• Nenhum resultado encontrado

Indústrias correlatas e de apoio: networks, fornecedores e cadeia de valor

DIMENSÕES FASES

4.3 Análise teórico-empírica dos resultados

4.3.3 Análise dos Determinantes da Vantagem Competitiva Nacional nas Estratégias Internacionais do Grupo Fruitfort

4.3.3.3 Indústrias correlatas e de apoio: networks, fornecedores e cadeia de valor

A estrutura dos canais de distribuição e a disposição de suas cadeias de valor afetam as empresas (PORTER, 1989b). Este determinante reflete a presença de fornecedores e parceiros que sejam internacionalmente competitivos, proporcionando um fluxo de informações e tecnologia benéficos para a modernização e inovação das instituições e do país como um todo (PORTER, 1989b; 1999; TAVARES; CERCEAU, 2001). Acerca do fenômeno estudado, um dos marcos inquestionáveis na fruticultura da região foi o desenvolvimento das técnicas de criação, produção e manuseio da uva sem semente, adequada às condições locais do semi- árido. Tal como defendido por Porter (1989), este vértice do Diamante teve um papel decisivo no desenvolvimento desse projeto, alavancando de fato a competitividade das empresas no submédio. O sr. Domingos Sávio relata que:

[...] os empresários da VALEXPORT, quando se juntaram com o SEBRAE e fizeram a pesquisa da uva sem semente há 8 anos atrás (1998), foi uma exceção que foi aberta no SEBRAE, porque o objetivo do SEBRAE não é fazer pesquisa; o SEBRAE pode até transferir tecnologia que tenha sido gerada pela EMBRAPA, mas não fazer a pesquisa, mas como na época a gente tinha uma grande agricultura, subiu no conceito do SEBRAE nacional a gente conseguiu e foi feita a parceria entre SEBRAE, EMBRAPA, e os empresários que investiram 1 milhão de dólares na pesquisa. [...] Desse número que foi investido, hoje nós temos aproximadamente 4 mil hectares de abastecimento lá, onde você pode calcular 40, 35 mil dólares o hectare, com 4 mil vezes 40 você tem 160, 150 milhões de dólares investidos em cima de um investimento de 1 milhão, só para você (pesquisadora) ter a idéia do que significa pesquisa para a gente.

Conforme apresentado na descrição das fases que constituíram a trajetória da empresa, as preocupações fitossanitárias foram intensificadas a partir dos anos 90, especialmente com o início das operações de exportação para os Estados Unidos. Ressalta-se a importância da Biofábrica da mosca da fruta, instalada em 2003 para assegurar o monitoramento das moscas das frutas presentes naquela região, validando a importância deste determinante para o fortalecimento do diamante da indústria em questão. Ademais, se não houver cooperação ou conscientização de que todos os produtores deveriam monitorar o índice de moscas, as empresas não alcançam o padrão esperado de fitossanidade. O contexto externo, sob esse aspecto, é representado no relato do sr. Domingos Sávio a seguir.

A Fruitfort está ali dentro do projeto Senador Nilo Coelho, ela faz o monitoramento há muito tempo, mas têm vários vizinhos pequenos que não fazem, que não plantam manga, plantam goiaba, plantam acerola e não fazem o monitoramento; a manga e a goiaba são hospedeiros da mesma mosca [...]. O Nilo Coelho (com baixo índice de infestação de moscas) está assim, e aqui no meio está a Fruitfort.

Dentre as indústrias correlatas e de apoio que formam o pólo Petrolina – PE e Juazeiro – BA, destaca-se fortemente o papel da CODEVASF, EMBRAPA, VALEXPORT e SEBRAE. Este último foi de fundamental importância, não apenas no projeto de desenvolvimento da uva sem semente, mas também na preparação e profissionalização dos produtores daquela região. Indubitavelmente, conforme apregoado por Porter (1989b; 1999), isto impulsionou a competitividade das empresas no mercado internacional, gerando reflexos positivos nos resultados do Grupo Fruitfort, uma vez que esta exporta além da sua capacidade produtiva e compra parte da produção das pequenas empresas. Os programas de transferência de tecnologia para essas empresas, além daqueles programas de certificação, de auditoria e de controle de qualidade elevaram sua produção ao padrão internacional esperado. Neste sentido, o papel do SEBRAE pode ser percebido com propriedade no depoimento do sr. Domingos Sávio:

A gente tem um projeto de fruticultura aqui que a gente tem várias ações para o produtor, pequenos produtores, que vai a certificação, você sabe que agora para exportar uva e manga precisa estar certificado em EurepGap e em produção integrada, e a gente tem um convênio com o distrito que faz a consultoria para o pequeno produtor, faz a pré-auditoria, faz a auditoria, faz a análise de resíduos junto ao pack da fruta dele, faz o programa de qualidade total com o programa de movimento e capacitação de qualidade total. [...] a gente tem o programa de transferência de tecnologia de uva sem semente. [...] a gente fez umas cartilhas também que procuram disseminar informação, as cartilhas da uva sem semente, tem o projeto de indicação geográfica, a gente tem projeto da informatização do pequeno produtor. [...] Na área de comercialização a gente está com um projeto junto ao Ministério na criação de 4 packing houses, 1 no Bebedouro, 3 no Nilo Coelho, 2 já foram inaugurados, faltam 2 para serem inaugurados esse mês. O problema do pequeno é que ele não tem técnico, aí ele vende a fruta na porteira para os grandes. Esses técnicos serão comunitários. [...] Nosso centro de resultados

da fruticultura, entre quatro outros mais, é o maior em termos de pessoal, recursos, ações.

O sr. Nildo Cassundé sintetiza a importância desses parceiros. Para o gestor, a EMBRAPA é comparável à PETROBRAS da área agricultura, pelo volume de pesquisas desenvolvido. A CODEVASF é a empresa que leva a água do rio São Francisco aos pontos de consumo, com um número de estações de bombeamento considerável. A região possui também unidades do SESI, do SENAI e do SENAC. Ele afirma que “(...) se você observar, poucas regiões aqui no Nordeste, principalmente, contam com tão grande número de entidades sociais. Isso realmente chama atenção em Petrolina; e tudo se volta para um fim, que é a fruticultura do Vale”.

Diante do exposto, é evidente a relevância deste determinante para a formação da estratégia nas empresas que compõem a região do Submédio do São Francisco. O Grupo Fruitfort está inserido em um setor da economia bastante dependente do contexto externo e das instituições que compartilham atividades na cadeia de valor. No entanto, é mais expressiva a atuação das indústrias correlatas do que daquelas de apoio (fornecedores) no ambiente nacional, conforme percebida na discussão ao longo desta subseção. O sr. Nildo Cassundé afirma que:

[...] nós estamos em um Vale. Se você se satisfizer em comprar aqui, e se desenvolver somente com o que tem aqui no Vale do São Francisco, você não consegue atingir essas metas e nem uma diminuição nos custos. Então, interação com os fabricantes, com outras fazendas, com os fornecedores do exterior, é uma questão de sobrevivência.

Portando, dada a vocação do pólo ao dedicar-se à fruticultura tipo exportação, torna- se viável o investimento dessas instituições correlatas em alavancar a competitividade das empresas como um todo, uma vez que custos e benefícios podem ser diluídos entre vários empresários.

A próxima seção analisará a indústria e sua influência no Grupo Fruitfort sob a ótica do quarto e último determinante da vantagem competitiva nacional.