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160 1612.3.5 INCERTEZAS ASSOCIADAS À GESTÃO PÚBLICA DO SISTEMA DE TPC

Os atributos eficiência e eficácia na gestão pública do sistema de TPC foram incluídos na matriz de atributos e, portanto, podem ser contemplados no processo de avaliação multicritério. Determinadas soluções, sobretudo as de maior porte, podem exigir do gestor público adequações relevantes no que se refere à disponibilidade de recursos técnicos, humanos e materiais para o planejamento, fiscali- zação e controle dos serviços.

No âmbito da administração pública, a decisão do gestor sobre essas alterações envolve aspectos de ordem jurídica, administrativa e política não contemplados na avaliação quantitativa, e que devem ser objeto de avaliação.

2.3.6 VIABILIDADE AMBIENTAL VINCULADA AO PROCESSO DE

LICENCIAMENTO

A tipologia do empreendimento de TPC, a natureza das interven- ções a serem realizadas e as características da sua área de influência são condicionantes para o estabelecimento do rito de licenciamento ambiental e dos respectivos estudos ambientais. Deve-se observar a competência para a condução do processo de licenciamento e os marcos jurídicos e regulatórios aplicáveis. O mesmo vale para o Estudo de Impacto de Vizinhança, quando regulamentado.

Em geral, as alternativas baseadas em ônibus requerem estudos de impacto ambiental simplificados. Já as soluções sobre trilho impõem processos mais complexos de avaliação ambiental.

Os fatores técnicos e político-sociais, que possam surgir para a mitigação e/ou compensação de eventuais impactos socioam- bientais, como emissões de ruído, alterações na qualidade do ar e em corpos hídricos, supressão de vegetação, alterações de uso e ocupação do solo, interferências em áreas de proteção ambiental, patrimônio histórico, entre outros, poderão se refletir no prazo de execução, bem como nos custos associados à implantação das alternativas em avaliação. Assim, é importante a avaliação destes

elementos como um fator complementar à avaliação multicritério. Como orientação geral, os sistemas de TPC a serem implantados, devem incorporar os aspectos ambientais desde a sua concepção, evitando assim a necessidade de modificações significativas no projeto, que podem ocasionar atrasos, aumentos de custo não previstos, ou a não obtenção das licenças e autorizações exigíveis em fases avançadas do projeto ou até da implantação.

2.3.7 ARTICULAÇÃO COM OUTROS EMPREENDIMENTOS NA ÁREA DE INFLU-

ÊNCIA DO PROJETO

É recorrente em cidades brasileiras de médio e grande porte a concomitância de diversos planos, programas e projetos de mobili- dade urbana em diferentes estágios de execução, sob a gestão de diferentes esferas de poder (municipal, estadual e federal) e com diversidade de fontes de recursos e de formas de financiamentos.

É comum também a pouca articulação e coordenação entre esses empreendimentos, considerando potenciais interações sistêmicas e suas repercussões na mobilidade da localidade. Essas situações tornam-se mais presentes quanto menor for a consistência e a legiti- midade do Plano de Mobilidade Urbana, a sua compatibilidade com o desenvolvimento urbano planejado, e o respeito às suas disposições. É fundamental que o ente público conte com o Plano de Mobili- dade Urbana validado, contemplando as informações associadas aos empreendimentos localizados na área de influência do projeto, princi- palmente, no que concerne às suas temporalidades, desde aqueles já consolidados como também aqueles ainda em fase inicial de estudos.

Decisões sobre a inserção de novos sistemas de TPC devem ser articuladas com os diversos projetos não somente do setor de mobilidade, mas também de setores que lidam com padrões de uso e ocupação do solo como grandes projetos habitacionais e polos de geração de viagens.

Algumas soluções potencializam a sinergia dos projetos, outras são concorrentes. Em especial, podem ocorrer “competições” entre

2.3 Etapa 3 - Definição da alternativa mais adequada considerando outros condicionantes

intervenções conflitantes. Cabe ao gestor público identificar estas situações de conflito, encontrar a forma de compatibilizá-las e, a partir daí, decidir pela alternativa de TPC mais adequada para a localidade.

2.3.8 DESLOCAMENTOS INVOLUNTÁRIOS

As necessidades de desapropriações e remoção compulsória de moradores em sistemas de TPC, com ou sem reassentamentos, podem ser ponderadas quantitativamente na avaliação multicritério quanto aos aspectos de custos financeiros e de unidades habitacio- nais ou comerciais afetadas. No entanto, o gestor deve considerar também os impactos sociais e os prazos requeridos tanto pelos processos regulamentares de desapropriações públicas quanto pelos de reassentamentos de ocupações irregulares.

São recorrentes os casos em que o planejamento da obra pública não considerou de forma adequada os já conhecidos trâmites de desapropriações e de acordos entre diferentes entes públicos para cessão ou permuta de áreas. Obras públicas não podem ser iniciadas sem as correspondentes comprovações de imissão na posse das áreas e de equacionamento dos impactos sociais provocados pelos empreendimentos. Essas salvaguardas exigem apoio logístico, social, econômico, pagamento de lucro cessante, entre outros.

