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A (in)viabilidade de fixação, na sentença condenatória proferida no Tribunal do Júri, dos reflexos civis indenizatórios

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DAVI DA ROSA GONÇALVES

A (IN)VIABILIDADE DE FIXAÇÃO, NA SENTENÇA CONDENATÓRIA

PROFERIDA NO TRIBUNAL DO JÚRI, DOS REFLEXOS CIVIS INDENIZATÓRIOS

Araranguá – SC 2019

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DAVI DA ROSA GONÇALVES

A (IN)VIABILIDADE DE FIXAÇÃO, NA SENTENÇA CONDENATÓRIA

PROFERIDA NO TRIBUNAL DO JÚRI, DOS REFLEXOS CIVIS INDENIZATÓRIOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Renan Cioff de Sant’ana, Esp.

Araranguá – SC 2019

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Dedico este presente trabalho a Deus, a qual devo todas as coisas, a meus pais pelo incentivo em todos os momentos da minha trajetória acadêmica, e de uma forma geral, a todos que de alguma maneira auxiliaram na minha formação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida.

“Quando estou preocupado, geralmente é porque estou tentando resolver tudo sozinho. Quando estou em paz é porque estou confiando que Deus está no controle”. Pr. Antônio Júnior

Agradeço a todas as pessoas que contribuíram para a minha formação no presente curso de Direito. Esta contribuição se deve tanto a ajuda pedagógica, como: professores, orientador, coordenadora do curso, profissionais da universidade, colegas e amigos de curso, irmã, cunhado, bem como ajuda financeira: pais, avós, tios e a própria universidade.

A todos são dedicadas cada página dessa monografia.

Por fim, me sentindo grato com este conjunto de pessoas, meu lema para a vida será: “antes de ser um ótimo profissional, seja um excelente ser humano”.

Sabe-se que na vida sem ajuda não chegaremos em lugar algum. E sendo um futuro profissional com formação em Direito, devo fazer jus a minha formação (Direito).

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“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.” (José de Alencar).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso propõe possibilitar uma reflexão crítica do leitor em relação ao art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, no qual determina que proferida uma sentença condenatória no juízo criminal, o juiz poderá fixar um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofrido pelo ofendido, limitando essa reflexão especificamente nos casos das sentenças proferidas em plenário. De início, expomos sobre o ato ilícito, ilícito civil, responsabilidade civil e sua evolução, responsabilidade civil objetiva e subjetiva, do dever de indenizar, ilícito penal e responsabilidade penal. No segundo capítulo, expõem-se os tipos de sentenças e seus reflexos, bem como das decisões proferidas no Tribunal do Júri e suas características, atentando ainda para a importância da coisa julgada. No terceiro e último capítulo, explicamos o art. 387, IV do Código de Processo Penal, que estabelece a possibilidade do juiz fixar o valor mínimo de indenização na sentença penal condenatória, bem como tratamos sobre a inaplicabilidade do referido inciso, nos processos submetidos ao Tribunal do Júri. A metodologia utilizada foi o método dedutivo e o procedimento monográfico, através de pesquisa bibliográfica e documental.

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ABSTRACT

The present work of course conclusion proposes to allow a critical reflection of the reader in relation to art. 387, item IV, of the Code of Criminal Procedure, which states that a sentence shall be given in the criminal court, the judge may set a minimum amount to compensate for the damage caused by the offense, considering the damage suffered by the offender, limiting this reflection specifically in cases of judgments given in plenary. At first, we expose the illicit act, civil illicit, civil liability and its evolution, objective and subjective civil liability, the duty to indemnify, criminal illicit and criminal liability. In the second chapter, the types of judgments and their reflexes are presented, as well as the judgments handed down in the Jury Court and their characteristics, paying attention to the importance of the res judicata. In the third and last chapter, we explain art. 387, IV of the Code of Criminal Procedure, which establishes the possibility for the judge to set the minimum amount of indemnity in the condemnatory criminal sentence, and we deal with the inapplicability of the aforementioned paragraph in the proceedings submitted to the Jury Court. The methodology used was the deductive method and the monographic procedure,

through bibliographic and documentary research.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 ATO ILÍCITO ... 11

2.1 ILÍCITO CIVIL ... 11

2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO ... 12

2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA ... 17

2.4 DO DEVER DE INDENIZAR ... 20

2.5 ILÍCITO PENAL ... 21

2.6 RESPONSABILIDADE PENAL ... 22

3 AS SENTENÇAS E SEUS REFLEXOS ... 24

3.1 SENTENÇAS CÍVEIS ... 24

3.2 SENTENÇAS PENAIS ... 27

3.3 DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI E SUAS CARACTERÍSTICAS ... 31

3.4 DA COISA JULGADA ... 38

4 DA FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO INDENIZATÓRIO NA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA ... 41

4.1 A INAPLICABILIDADE DO ART. 387, INCISO IV, DO CÓDIDO DE PROCESSO PENAL, NOS PROCESSOS SUBMETIDOS A JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI ... 44

5 CONCLUSÃO ... 47

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso foi elaborado para atendimento ao requisito necessário à obtenção do Título em Bacharel em Direito pela Universidade do Sul da Santa Catarina – UNISUL, unidade de Araranguá-SC, tendo como objetivo possibilitar uma reflexão crítica do leitor em relação ao art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, no qual determina que proferida uma sentença condenatória no juízo criminal, o juiz poderá fixar um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofrido pelo ofendido, limitando essa reflexão especificamente nos casos das sentenças proferidas em plenário.

Dentro deste contexto, existe uma problemática no que se refere a fixação de valores a título indenizatório, na sentença penal condenatória, visto que para alguns doutrinadores há uma não aprovação da privatização do processo penal, tendo em vista que esta aplicação do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, acaba desordenando intenções de diversas naturezas. Assim, o problema agrava-se no Tribunal do Júri, não só pela complexidade fática que geralmente envolve esses fatos, mas também pela própria especificidade do ritual ali estabelecido.

Com relação a esta problemática, surge as seguintes perguntas: Como poderá o réu realizar uma defesa eficiente em plenário e ainda ocupar-se de fazer uma “defesa cível” para evitar uma condenação a título indenizatório em valores excessivos e desproporcionais? Além de ser completamente inviável, há ainda um outro complicador. Para quem deverá dirigir sua argumentação? Para o juiz ou para os jurados? Como conciliar uma defesa penal dirigida aos jurados e, no mesmo debate, sustentar questões patrimoniais para o juiz?

Com o intuito de esclarecer as indagações propostas pelo referido trabalho, estrutura-se o trabalho monográfico em três etapas, divididas da seguinte forma: De início, expomos sobre o ato ilícito, ilícito civil, responsabilidade civil e sua evolução, responsabilidade civil objetiva e subjetiva, do dever de indenizar, ilícito penal e responsabilidade penal, onde nos referidos subtópicos aqui mencionados foram abordados, conceitos, características e consequências de cada um.

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No segundo capítulo, expõe-se os tipos de sentenças e seus reflexos, tendo sido abordado as sentenças civis e penais no âmbito jurídico, fazendo uma análise de suas características, dando uma maior relevância aos pressupostos constitucionais, bem como as características das decisões proferidas pelo conselho de sentença no Tribunal do Júri, observando os princípios da soberania dos veredictos e o sigilo de votação. Atentando ainda, para a importância da coisa julgada.

