• Nenhum resultado encontrado

IMPORTÂNCIA DA GERONTOLOGIA PARA AUMENTO DA ESPERANÇA DE VIDA SEM INCAPACIDADE

3. O ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO

3.7 IMPORTÂNCIA DA GERONTOLOGIA PARA AUMENTO DA ESPERANÇA DE VIDA SEM INCAPACIDADE

Os problemas de saúde considerados "típicos da terceira idade", e que apresentam uma alta taxa de prevalência, foram denominados por Bernard Isaacs como os "gigantes da geriatria" e têm importância crucial, na medida em que não dispõem de diagnóstico de resolubilidade rápida e absorvem grandes quantidades de recursos materiais e de profissionais especializados.

Além dos défices de carácter físico e intelectual anteriormente descritos, com o envelhecimento podem verificar-se modificações nas reacções emocionais79; acúmulo de perdas e separações, solidão, isolamento e marginalização social.

Felizmente, a maioria das pessoas idosas não é dependente, no entanto, com a idade aumenta a probabilidade de se desenvolverem, em simultâneo, várias patologias, degenerativas e de evolução prolongada, que, potenciando-se entre si, poderão culminar com a dependência de carácter físico, mental ou social.

Há consciência de que o recurso à solução institucional, residencial ou hospitalar só se deveria adoptar caso “estivessem esgotadas as possibilidades de se lhe prestar apoio e cuidados no seu contexto normal, sob pena de desregular um, habitualmente ténue, equilíbrio psicológico dos idosos para situações novas, potencialmente ansiogénicas”80.

Neste contexto, é de suma importância aumentar a proporção de dependentes que usufruam de apoio domiciliário integrado e garantir uma medicina familiar de qualidade, bem como promover o desenvolvimento de uma rede de cuidados continuados integrados como área de reabilitação.

Esta realidade exige respostas baseadas numa actuação integrada de vários sectores da sociedade, entre os quais se destaca o papel dos serviços de saúde, não apenas na prestação de cuidados, mas no desenvolvimento de parcerias potenciadoras da sua abrangência.

É igualmente importante que seja feita a capacitação das pessoas idosas para minimizarem a sua dependência, bem como para terem alguns cuidados com a sua saúde que possam melhorar a qualidade de vida.

Em articulação com a Direcção-Geral da Acção Social, e mais recentemente com o Instituto para o Desenvolvimento Social, foi desenvolvida a implementação nacional

79

A redução da tolerância aos estímulos, vulnerabilidade à ansiedade e depressão, sintomas hipocondríacos, autodepreciativos ou de passividade, conservadorismo de carácter e de ideias, e acentuação de traços obsessivos são considerados, por Souza (1996), as principais características do envelhecimento emocional.

do Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII), visando, nomeadamente, a prestação efectiva de cuidados integrados, por todo o País, que permitam, à pessoa idosa, manter a sua autonomia no domicílio; assegurar a acessibilidade a serviços e benefícios; promover medidas preventivas do isolamento, da exclusão e da dependência; e contribuir para a promoção de auto-cuidados e de cuidados prestados por familiares, vizinhos e voluntários.

As Nações Unidas adoptaram uma nova estratégia para enfrentar o envelhecimento global da população. Respondendo à preocupação com a rapidez e a escala do envelhecimento global, o Plano de Acção Internacional, adoptado na Segunda Assembleia Mundial do Envelhecimento81, que decorreu em Madrid, em Abril de 2002, contem 120 recomendações e considera crucial incorporar os assuntos relativos ao envelhecimento nos planos de desenvolvimento, para enfrentar aquilo que consideram ser o maior desafio demográfico do séc. XXI.

O texto final do Fórum aprovado depois de uma maratona negocial, foca 3 prioridades: “older persons and development; advancing health and well being into old age; and ensuring enabling and supportive environments”.

Algumas das medidas contempladas na Assembleia Geral para o Envelhecimento, Madrid 2002, incluem a aposta na formação de gerontologistas e geriatras, pois só com profissionais devidamente formados poderemos efectivar o envelhecimento activo.

