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CAPÍTULO II QUAL A PROXIMA CARTA A CAIR? REPRESENTAÇÕES

2.1 IMPRENSA UBERLANDENSE: O HISTÓRICO DOS JORNAIS CORREIO DE

O jornal Correio de Uberlândia foi um dos mais notórios veículos de informação da cidade de Uberlândia e região do Triângulo Mineiro, de ampla e diária edições, esse periódico circulou de forma imprensa e com plataforma on-line até no ano de 2016. O grupo Algar261, proprietário do jornal desde os anos de 1986, divulgava em editorial os motivos do encerramento das atividades:

O grupo Algar está promovendo uma revisão do seu portfólio de negócios, com isso, irão acontecer entradas e saídas de algumas atividades. Por

258Recordamos que em 15 de janeiro de 1985 Tancredo Neves foi eleito de forma indireta como

presidente do Brasil, sendo, portanto, um episódio que marcou o fim do regime militar. Tancredo Neves foi o primeiro presidente Civil no Brasil após 20 anos de governos militares. Para um aprofundamento dessas questões e os episódios que foram importantes nesse contexto nacional brasileiro, recomenda-se: LINZ, Juan j; STEPAN, Alfred. Transição e Consolidação da Democracia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

259 Cf: JÚNIOR, Edson José Neves Júnior; MARTINS, Fernanda Tondolo. A imagem de Cuba no jornal

Zero Hora na década de 1990. In. WASSERMAN, Claudia. (org). op. cit. p, 87.

260 Para se ter uma ideia, antes mesmo da dissolução oficial da União Soviética, em 26 de dezembro de

1991, sendo após isso reconhecida a independência das antigas repúblicas integradas ao bloco, de agosto a dezembro, 15 repúblicas - exceto os Estados bálticos e a Geórgia – desintegraram-se formalmente da URSS. Para uma reflexão profunda no assunto e conferência das informações aqui citadas recomenda-se: GORENDER, Jacob. O fim da URSS. Origens e Fracasso da Perestroika. 2 ed., São paulo; Atual 1992. pp, 34-35.

261 A Algar é uma Holding que tem como empresa mãe a CTBC telecomunicações, que desde sua

fundação detém o monopólio da telefonia em Uberlândia e região, abrangendo ainda o sul de Goiás e o norte de São Paulo. Essa empresa possui também participação no controle sobre empresas de telefone que atuam em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e no nordeste brasileiro. A respeito das controvérsias na aquisição do controle sobre a telefonia em Uberlândia e as informações aqui citadas. Ver: TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes do Brasil Central: História da Criação do Município de Uberlândia. Uberlândia, Ed. Uberlândia Gráfica Ltda, 1970. (v. I e II), p. 268- 273.

103 quase 80 anos o Grupo editou o Jornal Correio de Uberlândia, produzindo um jornalismo independente e de qualidade, respeitando seus profissionais, leitores, anunciantes, fornecedores e parceiros. Mas, no atual cenário mundial de negócios de mídia, onde grandes veículos impressos passam por enxugamentos ou deixam de existir, o grupo Algar entende que cumpriu sua missão e com o novo direcionamento estratégico, optou por descontinuar o jornal, cuja última edição será veiculada no dia 31 de dezembro de 2016. Até essa data, seguiremos com o compromisso de produzir um jornalismo da melhor qualidade. A Algar agradece a todos os profissionais que passaram pelo jornal, aos assinantes, leitores, anunciantes e à comunidade de Uberlândia. O Grupo encerra esse capítulo de sua história, mas seguirá crescendo e gerando cada vez mais empregos na cidade nas áreas de negócios que compõem o conglomerado, honrando e respeitando Uberlândia e região e continuando a contribuir para o desenvolvimento socioeconômico regional.262

Apesar disso, a história desse jornal remonta os meados do século XX, quando é interessante compreender os diversos fatores de sua continuidade, mudanças e intenções, especialmente aquelas dos sujeitos que compunham seu corpus editorial ao longo de sua trajetória. Em sua historicidade esse periódico sempre esteve alinhado à um posicionamento de cunho mais liberal, entretanto, os destaques para assuntos desse tipo, com opiniões e colunas específicas sobre temáticas revolucionárias e movimentos políticos, iriam ter maiores recorrências a partir dos anos de 1960.

