de gênero. Essas Coordenadorias deram origem, no Governo Lula, à Secretaria Especial de Políticas para as

Mulheres, ligada diretamente à presidência da república, antiga bandeira do movimento de mulheres (NASCIMENTO, 2003).

Com a presença do Movimento de Mulheres na vida partidária, o PT acrescentou novos pontos ao seu Programa, relacionados com a problemática feminina, além de imprimir nova abordagem para o conceito de democracia e cidadania.

Nas Resoluções do 1º Congresso do Partido dos Trabalhadores – evento realizado em 1991 - aparece claramente à contribuição dada pelo Movimento. O Movimento de Mulheres procura nova forma de fazer política, que aceite a unidade na diversidade, para construir o "[...] sujeito político mulher. E, nessa busca, o Movimento de Mulheres propõe formas de poder, que transformem as relações sociais, que criem uma sociedade democrática, na qual as reivindicações de cada um dos setores sociais encontrem espaços para serem resolvidas" (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1992, p. 42).

O movimento de mulheres esteve presente desde a origem do PT, contribuindo para que o combate à discriminação de gênero fosse contemplado nas decisões do partido. No próximo tópico, serão apresentados alguns documentos que norteiam as ações dessa agremiação partidária, para que a democracia entre os sexos possa estar cada vez mais presente nas relações políticas.

6.1.2 O Partido dos Trabalhadores: questão de gênero nos documentos oficiais

Nos documentos do Partido dos Trabalhadores que foram analisados, a problemática da mulher aparece diversas vezes. Somente o PT traz explícito, em seu estatuto,

a referência a gênero: homens ou mulheres podem se filiar, a partir dos 16 anos (ALVARES, 2005, grifo nosso).

No 7º Encontro Nacional foi decidido que o "Partido deve estimular a participação feminina em todas as instâncias de direção partidária e desenvolver uma cultura interna de combate permanente às práticas autoritárias e discriminatórias" (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1990, p. 33).

Segundo esse documento, "a Democracia e o Socialismo não existirão no Brasil enquanto as mulheres ficarem confinadas no espaço doméstico, cumprindo apenas papéis de mãe, esposa ou amante, submetidas a uma violência cotidiana no trabalho, no lar e nas ruas" (ibidem, p. 19).

Nas moções, aprovadas no Encontro, o partido condena a violência contra as mulheres. Elas são tratadas como inferiores na sociedade, sofrem discriminação econômica, política e social. O partido também propõe que esse tema seja incluído na preparação do 1º Congresso Nacional, contemplando essa discussão do ponto de vista da libertação da mulher (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1990, p. 69).

No 8º Encontro Nacional, o partido traz uma moção defendendo o aborto, quando ele for desejado pela mulher (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1993, p. 38).

No documento básico do Partido dos Trabalhadores, o partido reconheceu o direito e o dever das mulheres de lutarem por seus direitos, pelo espaço na sociedade (COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL DO PT, 1990, p. 31).

No 1º Congresso do Partido dos Trabalhadores, realizado em novembro/dezembro de 1991, sob o impacto de um forte lobby realizado pelas mulheres do partido, foi aprovada a presença mínima de 30% de mulheres na composição dos Conselhos Deliberativos e das Comissões Dirigentes de nível municipal, estadual e nacional. Caso o

número de mulheres seja inferior a 30%, o partido deve ter, como referência mínima, a proporção de mulheres presentes nos Encontros (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1992, p. 73). Também foi aprovado investimento na formação política das mulheres e organização de creches durante encontros e convenções para facilitar a presença das mães. Esses equipamentos coletivos foram citados em todas as entrevistas feitas com dirigentes do PT e deputadas (os) estaduais, por ocasião do levantamento de dados para a realização desta tese. É um discurso que reafirma a necessidade de ações positivas para que a igualdade na política possa ser viabilizada.

Nesse Congresso, também foi constatado que, com as relações de gênero, estabeleceram-se papéis masculinos e papéis femininos, de dominador e dominado, dando embasamento para a subordinação das mulheres em todas as esferas sociais. A luta das mulheres contra essa opressão poderá levar à construção da sociedade socialista. "A democracia socialista que ambicionamos construir estabelece a legitimação majoritária do poder político, o respeito às minorias e a possibilidade de alternância no poder" (ibidem, p. 33). Para tal, o PT precisará repensar sua atuação na sociedade, procurando entender as diferentes formas de opressão nela existentes: exploração capital-trabalho, até

processos discriminatórios e de exclusão econômica, social, cultural e política, que expressam a natureza de classe, de raça e de gênero, característicos do processo de dominação, instituídos nos poderes e na sociedade e responsáveis pela transformação de maiorias sociais em minorias políticas (PARTIDO DOS TRABALHADORES, 1992, p. 41).

O documento acrescenta, ainda: "a luta pela libertação da mulher será parte constitutiva dos programas de formação política geral do PT" (ibidem, p. 66). Tanto que a Fundação Perseu Abramo é um órgão do partido encarregado de formar a militância, inclusive ministrando cursos sobre relações de gênero.

Portanto, questões como: a participação política, a democracia interna, a luta pela igualdade salarial a discriminação no trabalho, resgate da cidadania das mulheres e outros grupos minoritários aparecem várias vezes nos documentos do partido.

A discussão travada dentro do PT e recuperada em pesquisa anterior não deixa dúvidas de que a questão de cotas foi intensamente trabalhada, já que não foi uma questão consensual no partido. Não houve unanimidade nem das mulheres petistas em relação à importância de cotas na época da aprovação da lei internamente. As que eram contrárias afirmavam que a mulher deve chegar ao poder por mérito. As favoráveis acreditavam que as mulheres não são iguais aos homens na política, por isso precisavam das ações positivas para aumentar as chances (RICHARTZ, 1996).

Ao contrário do que aconteceu internamente, quando da aprovação de cotas para os Conselhos Deliberativos e Comissões Dirigentes, a discussão feita no partido, por ocasião da aprovação de cotas no Congresso para todas as eleições proporcionais, foi pequena. Para os dirigentes do PT, a discussão não foi grande, porque já possuíam política de cotas no interior do partido e isso não era mais novidade.

O Estatuto do Partido dos Trabalhadores, aprovado em 2001, em seu Art. 22, reafirma o compromisso de continuar com, no mínimo, 30% de mulheres integrantes das direções partidárias. Essa discussão será pauta do Congresso do PT que se realizará em julho de 2007.