• Nenhum resultado encontrado

Em entrevista concedida a Rossane Carvalho (2007), Érika Fernandes Pinto57 ressalta o papel do turismo como tábua de salvação de regiões de baixa renda, proporcionando à Barreirinhas geração de emprego e renda, e intensificando melhoras na infraestrutura urbana. Em uma visão complementar, Carolina Camargos percebe o Parque como condição sem a qual não haveria o turismo barreirinhense. Desse fato decorre a importância da preservação/conservação dos ecossistemas visitados para garantir a sustentabilidade da atividade turística local.

57 Conduzida ao cargo de chefia do PNLM, em março de 2005, foi sucedida em 2006 por Júlio Andrade, o qual

não permaneceu mais que seis meses no IBAMA/Barreirinhas. No decorrer da pesquisa, o PNLM encontrava-se sem chefia e as informações necessárias foram obtidas com a ajuda de Maria Carolina Alves Camargos.

Uma base de cálculo não-confiável, apresentada informalmente pelo IBAMA/Barreirinhas, revela uma renda mínima gerada para o município, em função do PNLM, de mais de R$ 13 milhões anuais. A estimativa foi determinada a partir do contingente de visitantes em 2006 – 52.819 pessoas – e do seu perfil comum, ou seja, demanda que realiza um pernoite, pagando pelos dois roteiros de visitação, acrescidos de gastos médios com alimentação, estadia e souvenirs. Apesar disso, seguramente, a visitação dos Lençóis Maranhenses movimenta muito mais dividendos do que o estimado, considerando que o IBAMA/Barreirinhas tabulou apenas os visitantes que utilizavam a balsa da Diana. Se fossem realizadas pesquisas em todo o PNLM, certamente, totalizar-se-ia receitas anuais superiores aos R$ 13 milhões.

Nessa ótica, a cidade de Barreirinhas, sobretudo o Trade turístico, deveria constituir a principal interessada na proteção dos recursos naturais do Parque, posto que os Lençóis Maranhenses são a razão do seu desenvolvimento turístico. Caso fosse impedida a visitação no PNLM, como ocorreu na Chapada dos Veadeiros em 1991, seguramente, toda a cadeia turística barreirinhense estaria fadada ao colapso.

O entendimento de Érika Pinto sobre a importância da visitação para o PARNA dos Lençóis está em linha com a percepção de Kinker (2002, p. 48) sobre os porquês do Governo Federal promover cada vez mais o turismo em UCs. Para esta autora, isto ocorre, pois a atividade turística gera renda para os parques, mediante taxas de visitação e concessões de serviços, “sendo o aspecto mais importante seu efeito multiplicador, que pode atingir as comunidades do entorno, considerando-se que as infra-estruturas receptivas devem estar nesses municípios e não na área dos Parques”.

Muitos aspectos apresentados no presente capítulo, esclarecem as grandes dificuldades do IBAMA/Barreirinhas no desenvolvimento de um turismo sustentável para a região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. As inúmeras contradições entre o determinado no plano de manejo e a prática do turismo no PNLM, esclarecem uma série de embates entre o Trade de Barreirinhas e o órgão ambiental em questão.

As ações governamentais – federais, estaduais e municipais – centram-se, atualmente na implantação do roteiro integrado – Maranhão, Piauí e Ceará – como se o PNLM reunisse condições básicas para o atendimento às necessidades turísticas e de preservação ambiental. O

desejo de incrementar a sua receita conduz diferentes esferas governamentais e iniciativa privada a somarem esforços na divulgação do turismo em Barreirinhas, Lençóis Maranhenses.

As etapas previstas no plano de manejo do PNLM, certamente, poderão contribuir para mitigar essa problemática. Entretanto, o documento em questão já carece de atualização e estudos mais aprofundados, apesar de não ter sido ainda implementado. Concluído no final de 2002, o plano de manejo do PNLM demanda novas pesquisas e revisões, sobretudo em face aos diversos estudos elaborados sobre a região dos Lençóis Maranhenses.

Em ressalva à importância do documento de manejo em parques nacionais, Fernandes Neto (2005) percebe que o uso público pode se converter muito além de um importante meio de arrecadação, mas também um instrumento de grande aplicabilidade dos objetivos que permearam as justificativas de sua criação, estimulando o seu entendimento e a apropriação pelas pessoas, estabelecendo, dessa forma, relações com a sociedade.

Se o discurso dominante é o de um turismo sustentável para a região, questiona-se o porquê dos investimentos não serem voltados à efetivação do plano de manejo, reunindo assim, condições de se gerir com qualidade a atividade turística na região dos Lençóis.

A fragilidade institucional do IBAMA, refletida na sua sede de Barreirinhas, demonstra que o manejo de UCs, especialmente no caso brasileiro, apresenta graves entraves à operacionalização de seus objetivos. A insuficiência de recursos financeiros e humanos, muitas vezes, inviabiliza a administração dessas áreas. Apesar de protegidos legalmente, os Parques Nacionais, por exemplo, não estão a salvo de degradações decorrentes de atividades como o turismo. O desrespeito ao zoneamento do Parque, com ênfase na construção de equipamentos turísticos na ZA e na exploração turística nas demais áreas internas do PNLM, não seguem os cuidados exigidos pelas normas estabelecidas para a visitação, acentuando as oposições entre as racionalidades ambiental – do PARNA – e econômica – do município.

A ausência de infraestrutura de visitação no PNLM destoa das qualificações do turismo em parques nacionais, como por exemplo, informações adequadas sobre educação ambiental, conforto e segurança aos visitantes. O PNLM se esforça para administrar com um número ínfimo de funcionários, uma área de 155 mil hectares. Desse modo, os passeios não possuem qualquer tipo de fiscalização na zona extensiva e, quando ocorria, limitava-se ao controle de pessoas transportadas nas Toyotas (dez no máximo). Nos moldes atuais, o órgão gestor do

Parque carece muito do empenho e compromisso do Trade em ajudá-lo na conscientização sobre a importância da proteção dos ambientes naturais, bem como na fiscalização do Parque.

Em outra vertente, o caso do PARNA da Chapada dos Veadeiros, fechado em 1991 e reaberto quase um ano depois, por força de uma visitação massiva e sem normas de condução, deveria alertar o município de Barreirinhas sobre decisões passadas do IBAMA em cessar visitação pública nas UCs brasileiras. Uma situação nesses moldes comprometeria, significativamente, toda a cadeia turística que utiliza a riqueza do PNLM, ocasionando fechamento de estabelecimentos, agências e reduzindo a geração de renda local. Este fato contribui para sérias reflexões sobre o futuro do Parque e o necessário planejamento turístico da região, priorizando a harmonia entre os diversos atores envolvidos.

Na busca do desenvolvimento de um turismo sustentável para o PNLM, o IBAMA/Barreirinhas deve lograr pela fiscalização e controle da exploração turística dos