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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

QUADRO 7 – A EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA DO CAPITAL VOTANTE DA COPENE

5.2.2 Processando a decisão

Suarez (1986), trouxe à tona um dos mais importantes capítulos do desenvolvimento econômico capitalista no Brasil, focando a indústria petroquímica e os grupos sociais que a controlavam. A ação da Tecnoburocracia em vários escalões e esferas dos setores público e privado, bem como a íntima relação, a posteriori, destes personagens com a ocupação de cargos de destaque na vida pública do Brasil e mesmo em suas regiões de origem, a partir dos anos de 1970.

O cenário da decisão da petroquímica nacional, em busca da diversificação e da integração a jusante com a química fina, nos idos da segunda metade da década de 1970, era, portanto dos mais complexos para a economia nacional, pois o governo visando “ampliar o raio de autonomia nacional [...] fomentara a constituição de setores intensivos em tecnologia, notadamente [...] química fina [...]” (ERBER e VERMULUM, 1996, p. 31), mas também concomitantemente o palco era repleto de incertezas e impasses para a continuidade do padrão de desenvolvimento brasileiro. Especialmente com a primeira grande crise do setor energético que atingiu a economia mundial, a inflação e a dívida pública interna, levando o Estado investidor e regulador “[...] adotar políticas de contenção de demanda através [...] cortes nos gastos da administração pública e das empresas estatais (especialmente em investimentos)” (ERBER e VERMULUM, 1996, p. 17). Bem como “[...] a brutal contração do mercado interno [...] havia abortado a constituição de mercado de um mercado de massas e a deterioração do Estado havia quebrado o processo de constituição de um sistema de inovações [...]” (ERBER e VERMULUM, 1996, p. 18).

As estratégias para este desenvolvimentismo voluntarista também continham a tentativa maior de um posicionamento geopolítico estratégico na América Latina, pautado pelo protecionismo estatal, evidenciado através da regulação do mercado interno e restrições a produtos externos.

Entretanto, a partir dos anos de 1980, começa a declinar a política desenvolvimentista, até então hegemônica, e, a petroquímica, que no final da

década anterior, implantada com sucesso, graças à intervenção e regulação estatal, buscava novos horizontes de ampliação e integração a jusante, com o programa de química fina, para atender à indústria farmacêutica nacional e oferecer medicamentos a preços mais competitivos, também sofreria as conseqüências do fracasso de políticas internas e o enrejecimento das restrições externas.

Portanto, Petroquímica e Tecnoburocracia se confundem, na abordagem de Suarez (1986), pela evidência da aliança entre Estado, burguesias regionais/nacionais e tecnoburocratas, que foi gestada nas bases do pacto populista, arquitetado já na década de 1950, com a implantação de “[...] empreendimentos estatais de base (CSN, Cia. Nacional de Álcalis, Petrobrás, BNDES, CHESF, entre outros) que viabiliza o avanço da burguesia industrial [...]” (SUAREZ, 1986, p. 64).

A constatação deste pacto, pode ser verificado no discurso do então Secretário da Indústria e Comércio da Bahia, Manoel Figueiredo Castro, em novembro de 1980:

Longo e áspero foi o caminho percorrido. E em suas trilhas (...) nomes se somaram como merecedores do reconhecimento público pela parcela de esforço que despenderam em prol do Pólo Petroquímico da Bahia. Este é o caso do governador Luís Viana Filho, Ângelo Calmon de Sá, Leopoldo Miguez e Rômulo Almeida antes de 1971, e logo após, José de Freitas Mascarenhas, Paulo Vieira Belloti, Marcos Viana, Otto Vicente Perrone, Arthur Candal e muitos outros técnicos dos Governos Federal e Estadual da PETROQUISA e de empresas privadas, que somaram anoninamamente um notável acervo de competência e dedicação [...] sobre este plano a figura do presidente Ernesto Geisel, patrono do empreendimento a partir do período em que exerceu a presidência da PETROBRÁS. (SUAREZ, 1986, p. 63)

No seu discurso, o Secretário deixa claro o envolvimento de pelo menos duas gerações da elite baiana, partícipes das decisões políticas locais e o seu envolvimento com as diversas esferas de poder público no Brasil., bem como a

presença marcante da tecnoburocracia do petróleo no patrocínio da indústria petroquímica.