No terceiro e último capítulo, explicamos o art. 387, IV do Código de Processo Penal, que estabelece a possibilidade do juiz fixar o valor mínimo de indenização na sentença penal condenatória, bem como tratamos sobre a inaplicabilidade do referido inciso, nos processos submetidos ao Tribunal do Júri.

Por fim, a metodologia utilizada foi o método dedutivo e o procedimento foi o monográfico, por meio de pesquisa bibliográfica e documental.

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2 ATO ILÍCITO

O ato ilícito pode ser denominado como penal ou civil, dependendo da norma que for violada, acarretará uma violação distinta entre si “na responsabilidade penal, o agente infringe uma norma penal de direito público, o interesse lesado é em tese da sociedade. Na responsabilidade civil, o interesse lesado é o privado” (GONÇALVES, 2014, p. 498).

Em se tratando do ato ilícito civil e penal, é interessante ressaltar que mesmo sendo atos distintos ocorre uma transgressão de uma norma, onde às consequências sofridas lesionará o interesse individual e coletivo.

Neste seguimento, faremos uma breve explanação de cada termo que compõe o ato ilícito.

2.1 ILÍCITO CIVIL

A definição de ato ilícito no instituto civil, está consagrada no Código Civil Brasileiro, lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, em seu artigo 186, que preconiza sobre a conduta para a configuração de ilicitude. “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, CC, 2019).

Todavia, também é utilizado como artigo complementar o artigo 187, no qual completa a configuração da ilicitude. “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (BRASIL, CC, 2019).

Destarte, o ato ilícito civil tem como seus elementos a culpabilidade, antijuricidade, nexo causal e o dano, sendo que a antijuricidade é concebida através da contraposição aos propósitos do direito, como justiça, paz e segurança (COELHO, 2012, p. 312).

O elemento de culpabilidade engloba dolo e culpa, de modo que os dois institutos não podem se confundir, mas em se tratando de indenização irão gerar a mesma consequência. Dessa forma, a culpa se trata da conduta do agente, no qual

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se este houver concorrido para a ação ou omissão, negligência ou imprudência, estará estabelecido a culpa. (RIZZARDO, 2007, p. 245).

No terceiro elemento que configura o ato ilícito civil, é o nexo causal, nada mais é do que a relação entre a causa e o dano e a insurgência do indivíduo que incorreram para a propositura da lesão do bem jurídico, que é a relação entre a causa e efeito do ato ilícito, fazendo assim nascer o dever de indenizar (NERY, 2009, p. 303).

O último elemento, o dano, é o verdadeiro prejuízo acarretado a vítima, podendo ser moral ou patrimonial, desde que seja atual e que tenha lesado o bem jurídico tutelado. No dano moral é aquele que atinge o aspecto da personalidade do indivíduo, já no dano patrimonial se trata de lesão ocasionada ao patrimônio da vítima (COELHO, 2012, p. 313).

Por fim, é importante ressaltar, o parágrafo único, do artigo 927, do Código Civil, onde trás o fundamento legal da responsabilidade civil objetiva, configurando o ato ilícito a ordem jurídica, pois terá a obrigação e o dever de ressarcimento aquele que causar dano, independentemente se agiu com culpa, conforme preconiza: “Art. 927. Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano, independente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quanto a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem” (BRASIL, CC, 2019).

2.2 RESPONSABILIDADE CIVIL E SUA EVOLUÇÃO

A obrigação jurídica é um vínculo transitório entre o devedor e credor no qual garante a este, o direito de exigir o cumprimento de determinada prestação por aquele. A obrigação pode ter sua origem com o contrato, com uma declaração unilateral de vontade, pelo ato ilícito ou pela lei e se extingue com o seu adimplemento. Mas, quando ocorre o não cumprimento dessa obrigação é que nasce, a responsabilidade. Dessa forma, a responsabilidade é a consequência do inadimplemento da obrigação (GONÇALVES, p. 20-21).

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A palavra “responsabilidade” origina-se do latim respondere, que encerra a ideia de segurança ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. Teria, assim, o significado de recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir. (2012, p. 37).

Assim sendo, a responsabilidade civil tem como objetivo a reparação do prejuízo causado a terceiros. Tenta-se restabelecer o estado anterior da coisa antes do dano, se possível, caso contrário, a alternativa é a compensação financeira à vítima da lesão.

Maria Helena Diniz (2015, p. 50), conceitua a responsabilidade civil como:

A aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal. Definição esta da guarda, em sua estrutura, a ideia da culpa quando se cogita da existência de ilícito (responsabilidade subjetiva), e a do risco, ou seja, da responsabilidade sem culpa (responsabilidade objetiva).

A responsabilidade civil surgiu no Oriente Médio, sendo posteriormente introduzida em outras civilizações, no entanto foi na Roma que foi institucionalizada, fazendo o Estado parte na relação de reparação e esta por meio de vingança. O Código Civil de 1916, instituiu a responsabilidade no nosso ordenamento jurídico, utilizando a teoria subjetivista, devendo ser demonstrada a culpa, já no atual Código Civil de 2002, a responsabilidade passou a ter uma maior relevância, tendo assim uma grande importância a responsabilidade objetiva, aquela que não necessita comprovação de culpa.

No início da civilização humana não se buscava a culpa do infrator que cometeu a lesão ou a gravidade do dano ocasionado. As pessoas que eram lesadas ou ofendidas mediante a prática de ato ilícito contra a sua honra, agiam com as suas próprias decisões com o objetivo de buscar a reparação do dano, no qual normalmente era decidido por meio de vingança coletiva pelos membros da comunidade, ou seja, pela “reação conjunta do grupo contra o agressor, pela ofensa a um de seus componentes” (DINIZ, 2009, p. 11).

Como destacado anteriormente, a responsabilidade civil surgiu no Oriente Médio, e um dos primeiros Códigos que falavam da responsabilidade foi o código de Ur-Nammu, (escrito cerca de 2.040 a. C.), os costumes eram trazidos em forma de leis, e essas dispunham de penas pecuniárias aos autores de infrações. Aponta-se

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que havia vários dispositivos que tratavam da reparação de danos (SILVA, 1999, p. 65).

Entretanto, um dos mais famosos Códigos do Oriente Médio foi o de Hamurabi, (escrito cerca de XVIII a. C), onde já estava sendo utilizada a lei de Talião, nesse período, se perpetuava a responsabilidade pela ofensa e o castigo, ficando sujeito a reparação do dano, na mesma forma que o autor tinha lesado a vítima. Após o surgimento desse Código, passam a influências as demais civilizações, chegando a Roma, onde foi outro período muito importante para a responsabilidade civil (NORONHA, 2007, p. 528).

Com a criação do Poder Público em Roma, deu-se início a um marco, a era da intervenção do poder estatal na sociedade, na qual a lei do talião era utilizada, deixando de ser poder único e exclusivo dos grupos predominantes, e passando a ter a legitimação pelo Estado.

Esse novo modelo de responsabilização por meio da retaliação, era conhecido como vingança privada ou “vendetta”, onde regia-se a ideia de “olho por olho, dente por dente”, todavia se o ato lesivo sofrido pela vítima fosse caracterizado, acarretaria “a reação imediata, instintiva e brutal do ofendido” (GONÇALVES, 2014, p. 400).

