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PELO TRIBUNAL DO JÚRI

Para Aury Lopes Júnior, a fixação de valores a título indenizatório, na sentença penal condenatória, constitui uma errônea privatização do processo penal, misturando pretensões de diversas naturezas. O problema agrava-se no rito do

Tribunal Júri, não só pela complexibilidade fática que geralmente envolve esses fatos, mas também pela própria especificidade do ritual judiciário ali estabelecido. Dentro desse tema, o autor nos remete as seguintes perguntas:

Como poderá o réu realizar uma defesa eficiente em plenário e ainda ocupar-se de fazer a “defesa cível”, para evitar uma condenação a título indenizatório em valores excessivos e desproporcionais? Além de ser completamente inviável, há ainda um outro complicador: para quem deverá dirigir sua argumentação? Para o juiz ou para os jurados? Mas os jurados serão quesitados sobre valores indenizatórios?

Não, os jurados não decidem sobre isso. Então como conciliar uma defesa penal dirigida aos jurados e, no mesmo debate, sustentar questões patrimoniais para o juiz?

É absolutamente inviável. Ademais, pela complexidade que envolve a indenização em crimes contra a vida, não há condições processuais para, no processo penal, discuti-las com as mínimas condições probatórias e jurídicas. Pior ainda em plenário. Sem falar que, no júri, incumbe ao conselho de sentença a decisão e não há previsão de que eles decidem sobre a indenização e seu valor (2014, p. 1056).

Vejamos que, o mesmo autor acredita que este artigo 387, inciso IV do Código de Processo Penal é inviável no processo penal, que passa a ser também um instrumento de tutela de interesses privados. Salienta ainda que não está justificada pela economia processual e causa uma confusão lógica grave, tendo em vista a natureza completamente distinta das pretensões (indenizatória e acusatória). Representa uma completa violação dos princípios básicos do processo penal e, por consequência, de toda e qualquer lógica jurídica que pretenda orientar o raciocínio e a atividade judiciária nessa matéria. Desvirtua o processo penal para buscar a satisfação de uma pretensão que é completamente alheia a sua função, estrutura e princípios informadores (2016, p. 216).

O autor em uma de suas obras, aponta duas soluções em relação a essa problemática da fixação do valor mínimo nos casos submetidos ao Tribunal do Júri, quais sejam: Aceitar que indevidamente o juiz fixe um valor de indenização na sentença condenatória, negando ao acusado possiblidades de defesa e usurpando o poder decisório do conselho de sentença, ou simplesmente negar a validade substancial do art. 387, inciso IV, do Código Processo Penal, nos processos submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri (2014, p.1057).

Obviamente, a segunda solução é mais viável, devendo o juiz limitar-se ao que foi decido pelos jurados, sem fixar qualquer valor a título indenizatório.

Conclui-se que, essa posição de não fixar na sentença penal qualquer valor a título de indenização, de um lado, assegura o direito de defesa do réu e o respeito à soberania das decisões dos jurados, e entretanto não impede que a vítima ou seu representante legal, munido da sentença penal condenatória transitada em julgado, promova a liquidação e execução cível.

5 CONCLUSÃO

É possível concluir que o presente trabalho acadêmico atendeu ao seu propósito, trazendo uma reflexão crítica do leitor em relação ao art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, no qual determina que proferida uma sentença condenatória no juízo criminal, o juiz poderá fixar um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofrido pelo ofendido, limitando essa reflexão especificamente nos casos das sentenças proferidas em plenário.

O leitor poderá observar no decorrer da leitura do presente trabalho que este tema é complexo e requer um posicionamento da revisão do art. 387, inciso IV do Código de Processo Penal, pois nos processos submetidos ao Tribunal do Júri, o correto seria o juiz limitar-se, apenas, ao que foi decidido pelos jurados, sem fixar qualquer valor indenizatório, tendo em vista que seria absolutamente inviável à defesa do acusado realizar uma defesa penal eficiente em plenário, e ainda ocupar- se de fazer uma defesa cível, para evitar uma condenação a título indenizatório no qual não concorde com o valor fixado pelo juiz.

Para chegar a esta conclusão, foram realizados diversos estudos envolvendo outros subtópicos, como: o ato ilícito, ilícito civil, responsabilidade civil e sua evolução, responsabilidade civil objetiva e subjetiva, do dever de indenizar, ilícito penal e responsabilidade penal, onde nos referidos subtópicos aqui mencionados foram abordados, conceitos, características e consequências de cada um.

Ainda, mencionou-se os tipos de sentenças e seus reflexos, tendo sido abordado as sentenças civis e penais no âmbito jurídico, fazendo uma análise de suas características, dando uma maior relevância aos pressupostos constitucionais, bem como as características das decisões proferidas pelo conselho de sentença no Tribunal do Júri, observando os princípios da soberania dos veredictos e o sigilo de votação. Atentando ainda, para a importância da coisa julgada.

No terceiro e último capítulo, explicamos também o art. 387, IV do Código de Processo Penal, que estabelece a possibilidade do juiz fixar o valor mínimo de indenização na sentença penal condenatória, bem como tratamos sobre a inaplicabilidade do referido inciso, nos processos submetidos ao Tribunal do Júri.

Destacamos que a Lei 11.719, de 2008 modificou o art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, atribuindo ao juiz criminal o poder de estabelecer um valor mínimo para reparação do dano causado em decorrência de um ilícito penal. Assim, diante das pesquisas realizadas, percebe-se que, apesar desse artigo ser modificado a bastante tempo em nosso ordenamento jurídico, está longe de ser pacífico, existindo diversas dúvidas e entendimentos.

Dentro deste contexto, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), tratou de analisar as desvantagens do art. 387, inciso IV do Código de Processo Penal, trazida pela Lei 11.719, de 2008, na qual tem o intuito de simplificar e dar mais celeridade e economia processual a reparação patrimonial da vítima, porém deixou de observar os problemas em torno dos efeitos civis.

Finalmente, o que se extrai de tal estudo é levar o caro leitor a concordar que em se tratando de leis jurídicas, todo procedimento ocorre lentamente, a ponto de uma Lei de 2008, não se chegar a um consenso.

Aqui vale ressaltar que todo o empenho e coerência são bem-vindos, por se tratar de leis que regerão sobre o futuro de cidadãos.

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