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Capítulo I. ENQUADRAMENTO TEORÍCO-CONCEPTUAL.

O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DE TIMOR-LESTE.

3.2. Emergência da norma de autodeterminação (1980 – 1989).

4.4.3. Início da cascata normativa em Portugal e na CPLP (1991).

O papel de Portugal foi importantíssimo e insubstituível em todo processo da independência. «Portugal foi sempre o representante e porta-voz legítimo de Timor-

Leste», segundo Constâncio Pinto.»193 Embora Portugal não tenha cumprido os seus deveres como potência colonizador, não abandona Timor-Leste como a Espanha fez, por exemplo, no Sahara Ocidental. Portugal manteve a sua responsabilidade moral, acompanhou e lutou ao lado dos timorenses até a independência de Timor-Leste.

191 Volume II, Chega, CAVR, 2010, 811-812. 192

Volume II, Chega, CAVR, 2010, pp. 804-812.

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Portugal foi fundamental no movimento de solidariedade internacional com Timor Leste. Para o melhor e para o pior, Portugal foi o veículo diplomático da vontade dos timorenses em se autodeterminarem, como, aliás, lhe competia enquanto potência administrante. Desde o momento da invasão, em 1975, até ao referendo de 1999, Portugal envolveu-se nos esforços diplomáticos para ser encontrada uma solução justa e juridicamente válida do caso, denunciando a ocupação, as violações grosseiras e em larga escala dos direitos humanos fundamentais, e a invalidade da apropriação dos recursos naturais de Timor-Leste.

Ao longo dos 24 anos da luta de Timor-Leste «houve organizações de solidariedade em Portugal, tal como a Paz é Possível e tanto outros grupos parlamentares, assim como a comissão eventual para o acompanhamento da situação de Timor-Leste.194» Portugal batalhou em Genebra, na Comissão de Direitos Humanos, para conseguirem um projeto de resolução condenando a situação de violação de Direitos Humanos em Timor-Leste. A intervenção de Portugal, por via da delegação portuguesa em Genebra, liderada por Ana Gomes, cumpriu a orientação política do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Durão Barroso para que se usasse «a linguagem atómica.195» com os membros da União Europeia: se estes não votassem a favor da resolução sobre Timor-Leste, Portugal ia abandonar as outras resoluções sobre Cuba, o Irão e o Iraque. No dia seguinte houve a primeira grande votação na Comissão de Direitos Humanos, onde a resolução passou com uma larga margem contra a violação dos Direitos Humanos cometida pela Indonésia em Timor-Leste. Com o processo da cascata normativa, Portugal conseguiu convencer os seus aliados entre os estados-membro da União Europeia a apoiar a independência de Timor-Leste.

A entrada de Portugal para a Comunidade Europeia deu a «possibilidade jurídica de vetar permanentemente qualquer iniciativa de reconhecimento europeu da anexação.196»

O país tinha-se tornado membro da Comunidade Europeia em 1986 e, sob pressão do movimento de solidariedade não-governamental, essa nova condição foi usada para a internacionalização sustentada do problema de Timor-Leste.

Também a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) concertou políticas e esforços na luta para a libertação de Timor-Leste e a afirmação da Independência do País.

194 Bessa, Mendes, Pereira, Mónica Ferro, 2004, p. 11. 195

Bessa, Mendes, Pereira, Mónica Ferro, 2004, p. 12.

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Timor-Leste, invadido e ocupado pela Indonésia e bloqueado pela Austrália, viu-se impedido de exercer a sua autodeterminação e a afirmação da sua soberania durante mais de duas décadas, nas quais foi dizimado mais de um terço da sua população. Fato que a história contemporânea regista com profundo pesar, assim como os próprios timorenses. Não se pode subestimar a importância que a CPLP tem para os seus membros. Este é um fórum multilateral privilegiado para o aprofundamento das suas relações sociais, culturais e políticas através da cooperação e da concertação política e diplomática nos fóruns internacionais, que visa a consolidação desses Estados e a prossecução dos seus objetivos nacionais.

A relação entre Timor-Leste e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi desde sempre muito estreita. Este jovem país de língua portuguesa situado no Sudeste Asiático sempre contou, desde os tempos da resistência à ocupação indonésia, com o apoio e solidariedade da CPLP. Da resenha histórica deste relacionamento que é agora recordado, tem grande significado a importância que representa a Comunidade para Timor-Leste e a janela de oportunidades que esta jovem Nação pode representar para os Estados membros da CPLP.

Em 1996 deu-se, assim, o início do processo da difusão da cascata normativa, quando, pela primeira vez, os Chefes de Estado e de Governo da CPLP receberam, no decurso da primeira Conferência, uma delegação da Comissão Coordenadora da Frente Diplomática da Resistência Timorense, que teve a oportunidade de intervir, expondo «as preocupações pela situação prevalecente em Timor-Leste e a sua luta pela

liberdade e dignidade do Povo timorense, designadamente pelo exercício do seu direito inalienável à autodeterminação.197» A reação dos então Chefes de Estado e de Governo da CPLP foi no sentido de afirmar a sua firmeza em promover acções concertadas com o intuito de garantir o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais no território e a obtenção de uma solução justa, global e internacionalmente aceitável para a questão de Timor-Leste, no pleno respeito pelos legítimos direitos e aspirações do seu Povo, em conformidade com o Direito Internacional. Dois anos volvidos, em 1998, durante a reunião do Conselho de Ministros da CPLP em Cabo Verde, Timor- Leste foi formalmente admitido com o estatuto de observador convidado. No ano seguinte, em 1999, momento marcado pelas negociações entre Portugal e a Indonésia,

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sob a égide da ONU, para a realização do referendo sobre a questão de Timor-Leste, e posteriormente pelo resultado do referendo e decisão do Povo timorense pela Independência, os Governos dos Estados-membros da CPLP já tinham expressado o seu total apoio ao processo, mobilizando uma missão de observação eleitoral, composta por quadros que integrariam a Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNAMET), por forma a garantir o êxito da consulta popular.

4.4.4. Massacre de Santa Cruz.: um novo ponto de viragem no processo da difusão