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Indicadores quantitativos

No documento 2016Amanda Lange Salvia (páginas 78-87)

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.2.1 Indicadores quantitativos

A Figura 19 apresenta a Porcentagem de domicílios atendidos por iluminação pública. O conceito deste indicador, conforme o IBGE, é a de existência de pelo menos um poste de iluminação pública na face em trabalho ou na sua face confrontante (lados da quadra) (IBGE, 2010d). Passo Fundo é a cidade com melhor desempenho neste indicador, seguida por Santa Maria. A análise dos questionários permitiu concluir que em todos os municípios, nos dias atuais, este percentual é maior, pois desde a data do Censo Demográfico (2010) já foram feitas melhorias e expansões no sistema. O baixo percentual que ainda não é atendido é justificado por ocupações irregulares ou áreas invadidas.

Figura 19 - Porcentagem de domicílios atendidos por iluminação pública (2010)

Fonte: Elaborado pela autora.

A título de comparação, a cidade de Curitiba possui 96,2% dos domicílios atendidos por iluminação pública. Outras capitais, como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apresentam 96% e 98,9%, respectivamente, sendo a média nacional deste indicador 94% (IBGE, 2010). Estes resultados mostram que Porto Alegre, apesar de estar de acordo com a média nacional, possui resposta inferior à outras capitais do Brasil. Já Santa Maria e Passo Fundo estão de acordo com

97 94 96 92,5 93 93,5 94 94,5 95 95,5 96 96,5 97 97,5 Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria %

as demais, mesmo sendo cidades que se destacam ou em termos de sustentabilidade ou em investimentos no setor de iluminação pública (FERREIRA, 2016; PROGRAMA CIDADES SUSTENTÁVEIS, 2013; RIOLUZ, 2016).

A Figura 20 mostra o Consumo médio mensal de energia elétrica da iluminação pública por ponto de luz. Neste indicador, Santa Maria apresenta o melhor resultado (menor consumo) seguida por Passo Fundo. Porém, este melhor resultado de Santa Maria não necessariamente destaca positivamente o município, pois pode ter um menor consumo por ponto justamente por não atender o mesmo percentual de residências que Passo Fundo.

Figura 20 - Consumo mensal médio de energia elétrica da iluminação pública por ponto de luz (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

Além deste consumo estar relacionado com a distribuição do serviço nas cidades, também está ligado aos tipos de lâmpadas utilizadas e suas potências. Por exemplo, o Rio de Janeiro apresenta um valor deste indicador muito acima dos observados para os municípios em estudo: 81,33 kWh/ponto (RIOLUZ, 2016). Tal valor pode ser explicado em função de que esta cidade ainda utiliza lâmpadas muito ineficientes na iluminação pública, como incandescentes e fluorescentes. A maioria é de vapor de sódio, mas um quarto do total é de vapor metálico, que possui característica de aumentar o consumo de energia do setor, pela maior potência. Outro dado comparativo é o da cidade de Nova York, que em 2008 apresentava um resultado de 68,57 kWh/ponto, apenas um pouco acima do valor de Porto Alegre. A mesma justificativa apresentada para o Rio de Janeiro é válida para a cidade norte-americana, visto o uso de lâmpadas muito ineficientes no sistema, que consomem muita energia (GALGANO, 2009; NY SERDA, 2015).

O indicador Custo médio mensal da iluminação pública por ponto de luz é apresentado na Figura 21. Passo Fundo e Santa Maria novamente apresentam os melhores resultados, com menor custo. A capital do estado possivelmente vem apresentando resultados negativos nos

48,31 60,15 43,34 30 35 40 45 50 55 60 65 Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria kWh/ponto

últimos indicadores devido ao baixo percentual de lâmpadas de LED utilizado no sistema de iluminação, em comparação às outras cidades, conforme poderá ser observado nas Figuras 28 e 29.

De acordo com pesquisa realizada pela Departamento de Energia dos Estados Unidos, em 2013, a média do custo mensal com energia elétrica do setor de iluminação no país era em torno de R$ 28,00/ponto (considerando US$ 1 = R$ 3,50) (EERE, 2014), mas possivelmente este valor tenha reduzido em função de investimentos no setor, como troca de lâmpadas convencionais por LED. Outro valor comparativo é o da cidade do Rio de Janeiro, que apresenta média de R$ 39,54/ponto (RIOLUZ, 2016).

Figura 21 - Custo mensal médio de energia elétrica da iluminação pública por ponto de luz (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

Analisando-se os resultados dos indicadores de consumo e custo mensal médio por ponto, verifica-se a mesma tendência de comportamento nos gráficos, o que é confirmado por meio da Figura 22, que apresenta a correlação entre ambos os indicadores. Isso ocorre em função de que, em todos os municípios, o custo depende do consumo e do valor cobrado pelo kWh, por isso verifica-se no gráfico que o aumento do consumo faz com que se aumente também o custo.

