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INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

3 A INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA DA BAHIA E O PÓLO PETROQUÍMICO DE CAMAÇAR

A economia baiana, rigorosamente, esteve atrelada ao modelo agrário- exportador, desde o período colonial, e até os primeiros cinqüenta anos do século XX com a notória estagnação do crescimento da economia baiana, mesmo com a consolidação do cultivo de cacau como principal produto de exportação e organizador de atividades econômicas locais, poucas mudanças houveram. A situação do Estado, com histórica falta de tradição industrial, só vai vislumbrar modificações a partir do processo de modernização, alavancado na década de 1950, notadamente com a descoberta de petróleo no Recôncavo Baiano, a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso (1954) e a abertura da rodovia Rio-Bahia (1957). Na década seguinte, passa a funcionar a Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Nos anos de 1970 os incentivos fiscais favorecem a implantação do Centro Industrial de Aratu e do Pólo Petroquímico de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), o maior centro industrial do Nordeste. (SUAREZ, 1986).

A partir da implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari, medrou um novo vínculo de dinamismo da economia baiana, sob o domínio exclusivo das decisões do Estado sobre o Planejamento Estratégico sustentado pelos Planos Nacionais de Desenvolvimento.

Esse processo de industrialização, caracterizado com a implantação de uma moderna indústria petroquímica, nos anos 1970, sob a liderança do Estado brasileiro, visando à consolidação dos últimos estágios do processo de substituição de importações, bem como à promoção da descentralização da atividade econômica do país, trouxeram ondas de otimismo, em uma economia ainda fortemente dependente do comércio externo, especialmente das exportações de cacau. O comércio interno tinha seu desenvolvimento limitado pela alta concentração de renda.

A instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari, é a configuração objetiva e prática da articulação das regiões em torno de um mercado nacional e de uma nova divisão inter-regional do trabalho. É um resultado planejado da implantação do padrão industrial em capital intensivo na Bahia que vinha desde os anos de 1950 e 1960.

O Pólo iniciou suas operações em 1978. É o primeiro complexo petroquímico planejado do País e está localizado no município de Camaçari, a 50 quilômetros de Salvador. Maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul, o Pólo tem mais de 50 empresas químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade como indústria automotiva, de celulose, metalurgia do cobre, têxtil, bebidas e serviços.

Em 1974, o Governo Federal, com o II PND, objetivava a manutenção das altas taxas de crescimento, registradas no período do “milagre brasileiro”,

priorizando o desenvolvimento dos setores de insumos básicos (onde se situava a Petroquímica) e de bens de capital.

Desta forma, os anos de 1970 e de 1980 testemunharam a consolidação do Pólo Petroquímico de Camaçari, também fortemente dependente dos incentivos e infra-estrutura pública.

Conforme Suarez (1986), a idéia que resultou na criação do COPEC teve origem no Plano de Desenvolvimento da Bahia, preparado com recursos da Petrobrás pela empresa CLAN (presidida por Rômulo de Almeida48). Entre os argumentos decisivos para a implantação do COPEC, contrário aos postulados por São Paulo, estava a necessidade de se promover a desconcentração espacial da indústria, tanto para favorecer o desenvolvimento regional, como por razões estratégicas de Segurança Nacional. Assim, de acordo com o modelo então adotado, as empresas do COPEC seriam criadas a partir de joint-ventures entre a PETROQUISA, o capital privado nacional e o multinacional, de acordo com os critérios que se seguem: (a) a participação da PETROQUISA seria sempre pelo menos igual à participação do maior acionista privado; (b) nenhum acionista deteria sozinho a participação majoritária do empreendimento; e (c) o sócio estrangeiro aportaria capital pela via do fornecimento da tecnologia de processo. A concepção visava o fortalecimento do capital nacional.

48 Rômulo de Almeida foi professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade

Federal da Bahia, da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, do Curso de Planejamento do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) e da Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (Ebap-FGV). Foi diretor da Fundação Casa Popular, da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, da Empreendimentos Bahia S.A. e da Elétrico-Siderúrgica Bahia S.A., além de presidir a Consultoria de Planejamento Clan S.A. Também foi membro do conselho diretor do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). Presidente de honra do PMDB baiano, em 1985, após ser cogitado para a presidência da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi nomeado, no início do governo Sarney, diretor de planejamento da área industrial do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Permaneceu nesse cargo até a sua morte, ocorrida em Belo Horizonte em novembro de 1988.

Em síntese, o Pólo Petroquímico de Camaçari (baseado na nafta) foi concebido como complexo ofertante de um product-mix muito interessante de olefinas e aromáticos, com elevado grau de aglomeração, integração e verticalização ao longo da cadeia produtiva.

Os anos de 1970 e 1980 foram os de consolidação da COPEC e já no inicio dos anos de 1990 as empresas em operação e em implantação representavam um investimento de quase US$ 8 bilhões. Elas utilizavam um pouco mais de 24 mil trabalhadores como mão-de-obra direta. Empreendimentos de alta relação capital/trabalho: para cada emprego eram necessários US$ 321 mil ou para cada milhão de dólares aplicado geravam-se apenas três postos de trabalho. Do total dessas inversões, 90,5% concentravam-se nos setores de química e metalurgia. (ERBER; VERMULM, 1993).

Nos primeiros anos da década de 1990 a petroquímica viveu um período de relativa estagnação, ainda que tenham sido realizados alguns investimentos em ampliação de capacidade produtiva. A difícil conjuntura vivida por este segmento industrial brasileiro, desde o início do Governo Collor, não induzia significativos dispêndios empresariais. O forte desaquecimento do mercado interno, combinado com a queda das alíquotas de importação, num cenário internacional de superoferta, provocou uma inundação de importações petroquímicas no mercado nacional.

Nesse contexto, a repetição da estratégia adotada pela petroquímica baiana, na primeira metade da década de 1980, de utilizar o mercado externo como escoadouro da produção não realizada internamente, tornou-se inviável, não apenas pela existência de grandes excedentes no mercado internacional, mas também pelas mudanças ocorridas nas políticas governamentais, destacando-se a abrupta redução de incentivos e subsídios às atividades exportadoras.

Dadas essas dificuldades, a petroquímica baiana até que conseguiu manter um razoável patamar de investimentos. Esses investimentos repercutiram,

evidentemente, na indústria de transformação, cujo desempenho em 1992 (8,4%) e 1993 (7,3%) foi muito expressivo, depois de duas taxas negativas em 1990 e 1991, 8,8% e 4,2% respectivamente. Em 1993, o crescimento do gênero químico/petroquímico alcançou 7,3%. Se as ampliações acima mencionadas não tivessem sido realizadas, a expansão do mesmo seria de apenas 3%. (FIEB, 2004).

Apesar de sua importância e dos fatos positivos por ela criados, a petroquímica não produz, na Bahia, significativos efeitos de encadeamento a jusante da sua cadeia produtiva. Seus principais desdobramentos são, na verdade, indiretos, atingindo os serviços (comércio, transportes) e a construção civil. Um outro aspecto a ser salientado, é que as estratégias expansivas/diversificativas dos grupos químico/petroquímico localizados no COPEC são formuladas fora da Bahia e/ ou do Brasil.