O Poder Público, opinava apenas na forma em que a vítima poderia ter o direito a retaliação, para compor no ofensor um dano idêntico ao que foi experimentado. Com o passar dos anos e consequente o período em que vingou a responsabilização pela vingança, passou-se a mudar os métodos de ressarcimento das vítimas que começaram a passar de violência para prestações pecuniárias, e assim o patrimônio do causador do dano era utilizado como forma de indenização (DINIZ, 2009, p. 11).

Com o passar dos anos e com o surgimento da lei Aquilia, deu-se início a um novo direito de responsabilização, quanto a reparação do dano, conforme destaca o autor (VENOZA, 2009, p. 17), “Foi um plebiscito aprovado provavelmente em fins do século III ou início do século II a. C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado seus bens”.

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Com o surgimento da referida lei, houve uma enorme mudança no cenário, pois começou a ter um maior destaque na aplicação da culpa e na reparação do dano sofrido. Dessa forma, a responsabilidade passou a ser do Estado de resguardar o direito do indivíduo e de punir quem cometer o ato ilícito contra a sociedade, e assim iniciando os novos direitos da responsabilidade vigente na atualidade (NORONHA, 2007, p. 530).

No século XX, foi criado o Código Civil de 1916, que foi inspirado no Código Francês, mais conhecido como Código Napoleônico³ do século XIX, na qual sua principal característica é a idealização do liberalismo. O Código Civil de 1916 não tinha muitos artigos que tratavam sobre a responsabilidade civil, sendo a responsabilidade subjetiva a mais acolhida pelas normas da época (GONÇALVES, 2014, p. 6).

Houve uma grande transformação no século XXI, com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, passou a ser mais usada as hipóteses de responsabilidade objetiva, não sendo mais a culpa um fundamento essencial para a caraterização da responsabilidade. A mudança mais significativa está no artigo 927, onde dispõe uma exceção a teoria da subjetividade, mas permanece como regra geral a da responsabilidade subjetiva (BORGES, 2018, p. 58).

A responsabilidade civil, com os passar dos anos se tornou um instituto de grande relevância no direito civil brasileiro, de modo que abrange o direito de indenização ou restituição de dano causado a outrem, ficando assim a critério do julgador estipular um valor pecuniário que deve ser pago pelo causador do dano. Dessa forma, quem descumprir um dever jurídico terá a obrigação de ressarcimento do dano causado, na devida proporção (VENOZA, 2005, p. 570).

Atualmente a conceituação da responsabilidade civil está diretamente ligada a devida responsabilização da pessoa que praticou o dano, tendo a possibilidade de buscar o ressarcimento juridicamente, e assim nasce o direito de reparação e a obrigação de indenizar. Assim, fica bem claro o porque a responsabilidade civil está disciplinada conjuntamente com o direito das obrigações (GONÇALVES, 2016, p. 45).

Segundo os ensinamentos de GABURRI; HIRONAKA; ARAÚJO, os indivíduos têm pleno direito a não serem lesadas injustamente pelas condutas

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praticadas por terceiro, e caso sejam lesadas, tem o total amparo na legislação para buscar a indenização, onde esta indenização deverá ter a mesma proporção do dano causado, tendo em vista que o direito de reparação está diretamente ligado a conduta que o ocasionou o dano (2008, p. 27).

Na antijuricidade, o instituto da responsabilidade civil não tinha nada parecido com esse modelo contemporâneo, tendo em vista que naquele tempo regia a ideia de direito de vingança, onde a vítima teria a possibilidade da responsabilização pelas próprias mãos, não sendo este responsabilizado pelos atos praticados, pois a vingança era tida como direito de sansão punitiva (RIZZARDO, 2013, p. 28-29).

Segundo GONÇALVES, a reparação efetiva deve estar em proporcionalidade com o bem jurídico lesado, coisa ou pessoa, que deve estar no mesmo estado o qual se encontra antes de ser lesado, ou até mesmo podendo ser na forma de pecúnia, restando o valor pago em equilíbrio com o direito violado, sendo ele patrimonial ou moral, coisa que não acontecia no surgimento do instituto da responsabilidade civil (2017, p. 19-20).

O instituto da responsabilidade civil é como se fosse uma trava, para que os indivíduos vivam em sociedade sem causar nenhum tipo de prejuízo aos demais indivíduos, pois em caso de prejuízo advindo de lesão cometida, caberá a responsabilidade civil instituir a reparação, caso ela não existisse, ficaria as pessoas livres para estabelecerem suas próprias regras (GABURRI; HIRONAKA; ARAÚJO, 2008, p. 28).

Neste contexto, os doutrinadores Gagliano e Pamplona Filho (2014, p. 53), utilizam a mesma linha de raciocínio, para eles um indivíduo que atua por meio de um ato ilícito ocasionando uma violação a uma norma existente, terá como consequência o dever de reparação pelo ato praticado, mesmo sendo uma norma contratual ou legal.

Ainda assim, Fabio Ulhoa Coellho (2010, p. 266), preconiza em seus ensinamentos que “a responsabilidade civil é a obrigação em que o sujeito ativo pode exigir o pagamento de indenização do passivo por ter sofrido prejuízo imputado a este último”.

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Por fim, verifica-se que a evolução da responsabilidade civil, demostra uma grande importância como instituto do direito, pois busca o objetivo claro que é a reparação do dano sofrido, tendo a vítima uma compensação pelo desprazer de ter seu direito violado.

2.3 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA

No instituto da responsabilidade civil contemporânea, existem duas espécies de responsabilidade, a objetiva e subjetiva, sendo que a subjetiva tem como principal característica o fundamento de culpa, porém não é somente esse fundamento que poderá ou não ser apontado como elemento que vai gerar direito a uma obrigação de reparação de dano pelo ato praticado (GONÇALVES, 2016, p. 59).

Não se faz ser demostrada a culpa quando se trata de atividade de risco, onde o agente fica responsável pelos danos recorrentes desta atividade. Porém na responsabilidade subjetiva a culpa é um elemento necessário para a sua configuração, pois caso a culpa não seja evidenciada não se terá direito a reparação (RIZZARDO, 2013, p. 23).

A teoria clássica, também conhecida como teoria da culpa ou até mesmo teoria subjetivista, tem como a culpa elemento da fundamentação da responsabilidade civil, pois não havendo culpa, não se caracteriza responsabilidade, de modo que esta subjetividade tem como esteio a concepção de culpa (GONÇALVES, 2014, p. 498).

No Código Civil de 1916 a responsabilidade subjetiva era a diretriz, onde todo o instituto da responsabilidade estava sustentado na comprovação de culpa, como previa o artigo 159 do referido código, não abrindo espaço para um novo modelo de responsabilidade, tendo apenas as exceções da culpa presumida no artigo 1.521, e da responsabilidade objetiva nos artigos 1.527, 1.528 e 1529. Logo, o Código Civil de 2002 trouxe muitas mudanças neste instituto, fazendo assim passar de um Código totalmente subjetivista (1916), para um atual, que disciplina também uma responsabilidade objetiva, apesar da teoria subjetivista ainda ser a regra geral (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 36).

