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A responsabilidade social perante o meio ambiente não deve ser executada somente pelo Poder Público, mas pela coletividade como um todo.

Não basta, entretanto, apenas criar espaços institucionais de participação dos cidadãos como mera formalidade, não sendo suficiente também apenas informar. Para haver participação política, é necessário capacitar os cidadãos por meio de um investimento continuado em educação ambiental. É importante que essa educação ambiental seja orientada, principalmente na resolução de problemas locais, para, consequentemente, refletir na esfera regional, nacional, até alcançar a dimensão global.

Cabe, ao município, portanto, a tarefa de propiciar condições para enfrentar esse desafio, aplicando a farta legislação e usando os inúmeros instrumentos a sua disposição para um trabalho de conscientização da população, rumo a um padrão mais sustentável.

Por ser de todos é que a coletividade e o Poder Público tem o dever de zelar pelo meio ambiente, mantendo equilibrado o sistema natural, visando à manutenção de várias espécies, inclusive a própria espécie humana. Existe a obrigação constitucional aos cidadãos, à coletividade e ao Poder Público em defender este direito na atualidade e para as futuras gerações. Trata-se de um direito-dever. Direito, pois a todos interessa a manutenção da sadia qualidade de vida, e dever, porque a todos cabe a parcela de contribuição para tornar a vida nos espaços urbanos mais sadia, segundo Dias (2009, p. 123).

No entendimento deCanepa (2007, p. 196),

Não se pode olvidar, ainda, que o elemento condicionante do desenvolvimento urbano é a própria pessoa humana, sujeito central do desenvolvimento. Isso implica em abrir-lhe a possibilidade de participação efetiva no sistema econômico-social, franqueando-lhe o acesso à informação sobre as atividades que afetam o meio ambiente urbano, para que possa, concretamente, participar dos processos de tomada de decisões que, ao fim e ao cabo, dizem respeito e afetam a sua própria qualidade de vida.

Para Fontes (2010, p. 52), a Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, o Estatuto da Cidade, estabelecem relação inegável entre planejamento municipal e democracia. Estes são considerados como diretrizes da política urbana:

Substitui-se a concepção do planejamento urbano municipal como processo puramente técnico e neutro. A participação popular no processo de planejamento municipal e, especialmente, na elaboração dos Planos Diretores, passa a ser exigida como condição obrigatória sob pena de improbidade administrativa (art. 29, XII, CF c/c 40, art. 43 e art. 52, inciso VI, do Estatuto da Cidade) [...] De outro, incorpora-se o processo político ao planejamento, garantindo-se a participação daqueles tradicionalmente excluídos da construção das cidades. O processo de elaboração do Plano Diretor visa garantir uma esfera política, democrática, capaz de construir consenso entre os mais diversos atores sobre o futuro das cidades. No lugar de um excelente instrumento jurídico-urbanístico do ponto de vista técnico, elaborado por um círculo fechado de juristas e urbanistas, o novo marco jurídico-urbanístico estabelece um mecanismo capaz de promover o diálogo com a sociedade sobre o planejamento das cidades, garantindo poder de decisão para todos os habitantes.

No capítulo referente às competências dos municípios, a Carta Constitucional de 1988 dispôs em seu artigo 29, inc. XII, sobre a necessária cooperação das associações representativas para o planejamento municipal. Conclui-se, portanto, que possibilita a democratização do processo de planejamento e gestão de políticas urbanas, podendo inclusive garantir a efetivação de programas e projetos de interesse da população. Trata-se de gestão democrática, abrindo-se novas possibilidades para a participação popular na produção de leis e na fiscalização dos atos do Poder Público, como responsável pela defesa do meio ambiente. Para Dias (2009, p. 161), fica clara, porém, a necessidade da participação dos cidadãos.

Neste sentido, Canepa (2007, p. 233):

[...] a participação democrática da população na gestão pública é um dos pré- requisitos para a construção da sustentabilidade. Se, por razões históricas, a tradição da participação na vida pública ainda é pequena, nas últimas décadas essa situação tem se alterado, com a multiplicação de foros participativos como, por exemplo, as associações de bairro e organizações não governamentais, cada vez mais atentas ao que se passa na esfera pública e às decisões que irão afetar diretamente a qualidade de vida da comunidade.

Quanto às políticas públicas e o comprometimento da sociedade civil, segundo Montalvão (2009, p. 42, grifo do autor), em muitas situações a insustentabilidade continua sendo tratada como algo normal pela população, quando se apontam os culpados mas não as soluções. Dessa forma, a política pública existe para nortear, mostrar o caminho para

solucionar os problemas existentes. Sem o comprometimento e ajuda da sociedade civil, entretanto, a política pública não é nada.

Canepa (2007, p. 243) entende que só será efetivado qualquer projeto que vise ao desenvolvimento sustentável da cidade, conciliado com o crescimento econômico e a qualidade de vida, se houver envolvimento e mobilização da sociedade, sentindo-se, de fato, donos da cidade e responsáveis pelo seu futuro.

