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A importância do Projeto de Ação Colaborativo na construção de uma proposta de musicalização infantil na creche

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 29 1 INTRODUÇÃO

6 MUSICALIZAÇÃO NO CEI: UM PROJETO DE AÇÃO COLABORATIVO

6.1 A importância do Projeto de Ação Colaborativo na construção de uma proposta de musicalização infantil na creche

A pesquisa de campo ocorreu por meio da metodologia da pesquisa colaborativa, que propõe o uso do projeto de ação colaborativo como meio para a investigação. De acordo com os autores(as) aqui estudados(as), dentre eles(as): Desgagné (2007), Ibiapina e Ferreira (2008), Magalhães e Liberali (2011), Ibiapina (2007) e Magalhães (2002), a proposta da elaboração do projeto de ação colaborativo deve ter como base o conhecimento prévio apresentado pelo(a) docente. Feita a identificação deste conhecimento, o(a) pesquisador(a) elabora um projeto de ação colaborativo inicial, que deverá ser modificado no decorrer da pesquisa, a partir do diálogo com os(as) participantes envolvidos(as), sendo, então, revisado e reconstruído colaborativamente. A aproximação com os conhecimentos prévios das docentes participantes desta pesquisa se deu após a análise da entrevista inicial realizada com estas, sendo que os dados preliminares poderão ser vistos mais adiante.

Desta forma, o papel do(a) pesquisador(a), na revisão e reconstrução coletiva do projeto de ação colaborativo proposto é o de orientar/mediar a compreensão construída durante a pesquisa, sugerindo ações e atividades que tencionem a produção de conhecimentos com base na teoria existente sobre o objeto de investigação, de modo a melhor explicitá-lo, compreendê-lo e fazê-lo evoluir, e/ou ainda, propondo aos(às) participantes novas abordagens práticas.

Esta concepção de investigação será viabilizada se o(a) pesquisador(a) estiver aberto a escutar os(as) envolvidos(as), em uma perspectiva dialógica, na qual este diálogo irá ocorrer após o(a) pesquisador(a) levantar dados coletados a partir de sua observação quanto à ação em campo dos(as) indivíduos(as)

envolvidos(as) na investigação (no caso desta pesquisa, duas docentes), possibilitando, assim, a análise crítica dos fenômenos estudados, o que vai ao encontro de Freire (1996), quando este ressalta a necessidade de haver uma prática docente crítica a fim de gerar, como denominado pelo autor, o “pensar certo”, que envolve:

[...] o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea, “desarmada”, indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a rigorosidade do pensar certo procura. [...] o pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o professor formador. É preciso, por um lado, reinsistir em que a matriz do pensar ingênuo como a do crítico é a curiosidade mesma, característica do fenômeno vital. (FREIRE, 1996, p. 38-39)

Com isso, as possíveis atividades e ações propostas pelo(a) pesquisador(a) têm que ser negociadas e aceitas pelos(as) participantes, que devem ser instigados(as) a também proporem atividades a serem realizadas. Esta negociação pode ser feita por meio de “Sessões Reflexivas”.

Estes apontamentos apresentados até aqui ocorreram nesta investigação, pois nas sessões reflexivas com as docentes participantes, a pesquisadora sugeriu leituras coletivas de alguns conceitos teóricos sobre musicalização infantil, a fim de dialogar quanto ao entendimento destes para, a partir disso, propor às crianças atividades teoricamente embasadas. As teorias discutidas nessas sessões foram fundamentais para a análise dos dados coletados nas observações das inserções em campo com as crianças, com o propósito de refletir sobre as práticas adotadas e propor mudanças, visando à construção coletiva de conhecimentos com foco em uma proposta teórico-metodológica de musicalização infantil. Portanto, a realização das sessões reflexivas foi de suma importância, uma vez que, permitiu a todas as envolvidas, “[...] conduzir o outro à reflexão crítica de sua ação ao questionar e pedir esclarecimentos sobre as escolhas feitas.” (MAGALHÃES, 2002, p. 21)

O diálogo estabelecido nas sessões buscou atender ainda os seguintes objetivos: explorar as ações realizadas, verificar se as ações estavam teoricamente fundamentadas e discutir se tais ações deveriam ser repensadas e redefinidas. Portanto, reafirma-se que o projeto de ação colaborativo foi inicialmente elaborado pela pesquisadora, mas, durante toda a pesquisa, foi repensado e reconstruído em

colaboração com as professoras, a fim de contemplar seus pontos de vista. Vale ressaltar que a elaboração do projeto exige a reflexão sobre a ação para, se necessário, transformar a ação de modo que todos(as) os(as) envolvidos(as) possam ressignificar sua prática, ou seja, demanda constante reflexão tanto do(a) pesquisador(a) quanto dos(as) demais envolvidos(as), isso porque:

É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário a reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu distanciamento epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise, deve dela “aproximá-lo” ao máximo. Quanto melhor faça esta operação tanto mais inteligência ganha da prática em análise e maior comunicabilidade exerce em torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. Por outro lado, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. (FREIRE, 1996, p. 39)

O projeto de ação colaborativo pode ser articulado de duas maneiras: como um projeto de aprimoramento para os(as) envolvidos(as) na pesquisa que almejam explorar e/ou questionar um aspecto específico da sua atuação profissional, no qual o(a) pesquisador(a) também apresenta interesse em comum ou somente como um projeto de pesquisa, em que o elemento central seja uma inquietação do(a) pesquisador(a). A ideia principal, contudo, é que se oportunize uma formação complementar aos(as) envolvidos(as), de forma a gerar, coletivamente, a construção de novos conhecimentos relacionados ao objeto investigado, a fim de contribuir tanto para a reflexão e quiçá para a mudança da ação profissional imediata dos(as) participantes quanto para o enriquecimento teórico acadêmico condizente com a área da ciência estudada.

No caso desta pesquisa, a inquietação partiu da pesquisadora, mas logo conquistou o interesse das duas professoras participantes. Afinal, quais são os fatores que colaboram para o trabalho de musicalização com crianças de dois e três anos na creche? Desta questão norteadora da investigação, outras se fizeram presentes: 1) Como, na prática, deve proceder a mediação docente para que seja viabilizado o acesso à musicalização com crianças de 2 a 3 anos? 2) Quais são os conhecimentos mínimos sobre música e musicalização infantil que o(a) docente deve ter para trabalhar com a temática com as crianças?