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Segundo (Gagliano e Pamplona Filho, (2014, p. 57), a responsabilidade subjetiva faz necessário ser evidenciada, bem como só será responsabilizado pelo ato ilícito praticado, se ficar demostrado de forma inequívoca que o indivíduo agiu com culpa ou dolo. Verifica-se que a palavra culpa advinda da esfera civil, é constituída em consequência de ato de imprudência ou negligência.

Para Alonso, não se pode falar em responsabilidade, se houver ausência de culpa, pois há uma violação de um direito de dever preexistente. Desse modo, tem-se por culpa, a imprudência ou negligência do indivíduo que define a lesão do direito de terceiro, ou causa-lhe prejuízos (2000, p. 21).

A natureza da subjetividade da responsabilidade, não pode ser caracterizada por fato de um indivíduo qualquer, só poderia ser gerada a responsabilidade na ocorrência de uma conduta culposa, compreendendo também em seu contexto o dolo do indivíduo (PEREIRA, 2016, p. 40).

Segundo o entendimento de Paulo Sérgio Gomes Alonso:

Na dogmática da responsabilidade civil subjetiva, o ato ilícito destaca-se como um elemento relevante de sua sustentação. A investigação do comportamento do agente é fundamental para a apuração da sua responsabilidade, uma vez que o pressuposto do dever de indenizar pela teoria subjetiva é a conduta culposa do agente (2000, p. 21).

Nesse contexto, a responsabilidade subjetiva está atrelada a ocasião em que o agente realizado o ato ilícito, e onde cada indivíduo deve responder pela sua culpa, tendo em vista que violou normas e condutas estabelecidas em lei, sendo deste modo necessário a comprovação de culpa, para que posteriormente consiga a reparação do dano sofrido (AGUIRRE; BARROS, 2012, p. 240).

A partir da metade do século XX, passou a se estabelecer a possibilidade de buscar a indenização, mesmo que a lesão sofrida pela vítima, não advenha de culpa, atrelado ao nexo causal, não mais existindo a necessidade de comprovar culpa ou dolo do indivíduo, sendo neste caso a responsabilização pelo ato praticado, vinculada a teoria de risco (GONÇALVES, 2016, p. 60).

Dessa forma, verifica-se a responsabilidade objetiva, a qual tem sua nascente na Revolução Industrial, onde estava diretamente ligada as áreas de indústria, agricultura, bem como no crescimento e desenvolvimento das

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comunicações e transportes, estando em um momento histórico e de grande desenvolvimento nos setores econômicos (ALONSO, 2000, p. 33-34).

Com a modernização e a utilização de novas tecnologias e divergindo das atuais condições vividas na época, nasce a responsabilidade objetiva, quando o ser humana passou a trabalhar em situações de maior risco, este novo instituto de responsabilidade, vem para dar maior proteção ao indivíduo, sendo que naquele momento histórico, não tinha qualquer norma legal que resguardasse o seu direito a reparação, diante da carência de culpa (ALONSO, 2000, p. 36).

Destarte, esta nova teoria, denominada responsabilidade objetiva, trouxe um grande avanço durante os séculos XIX e XX, onde foram reformuladas algumas normas, segundo a noção da responsabilidade advinda do elemento culpa, passando-se a ter uma visão mais abrangida do referido instituto de responsabilidade (VENOSA, 2013, p. 13).

Caio Mário Silva Pereira, (2016, p. 333), esclarece o surgimento da teoria da responsabilidade objetiva:

A insatisfação com a teoria subjetivista tornou-se cada vez maior, e evidenciou-se a sua incompatibilidade com o impulso desenvolvimentista de nosso tempo. As multiplicações das oportunidades e das causas de danos evidenciaram que a responsabilidade subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação. Esta, com efeito, dentro da doutrina da culpa, resulta na vulneração de norma preexistente, e comprovação de nexo causal entre o dano e a antijuricidade da conduta do agente. Verificou-se, como já ficou esclarecido, que nem sempre o lesado consegue provar estes elementos.

Para Pamplona Filho e Gagliano (2014, p. 580), o dolo ou culpa do indivíduo não era tão importante para a configuração da responsabilidade civil, pois o real objetivo era o de conseguir reparar o dano sofrido pela vítima, fazendo com que a mesma obtivesse o seu direito resguardado, por meio do princípio da responsabilidade civil, tendo em vista que o agente era cada vez mais passível de riscos, com enorme possibilidade de sofrer danos mais graves (ALONSO, 2000, p. 39).

Na visão de GONÇALVES, “toda pessoa que exerce alguma atividade, cria um risco de dano para terceiros”, sendo assim, o agente tem a obrigação da reparação, mesmo quando não for demostrada a culpa (2016, p. 60).

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Nesse mesmo sentido, o doutrinador Silvio Rodrigues (2003, p. 11), salienta:

[...] aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, este tem direito de ser indenizada por aquele.

Assim sendo, todo e qualquer ato culposo ou doloso, que acarrete ou ocasione a terceiro uma lesão, prejuízo de qualquer origem, está obrigado a indenizar a vítima pelo seu ato praticado (ALONSO, 2000, p. 21).

Por fim, verifica-se que a teoria objetiva da responsabilidade civil, irá deixar de lado a concepção de que o dolo e culpa deve ser demonstrada para que seja configurado a responsabilização, pois na maior parte das vezes o agente se trata da parte mais vulnerável, onde se tem maior dificuldade de obter a efetiva reparação.

2.4 DO DEVER DE INDENIZAR

O dever de indenizar vem do instituto da responsabilidade civil, de modo que o posicionamento parte de quem viola um dever jurídico através de um ato ilícito ou lícito, tem a obrigação de indenizar, pois todos tem um dever jurídico de não ocasionar danos a outrem, e caso haja violação a este dever jurídico, passará a ter um dever jurídico sucessivo, o de ressarcimento do dano que foi sofrido (CAVALIERI FILHO, 2008, p. 2).

A responsabilidade civil tem o objetivo de reparar o dano sofrido, tendo este dano levado a uma diminuição de algum bem jurídico. Caso não exista dano, não haverá reparação, tendo em vista que o direito a indenização só se configura com a lesão sofrida, esta lesão pode ser imaterial, onde quem sofre é a personalidade da pessoa, como a liberdade, imagem, honra, ou dano material, causado no patrimônio ou na própria vítima (RIZZARDO, 2013, p. 52).

Na modalidade de dano imaterial não se trata mais de lesão de conteúdo pecuniário, mais sim da personalidade da pessoa humana, consagrado na Constituição Federal, e como este dano será visto pela sociedade de um modo

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geral. Diferente é o dano material, onde o dano sofrido é o valor econômico, podendo ser um dano causado diretamente a vítima ou a uma perda no seu patrimônio, que poderá ser reparado de forma “in natura”, sendo reparado uma coisa semelhante, ou até mesmo valor em dinheiro (GAGLIANO, 2011, p. 86).

O dever de indenizar consequentemente está assegurado no artigo 927 do Código Civil, onde tipifica o dever de indenização, sendo um dever jurídico de obrigação. Vale ressaltar que no referido Código existem outras espécies de obrigações (dar, fazer, não fazer), que não podem ser confundidas com o dever de indenizar. Um dos elementos das obrigações é ter o ato ilícito, mas somente no Código Civil atual, que a norma concretizou esse entendimento, dispondo que o indivíduo terá o dever de indenizar, quando este concorrer para um ato ilícito (CAVALIERI FILHO, 2014, p. 16).

