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Capítulo I. ENQUADRAMENTO TEORÍCO-CONCEPTUAL.

PASE 3: Concessões táticas.

1.3. O ciclo de vida das normas.

A aplicação da perspetiva teórica da difusão normativa ao caso do processo de autodeterminação e de independência de Timor-Leste, por via do conceito do ciclo de vida das normas, e tal como será apresentada no capítulo três desta dissertação, pode estabelecer-se da seguinte forma:

1.3.1. Na fase da Norma Emergente

77 Buchanan, 2005. Apud Risse, Roop & Sikkink. Risse, Roop e Sikkink,; The power of Humans Rights ,

International Norms and Domestic Change; 1999.

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Convenção Montevideu, 1933.

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Nesta primeira fase, daremos maior atenção à luta de vários atores pela independência de Timor-Leste, com especial atenção sobre o CNRT, nomeadamente na sua contestação à legalidade da presença dos militares indonésios. Esta plataforma teve um efeito positivo e essencial na posterior multiplicação dos processos de socialização e interiorização da norma jurídica por parte de todos os povos e divulgando-a para todos os países no mundo.

1.3.2. Na fase da Cascata Normativa

Nesta segunda fase, dar-se-á maior atenção aos mecanismos de ativação da cascata normativa, e de como os atores ou líderes timorenses tiveram que se integrar na plataforma jurídica à qual pertenciam os Estados aliados, como, por exemplo, a CPLP, as várias Organizações Internacionais, a Liga dos Direitos Humanos e os órgãos de comunicação social internacionais.

Os acontecimentos importantes desta fase são «o massacre de Stª Cruz, a visita do Papa João Paulo II (Prémio Nobel da Paz) e os assaltos às embaixadas dos EUA. Estes eventos contribuíram para a conquista de apoio e suporte à questão de Timor-Leste a nível regional e internacional (Marques, 1992). Também é relevante a Missão Paz em

Timor, levada a cabo no navio Lusitânia Expresso, que visava depor uma coroa de

flores no cemitério de Santa Cruz, em memória dos aís massacrados, mas cujo objetivo principal era, obviamente, denunciar ao mundo a violência que estava a ser cometida pela Indonésia em Timor-Leste. A bordo, para além dos estudantes, viajaram jornalistas, políticos e outras figuras públicas, entre as quais o ex-Presidente da República portuguesa, General Ramalho Eanes. As bandeiras de muitos países e da ONU, içadas no navio, ilustravam o espírito internacional desta missão de paz»80.

1.3.3. Na fase da Internalização da Norma

A ONU, «através da Resolução 384/75, de 22 de Dezembro de 1975, condenou a anexação ilegal de Timor-Leste pela Indonésia. A missão Guicciardi (instituída com a Resolução 389/76, de 22 de abril, Art. 27, n. 3), conhecida pelo apelido do seu chefe, Vittorio Guicciardi, visitou a Indonésia, Timor-Leste e Austrália, de 15 de Janeiro a 7 de Fevereiro de 1976, após a resolução 389/76, de 22 de Abril. Art. 27, nº.3.»81

Em 1997, o então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, optou por uma abordagem mais ativa, com o objetivo de finalizar o processo tripartido para Timor-Leste, que envolvia o Secretariado da ONU, a Indonésia e Portugal. Em Fevereiro desse ano

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nomeou o Embaixador Jamsheed Marker, do Paquistão, um diplomata com uma longa e prestigiada carreira, como Representante para Timor-Leste. Em finais de 1999, Francesc Vendrell, de Espanha, foi nomeado representante pessoal adjunto para Timor-Leste. Como diretor da divisão Ásia-Pacífico do Departamento de Assuntos Políticos do Secretariado da ONU, Vendrell desempenhara, durante muitos anos, um papel de bastidores nas negociações tripartidas sobre Timor-Leste.

Nesta fase, prestaremos atenção ao processo da realização do referendo e a uma posterior decisão sobre o envio de uma missão especial da ONU (United Nations Mission in East Timor - UNAMET), liderada por Ian Martin, constituída ao abrigo da Resolução do Conselho de Segurança da ONU nº. 1246 (1999) com o propósito de organizar e supervisionar a consulta popular»82.

Neste ponto, que se enquadra melhor como uma fase intermédia entre a segunda e a terceira fases, analisa-se como foi conseguida, e em que medida, uma convergência de ações entre vários atores no sentido de reforçar a solidariedade internacional. Aqui, vai- se prestar atenção à concertação de ações diplomáticas entre os principais atores, e ao alcance de cada um. Por exemplo, a de Portugal, na tentativa de pressionar a União Europeia e as Nações Unidas para que se pudesse resolver o problema de forma eficaz e duradoura, ou a da Igreja junto da ONU. Figuras diplomáticas importantes aqui são Xanana Kay-Rala Gusmão, Ramos Horta e D. Ximenes Belo. No fundo, procura-se compreender como os atores importantes ajudaram a mobilizar a CPLP, a própria União Europeia e as Nações Unidas, em prol da causa de Timor-Leste.

Sumariamente, esta onda de solidariedade não surgiu de um momento para o outro no coração de todos estes agentes. A onda foi-se alastrando através da adesão de diferentes Estados (como Portugal) e agentes não-nacionais (as organizações da juventude e de estudantes, como a OJETIL e a RENETIL, a FRETILIN, CRRN, CNRM, CNRT e a própria Igreja de Timor-Leste). O esforço de todos estes atores orientou-se para o objetivo de persuadir novos agentes normativos e para a captação de novos Estados e novas forças não-estatais que se foram solidarizando com a causa de Timor-Leste, formando um movimento de apoio internacional.

No fim desta fase, a norma já não se deve discutir ou debater: esta já deve ser legítima e estar cumprida a nível internacional e nacional. Um fator adicional a ser analisado na proposta é a crise financeira na Indonésia em 1998, que, de acordo com a análise da

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ONU, contribuiu para a derrota do regime de Hadji Mohamed Suharto (que se demitiu do seu cargo).

CAPÍTULO II

A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA DE TIMOR-LESTE: