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1. Princípios que nortearam o legislador

1.3. Incremento da proteção da criança ou jovem

Outro aspeto muito relevante, cremos, é que do RGPTC resulta também, a nosso ver, um incremento da proteção da criança no sentido da existência de um maior controlo da situação da criança ou jovem quer por parte do Tribunal, quer por parte da família alargada (com vinculo afetivo à criança). Neste sentido, vejam-se as seguintes inovações:

a) Muito embora a assessoria técnica já estivesse consagrada no artigo 147º C da OTM, o certo é que o RGPTC veio alargar o âmbito de atuação destas equipas multidisciplinares 46, estabelecendo que lhes caberá (para além das funções que já anteriormente lhes estavam acometidas) apoiar as crianças que intervenham nos processos (designadamente assistindo a criança na diligência em que é ouvida, conforme dispõe o artigo 5º n.º 7 alínea a) do RGPTC), acompanhar a execução das decisões 47, mediar a execução do regime das responsabilidades parentais 48 e assumir a função de gestor de

processo (figura que apenas nos era familiar no que tocava à atividade desenvolvida pelas CPCJ) 49

44Cuja intervenção dependendo seu consentimento nos termos do artigo 24º n.º 1 do RGPTC.

45A utilização do Serviços de Mediação Familiar tem para cada um dos mediados um custo no valor de 50 € independentemente da

duração ou número de sessões de mediação).

46Embora a OTM não previsse a multidisciplinariedade, haviam já sido criadas as equipas multidisciplinares de apoio aos tribunais-

EMAT.

47Nos termos do artigo 40º n.º 2 do RJPTC pode o tribunal determinar que o regime de visitas estabelecido por sentença «(…) sejam

supervisionados pela equipa multidisciplinar de assessoria técnica, nos termos que forem ordenados pelo tribunal» havendo também nos termos do n.º 6 desse normativo, a possibilidade de o tribunal determinar que toda a execução do regime estabelecido seja acompanhado pelas equipas de assessoria técnica, caso entenda haver risco de incumprimento da decisão, acompanhamento que decorra nos moldes previstos no n.º7. Acresce que nos termos do artigo 41º n.º 5, em caso de incumprimento e subsequente falta dos pais à conferência prevista no n.º 3 ou em caso de ausências de alegações por parte do requerido ou sendo estas manifestamente improcedentes pode o tribunal para efetivação do regime de visitas estabelecido ordenar «(…) a entrega da criança (..) presidindo à diligência a assessoria técnica do tribunal.

48Nos termos do n.º 10 do artigo 40º do RJPTC, nos casos em que tenha sido decretada medida de coação ou aplicada a um dos

progenitores pena acessória de proibição de contato entre os progenitores «(…) o regime de visitas pode ser condicionado, contemplando a mediação de profissionais especializados (…)».

49 Embora tenha pretendido que tais equipas funcionem junto das secções de família e menores o certo é que a concretização de tal

intento parece ser ainda hoje uma miragem, decorrido que se mostra mais de um ano sobre a entrada em vigor da Lei 141/2015, recorrendo os magistrados, por regra, a técnicos da Segurança Social que então exercem a assessoria técnica prevista neste diploma legal).Este acompanhamento também apenas nos era familiar no âmbito dos processos de promoção e proteção.

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Aplaudimos esta iniciativa de alargar as competências das equipas técnicas por significar a aceitação (que já há muito era feita nos tribunais) de que o “trabalho no terreno” poderá trazer melhores resultados do que a simples tomada de decisões sem qualquer acompanhamento especializado (durante o processo decisório e após). Tal era o que acontecia antes do RGPTC quando após a prolação de sentença (homologatória ou não) os progenitores eram deixados à sua sorte, mesmo que houvesse dúvidas sobre a capacidade de os mesmo cumprirem o regime estabelecido. O processo “parava” no momento da prolação da sentença (do seu trânsito em julgado) e os tribunais limitavam- se a aguardar notícia de eventuais incumprimentos.

No entanto, suscitam-se-nos sérias dúvidas quanto à efetiva possibilidade de colocar em prática a assessoria técnica especializada, pelo menos nos moldes pretendidos pelo RGPTC, apesar de muito esforço já efetuado, atenta a escassez de meios técnicos, materiais e humanos que assolam as entidades, como a Segurança Social por exemplo, que continuam a prestar tal assessoria. Sem uma efetiva intervenção junto destas entidades no sentido de as dotar do número suficiente de técnicos e meios para que realizem o tanto que agora o RGPTC pretende, tememos seriamente que as muito boas intenções do legislador, não tenham cabal aplicação na prática.

É certo que o processo de regulação das responsabilidades parentais era já, à data, um processo de jurisdição voluntária o que deixava margem ao julgador para após a prolação de sentença (regime definitivo ou provisório) controlar a forma como o exercício das responsabilidades parentais reguladas estava a decorrer, caso alguma dúvida o tivesse assaltado sobre o sucesso do seu cumprimento.

Mas tal muito raramente era feito, não só por não ser um procedimento enraizado, mas também porque, em muitos Tribunais, sobretudo nos que tinham competência na área da Família e Menores, as pendências processuais e o tempo do despacho, não permitiam dar largas a procedimentos que, cremos, a maior parte do Juízes aceitava como pertinente.

b) O princípio da plenitude da assistência do juiz prevista no artigo 30º do

RGPTC (ainda que com algum sacrifício da pretendida celeridade processual já que poderá, nos termos deste normativo, implicar a repetição dos atos já praticados) com vista a garantir, cremos, que a apreciação da situação de

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uma criança não passe “de mão em mão”, concentrando-se o conhecimento daquela realidade factual em sede de audiência de discussão e julgamento, a uma única pessoa que acompanhou a totalidade dos atos praticados). Igual intenção parece ter estado também na criação da inovadora figura do gestor do processo.

c) A possibilidade consagrada no artigo 35º n.º 2 do RJPTC de serem ouvidos

na conferência de pais os avós ou outros familiares e pessoas de especial referência afetiva para a criança. Anteriormente previa-se apenas que o juiz pudesse determinar que os avós ou outros parentes da criança ou jovem estivessem presentes na conferência que era realizada nos termos do artigo 175º da OTM.

d) O aproveitamento probatório das declarações da criança prestadas em processo-crime (declarações para memória futura) ou em processo de natureza cível (com respeito pelo princípio do contraditório), solução que permitirá que a criança não tenha de ser ouvida sobre a sua situação familiar, mais vezes do que seria desejável.

e) Muito embora já estivesse anteriormente prevista na OTM (artigo 154º) a conexão entre os processos de promoção e proteção, tutelares cíveis e processos tutelares educativos relativamente à mesma criança, o RGPTC alargou agora também tal conexão ao processos de promoção e proteção que corram termos nas CPCJ, que assim devem ser remetidos, com tal finalidade, às secções de família e menores.

Embora coloquemos algumas reservas à eficácia pratica de tal solução, já que poderá implicar para aquelas secções um aumento exponencial de serviço sem simultâneo incremento de meios humanos e técnicos (quer ao nível das próprias secções quer das equipas de assessoria técnica de apoio ao tribunal) parece-nos inegável que o conhecimento mais completo da situação de cada criança, que aquela conexão favorecerá, permitirá decisões mais e melhor ponderadas e conformes ao superior

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interesse da criança, fim último da atuação a este nível. Igual objetivo terá estado também na base da já referida criação da figura do gestor de processo.

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