Segundo Sérgio Cavalieri Filho (2008, p. 5), faz um apontamento claro e bem simples a luz do dever de indenizar:

À luz do dispositivo, creio ser possível assentarmos duas premissas que nos servirão de suporte doutrinário. Primeira: não há responsabilidade, em qualquer modalidade, sem violação de dever jurídico preexistente, uma vez que responsabilidade pressupõe o descumprimento de uma obrigação. Segunda para se identificar o responsável é necessário precisar o dever jurídico violado e quem o descumpriu.

Por fim, o dever de indenizar está totalmente ligado ao dano sofrido, não importando se a lesão ou dano advenha de direitos imateriais ou materiais, pois o que tem maior relevância é a ocorrência do dano ou prejuízo sofrido pela vítima, tendo em vista que sem violação a um direito tutelado jurisdicionalmente, não se caracteriza a responsabilidade, e posteriormente o dever de indenizar.

2.5 ILÍCITO PENAL

O ato ilícito penal é praticado por aquele que, por ação ou omissão culpável, viola direito tipificado em lei. Esse ato ilícito é tipificado pelo Direito Penal, ou seja, só pratica o ato ilícito penal gerador de responsabilidade penal, a pessoa que um tipo penal específico.

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Frisa-se que o tipo penal é a descrição legal de uma conduta definida como crime. Aquele que diz que um fato é crime e estabelece uma pena para a pratica deste é o legislador.

Com o ato ilícito penal é que nasce a reparação penal, e essa é realizada por imposição de uma pena, que pode ser restritiva de liberdade, restritivas de direitos ou de natureza pecuniária.

O Código Penal, preconiza que a condenação criminal gera a obrigação de ressarcimento pelo fato típico penal cometido e pelos danos causados pelo crime, conforme destaca o artigo 91 do mesmo código: “São efeitos da condenação: I – Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (BRASIL, CP, 2019).

Para o Autor Fernando da Costa Tourinho Filho (2010, p. 258), havendo um ilícito penal, há quase sempre um ilícito civil, pois o crime não é somente violação de um bem ou interesse penalmente protegido, mas também, ilícito civil, com um fato injusto que produz dano. Dessa forma, o ilícito penal constitui quase sempre um ilícito civil. Entende-se que a infração penal, provoca a reação da pena e, como ilícito civil, determina o direito à satisfação do dano.

Segundo Damásio de Jesus (2009, p. 159), não existe uma diferença substancial entre o ilícito penal e o civil:

Não há diferença substancial ou ontológica entre o ilícito penal e o civil. Em sua essência, não há diferença entre eles. A diferença é de natureza legal e extrínseca: o ilícito penal é um injusto sancionado com a pena; o civil é o injusto que produz sanções civis.

2.6 RESPONSABILIDADE PENAL

Diferentemente da responsabilidade civil, na responsabilidade penal o agente infringe uma norma de direito público, sendo neste caso, o interesse lesado é a sociedade, bem como essa responsabilidade é pessoal, intransferível.

O doutrinador Fernando da Costa Tourinho Filho, salienta que a responsabilidade penal é sempre pessoal. O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe de causa, não podendo assim, nenhuma pena passar da pessoa do delinquente (2010, p. 262).

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Importante frisar o artigo 935 do Código Civil, no qual diz que, a responsabilidade civil e as esferas criminais são interdependentes. Neste sentido segue na íntegra o referido artigo: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.” (BRASIL, CC, 2019).

O Código Penal, por sua vez, preconiza que a condenação criminal torna certa a obrigação de ressarcimento pelo crime cometido, bem como pelos danos causados pelo típico penal cometido, conforme verifica-se o artigo 91 do Código Penal: “São efeitos da condenação: I- Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime” (BRASIL, CP, 2019).

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3 AS SENTENÇAS E SEUS REFLEXOS

A palavra sentença pode ser utilizada de duas formas, em sentido lato ou em sentido estrito. No sentido lato, o termo sentença compreende o pronunciamento jurídico da administração objetivando os atos administrativos decorrentes da situação em discussão. No sentido estrito, verifica-se a decisão final proferida em uma ação como o objetivo de dar um fim ao processo, sendo que deve ser sentenciado por o juízo a “quo” (DONIZETTI, 2016, p. 609).

3.1 SENTENÇAS CÍVEIS

Segundo o Código de Processo Civil, o conceito da palavra sentença, é o pronunciamento onde o magistrado declara o fim da fase de conhecimento no procedimento comum, com fulcro no artigo 485 e 487, e da mesma maneira quando encerra a fase de execução, artigo 203, §1º do CPC, com exceção dos dispositivos que regulamentam os procedimentos especiais (BUENO, 2016, p. 382).

Para o doutrinador Didier Júnior, (2016, p. 312), a decisão que extingue a fase de conhecimento de um procedimento especial não deveria ser denominada de sentença, pelo fato de ser um pronunciamento de um procedimento especial, e por isso deveria ser denominado outro nome. E nesse sentido o mesmo doutrinador preconiza:

O conceito de sentença é dado pelo direito positivo. O legislador poderia chamar de sentença dois pronunciamentos judiciais distintos. Mas isso seria inconveniente; terminaria por desorganizar o sistema de pronunciamentos judiciais, o que refletiria negativamente na organização do sistema recursal. Daí a necessidade de buscar uma interpretação harmonizadora.

A doutrina de forma majoritária, no processo civil, distingue as sentenças de duas formas, a primeira é denominada de sentenças definitivas, sendo aquelas que dão a resolução ao mérito discutido, geralmente sendo aplicadas com a decadência ou prescrição, acolhimento ou rejeição do pedido, ou até mesmo homologação de atos jurídicos. A segunda forma denominada de sentenças terminativas, não se tem a resolução definitiva do mérito, elas geralmente são

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aplicadas quando ocorre um indeferimento da inicial, paralização e abandono de um processo, desistência e entre outras (WAMBIER, 2016, p. 436).

Sob a visão de outro doutrinador, as sentenças definitivas são subdivididas em sentenças terminativas, sendo aquela que promove a certeza dos fatos, impondo a parte ativa o direito de executar a prestação, consistindo em uma obrigação de fazer, não fazer ou dar, tendo o efeito na maioria das vezes o ex tunc, onde retroagem para buscar situações anteriores das sentenças. Já na outra subdivisão, a sentença declaratória, é a sentença que declara a existência ou inexistência de um fato jurídico, e os efeitos dessa sentença também retroagem até a data do fato anterior a sentença (DONIZETTI, 2016, p. 629).

Nesta seara, não podemos deixar de mencionar outras três modalidades de sentença, quais sejam, as sentenças constitutivas, que além de declarar sobre o direito de fato, ela constitui uma nova relação jurídica entre as partes ou até mesmo as modifica. Já a modalidade de sentença mandamentais, são aquelas que contém uma ordem a serem cumpridas pela parte vencida na lide, e por último a modalidade de sentença executivas, que tem como características a autorização do juiz para executar o direito, até que seja cumprida a efetiva satisfação (WAMBIER, 2016, p. 437).