A intensidade do envelhecimento, os aspectos que envolve, assim como os novos desafios e oportunidades com que se depara uma sociedade cada vez mais constituída por pessoas mais velhas, tornam este tema actual, exigindo uma análise multidimensional.

A questão que envolve o envelhecimento e as pessoas idosas exige uma reconceptualização, uma reforma da gestão da idade.

No que diz respeito à formação de prestadores de cuidados e profissionais de saúde, as Nações Unidas82 reconhecem a urgência em formar profissionais na área da geriatria e da gerontologia:

“There is an urgent worldwide need to expand educational opportunities in the field of geriatrics and gerontology for all health professionals who work with older persons and to expand educational programmes on health and older persons for professionals in the social service sector. Informal caregivers also need access to information and basic training on the care of older persons”.

81 Plano de Acção Internacional adoptado no World Assembly on Ageing

82 Report of the Second World Assembly on Ageing, Madrid, 8–12 April 2002 (United Nations publication), pág.27/29 in http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/397/51/PDF/N0239751.pdf?OpenElement

E, para promover este objectivo, defendem:

“(a) Initiate and promote education and training programmes for health professionals, social care professionals and informal care providers in the services for and care of older persons, including in gerontology and geriatrics, and support all countries, in particular developing countries, in these efforts; (b) Provide health-care and social-care professionals with continuing education programmes, with a view to an integrated approach of health, well-being and care of older persons as well as the social and psychological aspects of ageing;

(c) Expand professional education in gerontology and geriatrics, including through special efforts to expand student enrolment in geriatrics and gerontology”.

De facto, já em 1997, a Direcção Geral de Saúde reconhece que “ a escassez de pessoal preparado, nas áreas da gerontologia e da geriatria, as dificuldades sociais no apoio aos idosos com dependência e a insuficiente preparação da própria comunidade para as problemáticas do envelhecimento têm vindo a criar situações desumanas e dificuldades familiares, que se agravam nos casos de doença que requerem cuidados no domicílio , no ambulatório ou em meio hospitalar”83.

A necessidade de ter pessoal mais bem treinado, para prestar cuidados de saúde às pessoas idosas doentes, exige a sua formação pluridisciplinar, que inclua o conhecimento das condições e dos recursos em que, a nível nacional, regional e local, as pessoas envelhecem.

As pessoas idosas dependentes de terceiros constituem preocupação especial cujas respostas não podem ser dissociadas do enquadramento socio-económico, geográfico, habitacional e familiar, passado, presente e futuro e, como tal, não devem ser definitivas nem provisórias mas sim concretas, num contexto adaptativo.

Ora, os familiares não foram treinados para tais tarefas e, apesar de poderem partilhar com os profissionais enormes responsabilidades, terá de haver profissionais devidamente creditados para construírem as melhores soluções para população idosa.

A Direcção Geral de Sáude84 considera vital não só uma maior adaptação e abrangência dos serviços de saúde, mas também uma mudança da sociedade na forma como encara as necessidades deste segmento da população, nomeadamente através do desenvolvimento de mais iniciativas locais de apoio/cuidados integrados. É, assim, indispensável não apenas melhorar a qualidade da abordagem, pelo médico de família, à patologia crónica múltipla, como alargar o apoio domiciliário ao maior número de pessoas idosas que dele necessitem, de forma a evitar o recurso

83 In A saúde dos portugueses (1997), Direcção-Geral da Saúde, Ministério da Saúde: Lisboa, p.77 84 GANHOS DE SAÚDE EM PORTUGAL, PONTO DE SITUAÇÃO, DGS,2002

inadequado aos serviços de urgência hospitalar e a aliviar a sobrecarga e angústia das famílias.

Pretendendo potenciar os projectos e programas nacionais existentes –

nomeadamente o PAII –, ou os que venham a ser criados, e gerar também sinergias e metodologias de intervenção noutros sectores, criou-se o Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas XXI.