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4 A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NA EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS

4.1 D OS INSTRUMENTOS TRIBUTÁRIOS

4.1.2 Incentivos fiscais

Os tributos tradicionais, previstos diretamente pela Constituição Federal e cujos fatos geradores não guardam relação com a contaminação do meio ambiente pela ação

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MARTINS, Ives Gandra da Silva. A taxa de controle e fiscalização ambiental – TCFA. In: TÔRRES, Heleno Taveira (Org.). Direito Tributário Ambiental. São Paulo, Malheiros, 2005. p. 766 e 767.

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BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação em Mandado de Segurança n.º 2003.72.01.003472-5. Apelante: Posto Mime Ltda/ e outros. Apelada: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Relatora: Juíza Federal Marciane Bonzanine. Orgão Julgador: Segunda Turma. Florianópolis, 3 de junho de 2008. Diário de Justiça da União, em 11 de junho de 2008. Disponível em: <http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/resultado_pesquisa.php> Acesso em: 05 nov. 08.

humana, ainda assim podem ser utilizados como eficientes instrumentos de políticas ambientais, estimulando comportamentos favoráveis à proteção ecológica.

Esses tributos, em princípio alheios à causa ambiental pela definição das hipóteses de incidência, podem contribuir com a conservação ecológica, mediante a concessão de incentivos fiscais, como isenções e reduções de alíquotas.107 Na visão de José Marcos

Domingues108, “Freqüentemente, [...], o tributo tradicional, sobretudo o imposto, busca

revestir-se de uma roupagem especial visando à defesa do meio ambiente.” Esse fenômeno costuma ser denominado de esverdeamento dos tributos tradicionais. 109

A grande vantagem na concessão desses incentivos fiscais implica na redução da carga tributária suportada pelo contribuinte que busca meios alternativos de desenvolver sua atividade econômica sem poluir o meio ambiente. A intenção é incentivar comportamentos ecoeficientes, sem sufocar o agente econômico, ao contrário do que pode ocorrer com a instituição de tributos ambientais, segundo os quais se majora o ônus fiscal dos poluidores. Esses aspectos devem ser considerados, tendo-se em vista a realidade brasileira que possui uma elevada carga tributária. Na verdade, deve-se analisar com acuidade a implementação de cada um desses instrumentos, sejam os incentivos fiscais, sejam os tributos ambientais, com o intuito de se conferir maior eficiência aos mesmos conforme as circunstâncias do caso concreto.

Existem diversos tributos que podem contribuir, mediante incentivos fiscais, com a proteção ambiental, propiciando uma alteração no comportamento dos contribuintes poluidores do meio ambiente. Adiante, enumerar-se-á alguns tributos de competência da União, dos Estados e dos Municípios, com o intuito de melhor ilustrar a utilização desses instrumentos.

No âmbito federal, o imposto territorial rural – ITR exerce a sua função extrafiscal, no sentido de beneficiar o proprietário rural que utilize a propriedade rural

107 Segundo os ensinamentos de Paulo Henrique do Amaral, “adota-se a expressão incentivos fiscais para designar o estímulo dado aos contribuintes por realizarem condutas voltadas à proteção ambiental ou por induzir os contribuintes a não praticarem condutas poluidoras; para tanto, a pessoa política competente poderá diminuir, retirar ou aumentar a carga tributária do sujeito passivo como forma de atender ao seu escopo.” (Direito

tributário Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. P. 193).

108

Direito Tributário e Meio Ambiente. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 68.

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conforme a sua função social, incluindo-se nesta a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação ecológica.110

Desta sorte, conforme o art. 153, § 4º, II da Constituição Federal, o ITR, com o intuito de desestimular a propriedade improdutiva, poderá fixar alíquotas diferenciadas ao contribuinte segundo a destinação dada ao imóvel rural, atendendo-se ao princípio da progressividade. A Lei nº. 5.868/72, no seu art. 5º, concede isenção do ITR às “áreas de preservação permanente onde existam florestas formadas ou em formação e as áreas reflorestadas com essências nativas”.