Verifica-se no artigo 489, do Código de Processo Civil, o elemento de sentença, dispondo o que deve ter em uma sentença, na perspectiva formal, sob pena da inviabilidade dos atos nelas contidos. No primeiro elemento, onde se deve ter a referida decisão, o relatório, sendo que o magistrado relatará as partes, os pedidos, bem como os principais fatos no decorrer do processo. No segundo elemento o magistrado menciona os fundamentos, nos quais o juiz irá averiguar as questões de fato e de direito, a fim de se basear no terceiro elemento, que é a resolução do conflito por meio da resposta aos pedidos formulados pelas partes (BUENO, 2016, p. 390).

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo;

II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem (BRASIL, CPP, 2019).

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Na luz do Direito Processual Civil, a sentença que conter uma fundamentação deficiente, poderá acarretar a nulidade de uma decisão, conforme podemos observar, a inútil fundamentação, embora existente, não justifica o raciocínio lógico desenvolvido no ato, tornando assim a decisão um vício. A Constituição Federal já mencionava sobre esse assunto, mas em 2015, com o novo Código de Processo Civil, inovou com seu artigo 489, §1º, sendo bastante claro as hipóteses de não fundamentação das sentenças transcritas no texto legal, fazendo com que proporcione um maior controle das decisões, reduzindo assim as decisões deficientes que não estejam fundamentadas (DIDIER JÚNIOR, 2016, p. 334).

Art. 489 [...]

§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:

I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;

V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL, CPP, 2019).

Importante ressaltar, que o processo civil têm como um de seus princípios basilares, o dever da vinculação da sentença aos pedidos formulados na lide, tendo em vista que a sentença não poderá se afastar dos pedidos requeridos pelo autor, ou se for o caso, da reconvenção feita pelo réu, nem na sua perspectiva subjetiva e nem na objetiva, bem como na quantidade e qualidade dos pedidos, conforme preconiza o artigo 490 e 492 do Código de Processo Civil (BUENO, 2016, p. 392).

Sobre a hipótese de o juiz não ficar vinculado aos pedidos pleiteados, pedem gerar as decisões citra petita, que é o esquecimento do magistrado em verificar os pedido e fundamentos trazidos pelas partes. Também existem as sentenças ultra petita, aquelas que o magistrado concede mais do que foi pedido pelas partes, fazendo uma análise de fatos que não eram essenciais ao processo, como por exemplo de resolver demandas de sujeitos que não estavam fazendo parte da lide. E por último, as sentenças extra petita, onde o magistrado não verifica

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os fundamentos e pedidos formulados pelas partes, e sim inventa questões a as analisa decidindo pedidos não formulados (DONIZETTI, 2016, p. 631).

Nesse contexto, o doutrinador Vallisney de Souza Oliveira, cita uma simples e objetiva diferenciação entre as sentenças ultra petita e extra petita:

Numa ação em que se pede a declaração de falsidade de documento X, será ultra petita a decisão que, além de declarar a falsidade do documento X, avançar para declarar também a falsidade do documento Y; será, porém,

extra petita, se o juiz, sem analisar o pedido de declaração de falsidade do

documento X, declara a falsidade do documento Y, não pretendida pelo autor. (2000, p. 180).

Por fim, conforme podemos observar, no procedimento do processo civil a sentença tem suas características próprias, sendo necessário que essas decisões estejam de acordo com a lei atual, tendo assim como base essencial que ela seja devidamente fundamentada e que tenha correlação entre o que foi pedido e o que foi sentenciado pelo juiz. Caso ocorra a não observância desses métodos que devem ser seguidos pelo magistrado, poderá ocorrer uma sentença sem eficácia, podendo assim gerar até nulidade dessa decisão.

3.2 SENTENÇAS PENAIS

As sentenças proferidas nos juízos criminais, buscam julgar definitivamente o mérito da pretensão penal, utilizando-se de duas etapas para resolver a lide, sendo elas: descobrir sobre a existência do fato delitivo, e a outra descobrir a autoria do fato ilícito, fazendo assim um juízo de valoração jurídica e penal das provas produzidas no processo. Importante frisar que nessa fase processual, é aconselhável ver se a sentença teve total efetividade e se a lide foi apreciada em sua total profundidade e amplitude, para que posteriormente condene ou absolva o acusado, e assim se concretizando como uma sentença definitiva (OLIVEIRA, 2014, p. 643).

Para o autor Guilherme de Souza Nucci o conceito de sentença penal é a decisão terminativa do processo e definitiva quanto ao mérito, relacionando com a questão relativa à pretensão punitiva do Estado, para julgar procedente ou improcedente a imputação (2016, p. 619).

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Embora, no processo penal as sentenças condenatórias e absolutórias terem uma maior atenção, o processo penal não se remete apenas a ambas, sendo que há outras espécies de sentenças no referido Código, tais como as constitutivas, mandamentais, declaratórias e as executivas. Frisa-se que na esfera criminal as sentenças não são absolutamente individualizadas, tendo em vista que sempre acarretam vestígios de umas sentenças e das outras, podendo aqui citar como exemplo, a constitutiva, que não deixa de ter na sua essência um pouco da declaratória (TÁVORA, 2014, p. 869).

Destarte, deve sempre ser observado que de modo técnico, não se pode confundir sentença transitado em julgado, com a sentença definitiva, visto que a sentença definitiva é aquela que elucida o mérito da pretensão penal, já a sentenças transitado em julgado, é aquela que a qual não cabe mais recurso. Em um aspecto formal, a sentença é a decisão no último ato, podendo ser em primeiro grau, pelo juiz a quo, ou até mesmo pelos acórdãos dos tribunais (GRECO FILHO, 2013, p. 355).

Contudo, há alguns requisitos para que a sentença seja válida perante a esfera criminal e seja gerado seus efeitos práticos, partindo da manifestação de vontade do magistrado, devendo respeitar as disposições exposta na lei. Portanto, a sentença deverá conter a exposição fática dos fatos, ou seja, o relatório do que aconteceu no processo, a fundamentação utilizada em tal sentença e a motivação que é a explicação pelos quais o magistrado utilizou tais dispositivos legais para resolver a pretensão penal, e em sua parte final está o denominado, dispositivo, que também pode ser chamado de conclusão ou decisão (MIRABETE, 2002, p. 484).

Esses requisitos das sentenças, estão previstos no artigo 381 do Código Penal, onde cada inciso indica quais procedimentos devem ser seguidos: I- os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II- a exposição sucinta da acusação e da defesa; III- a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV- a indicação dos artigos de lei aplicados; V- o dispositivo; VI- a data e a assinatura do juiz (BRASIL, CP, 2019).

Importante ressaltar que o inciso III, do artigo acima descrito, é o de maior relevância, apesar de todos outros serem de suma importância também, mas o inciso III trata da fundamentação e motivação das decisões judiciais, os quais o

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levaram para que o juiz chegasse a uma conclusão final. Todavia, o seu direito ao princípio do livre convencimento motivado, o magistrado terá que elencar as causas as quais o levaram a ter tal raciocínio na busca pela sentença justa (TINOCO, 2019, p. 20).

Agora, analisando o artigo 386 do Código de Processo Penal, que fala sobre a sentença absolutória, no qual o juiz expor as razões pelas quais absolveu o acusado, bem como as justificativas pelas quais o juiz imputou tal decisão, e se vai incidir na responsabilidade civil.

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:

I - estar provada a inexistência do fato; II - não haver prova da existência do fato; III - não constituir o fato infração penal;

IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;

VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência;

VII – não existir prova suficiente para a condenação. (BRASIL, CPP, 2019).

