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6 A POBREZA CALCULADA: A POBREZA VIRA ESTATÍSTICA!

6.2 INDICADORES E ÍNDICES DE POBREZA

Como resposta às criticas à centralidade do fator monetário de renda na medição da pobreza e propondo uma ampliação dessa noção, foram criados os indicadores e índices de pobreza, geralmente utilizados para demonstrar que as informações quantitativas acerca de problemas sociais não representam “fatos” simples, senão formas de organizar dados que de outro modo resultariam complexos e pouco confiáveis (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2010).

Um índice consiste em um conjunto de indicadores que se combinam para elaborar uma medida composta de vários fatores. As principais características são: validez, confiabilidade, quantificação, inclusão e exclusão de fatores pertinentes e ponderação.

O Índice de Pobreza Humana, apresentado no Relatório de Desenvolvimento Humano 1997: Desenvolvimento Humano para Erradicar a Pobreza, foi construído com base nos conceitos de capacidade (capacidades e características) de Sen (2000), que define pobreza como a negação de opções e oportunidades para uma vida aceitável. O Índice utiliza no seu cálculo os seguintes tópicos: longevidade; representada pela percentagem de pessoas que morrem antes dos 40 anos; conhecimento; representado pela percentagem de adultos analfabetos e padrão de

vida e a saúde; representado pela percentagem de pessoas com acesso a serviços de saúde, percentagem de pessoas com acesso a água potável e percentagem de crianças subnutridas. O Índice de Pobreza Humana é definido de forma diversa conforme se trate de países em vias de desenvolvimento (Índice de Pobreza Humana-1) e países industrializados (Índice de Pobreza Humana-2) (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 1997).

E com o objetivo de fornecer um retrato mais amplo sobre as pessoas que vivem com dificuldades, foi recentemente lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em conjunto com o centro de pesquisas The Oxford Poverty and Human Development Initiative, na 20ª edição do Relatório de Desenvolvimento Humano: A verdadeira Riqueza das Nações: Vias para o Desenvolvimento Humano, de 2010, o Índice de Pobreza Multidimensional.

O novo indicador substitui o Índice de Pobreza Humana, incluído anualmente nas edições dos Relatórios de Desenvolvimento Humano desde 1997. As três dimensões do Índice de Pobreza Multidimensional se subdividem em dez indicadores: nutrição e mortalidade infantil (saúde); anos de escolaridade e crianças matriculadas (educação); gás de cozinha, sanitários, água, eletricidade, pavimento e bens domésticos (padrões de vida). Uma família é multidimensionalmente pobre se sofre privações em, pelo menos, 30% dos indicadores (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2010).

Os relatórios de desenvolvimento humano elaborados pela Organização das Nações Unidas, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, são as principais fontes de referencias de índices e indicadores no governo de pobreza de países e regiões, e vêm assumindo noções de pobreza bastante ampliadas contemplando sua complexidade e diversidade, no entanto têm sido acusados de serem de difícil operacionalização e padronização.

No Brasil, foi elaborado o Atlas da Exclusão Social no Brasil, que analisou fenômenos relacionados à exclusão social no Brasil em que incluí a dimensão da pobreza (POCHMANN; AMORIM, 2004). O Atlas apresenta um índice-síntese para revelar as regiões que se encontram excluídas do desenvolvimento no Brasil, o Índice de Exclusão Social. Baseado no Índice de Desenvolvimento Humano, o Índice

de Exclusão Social procura incorporar um maior número e variedade de dimensões da vida humana. O índice de pobreza se encontra no grupo – vida digna – juntamente com os indicadores de desemprego e desigualdade, usado para averiguar o bem-estar material da população em determinado pais. O índice de pobreza resulta do cálculo da porcentagem da população de cada país que vive com menos de U$ 2.00/dia (POCHMANN; AMORIM, 2004). Atualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é a principal fonte de dados estatísticos utilizadas na produção das estimativas da pobreza no Brasil. Juntamente com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Brasil, estabelecem as referencias usadas pelas políticas públicas. Não há uma padronização oficial brasileira, como um linha ou índice, contudo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2010) tem considerado como situação de extrema pobreza quem tem renda familiar mensal inferior a um quarto de salário mínimo, e para definir a pobreza absoluta usa como corte a metade do salário mínimo.

O Quadro 3 apresenta uma síntese dos distintos modos de calcular e medir a pobreza e indicam ser essa uma das versões de pobreza mais presentes nas políticas públicas contemporâneas apresentando a polissemia de sentidos, historicidade e relatividade dessa noção. É interessante destacar a articulação dessas distintas abordagens, a monetarista de renda, a das necessidades e a multidimensional, pois em um único índice ou linha podem-se encontrar entrelaçados todas essas abordagens se tornando difícil pensar um desses medidores como uma forma simples, pura ou isolada de conceber a pobreza.

QUADRO 3 - Síntese dos medidores de pobreza

Tipos Abordagem Valor Uso

Linha pobreza

extrema Renda U$ 1.00 Banco Mundial – até 2008

Linha de pobreza

absoluta Renda U$ 2.00 Banco Mundial – até 2008

Linha de pobreza

internacional Renda US$ PCC 1.25/dia Organização das Banco Mundial / Nações Unidas

– 2010 Linha de pobreza

Brasil Renda US$ PCC 1.57/dia Nações Unidas para Programa das o Desenvolvimento / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010 Índice Exclusão de Social Vida digna, conhecimento e desigualdade

3 fatores Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

– 2004 Estimativa pobreza

extrema Renda mensal inferior ¼ Renda familiar quarto salário mínimo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – 2010 Índice de Pobreza

Humana Basic Needs Índice de – Desenvolvimento

Humano

3 fatores Relatórios de Desenvolvimento Humano/Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento

– 1997 Índice de Pobreza

Multidimensional Basic Needs Índice de – Desenvolvimento Humano – Índice de Pobreza Humana 10 fatores Relatórios de Desenvolvimento Humano/Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento

– 2010 Legenda: PCC – Paridade do poder de compra.