Conforme o observado na Figura 23, Passo Fundo possui o maior índice de pontos de luz por habitante, 0,11, seguido por Santa Maria com 0,09 e Porto Alegre com 0,06. Apesar de não haver um referencial padrão para este indicador, é possível comparar estas respostas com alguns dados existentes. A cidade do Rio de Janeiro apresenta 0,07 pontos por habitante (RIOLUZ, 2016), Belo Horizonte possuía 0,05 em 2010 (PROCEL, 2010) e um estudo feito em várias cidades dos Estados Unidos em 2007 indica uma média de 0,095, variando de um mínimo de 0,016 ao máximo de 0,147 (ACCE, 2008). Estas avaliações permitem concluir que as cidades em estudo estão dentro das médias observadas e inclusive com bons resultados

19,32 25,79 16,83 10 12 14 16 18 20 22 24 26 Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria R$/ponto

quando comparadas a estas, mas vale ressaltar que os valores podem variar de acordo com a morfologia urbana e densidade demográfica, dependendo da configuração da cidade (sendo mais concentrada ou dispersa, pode haver interferência no indicador).

Figura 22 - Correlação entre o consumo e custo mensal médio de energia elétrica por ponto de luz

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 23 - Número de pontos de iluminação existentes per capita (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

O indicador Número de pontos de iluminação existentes por quilômetro de via é apresentado por meio da Figura 24. Santa Maria e Porto Alegre repassaram a informação referente à extensão de vias no município no questionário aplicado para diagnóstico, mas a Prefeitura de Passo Fundo não dispunha desta informação. Assim, este dado foi estimado por meio da contabilização de vias em software AutoCAD 2014.

Verifica-se que o resultado de Santa Maria é 15,9 pontos/km, inferior aos resultados apresentados por Sridhar e Wan (2013) para as cidades indianas de Mumbai e Chennai, cujos valores são 68 pontos/km e 45 pontos/km, respectivamente. De acordo com os autores, seus resultados se enquadram numa norma específica para a região asiática, que indica a necessidade de no mínimo 33 pontos/km, estando a cidade de Porto Alegre de acordo, com 32,9 pontos/km,

Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria y = 0,535x - 6,4229 R² = 0,9996 R$15,00 R$18,00 R$21,00 R$24,00 R$27,00 R$30,00 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 Cu sto m ensal m éd io de energ ia elétrica por pon to de lu z (R $/pon to)

Consumo mensal médio de energia elétrica por ponto de luz (kWh/ponto)

0,11 0,06 0,09 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria pontos/hab.

e Passo Fundo muito próximo deste valor, com 27,2 pontos/km. Outro estudo, realizado em cidades espanholas, indica que um ponto de luz a cada 25m (ou 40 pontos por quilômetro) é o suficiente para uma via bem iluminada e representa um padrão de infraestrutura para qualidade de vida (ÁLVAREZ, 2007). Entretanto, é importante destacar que a avaliação do número de pontos por extensão de via pode variar conforme altura dos postes e tipo de lâmpada utilizada (MICHAELOWA et al., 2013). No Brasil, é praticada a NBR 5101 (ABNT, 2012), que indica iluminância mínima a ser aplicada na distribuição dos pontos de luz, sem discussão específica sobre distâncias mínimas entre um e outro, de acordo com tipo de lâmpada e/ou altura do braço.

Figura 24 - Número de pontos de iluminação existentes por quilômetro de via (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

A Figura 25 apresenta a distribuição percentual dos tipos de lâmpadas utilizadas em iluminação pública em Passo Fundo. O município se destaca por não mais utilizar lâmpadas de mercúrio, embora ainda utilize em sua maioria a lâmpada de vapor de sódio ao invés do LED. Conforme análise do questionário, a ideia é gradativamente substituir a totalidade das lâmpadas de vapor metálico ainda existentes por tecnologia LED.

Figura 25 - Distribuição percentual dos tipos de iluminação pública utilizados em Passo Fundo (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

27,2 32,9 15,9 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria pontos/km 1,0% 96,6% 2,4%

Vapor Metálico

Vapor de Sódio

LED

A Figura 26 mostra a Rua Independência (a), em Passo Fundo. Recentemente, um trecho desta via recebeu melhoria da infraestrutura, contando com a utilização de postes com iluminação LED (b). Nesta rua há intenso tráfego de veículos e pedestres, principalmente à noite, em função da alta concentração de restaurantes na região, o que justifica a escolha deste trecho para implementação da melhoria.

Figura 26 - Rua Independência (Passo Fundo), com utilização de postes com lâmpada LED

(a) (b)

Fonte: Elaborado pela autora.