Segundo os ensinamentos de Vicente Greco Filho (2013, p. 362), sobre os incisos do artigo, acima mencionado, estão divididos em dois grupos, os que ao absolver no criminal, excluem a responsabilidade no civil, e as que podem ser pleiteadas perante o juízo cível: I- estar provada a inexistência do fato, a absolvição do réu na esfera criminal irá fazer coisa julgada na esfera cível, pois exclui o direito a indenização. IV – Estar provado que o acusado não concorreu para a infração penal. Com toda certeza irá ter maior incidência o inciso I, visto que a sentença criminal verifica a inexistência de fato, em face do acusado, ficando este isento de ressarcimento na esfera civil.

No segundo grupo, a absolvição criminal não exclui a possibilidade da reparação no juízo civil, conforme podemos verificar nos incisos: II- não haver prova da existência do fato, quando há dúvida se houve ou não o fato ilícito, a absolvição no penal, não acarretará o mesmo no civil, podendo requerer indenização frente a responsabilidade. III- não constituir o fato da infração penal, ocorrerá a absolvição criminal, mas o direito de ressarcimento via esfera civil permanece possível. V- não existir prova de que o réu tenha ocorrido para a infração, a dúvida quanto a autoria, gera a absolvição criminal, mas ainda assim, concorre na esfera civil, e o inciso VI-

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trata-se das circunstâncias subjetivas dos artigos 20, 21, 22, 23, 26 e §1º do artigo 28, do Código de Processo Penal, sendo que nestes casos fica aberta a possibilidade de ação frente a jurisdição civil (GRECO FILHO, 2013, p. 363).

Da mesma maneira que a sentença absolutória tem os requisitos a serem cumpridos, a sentença condenatória, também não é diferente, sendo que esta sentença é de um procedimento bastante complexo, onde deve ter um cronograma a ser adotado para evitar futuras nulidades, e assim buscar uma sentença mais justa e coerente, com a devida aplicação da pena, sendo que com essa sentença, poderá ocasionar possibilidade de ingresso no civil em busca de ressarcimento (TÁVORA, 2014, p. 891).

No artigo 387 do Código de Processo Penal, preconiza os requisitos que devem ser respeitados, como observar o contexto das atenuantes e agravantes, disposto no texto legal do Código Penal, bem como também dispor sobre a pena base a causa de aumento de pena, aplicando as penas de acordo com o referido Código, dispondo sobre o regime pelo o qual o condenado deve pagar a sua pena, fixar o valor mínimo para a reparação de danos, devendo assim todos esses requisitos estar devidamente fundamentados (GRECO FILHO, 2013, p. 369).

Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:

I - mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;

II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;

III - aplicará as penas de acordo com essas conclusões;

IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;

V - atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título XI deste Livro;

VI - determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra ou em resumo e designará o jornal em que será feita a publicação (art. 73, §1º, do Código Penal) (BRASIL, CPP, 2019).

Nesse passo, o artigo 63 do Código de Processo Penal, preconiza que se a sentença condenatória transitar em julgado, a vítima, e seu representante, poderá suscitar a execução no civil, dos valores fixados pelo juiz, com base o artigo 387, inciso IV do Código de Processo Penal.

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Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. (BRASIL, CPP, 2019).

Dessa forma, podemos notar que as sentenças penais também devem seguir determinados requisitos legais, tendo cada modelo de sentença seu próprio requisito, porém nas sentenças absolutórias e condenatórias há uma particularidade, tendo em vista que ambas têm a possibilidade de o ofendido buscar na jurisdição cível, o direito de ressarcimento perante o condenado.

3.3 DECISÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI E SUAS CARACTERÍSTICAS

Segundo o doutrinador Nestor Távora, o surgimento do Tribunal do Júri teve origem na Grécia antiga, em Roma, sendo na época fundado em um julgamento divino, dando legitimidade a tal julgamento, sob o reflexo do julgamento de Jesus Cristo, quando lhe foi negado as garantias de legitima defesa, onde na época nem se quer existiam, tendo assim esse processo semelhança com um júri, criado naquele período. Porém há outros autores que sustentam que o júri foi criado na Constituição da Inglaterra no ano de 1215, e na França no ano de 1789, na Revolução Francesa (2014, p. 974).

No Brasil o Tribunal do Júri está previsto no artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição Federal, onde preconiza que: “é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”. Sendo assim, competência irrevogável do Tribunal do Júri os crimes dolosos contra a vida. Neste mesmo sentido o Código de Processo Penal adotou o entendimento do poder constituinte, e acolheu a norma superior, de modo que organiza o Júri popular e sua essência (NASSIF, 2001, p. 26).

O Tribunal do Júri é formado pelo juiz presidente, nesse caso, o representante do judiciário, sendo este chamado de juiz togado, e os sete jurados, que são pessoas comuns do povo, as quais não tem conhecimento especifico na

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área jurídica, porém caberá aos sete jurados, chamados de conselho de sentença apreciar os fatos, e ao final responder os quesitos quanto ao crime e autoria. Já o juiz de direito será quem vai gerenciar a condução do julgamento, no final prolatar a sentença (OLIVEIRA, 2014, p. 717).

Segundo a Constituição Federal o júri popular tem a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida, crimes estes previstos nos artigos 121 a 126 do Código Penal, sendo homicídio, aborto, auxilio ou instigação ao suicídio e infanticídio, e ainda há outros crimes que o dolo não é da morte do agente, e sim de cometer outro crime, ocasionando a morte de alguém, neste cenário o criminoso não irá a júri popular, pois não tem a competência do júri, tais crimes como, latrocínio, extorsão seguida de morte, conforme prevalece entendimento na súmula 603, do STF (GRECO FILHO, 2013, p. 438).

Vale ressaltar que, o Código de Processo Penal não assegura o júri apenas nos crimes dolosos contra a vida, tendo em vista que em casos conexos entre crime contra a vida e outras infrações, prevalecerá a competência do júri ao viés do juiz originário em ambos os crimes, conforme podemos observar o artigo 78, inciso I, do referido Código: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: I- no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri (OLIVEIRA, 2014, p. 719).

Frisa-se que no procedimento do Tribunal do Júri, tem duas fases em separado, tendo a primeira como juízo do crime imputado, também conhecida como fase de preparação do plenário, sendo dessa forma fases autônomas no processo, e apesar de serem conexas, a decisão na primeira fase acarretará consequência na subsequente (COELHO, 2018, p. 50).

Nessa primeira fase, a matéria principal a ser discutida é a razoabilidade da parte acusatória perante ao Tribunal, tendo em vista que neste momento o juiz vai analisar as provas trazidas ao processo, a fim de decidir se o caso em concreto se trata de um crime doloso contra a vida, ou não. Dessa forma, tendo o fim dessa fase a possibilidade de pronuncia, impronuncia, desclassificação ou absolvição sumária, e em caso de pronuncia, passará o julgamento para a segunda fase, que é a preparação de plenário (SANTIAGO, 2018, p. 35).

