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Mediadores lipídicos e lipidômica

No documento José Marcos Sanches Junior (páginas 37-42)

celulares. A infecção por C. albicans também promove a ativação da COX-2 que está intimamente relacionada no metabolismo do ácido araquidônico e consequente síntese e liberação dos eicoisanoides, promovendo assim maior resposta inflamatória frente à infecção (ABDEL MEGEED; FAYED; ABOOD; KADRY, 2018).

1.4 Mediadores lipídicos e lipidômica

Diante da importância dos leucócitos na resposta inflamatória e nos mecanismos contra patógenos, tais como fungos, e ainda por emitirem respostas por vesículas extracelulares (HICKEY; KUBES, 2009), as quais são ricas em mediadores imunológicos, ácidos nucleicos, proteínas e lipídios (GUTIÉRREZ-VÁZQUEZ; VILLARROYA-BELTRI; MITTELBRUNN; SÁNCHEZ-MADRID, 2013), nosso estudo também buscou avaliar os potenciais lipídios mediadores durante a ativação do inflamassoma NLRP3 e nas infecções por C. albicans e C. auris.

Os lipídios representam uma classe de macromoléculas de fundamental importância para os sistemas orgânicos. A abordagem lipidômica, uma vertente da metabolômica, traz consigo uma perspectiva precisa e ampliada para melhor entendimento dos sistemas biológicos e sua relação em muitas doenças (WANG, 2015). As principais classes lipídicas podem ser caracterizadas pelos ácidos graxos, glicerolípidos, glicerofosfolípidos, esfingolípidos, lipídios esteróis, lipídios prenol, sacarolípidos e policetídeos. Os perfis lipídicos são caracterizados pelas principais classes de lipídios, tais como ésteres de colesteril, ceramidas, mono (MG), di (DG) e triacilgliceróis (TG), fosfolipídios de membrana, como esfingomielinas (SM), fosfatidilcolinas (PC), fosfatidiletanolaminas (PE), fosfatidilserinas (PS) e lisofosfolipídios (FAHY; SUBRAMANIAM; BROWN; GLASS et al., 2005).

Os lipídios possuem características moleculares diversas em tamanho e composição. De modo geral, os lipídios apresentam estruturas polares e apolares e, portanto, são considerados moléculas anfipáticas. A cabeça dos lipídios possui características polares, um radical e um fosfato, os fosfolipídios, por exemplo, podem conter uma serina, colina, etalonamina ou inositol (Figura 10). Os lipídios mais abundantes nas células são os fosfolipídios e estes compõem as membranas biológicas, plasmática e também de veiculas intra e extracelulares. Já em menor quantidade os esfingolipídios e colesterol também colaboram para estrutura e

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fisiologia celular. Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos de cadeia longa, geralmente contendo de 14 a 24 carbonos, e nas membranas biológicas entre 16 e 18 carbonos. Os ácidos graxos podem ser saturados ou insaturados, onde a quantidade de insaturações pode influenciar na espessura da bicamada lipídica e na fluidez da membrana. Sabe-se que o aumento de insaturações promove maior permeabilidade da bicamada de fosfolipídios nas membranas devido aos espaços entre os fosfolipídios (ALBERTS B; JOHNSON A; P., 2006; NELSON; COX, 2011).

Figura 10. Principais fosfolipídios das biomembranas. Os fosfolipídios são formados por uma cauda apolar, composta pelas cadeias de ácidos graxos, e uma cabeça polar, constituída pelo glicerol, um fosfato e um álcool. Normalmente nesse radical são encontradas etanoamina, colina e serina. No caso da cardiolipina, um lipídio encontrado na membrana interna das mitocôndrias, o grupo R é formado por uma molécula de glicerol, constituindo assim um fosfolipídio ―duplo‖. Na composição dos lipídios, os ácidos graxos, o glicerol e o fosfato recebem o nome de ácido fosfatídico. No entanto, o que dá nome ao fosfolipídio é o radical que ele apresenta no grupo R. Fonte: (CARVALHO, 2013).