A tecnoburocracia da petroquímica por seu turno tem sua gênese na própria instalação da indústria do petróleo, cujos principais expoentes se encontravam nos quadros da primeira agência reguladora que se tem notícia no Brasil, o CNP (Conselho Nacional de Petróleo), a verdadeira orientadora do desenvolvimento da indústria petroquímica.

O CNP ganha relevo no discurso desenvolvimentista tecnoburocrático de Da Poian33, ao analisar a presença do Estado e da empresa privada na petroquímica brasileira. Essa presença pode ser vista em Suarez (1986, p. 67) “[...] em 1957 [...] o CNP [...] baixa nova resolução facultando à PETROBRÁS a produção e comercialização dos petroquímicos básicos e outros essenciais [...]”.

Suarez (1986), embora não dê ênfase ao processo de tomada de decisão pela tecnoburocracia brasileira, mas aos métodos de engajamento da Petrobrás na implantação da petroquímica nacional, que permite sua análise sob dois enfoques, uma que se preocupa na análise em nível macro de observação, que vê a petroquímica como base de sustentação e preservação da riqueza alcançada, pelo setor petrolífero e por extensão como continuidade do crescimento da economia nacional, e outra, de análise micro, focada na dinâmica da forma de produção que permite o crescimento com preservação das condições para crescer, pois o monopólio do petróleo no mercado nacional permitia tal situação.

No nascedouro, os agentes decisores da tecnoburocracia, desta forma, não conseguiam enxergar as dimensões da contradição entre o pacto populista e o modelo de desenvolvimento pretendido, pois restringiam o campo visual apenas ao cenário interno e suas possibilidades eram ampliadas além do horizonte, daí não conseguiam distinguir os ambientes externos.

Os “novos talentos” de Galbraith, numa alusão aos tecnoburocratas, pelo menos no caso da petroquímica brasileira, não consideraram ações estratégicas para a formação de vantagens competitivas pela via das inovações tecnológicas, real força motriz da concorrência e de organização do próprio capitalismo, afinal são estes avanços que criam, destroem e reconstroem as estruturas existentes à medida que se sucedem, e, conseqüentemente a concorrência é um eterno processo de mudança.

A importância do planejamento para as decisões de investimento estratégico, é fundamental, pois é no macro ambiente mercadológico, em sua pluralidade que se dá a síntese de diretrizes para o sistema produtivo. A partir de suas contradições internas, geradoras de mobilidade positiva ou negativa e da sua teia de relações com outros mercados, definidores de sua condição de liderança ou subordinação que os agentes decisores decidem por investir ou desinvestir, ampliar, manter, diversificar. (MIRANDA, 1999).

Mas na química fina brasileira isto não se deu, o planejamento não pode ser considerado, sequer estratégico, pois as estratégias foram definidas para ampliar e conquistar novos mercados, já garantido pelo excesso de regulamentação, pela busca de vantagens comparativas de fornecedores, assegurados pela mantenedora do programa petroquímico, a PETROBRÁS, com preços subsidiados.

Entretanto, no mundo o cenário competitivo da indústria química, apresentava uma realidade calcada na diversificação e integração (ver Quadro 8), como estratégia na busca do crescimento através do realinhamento do conjunto de produtos e mercados da empresa. Esta diversificação, por seu turno é conseqüência também da melhoria da tecnologia de produtos e processos. Em particular na petroquímica brasileira foi um erro estratégico considerar a química fina como integração e não observar que, rigorosamente era diversificação34.

No tocante aos mercados, a diversificação pode ter a sua configuração de forma aleatória e genérica para o aproveitamento de oportunidade ou como o resultado de decisões deliberadas nos quais estão previstos riscos da estratégia.

O processo de diversificação e integração das grandes empresas petroquímicas do mundo se dá de duas formas: a primeira pela complementação da cadeia produtiva (Shell, Exxon, Chevron, Amoco, Mobil e Occidental, Idemitsu e Mitsubishi), ou seja, petróleo – refino – petroquímicos básicos – química fina e especialidades), assegurando a participação nos vários segmentos do mercado petroquímico; a segunda se dá por diversificação (Dow, UCC, Eastman, Phillips e Quantum), onde as empresas se dedicam à química fina, não atuando no refino e na exploração do petróleo.