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Verifica-se que a absolvição sumária é o julgamento do mérito da ação penal antecipadamente, onde se decide pela improcedência da acusação, sendo neste caso decretada o final da primeira fase do júri, afastando a competência do tribunal do júri. Há casos que o crime é consumado e reconhecido, mas são conhecidas as excludentes de ilicitude e de culpabilidade previstas nos artigos 21, 22, 23, 26 e 28 do Código de Processo Penal, ficando assim o agente absolvido de forma sumária (OLIVEIRA, 2014, p. 725).

Nesse passo, a desclassificação por sua vez, não absolve ou condena o acusado, se trata de uma desclassificação do crime doloso contra a vida, para outra infração penal, que não tenha competência o Tribunal do Júri para julgar. O juiz analisando os fatos e provas, reconhecerá a incompetência do júri e as mandará para o juízo criminal competente, tratando-se de uma decisão interlocutória do magistrado, podemos observar isso no artigo 419 do Código de Processo Penal (TÁVORA, 2014, p. 992).

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à disposição deste ficará o acusado preso (BRASIL, CPP, 2019).

Na decisão de impronuncia o juiz deverá, em decisão interlocutória, encerrar a primeira fase do Tribunal do Júri, sem que seja feito juízo de mérito, tendo em vista que na impronuncia não fica comprovada a materialidade do ato típico, ou que não contenha indícios fortes de autoria, devendo assim o juiz impronunciar o acusado. Desse modo, ao julgar a impronuncia da queixa ou denuncia, o processo se extingue sem ter julgado o mérito, fazendo com que o estado poderá instaurar um novo processo, caso surgirem novas provas que modifiquem a relação de materialidade e autoria (COELHO, 2018, p. 47).

Para que seja pronunciado o acusado, deve-se no curso do processo ser examinadas que demostrem uma possível existência de fato criminoso, como também os indícios de sua autoria.

Observando estes requisitos, o juiz deverá pronunciar o acusado, e poderá em seu relatório indicar a presença de indícios, não podendo fazer juízo de valores, bem como não deve se posicionar quanto ao seu convencimento absoluto.

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Nesta fase o magistrado fica incumbido de revelar a probabilidade dos fatos, e não a certeza de que eles ocorreram. Porém apesar de não ter certeza dos fatos, nesta fase o juiz utiliza o princípio in dubio pro societate, na dúvida deve pronunciar (OLIVEIRA, 2014, p. 731).

Realizada o pronunciamento do acusado, passa-se a segunda fase do júri, com fulcro no artigo 422 do Código de Processo Penal. O juiz presidente, irá intimar o Ministério Público, bem como o querelante no caso de queixa crime, para que arrolem as testemunhas que estarão em plenário, e proceder também a juntada de documentos e em seguida será deliberado diligencia para que não gere nulidade ou para esclarecer fatos que interfiram no presente julgamento (GRECO FILHO, 2013, p. 448).

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência (BRASIL, CPP, 2019).

Como já mencionamos anteriormente, em nosso texto constitucional, mais especificamente no artigo 5º, inciso XXXVIII, alíneas “a”, “b”, “c” e “d”, cita os princípios que regem o instituto do Tribunal do Júri, quais sejam: plenitude de defesa, sigilo das votações, soberania dos veredictos e a competência para julgar os crimes contra a vida (BRASIL, CRFB, 2019).

O primeiro princípio, a plenitude de defesa, pode ser encontrado no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “a”, da Constituição Federal, onde resguarda o direito absoluto de defesa do acusado no processo do júri, embora muitos acharem que este princípio é o mesmo que o da ampla defesa que está previsto no mesmo artigo, inciso LV, também da Constituição Federal, porém há uma enorme diferença entre ambos (NASSIF, 2001, p. 26).

Defina-se a palavra ampla, que advém de ampla defesa, com o significado de algo extenso, grande, vasto. Desta forma, o princípio da ampla defesa é o direito que o acusado tem de se valer de todos os instrumentos legais, para evitar que o mesmo seja condenado, bem como tenha direito de todos os recursos cabíveis e que haja possibilidade de defesa. Diferentemente é a palavra pleno, que

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advém de plenitude de defesa, significa algo absoluto, ilimitado, integral. Esta é a defesa que deve ocorrer para o acusado em plenário do Tribunal do Júri, observando os limites permitidos por lei (NUCCI, 2008, p. 60).

Destarte, a defesa no plenário do Tribunal do Júri, deve ocorrer de forma excelente, tendo em vista que nos casos de procedimento comum, caso a defesa não tenha uma defesa técnica, e diante disso o acusado esteja sendo prejudicado por culpa do seu defensor, o magistrado poderá de oficio corrigir o erro na sentença, com a devida fundamentação que a lei exige. O juiz, em plenário, não tem a possibilidade de arrumar o erro, pois neste procedimento quem irá decidir são os jurados, e assim a defesa do júri não poderá ter erro, por se tratar de uma decisão de livre convencimento dos jurados. Nessa seara, o doutrinador Aramis Nassif, salienta:

A obediência devida ao dispositivo impõe ao juiz presidente, v. g, em sessão do júri, a obrigação de dissolver o Conselho de Sentença, interrompendo o julgamento quando a defesa for deficiente. Neste mesmo sentido, a imposição ao magistrado de elaborar o questionário, na pluralidade de teses defensivas, mesmo em relação as teses eventualmente contraditórias (2001, p. 26).

Nesse contexto, não se pode deixar de lembrar que no júri popular, o pronunciamento dos jurados não precisa ser fundamentados, sendo que os jurados apenas irão responder os questionários, absolvendo ou condenando o acusado, tendo seu livre convencimento e sentimento, bem como esta decisão não faz jus a análise do mérito por outro tribunal superior, que tenham juízes ou desembargadores togados (NUCCI, 2008, p. 75).

Verifica-se que no estado democrático de direito todas as decisões e atos processuais devem ser públicos, sendo resguardado o direito pelo princípio da publicidade, previsto no artigo 5º, inciso LX, da Constituição Federal, tendo como exceção o artigo 93, inciso IX, também da Constituição Federal, quando este está ferindo a intimidade da pessoa e o interesse social.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

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Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (BRASIL, CRFB, 2019).

Sendo assim, no procedimento do júri, os jurados que estão em plenário terão o seu voto resguardado, sendo aplicado o princípio do sigilo das votações, tais quais essas são asseguradas pela nossa Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea “b”, no qual protege os jurados para que não sejam influenciados ou até mesmo que sofram alguma retaliação, após o julgamento.

Por este motivo que a eliminação da sala secreta, embora para muitos não deveria existir por violação ao artigo 5º, inciso LV, também da Carta Magna, foi mantida pela jurisprudência. Dessa forma, com o objetivo de manter o sigilo das votações, a declaração em plenário dos votos contra e a favor do acusado, foi superada, de modo que após contados quatro votos entre os sete, não será aberto mais nenhum, objetivando uma condenação ou absolvição ao chegar aos quatro votos (NASSIF, 2001, p. 27).

Art. 5º [...]

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; [...]

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, CRFB, 2019).

Nesse contexto, podemos notar que há uma enorme importância na aplicação do princípio da publicidade, sendo uma garantia fundamental no processo, tendo em vista que um processo que não tenha uma decisão pública, não apresenta ser justa ou parcial. A publicidade nas decisões dá o direito de a sociedade fiscalizar e observar alguma irregularidade no processo.

Vislumbra-se que dever ser observado se o sigilo das votações é realmente uma exceção, ou não da publicidade, já que aparentemente estes dois

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