Assim como fosfolipídios inositois, as fosfatidilserinas desempenham papel essencial na célula, atuando também na sinalização celular, principalmente indicando morte celular. Ainda, serinas são largamente encontradas nas em microvesículas e micropartcículas liberadas pelas diversas células (MOOBERRY; KEY, 2016). Essas vesículas extracelulares desempenham importantes funções no organismo, tais como sinalização, resposta inflamatória e morte celular. Elas podem ser classificadas como exossomos ou micropartículas e são compostas basicamente por lipídios e proteínas presentes na membrana celular (COLOMBO; RAPOSO; THÉRY, 2014; VAN DER POL; BÖING; HARRISON; STURK et al., 2012).

Dentre as classes dos lipídios, cada uma apresenta uma particularidade ao que se remete à sua ação, de forma específica, nos sistemas biológicos. Os lipídios podem atuar como mediadores de respostas celulares, na sinalização, processo inflamatório, sinalização e morte celular (RINSCHEN; IVANISEVIC; GIERA;

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SIUZDAK, 2019; SHEVCHENKO; SIMONS, 2010). Após danos teciduais e morte celular, os DAMPs estimulam o recrutamento de neutrófilos estes promovem o reconhecimento por meio dos TLRs e NLRs presentes nestas células (PITTMAN; KUBES, 2013). Este mecanismo de reconhecimento pode levar à ativação e inflamassomas, como o NLRP3, o qual promove a produção de lipídios mediadores relacionados ao processo inflamatório e danos teciduais, tendo as ceramidas, por exemplo, como um mediador lipídico que é altamente expresso durante a inflamação (ALBEITUNI; STIBAN, 2019) e morte celular (CHAURASIA; SUMMERS, 2018) (Figura 11).

Figura 11. Via da piroptose e produção de lipídios mediadores. Fonte: (SANZ; SANCHEZ-NIÑO; IZQUIERDO; GONZALEZ-ESPINOZA et al., 2014).

Contudo, o estudo dos lipídios torna-se cada dia mais usual na comunidade científica, devido sua diversidade e importância biológica, sendo estas macromoléculas potenciais biomarcadores para inúmeras doenças (HYOTYLAINEN; ORESIC, 2014). A lipidômica surgiu a fim de proporcionar uma visão global das redes lipídicas nos sistemas biológicos e suas ações no processo de saúde e

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doença (HAN; GROSS, 2003; LAGARDE; GELOEN; RECORD; VANCE et al., 2003; QUEHENBERGER; DENNIS, 2011; SHEVCHENKO; SIMONS, 2010) 72-75. A integração desta perspectiva ―ômica‖ pode ser aplicada para construção de redes dentre os diferentes componentes moleculares, elucidando diferentes processos bioquímicos (YIN; XU, 2014). O estudo dos metabólitos, a partir da espectrometria de massas, vem sendo largamente utilizado em diversos sistemas e suas interações frente à patógenos, bem como em danos celulares, proporciona uma visão ampla e fidedigna sobre o metabolismo e em diversas doenças (MAYERS; WU; CLISH; KRAFT et al., 2014; SREEKUMAR; POISSON; RAJENDIRAN; KHAN et al., 2009; WIKOFF; ANFORA; LIU; SCHULTZ et al., 2009; YIN; XU, 2014).

23 2 JUSTIFICATIVA

A AnxA1 desempenha um papel significante no controle da cascata inflamatória, especialmente relacionada à regulação de IL-1β, mas sua relação com a via do inflamassoma NLRP3 e infecções por Candida albicans e Candida Auris não foi estabelecida. Assim, o desenvolvimento desse trabalho possibilitou um melhor entendimento acerca dos processos de resposta frente à ativação e regulação do inflamassoma NLRP3 em macrófagos e neutrófilos, bem como na resposta inflamatória em infecções por Candida albicans e Candida auris em neutrófilos.

24 3 OBJETIVOS

No documento José Marcos Sanches Junior (páginas 37-42)

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