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O manejo dos impactos da visitação é realizado sem métodos ou técnicas específicas e, portanto, de forma empírica, os funcionários do IBAMA/Barreirinhas verificam a deterioração do parque na área das lagoas e dunas, mais direcionada a concentração de lixo nestes locais e também nas trilhas das Toyotas.

A conduta do visitante é direcionada, atualmente, apenas pelos motoristas das Toyotas ou condutores/guias de turismo da região, devido à inexistência de sinalização. Muitos turistas adentram o Parque desconhecendo aspectos muito simples que poderiam ser informados por esses agentes como a proibição do uso de produtos de higiene pessoal, bronzeadores (somente bloqueadores são permitidos) e o consumo de bebidas alcoólicas.

No entanto, comumente, observam-se visitantes completamente desinformados sobre tais procedimentos, refletido nos resíduos deixados no campo de dunas como sacos plásticos, latas, peças de roupa, calçados e até preservativos. Ocorrência a qual exige além da ação fiscalizadora, a necessidade de ações interpretativas e de educação ambiental, posto que a responsabilidade na conservação do PNLM, considerada atribuição única do IBAMA/Barreirinhas, precisa ser compartilhada por todos, sobretudo, pelos que se beneficiam com o turismo, Trade e turistas.

O plano de manejo responsabiliza os turistas pelos impactos ambientais causados, prevendo que estes assinem um termo de responsabilidade frente às diversas atividades permitidas no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. O lixo gerado é entendido como responsabilidade do visitante e deverá ser conduzido de volta ao final do circuito. Na prática, a deficiência de informações prestadas aos turistas, somada ao perfil da clientela visitante dos Lençóis, responde pela atitude de muitos guias/condutores locais, únicos coletores do lixo encontrado na natureza e gerado pela demanda turística.

Não há controle de entrada de visitantes no PNLM, tampouco, determinou-se a capacidade de suporte dos ecossistemas envolvidos. Nesse sentido, a capacidade de carga, enquanto mecanismo capaz de minimizar os impactos sobre o meio ambiente natural, assenta limites no número de pessoas as quais exercem pressão, ao mesmo tempo, sobre determinada área. No mesmo sentido, a Organização Mundial do Turismo (1992, p. 18) a conceituou como

“[...] o nível de exploração turística que uma zona pode suportar assegurando uma máxima satisfação aos visitantes e uma mínima pressão sobre os recursos”.

A inexistência de um estudo de capacidade de carga ecológica é atestada pelo professor Antonio Carlos Castro, ao justificar que a falta de um conhecimento mais detalhado sobre os aspectos geomorfológicos, especialmente sobre os processos erosivos e de dinâmica das dunas, inviabilizam tais ensejos de definir limites à visitação diária. Acrescenta ainda que um grande empecilho aos Lençóis Maranhenses, no período de elaboração do plano de manejo, foi a inexistência de dados científicos relativos a solos, vegetação, ciclos hidrológicos, entre outros. “Muitos parques nacionais em todo o Brasil, no intento da elaboração de seus planos de manejo, já dispunham de bom material científico sobre diversos aspectos dos ecossistemas a serem protegidos. Contudo, os Lençóis Maranhenses não pertenciam a esse caso”.

Nesse âmbito, ressalta-se a importância da Lei nº 9.985/00, artigo 22, § 2º, a qual estabelece que “a criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade”. Observa-se, portanto, uma lacuna no PNLM, posto que, quase duas décadas depois da sua criação, foram elaborados seus primeiros estudos.

O IBAMA/Barreirinhas, em parceria com agentes do Trade, comunidades locais, IBAMA/Brasília e membros do Governo Federal, organizou uma reunião estipulando a capacidade de suporte para o Roteiro Lagoas, baseada em uma demanda existente na época da implementação da MA-402, a qual não condiz com a atual realidade do turismo nos Lençóis.

O limite de 100 pessoas por dia, metade para cada turno – matutino e vespertino – é permitido somente no período de alta estação (março a julho). Na baixa – agosto a dezembro – determinou-se 60 visitantes, somando-se os dois períodos do dia (MMA; IBAMA, 2003a). O IBAMA/Barreirinhas considera também como baixa estação, os meses de janeiro e fevereiro, apesar do número de visitantes bem superior ao período subseqüente a agosto. Para a Lagoa Bonita, até que a capacidade máxima de pessoas seja estabelecida, admite-se 100 pessoas por turno. Este limite de visitação, determinado antes da inauguração da MA-402, não é bem aceito pelos empresários locais, devido ao crescimento vertiginoso da demanda turística que, em muito, supera as 60 ou 100 vagas permitidas diariamente.

Prova do exposto, o IBAMA/Barreirinhas, em 2006, estabeleceu na sua antiga sede do Cantinho, balsa da Diana, um controle do tráfego de Toyotas em direção às lagoas Azul e do

Peixe. Constatou em todos os meses uma demanda acima da lograda, com destaque para os meses de janeiro e julho. Segundo os dados colhidos, na época considerada de maior fluxo de visitantes, os toyoteiros transportaram 8.668 e 11.187 pessoas, respectivamente, somente para as duas lagoas citadas, sem incluir o trecho Lagoa Bonita. Desse modo, a média respectiva da visitação diária, 279,6 e 360,9 pessoas, extrapola, significativamente, o contingente permitido em um único roteiro turístico dos Lençóis Maranhenses.

Absurdamente, nesses dois meses, diariamente o limite de visitação foi extrapolado com picos de até 763 pessoas em um único dia no circuito lagoa Azul e do Peixe. O total da visitação em 2006, somente para estas lagoas, foi de 52.819. A média de 144,7 visitantes, mesmo não ultrapassando muito o limite diário permitido, não é bem distribuída periodicamente, apresentando forte concentração em feriados, excedendo substancialmente o permitido. No feriado da Independência, por exemplo, em três dias apenas, 2.151 visitantes se dirigiram ao PNLM , representando uma considerável média/diária de 717 pessoas.

Este volume de visitação expressa a urgência em controlar o turismo na região do PNLM e, ao mesmo tempo, demonstra as características de uma atividade massificada, contrária aos objetivos da visitação planejada em parques nacionais a qual, certamente, se continuamente exercida, comprometerá a sustentabilidade do turismo na região do PNLM.

O professor Antonio Castro entende que seja possível, a partir de um estudo preciso sobre as condições de suporte das dunas, permitir um maior número de acessos ao PARNA, mas não muito superior ao determinado. E ainda que se houvesse realizado este estudo, não existem pontos de apoio e mecanismos de controle da visitação, tampouco regras definidas para o cumprimento dessa estimativa.

O Ministério do Turismo reconhece a importância do controle da visitação nas localidades com potencial ecoturístico, relatando em um de seus documentos que a “experiência do município de Bonito reafirma a importância de limitar o número de visitantes nos atrativos e, mais que isso, monitorar e direcionar o comportamento do visitante, de modo a minimizar o impacto no ambiente natural” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006a, p. 53).

Fernandes Neto (2005) destaca pesquisas as quais constatam que grande parte dos impactos gerados a partir de atividades recreativas, em áreas naturais, ocorre muito mais devido à má postura dos visitantes do que como resultado de um demanda excessiva por estes

locais. De antemão, entende-se que para o PNLM, as ações de informação e conscientização ambiental, possivelmente, surtiriam maiores efeitos dado o perfil da sua atual demanda.