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6. ANÁLISE INTERNA

6.3 Conflitos entre Parceiros

6.3.1 Incompatibilidade de procedimentos

As menções dos entrevistados ligadas à incompatibilidade de procedimentos são as que se seguem:

[…] quando se fala de questões de data, de convocatória, a superposição, a duplicação, sim? Os procedimentos, se há uma autoavaliação, uma visita, um relatório, tudo isso é parecido. Nesse sentido, sim, são parecidos. […] acreditamos que é necessário mudar o Sistema para que seja possível, uma maneira de continuar é que tenha um impacto de outra natureza (1AR)

como o sistema de educação superior do Uruguai é muito pequeno, acho que não há

problemas de compatibilidade. (2UY)

as outras agências têm equipes técnicas, contatos políticos, capacidades de planejamento estratégico que não temos. […] Nos toma muito esforço pessoal. […]

Isso nos deixa distante de outros países que têm novidades de estudo e de

pesquisas. (2UY)

[...] a filosofia de acreditação é diferente da filosofia de avaliação e regulação do Brasil (3BR)

O INEP disse que se fosse fazer o ARCUSUL isso ia atrapalhar o processo brasileiro, acho que foi um erro de avaliação.(3BR)

[...] o Brasil não tem uma agência, se compõe de três instâncias diferentes que o MEC conduz. Mas fora isso, eu não acredito que haja uma incompatibilidade (4BR) [...] não é totalmente compatível. Atendemos a algunas agendas, coordenamos outras, mas ainda não é compatível institucionalmente (6BO)

[...] os procedimentos burocráticos não afetam tanto o Sistema. (6BO)

[...] o MERCOSUL pretende ter um pool de técnicos permanente [...] Nós não o fazemos e a visão interna se faz sumamente bem, certo? Mas é preciso levar esta proposta ao CNA, que deverá optar se quer ter técnicos de forma permanente. (8CO) [...] o sistema do CNA teve uma reforma em 2012, acaba de sair. [...] agora pode já

implicar em algumas diferenças, mas até agora tem dialogado muito bem.

(8CO)

O processo nacional tem que ser feito por uma agência privada, o processo ARCU-SUL tem que ser feito pelo CNA. Isto faz com que muitos cursos tenham

que fazer dois processos paralelos para poder chegar a dois ditames distintos de acreditação, um nacional, um ARCU-SUL. (9CH)

Os entrevistados não veem as incompatibilidades como um risco ao Sistema ARCU-SUL. Mas as reuniões da Comissão Regional Coordenadora de Educação Superior e do Comitê Coordenador Regional citaram os problemas legais do Brasil como sério risco. Argentina, Chile, Colômbia, sempre tiveram uma agência única que possa representar o país. O Paraguai criou uma agência em 2004. O Uruguai resolveu essa questão por um decreto presidencial, criando uma Comissão, que não tem uma estrutura grande, mas pode gerenciar o ARCU-SUL num sistema de educação superior com cerca de cinco universidades. A Bolívia solicitou apoio de outros países para formalizar seus procedimentos de acreditação e, finalmente, criou

uma agência própria em 2011. O Brasil tem um sistema de avaliação-regulação que tornou impossível a centralização em uma agência. Os processos de avaliação nacionais passam pela CONAES e INEP, sendo a CONAES responsável por estabelecer diretrizes e o INEP por implementar a avaliação. A regulação, passa pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior e pelo Conselho Nacional de Educação, que recebem as avaliações do INEP e tomam decisões de regulação. Logo, sempre houve um problema para decidir qual destas entidades representa o Brasil.

O CNE foi listado como representante brasileiro durante a fase de Mecanismo Experimental, antes de 2006, mas não foi encontrado registro de uma participação ativa no processo. Como comentado anteriormente, nesse período, a execução das avaliações foi feita pela Secretaria de Educação Superior. A partir de 2007, a CONAES passa a participar como representante, oficializado por portaria ministerial apenas em 2008, e cumpriu papel semelhante ao nacional, trabalhando com as comissões consultivas em estabelecer critérios e na capacitação de avaliadores. Ao passar para a fase de execução, o INEP deveria pela lógica, implementar as avaliações. No entanto, a consultoria jurídica deste Instituto emitiu parecer em 2008, em que declarava a impossibilidade do INEP fazer avaliação internacional e pagar avaliadores, parecer que foi repetido em 2009, nos mesmos termos. O entrevistado da CONAES, 3BR, declara que houve momentos em que o Ministério poderia ter criado uma estrutura, mas não o fez. O mesmo entrevistado deixa claro que a CONAES não tem orçamento nem pessoal e estrutura administrativa para realizar avaliações. E de concreto não há documentação que demonstre que o Ministério tomou atitudes normativas em 2009 e 2010 que permitissem ao INEP assumir essa implementação. Também nesse período, o próprio INEP passou por grandes mudanças: o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) foi assumido por um número significativo de universidades como processo seletivo, o que aumentou a carga de trabalho e as cobranças da imprensa sobre o Instituto. Além disso,

durante o período de 2008 a 2012, o Instituto teve 4 presidentes, o que sugere mudanças constantes de equipe e de atribuições. Como as convocatórias ARCU-SUL se iniciaram em 2009, o Brasil ficou pendente das avaliações durante os anos seguintes. Apenas em 2011, o país expressou oficialmente a existência de “impedimentos legais para efetuar o pagamento de avaliadores estrangeiros” (MERCOSUL, 2011), diante da cobrança de todos os países e da possibilidade de ser retirado do programa de intercâmbio entre cursos acreditados.

Em dezembro de 2011, nova portaria ministerial estabeleceu que a representação do Brasil seria tripartite, com a CONAES, o INEP e a recém-criada Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior. A partir deste momento o INEP começou o processo de implementação das avaliações anteriormente acordadas. Mas a portaria foi vaga na atribuição de papéis aos atores. Não há menção ao papel da Secretaria de Regulação, e não há menção a qual instância deverá firmar as resoluções de acreditação. A entrevistada 4BR afirma que “os outros países ainda têm a CONAES como interlocutora e não estão conscientes de que a representação do Brasil é tripartite”. Com as avaliações em curso em uma situação em que não está definido quem vai firmar as resoluções de acreditação no Brasil, os outros países expressaram novamente sua preocupação com o Sistema e com a possibilidade de cancelamento dos programas vigentes de intercâmbio.