Esse tributo, a partir da progressividade de alíquotas em razão da função social da propriedade, compreendendo esta a proteção do meio ambiente, constitui um incentivo ao proprietário rural para que mantenha intactas as áreas de floresta primitiva assim como promova ações de reflorestamento, com o objetivo de mitigar o ônus tributário que lhe é imposto.

Na esfera estadual, tem-se como exemplo o imposto sobre propriedade de veículos automotores – IPVA, que pode contribuir a partir de isenções e alíquotas reduzidas com a diminuição dos níveis de substâncias poluentes lançadas na atmosfera. O contribuinte proprietário de veículo automotor com catalisador poderia ser isento, v.g., do pagamento do referido imposto. Esta isenção resultaria, posteriormente, em uma reorientação do mercado automobilístico no sentido de produzir veículos com catalisador, alterando-se a dinâmica de mercado no sentido da conservação do meio ambiente. 111

No Estado do Ceará, a Lei nº 12.023/92 que dispõe sobre a instituição do IPVA, inclui dentre as suas hipóteses de isenção os veículos movidos a motor elétrico, o que representa uma nítida tentativa de se estimular a fabricação e a comercialização de carros que utilizem energias mais limpas. As montadoras já estão desenvolvendo tecnologias com o intuito de apresentarem veículos mais econômicos e ecologicamente corretos.112

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Art. 186, II, da Constituição Federal: “A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: [...] utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.”

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TIPKE, Klaus; LANG, Joachim. Direito Tributário. Tradução de Luiz Dória Furquim. v. 1. Ed. Safe, 2008. p. 439. Tradução de: Steurrecht 18. ed.

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“Com as crises que se adensam no horizonte, da ambiental à financeira, os carros ecologicamente corretos e pequenos (quando não minúsculos) foram as estrelas do Salão do Automóvel de Paris. Dos noventa modelos apresentados neste ano, mais de um terço era, se não totalmente elétrico, ao menos híbrido. E os que não eram nem uma coisa nem outra apresentavam sua credencial “verde”, exibindo baixos índices de emissão de carbono [...]” (COURA, Kalleo. Maxicrise, minicarros. Revista Veja, p. 139, 15 out. 2008).

No âmbito municipal, o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU corresponde a um tributo que pode favorecer a conservação ambiental, principalmente pelas diretrizes gerais determinadas no Estatuto da Cidade, Lei nº. 10.257/2001.

O Estatuto da Cidade, ao estabelecer as diretrizes gerais de política urbana, determina a utilização adequada do solo urbano, de forma a evitar, dentre outras situações, a poluição e a degradação ambiental.113 Se o imóvel for utilizado de forma inadequada à política

urbana do Município, este poderá proceder à majoração do tributo com alíquotas progressivas pelo prazo de cinco anos consecutivos (art. 7º). Decorrido esse lapso temporal sem que o contribuinte tenha cumprido as determinações do Município, poderá ser autorizada a desapropriação do imóvel (art. 8º). Assim, os Municípios, ao instituírem o IPTU, poderão utilizá-lo em favor da implantação de políticas urbanas e ambientais, uma vez que uma cidade bem estruturada, capaz de proporcionar qualidade de vida aos seus habitantes, necessariamente deve equilibrar o desenvolvimento da urbe com a preservação ecológica.

O município do Rio de Janeiro, conforme o art. 61 da Lei nº. 691/84, isenta do pagamento do IPTU: os imóveis de interesse histórico, cultural ou ecológico, ou de preservação paisagística ou ambiental, com observância da legislação específica, respeitadas as características do prédio, as áreas que constituam reserva florestal, definidas pelo Poder Público, e as áreas com mais de dez mil metros quadrados efetivamente ocupadas por florestas.114

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