No entendimento de Dias sobre a participação popular e o princípio da soberania popular (2009, p. 158), tem-se:

Neste sentido, a participação popular na gestão dos interesses urbanos é diretriz obrigatória para que os entes federados possam atuar em prol de pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade. E esta forma de gestão democrática que abrange a formulação, a execução e o acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano, é nova forma de gerenciamento, de administração, que acaba por consagrar e dar densidade ao princípio da soberania popular [...]

Mediante a disseminação do conhecimento, da informação ambiental, a fim de tornar os indivíduos mais aptos ao exercício da cidadania, se chega a uma sensibilização da sociedade para questões relativas à qualidade de vida urbana. Isso provoca transformações positivas ambientais na conduta do cidadão, tanto nos atos individuais quanto na sua participação como coletividade nos processos de gestão urbana, na visão de Canepa (2007, p. 254-255).

Tourinho (2008, p. 112) esclarece que uma verdadeira democracia exige constante observação das expectativas populares. Nesse entendimento, o § 4º, do artigo 4º do Estatuto da Cidade estabelece que os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população no processo de elaboração do Plano Diretor, bem como na fiscalização de sua instalação:

No que concerne às audiências públicas e debates, envolvendo a população local interessada, deverão ser implementados pelo governo municipal na fase de elaboração do plano diretor, podendo também ocorrer quando da sua efetiva implementação nas Câmaras Municipais. Apesar desta determinação legal, é comum que os debates promovidos com a população tenham apenas a intenção de cumprir formalidade legal, não havendo uma efetiva participação popular, seja por desconhecimento quanto à existência destes instrumentos, seja por desinteresse,

decorrente da própria postura dos órgãos públicos que não incentivam tal participação.

Na prática, muitas ações já vêm sendo executadas pelo Municípios, com o intuito de minimizar o atual estado em que se encontram as cidades e direcionar ações a uma política voltada à gestão urbana integrada com a gestão ambiental. Isso demonstra a possibilidade de uma atuação efetiva em âmbito local. Para tanto, é necessário o envolvimento ativo da sociedade civil, comunidade acadêmica e grupos empresariais. Um exemplo concreto dessa mudança de mentalidade são as iniciativas de alguns em relação à instituição de suas Agendas 21 locais, segundo Canepa (2007, p. 257).

Na visão de Leal (1998, p. 134), a gestão democrática da cidade tem como fundamento o princípio da soberania popular, que deve ser respeitado. A diretriz e objetivo da gestão democrática são o combate à pobreza e fatores de marginalização, e integração social dos setores desfavorecidos, o que deixa evidente que existe desigualdade na apropriação e uso da terra urbana. Assim, o Plano Diretor tem função de extrema importância na efetivação dessa diretriz, definindo critérios para a destinação ou uso das terras públicas que não estão cumprindo com sua função social.

Canepa (2007, p. 268, grifo do autor) dispõe que:

Na ação jurídica, que começa nos aspectos aparentemente banais do agir diário na rua e em casa, e se consolida nos parlamentos e nas estruturas nacionais, faz-se necessário que nos convertamos em educandos-educadores. Pois, além de todos os instrumentos disponíveis em nossa farta legislação urbanístico-ambiental, é imprescindível que as atitudes de cada indivíduo sejam coerentes com aquilo que deseja. Pois diante de uma legislação extremamente avançada notam-se comportamentos individuais muito aquém da consciência ambiental que se apresenta nos discursos.

Sobre as políticas públicas e o planejamento democrático na visão de Dias (2009, p. 67), o Brasil está buscando o caminho da sustentabilidade por meio do processo de planejamento democrático que instiga a participação política dos cidadãos no desenvolvimento brasileiro.

Canepa (2007, p. 276) descreve que:

Além da autonomia municipal é necessário fornecer meios para que a população participe efetivamente da gestão do local no qual habita. Para que isso ocorra, é imprescindível, além da comunicação, o acesso à informação, que somente poderá ser efetuado com resultados positivos através da educação integral, ou seja, uma educação que contemple não somente o currículo tradicional, mas que também aborde valores e princípios éticos que farão com que a sociedade se conscientize de seu importante papel na construção de um mundo melhor.

A atuação do homem sobre o meio é capaz de afetar não só sua esfera de interesses, mas os interesses de todos os seres humanos. O fato do meio ambiente ser essencial à própria vida o torna preferencial. O enunciado do artigo 225 expõe tal característica ao determinar o dever da coletividade em defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, trouxe então uma inovação na ordem jurídica nacional ao eleger o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado à categoria de direito fundamental, reconhecendo o constituinte como um direito essencial à sadia qualidade de vida e imprescindível à caracterização de uma vida digna.

3.4 O desenvolvimento urbano sustentável como princípio e direito humano

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