Adicionalmente, as salvaguardas estabelecidas pelos contratos de financiamentos de obras públicas pelos organismos internacionais e nacionais, podem estabelecer exigências adicionais àquelas de ordem regulamentar adotadas no Brasil, imprimindo outros requi- sitos para realizar desocupações compulsórias, seja em áreas habita- cionais, seja em áreas comerciais.

Em síntese, em casos de empreendimentos de TPC que requerem deslocamentos involuntários de qualquer natureza, cabe ao gestor avaliar as implicações decorrentes dos prazos requeridos para sua realização e do tratamento adequado dos respectivos impactos sociais, algo que pode condicionar as soluções a serem adotadas.

2.3.9 IMPACTOS EM GRUPOS SOCIOECONÔMICOS ESPECÍFICOS

Os impactos socioambientais dos empreendimentos públicos são avaliados nos processos de licenciamento ambiental a partir dos balanços entre impactos e medidas compensatórias e/ou mitiga- doras. Nesse processo são também contemplados aspectos de intrusão visual e de alterações de uso e de ocupação do solo. No entanto, ainda devem ser considerados aqueles impactos em grupos sociais e econômicos específicos.

Por exemplo, a implantação de sistemas de TPC que alteram a paisagem urbana de forma relevante, como é o caso dos que requerem estruturas lineares elevadas de grande extensão, podem gerar descontentamentos e pleitos da população lindeira direta- mente afetada. Outro exemplo recorrente é o da implantação de corredores de ônibus que implicam eliminação de estacionamentos na via pública, pois ao mesmo tempo em que podem gerar benefí- cios para a população ao promover mudanças modais, podem causar reações adversas por interesses localizados.

Algumas destas situações podem implicar entraves de difícil superação para determinados projetos. Pode ser necessário, por exemplo, um trabalho social e de comunicação com a população afetada. Cabe ao gestor avaliar, mitigar e compensar o que for necessário para viabilizar um empreendimento que beneficie a localidade e a sociedade, ponderando as vantagens e desvantagens do empreendimento sob enfoque político, econômico e social, que não foram contemplados nos critérios quantitativos de compa- ração das alternativas.

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O

objetivo deste capítulo é apresentar as fases de implementação

de um projeto com foco na prestação do serviço de TPC. São apresentadas orientações gerais sobre os processos para a imple- mentação dos sistemas, da fase de concepção funcional até o início de operação dos serviços. Assim, é explicitado um panorama que considera as melhores práticas aplicáveis, incluindo os aspectos

legais a serem observados27, os riscos mais comuns e como estes

devem ser tratados. Complementa a exposição, o detalhamento sobre os conteúdos requeridos para o projeto funcional, que é apresentado no Anexo 3.

A execução da obra é frequentemente considerada o principal objetivo na gestão da mobilidade urbana. Há que se ter em mente, no entanto, que a obra é apenas um meio para atingir um objetivo maior que é oferecer à sociedade o serviço de transporte. O êxito de um projeto de TPC depende do tratamento e da articulação de todas as fases de implementação, por isso é muito importante evitar que apenas um aspecto, como o da construção da infraestrutura, seja objeto de atenção do gestor público e dos atores privados.

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IMPLEMENTAÇÃO DE

PROJETOS DE TPC

Foto: Mateus Pereira / GOVBA - 5 de junho de 2017 Obras do Metrô de Salvador (BA)

27. É o caso da cartilha Obras Públicas – Recomendações Básicas para Contratação e Fiscalização de Obras de Edificações Públicas, elaborada pelo Tribunal de Contas da União em 2014.

3.1 VISÃO GERAL DO PROCESSO

O processo necessário à implementação de sistemas de TPC varia em dimensão e comple- xidade de acordo com as características da tecnologia e do local da intervenção.

A implementação de um sistema de TPC deve ser precedida de um conjunto de atividades de planejamento da ação pública, abran- gendo a concepção e a decisão sobre a solução a ser implementada, observadas as orientações deste Guia. Estas atividades podem ser definidas como de natureza estratégica, sendo importante atenção especial à sua realização pelos gestores públicos. Após os traba- lhos de planejamento e com a definição da solução, iniciam-se os trabalhos que levam à sua implementação, em um nível de atuação

conceituado como de natureza executiva. Todas as atividades do processo são apresentadas na figura a seguir.

Dependendo do sistema de TPC e do contexto, algumas das ativi- dades já podem estar equacionadas total ou parcialmente. É o caso, por exemplo, de um projeto para implementar um Corredor Central, cuja operação está delegada a operadores privados com contratos em vigência, o que significa que parte da atividade de estruturação operacional está resolvida.

Em outras situações, é necessário equacionar todas as atividades envolvidas, como por exemplo, a implementação de uma linha de VLT que requeira a elaboração do projeto funcional, a seleção do modelo de prestação de serviços, a adequação da rede, a estruturação operacional, o financiamento,

o projeto e a implantação da infraestrutura.

NÍVEL E