Já a Figura 27(a) mostra, no detalhe, um dos postes antigos que ainda utilizam a lâmpada de vapor de sódio, também na Rua Independência. A Figura 27(b) mostra a iluminação da via em funcionamento, tendo em primeiro plano os postes com lâmpada LED e, ao fundo, observa- se o outro trecho da rua, ainda com iluminação do tipo vapor de sódio, verificada pela característica de iluminação alaranjada.

Figura 27 - Rua Independência (Passo Fundo), com utilização de postes com lâmpada de vapor de sódio

(a) (b)

A Figura 28 apresenta a distribuição percentual dos tipos de lâmpadas utilizadas em iluminação pública em Porto Alegre. Este município também possui alto percentual de luminárias com lâmpadas de vapor de sódio e uma parcela considerável de lâmpadas de vapor metálico.

Figura 28 - Distribuição percentual dos tipos de iluminação pública utilizados em Porto Alegre (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

Como sugerido anteriormente, Porto Alegre possivelmente apresenta resultados negativos nos indicadores de consumo e custo médio mensal por ponto de luz em função deste baixo percentual de lâmpadas de LED utilizadas. Para confirmar esta hipótese, elaborou-se o gráfico de correlação entre consumo médio mensal de energia elétrica por ponto de luz e o percentual de lâmpadas LED, apresentado na Figura 29. De fato, observa-se uma relação satisfatória entre os indicadores, sendo eles inversamente proporcionais: a redução do percentual de LED nas cidades tende a aumentar o consumo de energia.

Conforme informações do questionário, há planos de ampliação do uso de LED em Porto Alegre, que já vem ocorrendo na forma de projetos pilotos. Um deles é na entrada da cidade, com instalação de 176 luminárias na Avenida da Legalidade e da Democracia, conforme apresentado na Figura 30. Outro projeto, ainda em fase de execução, é a substituição de 1.500 pontos no Centro Histórico, trocando lâmpadas de vapor metálico e de sódio por LED.

A Figura 31 mostra outra via de Porto Alegre, mas que ainda utiliza a lâmpada de vapor de sódio. É perceptível a melhora da qualidade de iluminação da via quando utilizada lâmapada LED, aumentando também a sensação de segurança.

85,0% 14,7% 0,3%

Vapor de Sódio

Vapor Metálico

LED

Figura 29 - Correlação entre consumo médio mensal de energia elétrica por ponto de luz e o percentual de lâmpadas LED

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 30 - Av. da Legalidade e da Democracia (Porto Alegre), com utilização de postes com lâmpada LED

Fonte: Elaborado pela autora.

Figura 31 - Av. Osvaldo Aranha (Porto Alegre), com utilização de postes com lâmpada de vapor de sódio

Fonte: Elaborado pela autora.

Passo Fundo Porto Alegre Santa Maria y = -0,1266x + 8,1062 R² = 0,8935 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 40,0 45,0 50,0 55,0 60,0 65,0 P ercen tu al de lâm ap das L E D

Consumo médio mensal de energia elétrica por ponto de luz (kWh/ponto)

Santa Maria é a cidade com maior diversificação no uso de lâmpadas, utilizando ainda um grande percentual de vapor de mercúrio, mas a maioria é, como nas demais cidades, formada pelas lâmpadas de vapor de sódio. No que diz respeito ao uso da tecnologia LED, o município vem ampliando a sua aplicação, representando atualmente 2,5% do total, conforme apresentado na Figura 32.

Figura 32 - Distribuição percentual dos tipos de iluminação pública utilizados em Santa Maria (2016)

Fonte: Elaborado pela autora.

As vias que já apresentam a iluminação com LED em Santa Maria são a Avenida Nossa Senhora Medianeira, a Avenida Governador Walter Jobim, a Avenida Ângelo Bolson e a Av. Presidente Vargas, sendo esta apresentada na Figura 33. Apesar de a iluminação LED que tem uma ótima qualidade, o fato de ser uma via relativamente bem arborizada traz a impressão de que não há iluminação suficiente para conforto e sensação de segurança no local.

Figura 33 - Av. Presidente Vargas (Santa Maria), com utilização de postes com lâmpada LED

Fonte: Elaborado pela autora. 4,0% 66,0% 27,5% 2,5%

Vapor Metálico

Vapor de Sódio

Vapor de Mercúrio

LED

Uma avaliação geral dos resultados coloca a cidade de Passo Fundo em destaque, em função do atendimento do serviço às residências, do consumo de energia e das lâmpadas utilizadas no seu sistema de iluminação. Situação mais preocupante é a de Porto Alegre, mas conforme a tecnologia LED for sendo implementada na cidade, será possível utilizar os mesmos indicadores para verificação da evolução dos resultados. Santa Maria se mostra em uma situação intermediária em comparação aos outros municípios, mas o principal motivo é a utilização de elevado percentual de lâmpadas de vapor de mercúrio, que, conforme Santos (2011), possuem efeitos negativos ao meio ambiente.

No documento 2016Amanda Lange Salvia (páginas 78-87)