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2.2 GESTÃO POR RESULTADOS E INDICADORES DE DESEMPENHO

2.2.2 Indicadores de desempenho na avaliação do Ensino Superior

O uso dos indicadores de desempenho tem sido adotado nas administrações públicas de países como Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, nos mais diversos setores públicos, mas, em particular, na avaliação do desempenho do ensino superior (TCU, 2000; BERTOLIN, 2007; GOMES, 2009; SARRICO, 2010; BARBOSA, 2011).

Este processo de avaliação do ensino superior via indicadores de desempenho, que no início tinha um viés extremamente economicista, de ganhos de eficiência, com o tempo passou a ser utilizado para avaliar a qualidade do ensino superior, que poderia ficar comprometida diante do processo de expansão e massificação deste (DIAS SOBRINHO, 2003; BERTOLIN, 2007; SARRICO, 2010).

Ainda que não seja o propósito deste estudo, é preciso destacar que não há consenso sobre o conceito de qualidade no ensino superior, que tem variado no tempo e no espaço. Atualmente, este conceito tem surgido sempre atrelado as concepções das missões do ensino superior: competitividade econômica e crescimento dos mercados; desenvolvimento sociocultural e econômico sustentável; ou ainda, coesão social e equidade (BERTOLIN, 2007).

Bertolin (2007) com base na literatura recente e nas publicações de organismos internacionais agrupou o conceito de qualidade do ensino superior em três diferentes visões (Quadro 3):

Quadro 3 - Visões da qualidade do ensino superior

Visão de

qualidade Termos associados Grupos de interesse Propósitos do Ensino Superior

Visão economicista

Empregabilidade e eficiência

Setor privado, OCDE e setor governamental

Ênfase nos aspectos de

potencialização do crescimento da economia e da empregabilidade Visão pluralista Diferenciação,

Pertinência e Relevância

UNESCO, União Européia e setor educativo

Diversidade de aspectos relevantes (economia, sociocultural, democracia etc.) com ênfase na emergência das especificidades locais

Visão de equidade

Equidade UNESCO e setor educativo

Ênfase nos aspectos de contribuição para coesão social

Fonte: Bertolin (2007, p. 312).

Neste estudo, cujo foco está nos indicadores de desempenho das instituições de ensino superior, o conceito de qualidade do ensino superior adotado está diretamente associado a critérios objetivos, mensuráveis, que possibilitem a comparação entre as instituições, que seja livre de contextos e interpretações subjetivas. É a qualidade certificada, acreditada. Dias Sobrinho (2008), assim define o processo de acreditação:

Acreditar é praticar um ato legal certificando que uma instituição, um curso, um programa tem qualidade; portanto, seus efeitos são legítimos e publicamente assegurados e validados pelo Estado. Seu principal objetivo consiste em um controle legal-burocrático-formal da qualidade. Esse processo de garantia de qualidade culmina em um ato formal de testemunho de fé pública a respeito dos resultados alcançados por uma instituição, curso ou programa, com base em critérios e padrões externa e previamente estabelecidos (DIAS SOBRINHO, 2008, p. 818).

Retomando a avaliação do ensino superior através dos indicadores de desempenho, Bertolin (2007), com base numa visão pluralista de qualidade do ensino superior, que considera eficácia, diversidade, relevância e equidade; no modelo sistêmico de indicadores, estruturado em estradas, processos e resultados; em indicadores e aspectos de avaliação do ensino superior propostos por organismos internacionais como Unesco-Cepes; OCDE e BM e nos aspectos socioculturais e econômicos do Brasil, elaborou um sistema de indicadores para avaliar o desenvolvimento e a qualidade do ensino superior brasileiro (Quadro 4).

Quadro 4 - Sistema de indicadores para o ensino superior brasileiro

Indicadores de entrada

Referem-se aos recursos, tanto financeiros como humanos e tecnológicos, que se destinam a educação.

Investimentos em educação Investimento em pesquisa

Investimento em Tecnologia da informação e Comunicação

Quantidade e formação de docentes

Indicadores de processo

Referem-se ao contexto pedagógico e organizacional, podem ser aqueles de características primárias, relativas à participação direta do processo de educação, e

secundárias, relativas ao apoio à organização das características primárias.

Número de horas de ensino

Acesso e utilização das Tecnologia da informação e Comunicação

Número de horas, salário e dedicação dos docentes Diversificação das instituições de ensino superior, cursos e áreas

Internacionalização dos discentes Avaliação de IES e Cursos

Indicadores de resultados

Referem-se às características relativas aos propósitos intermediários e últimos da educação.

Nível de êxito dos alunos em exames

Proporção de matriculados e taxas de escolarização

Impactos no desenvolvimento econômico e social Equidade Social e Regional

Fonte: Elaborado com base em Bertolin (2007).

Sarrico (2010), por sua vez, com base em uma revisão da literatura internacional sobre indicadores de desempenho do ensino superior propôs um quadro de indicadores (Quadro 5) para apoiar os processos de avaliação e de reconhecimento de cursos em Portugal. Diferentemente de Bertolin (2007), que elabora seu painel de indicadores para o ensino superior de forma sistêmica, considerando entradas, processos e resultados, Sarrico (2010) o faz classificando-os em três grupos: ensino, que trás aspectos dos estudantes, da sua entrada no nível superior, bem como o desempenho destes ao longo do curso; pesquisa, que observa o nível de atividade e produtividade dos pesquisadores; e os recursos, constituindo-se na análise destes.

Quadro 5 - Tipos de indicadores do ensino superior

Tipo Indicadores

Ensino

Características dos Estudantes

Qualificações de entrada (por curso) Origem social dos estudantes (por curso) Origem geográfica dos estudantes (por curso) Taxas de admissão (por curso)

Desempenho dos Estudantes

Taxas de progressão (por curso) Taxas de graduação (por curso)

Duração média da graduação (por curso) Destino dos diplomados (por curso)

Pesquisa

Nível de Atividade

Orientação de doutorandos (por área científica)

Nível de financiamento competitivo (por área científica)

Produtividade

Doutorados concluídos por docente (por área científica) Publicações por docente (por área científica)

Impacto por docente (por área científica) Patentes por docente (por área científica)

Recursos

Estudantes por docente (por área de formação) Estudantes por não docente (por área de formação)

Docentes por funcionário não docente (por área de formação) Despesa por estudante (por área de formação)

Recursos materiais por estudante (por área de formação) Fonte: Sarrico (2010).

Moreira (2010 apud BARBOSA, 2011) ressalta que as pesquisas realizadas no campo da avaliação de desempenho no ensino superior de maneira geral, explicam os resultados alcançados pelos alunos por três fatores: características socioeconômicas, pessoais e as institucionais.

Assim, como o foco de análise desta pesquisa está voltado para a verificação da relação existente entre os fatores institucionais e a qualidade do ensino superior oferecido pelos IFs, as seções seguintes detalharão aspectos relacionados aos indicadores de desempenho no contexto destes.