O periódico Correio de Uberlândia iniciou suas atividades no ano de 1938, seu proprietário era o produtor rural José Osório Junqueira, que veio de Ribeirão Preto com a intenção de instalar o jornal na cidade de Uberlândia. Segundo Fausto Rocha de Araújo: “Osório Junqueira era proprietário de outros sete jornais, mas em Uberlândia o responsável pelo jornal era seu filho: Luiz Nelson Junqueira, sendo que na época de sua fundação Abelardo Teixeira era o redator-chefe263.” Nesse primeiro ano, Araújo destaca os motivos que fizeram o Correio de Uberlândia a ser um dos principais periódicos da cidade e região. Para ele, o “ideário de progresso da cidade”, sua defesa ideológica por uma industrialização, somadas a uma maior tiragem em relação a outros jornais, foram os agentes preponderantes para o destaque que esse jornal deteve.264

Já na década de 1940265, o Correio de Uberlândia seria vendido para um grupo

262 EDITORIAL. Correio de Uberlândia. Uberlândia n. 23.852, 1 nov. 2016, p. 2.

263ARAÚJO, Fausto Rocha. O Golpe de 1964 segundo o jornal Correio de Uberlândia. Cadernos de Pesquisa do CDHIS — n. 36/37 — ano 20, 2007. p. 143-152.

264 Idem.

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de cotistas, todos eles fortes empresários e latifundiários da cidade e região e também ligados à União Democrática Nacional (UDN)266. Sobre a vinculação do periódico com a UDN e os consequentes desmembramentos dessa relação, destacamos mais uma vez as palavras de Fausto Rocha de Araújo:

O fato de a UDN ter um veículo de comunicação sob seu controle favoreceu não só a ascensão política do partido na cidade, como também de alguns políticos locais, entre eles o governador Rondon Pacheco. Durante as décadas de 1950 e 1960, o jornal manteve uma vinculação explícita com os interesses políticos da UDN, partido rival do PTB. Como consequência desse vínculo, o periódico passou por momentos difíceis em 1954. Por ocasião do suicídio de Getúlio Vargas, a sede do jornal quase foi invadida por correligionários do PTB de Uberlândia.267

Em 1952 o jornal foi vendido para Agenor Garcia, levando Valdir Melgaço a ser diretor do periódico, sujeito que era vereador e tornou-se posteriormente deputado estadual pela UDN. Após alguns anos, Valdir Melgaço seria eleito deputado pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que apoiou os militares durante a ditadura. A partir de então, o jornal ficaria sob os comandos e propriedade da família de Agenor Garcia até 1971268. É importante destacar que nesse período o periódico contava com o redator-chefe Marçal Costa e o jornalista Lycidio Paes269, um dos que mais tiveram renome no campo da comunicação na cidade de Uberlândia. Em 1986, o jornal voltaria as mãos da família de Agenor Garcia, uma vez que eles constituíam o grupo Algar. No período de recorte dessa pesquisa, o jornal contava com o seguinte grupo editorial: como diretor-superintendente: Arly Carvalho Trindade; como diretor Geral de Operação: Narcio Rodrigues Silveira; editor chefe: Francisco Marcos dos Reis; como editor responsável: José Expedito da Silva; como secretário de redação: Almerindo Camilo e direção de arte: Valtênio Oliveira Spíndola. Esses são os nomes dos integrantes do corpus editorial dentre as décadas de 1980 e 1990, algo fundamental para

Repórter ( 1940-1963), O Triângulo (1928-2000) e Tribuna de Minas ( 1966- 1980). Cf: Idem, p. 148.

266 Alguns fazendeiros e empresários que compraram o jornal Correio de Uberlândia são: “João Naves de

Ávila (fazendeiro e proprietário do frigorífico Ômega), Nicomedes Alves dos Santos (fazendeiro e proprietário de uma rede de cinemas em Uberlândia e região) e Alexandrino Garcia (empresário)”. Cf: idem, p. 149.

