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Infecções por Candida albicans e Candida auris

No documento José Marcos Sanches Junior (páginas 33-37)

seu potente papel anti-inflamatório em modelos experimentais de inflamação aguda (GIROL; MIMURA; DREWES; BOLONHEIS et al., 2013; STUQUI; DE PAULA-SILVA; CARLOS; ULLAH et al., 2015), crônica (GIBBS; CAROLLO; DAMAZO; OLIANI et al., 2002), alérgica (GIMENES; ANDRADE; MELLO; RAMOS et al., 2015; MARMORATO; GIMENES; ANDRADE; OLIANI et al., 2019; PARISI; CORRÊA; GIL, 2019), neuroinflamação (GIMENES; ANDRADE; PINOTTI; OLIANI et al., 2019) e mais recentemente na regulação do inflamassoma NLRP3 (SANCHES; BRANCO; DUARTE; OLIANI et al., 2020).

A administração desses peptídeos miméticos da AnxA1 é capaz de regular as respostas inflamatórias, incluindo a liberação de IL-1β, em diversos modelos animais, tais como isquemia-reperfusão do miocárdio (VAN DER BIJL; VAN EYK, 2001), uveíte induzida por lipopolissacarídeo (LPS) (GIROL; MIMURA; DREWES; BOLONHEIS et al., 2013) e peritonite induzida pela miotoxina do veneno de Bothrops moojeni (STUQUI; DE PAULA-SILVA; CARLOS; ULLAH et al., 2015). Além disso, a AnxA1 e seus peptídeos miméticos ligam-se a uma classe específica de receptores transmembrana acoplados à proteína G, os receptores para peptídeos formilados (FPR), que são mais abundantes em leucócitos aderentes, e promovem a ativação celular e a sinalização intracelular, com o destacamento dos leucócitos do endotélio (GAVINS; YONA; KAMAL; FLOWER et al., 2003).

Associados, esses dados revelam que a AnxA1 desempenha um papel significante no controle da cascata inflamatória, mas sua relação com a via do inflamassoma NLRP3 foi pouco explorado. Além disso, poucos trabalhos relatam o papel dessa proteína nas infecções fúngicas, tais como as causadas pela Candida albicans e Candida auris.

1.3 Infecções por Candida albicans e Candida auris

Os fungos são pequenos microrganismos que compõem, dentre sua grande diversidade, a microbiota humana e estão presentes na boca (SIQUEIRA; SEN, 2004) e vagina (BAROUSSE; STEELE; DUNLAP; ESPINOSA et al., 2001), por exemplo. Uma grande quantidade dos fungos que coabitam de forma comensal o organismo, pertence ao gênero Candida (SIQUEIRA; SEN, 2004). Dente as espécies de Candida, muitas já foram isoladas da cavidade oral e oito delas estão associadas às infecções, destacando-se a Candida albicans que representa um

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fungo comensal, que a partir de desequilíbrios internos ou agentes diversos externos, torna-se patogênica (BAROUSSE; STEELE; DUNLAP; ESPINOSA et al., 2001; SEGAL, 2005).

O equilíbrio entre a microbiota, o sistema imunológico, e a integridade do tecido epitelial são fatores fundamentais para a manutenção da Candida em seu estado comensal no hospedeiro (GONCALVES; FERREIRA; ALVES; HENRIQUES et al., 2016; KAEWSRICHAN; PEEYANANJARASSRI; KONGPRASERTKIT, 2006; MOYES; WILSON; RICHARDSON; MOGAVERO et al., 2016; NETEA; MARÓDI, 2010). Todavia, perturbações na homeostase local ou sistêmica, seja por fatores fisiológicos ou externos, podem levar ao crescimento descontrolado da C. albicans e, consequentemente, desencadear resposta pró-inflamatória, alterações no pH e osmolaridade, causar danos teciduais e até mesmo disseminação do fungo de forma sistêmica, causando sepse (BENSEN; MARTIN; LI; BERMAN et al., 2004; PRIGNEAU; PORTA; POUDRIER; COLONNA-ROMANO et al., 2003; RUHNKE, 2002).

Os mecanismos de adaptação e patogenicidade da Candida estão associados aos fatores de virulência, dos quais incluem adesões, formação de biofilme, produção de enzima hidrolítica extracelular, formação e crescimento do fungo e comutação fenotípica (transição de levedura para hifas ou pseudo-hifas) (GONCALVES; FERREIRA; ALVES; HENRIQUES et al., 2016; TAMURA NK, 2007). O dimorfismo da Candida configura um dos seus mecanismos fundamentais de virulência e adaptação durante o processo infeccioso. As leveduras são caracterizadas por uma morfologia arredondada destas células, podendo apresentar ligeiros brotamentos axiais ou bipolares (Figura 8A). Esta forma em que o fungo se apresenta facilita o processo de disseminação pelo sangue. As pseudo-hifas se apresentam em um padrão alongado, semelhante à elipse e de forma septada. As hifas são mais alongadas, tendo a C. albicans um representante deste processo do dimorfismo levedura-hifa (Figura 8B e C). As hifas e pseudo-hifas podem ser classificadas como modelos filamentosos e estes colaboram para o processo mecânico de invasão do tecido, bem como dificultar o processo de fagocitose exercido pelos neutrófilos e macrófagos (SHARECK; BELHUMEUR, 2011).

