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O CARÁTER NÃO SANCIONADOR DOS TRIBUTOS EXTRAFISCAIS AMBIENTAIS

3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS PARA A APLICAÇÃO TRIBUTÁRIA NA

3.3 O CARÁTER NÃO SANCIONADOR DOS TRIBUTOS EXTRAFISCAIS AMBIENTAIS

O artigo 3º do Código Tributário Nacional (CTN) define o tributo como “[...] toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” (grifo nosso)

Do conceito de tributo, acima referido, retiram-se elementos capazes de identificar a sanção, sendo esta uma medida jurídica apta a desestimular condutas ilícitas, proibidas pelo ordenamento jurídico. A atividade tributária, por sua vez, não adquire a feição de penalidade, incidindo sobre atos lícitos.

Desta sorte, afere-se a impossibilidade de um ato ilícito figurar na hipótese de incidência de um determinado tributo. Todavia, podem ocorrer situações em que a ilicitude se faz presente no momento em que o fato gerador do tributo se aperfeiçoa. Como bem assevera

65 “[...] a tributação ambiental só respeitará o princípio da capacidade contributiva dentro do seu campo de incidência, que será definido pelo respeito ao mínimo vital, não-confisco e o não-cerceamento de outros direitos fundamentais.” (Ibidem, p. 98).

Hugo de Brito Machado66, “[...] um fato gerador pode ocorrer em circunstâncias ilícitas, mas

essas circunstâncias são estranhas à hipótese de incidência do tributo [...]”. A ilicitude nesses casos não adquire qualquer relevância na esfera tributária, uma vez que não integra a hipótese de incidência do tributo.

A tributação ambiental, com caráter precipuamente extrafiscal, tem como escopo o incitamento de condutas de proteção ecológica e o desestímulo de atitudes comprometedoras da qualidade ambiental. Esse desestímulo é alcançado na medida em que os tributos são devidos ao agente poluidor, com o objetivo de compensar as externalidades negativas provocadas pela agressão ambiental.67 Dessa forma, os custos suportados pelo

poluidor se elevam, resultando na carência da rentabilidade dantes auferida com a atividade poluente. Ressalte-se, por sua vez, que o agente poluidor só terá interesse em reduzir os impactos ambientais decorrentes da sua intervenção no meio ambiente, se for desonerado desses custos fiscais. Isso porque, a sua atividade já se encontra dentro dos limites de poluição permitidos pelo Estado, não tendo o agente, na ausência da tributação ambiental, motivos para investir em medidas de prevenção ambiental, que reduziriam a sua margem de lucro.68

A licitude da intervenção humana no meio ambiente, permitindo-se que ocorra algum tipo de poluição ecológica, justifica-se pela necessidade de desenvolvimento econômico. Nas palavras de Fernando Magalhães Modé 69, “[...] a tributação ambiental incide

sobre realidade reconhecida pela sociedade como necessária. Não fosse necessária, torná-la-ia proibida.” O que se busca, com as políticas ambientais, é a sustentabilidade das ações dos agentes econômicos ao disporem dos recursos naturais, por meio de tecnologias alternativas e energias limpas. O Estado permite que o equilíbrio ecológico seja alterado pelo mesmo princípio que protege o meio ambiente: o bem estar da coletividade.

Apesar disso, ainda que avalizadas pelo ordenamento jurídico, as agressões ecológicas são indesejadas. A atividade tributária procura desestimular as ações de poluição,

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Curso de Direito Tributário. 27ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 79.

67 “Algunos tributos ambientales se dirigen en primera línea a compensar las externalidades negativas provocadas por la agresíon ambiental. Estos tributos también presentan una cierta finalidaded desincentivadora en la medida en que internalizan los costes externos em le precio de la actividad contaminante.” (MOLINA, Pedro Manuel Herrera; VASCO, Domingo Carbajo. Marco conceptual, constitucional y comunitario de la fiscalidad ecológica. In: Direito Tributário Ambiental. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 209)

68 TIPKE, Klaus; LANG, Joachim. Direito Tributário. Tradução de Luiz Dória Furquim. v. 1. Ed. Safe, 2008. p. 439. Tradução de: Steurrecht 18. ed.

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minimizando os impactos ambientais, e viabilizando as políticas de desenvolvimento sustentável, conforme os valores apregoados pelo princípio do poluidor-pagador e da prevenção.

Outro aspecto que difere a tributação ambiental da sanção caracteriza-se, exatamente, pelo fato de que este última não incentiva, só repreende70. O tributo ambiental

incentiva o contribuinte a desempenhar medidas que o afastem das hipóteses de incidência tributária, dando oportunidade para que o próprio cidadão diminua a carga fiscal que recai sobre si. A sanção, por sua vez, penaliza o cidadão por ter descumprido a norma jurídica, imponde-lhe um ônus consideravelmente mais elevado do que o suportado no cumprimento da regra infringida, uma vez que objetiva penalizar o infrator. Sendo assim, não se poderia dizer que o cometimento de um ilícito ambiental, no qual não incide o tributo, seria mais vantajoso do que se manter em conformidade com as condutas poluentes permitidas, suscetíveis de configurar a hipótese tributária.71

Os instrumentos tributários devem ser aplicados em consonância com outros mecanismos jurídicos, para que juntos confiram maior efetividade às políticas ambientais. No tocante à poluição caracterizada por ilícita, causadora de danos ambientais por vezes irreversíveis, serão devidas às sanções administrativas e criminais. Entretanto, em relação às atividades poluentes lícitas, a tributação ambiental contribuirá com o incentivo de condutas efetivas de redução nos níveis da contaminação ambiental, impondo-se ônus tributários àqueles que não buscarem formas alternativas de desempenharem suas atividades econômicas, sem causar prejuízo ao meio ambiente.

70 MUNÕZ, José Manuel Rodríguez. La alternativa fiscal verde, 1ª ed., Lex Nova: 2004, p. 471.

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4 A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL NA EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

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