267 Idem, p. 150.

268 Cf: FERNANDES, Orlanda R. op. cit. p, 26. 269

Lycidio Paes foi um jornalista de grande destaque na cidade de Uberlândia, escritor de várias crônicas e livros, esse sujeito conta com um espaço de memória na referida cidade, sendo por vezes, homenageado. Seu nome, inclusive, presta como endereço para as ruas da cidade e outros espaços. Para saber mais da história e importância de Lycidio Paes para imprensa de Uberlândia recomenda-se: SANTOS, Regma Maria dos. ESPAÇO E MEMÓRIA: representações sobre a cidade nas crônicas de Lycidio Paes. Espaço em Revista, 2011 ISSN: 1519-7816 vol. 13 nº 2 jul/dez. pp. 70- 80.

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compreendermos que seriam as vozes que referiam-se ou até mesmo constituía as diferentes representações sobre Cuba no período analisado.

A tipografia desse jornal também teve mudanças importantes ao longo do tempo. Nos primeiros anos de sua fundação o Correio de Uberlândia contava com cerca de três páginas, sendo que estas detinham: letras imprensas e todas em preto e branco, nada tão esplendoroso para o jornal que se tornaria o maior da região. Nesses primórdios, o Correio de Uberlândia, contava com poucas matérias próprias de seus colaboradores e editores, sendo quase um tabloide de notícias que reescrevia ou simplesmente citava matérias e colunas feitas por outros jornais de maior circulação nacional, entretanto, a partir da década de 1960, talvez devido ao investimento de a UND, que o jornal passaria contar com uma impressão gráfica mais robusta, em que as notícias locais e artigos de opinião de seus contribuintes começariam a tomar forma nas páginas do periódico. Nos anos de 1970 e 1980, o jornal se lança de vez como uma força na imprensa local e regional, suas publicações, além de diárias, contavam com artigos de opinião – de grande repercussão – de Lycidio Paes e Luiz Fernando Quirino270 . O jornal a partir desse período também inicia a impressão em cores nas primeiras páginas, dando destaque as notícias locais e nacionais. Cabe destacar que nesse período o jornal era dividido em cerca de seis páginas271: sendo a primeira e segunda com os principais destaques levantados pelo periódico; a terceira e quarta com assuntos diversos e colunas de opinião; a quarta sobre esportes e a última editais e reclames da cidade. Assuntos sobre Cuba e seus personagens, por vezes apareciam na terceira página e em outros na primeira.

O jornal O Triângulo foi fundado na cidade de Araguari-Mg em 1928 e vendido para um grupo da cidade de Uberaba em 1945. Já em 1958 o periódico foi comprado pela “Empresa Gráfica do Triângulo Ltda” que tinha como proprietário Renato de Freitas. Em meio a problemas trabalhistas, Renato de Freitas passou o jornal a seus

270 Luiz Fernando Quirino era natural de São Paulo Capital, nascido em 7 de agosto de 1932. Sua vinda

para Uberlândia se deu em agosto de 1971, quando nesse mesmo ano passou a integrar o grupo editorial do Correio de Uberlândia. Para além do jornal Correio de Uberlândia, Luiz Fernando Quirino contribuiu com o jornal O Triângulo, foi diretor executivo da TV Triangulo (atual TV Integração) filiada a Rede Globo e dentre outros projetos. Luiz Fernando Quirino detinha uma notoriedade na cidade de Uberlândia, sendo que a câmera municipal da cidade outorgou-lhe o título de cidadão honorário e nos dias de hoje seu nome faz parte da vida material da cidade, uma vez que, além de escoladas municipais que levam em seu título o nome desse jornalista, existem ruas e praças em sua homenagem. Luiz Fernando Quirino faleceu em 2 de janeiro de 2005. Informações consultadas em:

<www. museuvirtualdeuberlandia.com.br/tags/luizfernando-quirino>. Acesso em: 14 ago. 2019.