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Figura 8. Morfologias da C. albicans. A: levedura; B: pseudo-hifas; C: hifas. As fotos-micrografias apresentadas representam 5 μm e as hifas 1 mm. Fonte: (SUDBERY, 2011). (Adaptado).

Macrófagos e neutrófilos são as principais células contra as infecções por Candida. Por meio do reconhecimento do fungo pelo sistema imune inato, os receptores destas células detectam a presença dos PAMPs, iniciando assim a resposta imunológica (GIL; GOZALBO, 2006), dos quais os receptores de manose, TLRs, receptores de varredura e dectina-1 possibilitam reconhecer o fungo invasor (UNDERHILL; OZINSKY, 2002). Já foi demonstrado que os TLRs desempenham importante papel no reconhecimento da C. albicans por leucócitos (GIL; GOZALBO, 2006; NETEA; MARÓDI, 2010; NETEA; VAN DER GRAAF; VAN DER MEER; KULLBERG, 2004; NETEA; VAN DER GRAAF; VONK; VERSCHUEREN et al., 2002; VILLAMÓN; GOZALBO; ROIG; O'CONNOR et al., 2004), desencadeando a liberação de citocinas pró-inflamatórias (NETEA; STUYT; KIM; VAN DER MEER et al., 2002). Nas fases iniciais de uma infecção por C. albicans, ocorre a secreção de TNF-α por macrófagos, recrutando neutrófilos para realizar uma resposta antifúngica (DIAMOND; LYMAN; WYSONG, 1991). Contudo, os neutrófilos são fundamentais na defesa contra infecções por Candida, atuando diretamente em leveduras e hifas por meio da produção de peróxido de hidrogênio via NADPH-oxidase (MARÓDI et al., 1998). Ainda, os neutrófilos possuem hidrolases lisossomais, tais como peroxidases e mieloperoxidases, que atuam na eliminação do patógeno e resolução da infecção (KOLACZKOWSKA; KUBES, 2013; MARÓDI; TOURNAY; KÁPOSZTA; JOHNSTON et al., 1998). Um dos mecanismos que os neutrófilos também realizam para controlar uma infecção fúngica é entrar em morte celular via netose, liberando seu conteúdo citoplasmático (NETs), rico em enzimas lisossomais para eliminação do fungo (KAPLAN; RADIC, 2012; ZAWROTNIAK; RAPALA-KOZIK, 2013).

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Estudos vêm sendo realizados para verificar os fatores de virulência da C. auris, e, mecanismos de aderência, formação de biofilme, fosfolipases e produção de proteinases contribuem para a patogenicidade deste fungo (CHATTERJEE; ALAMPALLI; NAGESHAN; CHETTIAR et al., 2015; JOHNSON; DAVIS; HUTTENLOCHER; KERNIEN et al., 2018). A C. auris pode ser tolerante às altas temperaturas, tensão osmótica e possuem uma capacidade de produzir enzimas líticas e biofilme (BEN-AMI; BERMAN; NOVIKOV; BASH et al., 2017). Ainda, a C. auris é capaz de evadir os mecanismos de resposta imune inata e da produção de NETs, aumentando assim os índices de mortalidade pela infecção sistêmica deste fungo (CORSI-VASQUEZ; OSTROSKY-ZEICHNER, 2019; ROSSATO; COLOMBO, 2018). A figura 9 ilustra a morfologia da C. auris.

Figura 9. Morfologia da C. auris. Fotomicrografia evidenciando a forma de levedura de C. auris que não apresenta dimorfismo (levedura-filamentos) Fonte: (LARKIN; HAGER; CHANDRA; MUKHERJEE

et al., 2017)

As infecções por fungos geram inúmeras respostas celulares, tendo as MAPKs (do inglês - Mitogen Activated Protein Kinases) uma via de suma importância durante as infecções fúngicas. ERK (do inglês – extracellular-signal-regulated kinase) e p38 são consideravelmente expressas quando há infecção por Candida (MOYES; MURCIANO; RUNGLALL; ISLAM et al., 2011), onde o fungo libera a candidalisina, uma toxina peptídica citolítica anfipática, responsável por desestabilizar a integridade de membranas plasmáticas do hospedeiro (MOYES; WILSON; RICHARDSON; MOGAVERO et al., 2016), tendo as expressões das MAPKs como moléculas indicadoras da presença do fungo e de possíveis lesões

No documento José Marcos Sanches Junior (páginas 33-37)

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