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funcionários na década de 1970272. No ano de 1980 o jornal foi vendido para o jornal de Uberaba, de propriedade de Fabiano Fidelis, Jaime Moisés e filhos. Segundo, Fábio Piva Pacheco, Fabiano Fidelis: “deixou o jornal sob a direção de um sobrinho que exercia a função de juiz classista em Uberlândia, chamado Sérgio Henrique de Oliveira”273

. O Triângulo ficaria sob responsabilidade do juiz Sérgio Henrique, da cidade de Uberlândia, até o ano 2000, quando fecharia suas portas devido a mais de 50 ações trabalhistas correndo no fórum contra a empresa274. No recorte temporal realizado para essa pesquisa o jornal contava com o seguinte grupo editorial: Diretor presidente: Fábio Antonio Porzzi; Diretor Superintendente: Dorivaldo Alves do Nascimento; Diretor responsável: Alberto Gomidi; Diretor de Redação: Luiz Fernando Quirino. Reiteremos mais uma vez que as citações dos referidos nomes são fundamentais para entendermos quais são os responsáveis pelas publicações sobre a Revolução Cubana, uma vez, que propomos uma problematização do interesse desse jornal ao veicular determinadas representações sobre a Ilha Caribenha.

O projeto tipográfico do jornal O Triangulo era bem característico de veículos impressos de comunicação de menor expressão, pois as edições desse periódico, por vezes, não detinham uma regularidade, suas páginas contavam principalmente com notícias e debates locais e suas técnicas de impressão eram em quase todas as ocasiões em preto e branco. Apesar disso, houve mudanças significativas do período de circulação do jornal até os anos 1990. O jornal de forma geral detinha cinco páginas, entretanto, nas décadas de 1930 e 1940, o periódico contava com publicações irregulares, por vezes, quinzenais e outras em três vezes na semana. A partir dos anos de 1950, o jornal buscava se firmar no espaço e com o público local, passando a realizar publicações mais diárias, porém ainda com poucos contribuintes que pudessem escrever opiniões próprias, realizando, portanto, replicação de notícias e assuntos de outros jornais com mais notoriedade nacional. A partir de 1960 e 1970, O Triangulo buscou competir de maneira mais contundente na cidade de Uberlândia. Suas publicações, além de diárias, passavam a somar-se em cinco páginas e com artigos de opinião de seus colaboradores, sendo os principais deles: Luiz Fernando Quirino e Paiva Neto. Nesse período, o jornal O Triangulo trazia em sua primeira e segunda página destaques sobre

272 Informações de: PACHECO, Fábio P. op.cit, p. 32. 273Idem, p. 33.

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acontecimentos na política nacional e local; na terceira artigos diversos com colunas de seus redatores e colaboradores, bem como horóscopos e o chamado “ espaço do leitor”; na quarta encontrava-se artigos sobre o esporte, especialmente sobre o time de futebol da cidade; e na última editais e propagandas. Temáticas internacionais, como por exemplo, a Revolução Cubana, não encontrava regularidade em sua tipografia. Parece- nos que assuntos desse cunho eram depositados pelo periódico a partir de seus propósitos, por vezes em paralelo com acontecimentos nacionais.

O Triângulo, bem como o jornal Correio de Uberlândia detinha influências políticas na cidade e região. Contribuintes, partidos e outros sujeitos que mantinham financeiramente esses periódicos, consequentemente também espaço para suas ideias e defesas políticas. Segundo Orlanda Fernandes, na década de 1960 O Triangulo recebia influências diretas do PSD, uma vez que nesse período o seu proprietário Renato de Freitas havia sido prefeito de Uberlândia por esse partido (1967-1970; 1973-1976) e um de seus colaboradores, Rafael Marino Neto, chegou a exercer o cargo de vereador pela cidade, também pelo PSD (1956-1970)275. Nos anos subsequentes e principalmente no período que propomos analisar não fica clara nenhuma aproximação do jornal com algum partido político, entretanto, será possível notar através das representações da Revolução Cubana um posicionamento semelhante aos que foram realizados pelo Correio de Uberlândia.

2.2- Esperança ou expectativa? A Revolução Cubana após a queda do muro de